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Capítulo 6: Com a cara no chão

Ao que parece, tínhamos um problema a resolver. Não é todo dia que estamos encurralados em um salão subterrâneo esquisito, sendo traídos por uma poderosa feiticeira. O que mais me deixava furioso era que aquela MEGERA me fez acreditar que fosse uma boa pessoa.

- S-su-sua... - eu começava a xingar.

- Agora não, Bart! - Christopher me repreendia antes que eu finalizasse.

Naquele mesmo instante, Selene lançou em nossa direção uma bola de energia luminosa, mas Christopher se colocou à frente, defendendo com sua espada a magia.

- Apenas desistam, vocês estão encurralados, não há para onde sair, rapazes... - Selene falava em tom provocante.

Ela com certeza não parecia a mesma pessoa de antes; sua personalidade estava completamente diferente, como se tivesse retirado uma perfeita máscara.

- Selene, por que está fazendo isso? - questionava Christopher.

A mulher simplesmente ria, e logo atrás dela alguns esqueletos começavam a surgir. Eram muitos. Se quatro antes tinham nos causado problemas, agora o que pareciam ser ao menos dez esqueletos do tipo cavaleiro surgiam em nossa frente.

- Alguma ideia, capitão? - perguntei a Christopher.

- Eu ia te fazer a mesma pergunta... - Christopher respondia preocupado e logo suspirava. - Desculpa, Bart, isso tudo é culpa minha...

Olhei para Christopher e podia ver que ele estava realmente sem esperanças. Por ter criado sua personalidade em minha vida anterior, eu sabia que naquele momento Christopher estava colocando toda a culpa do mundo sobre si. Eu, ainda em alerta, procurava qualquer forma de sairmos de lá. Eu queria mostrar a Christopher que ele não precisava se culpar por ser traído, mas só com muita sorte.

- Capitão! Tive uma ideia. - Olhei para ele nervoso e, ao mesmo tempo, empolgado.

Por "sorte", isso era algo que não me faltava.

- Bart... Espero que não seja mais uma de suas loucuras... - Christopher me olhava desesperado.

Não tínhamos muito tempo e, sinceramente, poucas opções. Assim que entramos naquele salão, apenas uma coisa me chamou mais atenção do que o círculo mágico no meio: o teto.

- Sua espada, você defendeu a magia dela, não é? - perguntei, enquanto desviava de um ataque de um esqueleto.

- S-sim! Ela é anti-magia. Eu até poderia cortar Selene ao meio, o problema são esses esqueletos. - Christopher se defendia e golpeava um esqueleto.

- Então vai precisar confiar em mim! - sinalizei para Christopher.

Sem falar mais nada, corri na direção de Christopher, chutando o esqueleto próximo a ele para trás. Peguei a espada de sua mão e olhei para Selene. Christopher, agora desarmado, socava um esqueleto que caía desmontado para trás.

- Ei, sua megera! Vai ficar aí atrás mandando seus bichinhos e não vai fazer nada? - Dava língua para Selene. - Confesso que, se eu morrer aqui, melhor que seja por esses esqueletos mesmo, são mais úteis que você!

- Como ousa, seu pirralho imundo! - Selene, possessa de raiva, começou a conjurar alguma magia.

- Ih, olha lá, ela ficou toda irritadinha por ouvir a verdade! - Continuei provocando enquanto corria dos esqueletos.

Quando não tinha mais para onde correr, Selene lançou sua magia em minha direção, dizimando os esqueletos que estavam em seu caminho. Nesse momento, o mundo parecia ficar mais lento. Meus olhos se fecharam e, quando abriram novamente, estavam púrpura. Energia mágica da mesma tonalidade exalava de mim. Como se visse o trajeto da magia, usei a lateral da lâmina da espada de Christopher para rebater a esfera luminosa para cima, fazendo-a acertar o teto com força.

- O quê... - Selene olhava para cima, desacreditada. - O que você fez?

- Lancei os dados... - Sorri, olhando-a fixamente nos olhos.

O teto, que antes estava apenas úmido, começou a ceder até finalmente desabar em cima de todos nós. Uma quantidade colossal de água jorrava do buraco que a esfera de Selene havia causado no teto. E antes que conseguisse alcançar o capitão, a água chegou até nós, nos engolindo. Os esqueletos foram simplesmente varridos pela correnteza, e Selene foi levada com força, batendo violentamente contra a parede. Enquanto isso, eu e o capitão tentávamos nos manter vivos. Christopher era arrastado pela água até a saída, enquanto eu fiquei preso no salão, que rapidamente começava a ser submerso.

- Capitão! - Gritava para Christopher ao vê-lo sumir de minha vista.

Com o pequeno espaço de ar que encontrei, respirei fundo e prendi a respiração. Minha única saída agora era o buraco no teto de onde a corrente de água vinha. Só conseguia me perguntar se aquele era o momento no qual eu morria, mas essa pergunta foi rapidamente respondida ao sentir o gosto salgado da água em meus lábios enquanto me afogava ao perder meu fôlego restante, tentando chegar ao topo.

No momento em que perdi a consciência e meus olhos se fecharam, me vi novamente na minha antiga sala. Estava tudo como sempre: bagunçado. Minha expressão era a de quem não tinha mais nada a perder. Eu conseguia ver como estava antes: olheiras, cabelos sem cortar, barba mal feita. Eu não entendia antes, mas aquilo não era viver. Eu lutava todos os dias contra minha própria existência e não conseguia enxergar. E agora ali estava eu novamente, me enxergando como um derrotado, como alguém que, não importa o que fizesse, iria perder.

Não dessa vez.

- Bart!

Ouvia a voz de Christopher e sentia suas mãos pressionando meu peito. Aos poucos, abri os olhos e logo senti toda a água que engoli sendo expulsa do meu corpo pelo nariz e boca. O capitão estava ao meu lado encharcado e me olhando com um rosto apavorado.

- E-eu pensei... - Christopher falava incrédulo. - Pensei que você tinha morrido.

Olhando ao nosso redor, percebi que estávamos na praia, com a água do mar batendo nos meus pés. Como? Não faço ideia. Não fazia o menor sentido aquele salão ser embaixo do mar, mas ali estávamos.

- Onde ela está? - Tentava me levantar, mas meu corpo estava bem fraco.

Christopher me apoiava, vendo que eu não conseguia me mover direito.

- Não sei... Desde que saí de lá, ela já havia sumido, assim como qualquer rastro de esqueletos.

Eu queria acreditar que Selene estava morta, mas sabia que não seria tão simples assim. Se há algo mais clichê do que um protagonista sobreviver a algo humanamente impossível, é o vilão da história nunca morrer tão facilmente.

- O que faremos agora? - perguntei para Christopher, ainda um pouco ofegante.

- Precisamos falar com o restante da minha tripulação - respondeu o capitão, começando a se mover enquanto me ajudava. - Mesmo sem saber o paradeiro dela, ela deve estar por perto.

- Concordo -- respondi.

Aos poucos, sentia minhas forças voltando ao corpo. Sabia que aquela fraqueza era devido à perda de consciência ao me afogar. À medida que caminhávamos, eu conseguia me mover sozinho, e Christopher não precisava mais me ajudar. Nossa caminhada até o Sombra da Maré parecia demorar mais que o normal. Por mais que a missão tivesse sido, de certa forma, completa, ainda existiam pontas soltas, como o paradeiro de Zenfis.

Chegando ao navio, Christopher se moveu diretamente para uma sineta perto da porta de sua cabine. Não havia tempo para esperar o amanhecer. Com pressa, o capitão tocou a sineta, balançando-a rapidamente até que todos no navio acordassem. Era incrível a eficiência da tripulação; em menos de dois minutos, todos os marujos estavam no convés, com caras de sono, mas presentes.

- Homens, enquanto dormiam, estive em uma missão junto a Selene e a este garoto - Christopher me sinalizava. - Embora parecesse algo simples, essa missão se mostrou bastante reveladora.

Já no início da oratória de Christopher, eu conseguia ver alguns marujos cochichando entre si, mas o assunto estava bem evidente: nossas roupas molhadas. Suspirei, levando minha mão ao rosto e esfregando-o, sentindo o cansaço. Usar tanta energia mágica anteriormente estava finalmente cobrando seu preço.

- Homens! - Christopher repreendeu os cochichos. - O que quero dizer é que Selene nos traiu!

Todos os marujos, quase que em uníssono, demonstraram espanto. Edyr, o anão, saiu do meio deles com uma expressão chocada.

- Como assim? Aquela feiticeira era amiga de Zenfis, amiga o suficiente para que ele nos indicasse ela caso algo acontecesse a ele - questionou Edyr, incrédulo.

- Eu sei, Edyr, mas eu estive lá. Ela tentou matar a mim e ao Bart... Ela não é digna de nossa confiança, não mais. - a expressão de Christopher era triste. - Mas! - o capitão retomou sua postura firme. - Aonde quer que ela tenha ido, ainda deve estar por perto. Preciso da ajuda de todos. Formem grupos iguais e comecem a procurar pela vila. Não deixem passar qualquer canto, mas não invadam as casas. Se necessário, peçam ajuda dos demais piratas. Vamos achar essa traidora!

Christopher começou a comandar seus homens, que, mesmo receosos, acataram as ordens, tomados pela raiva de terem sido traídos por alguém em quem confiavam. Terminando de dar os comandos, Christopher se virava para mim e Edyr.

- Edyr, preciso que leve o garoto para casa. Irei me recuperar e ajudar nas buscas... Quanto a ele - Christopher me olhou - acho que já fez demais por hoje, precisa descansar.

Eu até fiz menção de argumentar, mas estava cansado demais, e isso ficou bem evidente quando simplesmente desmaiei para frente, sendo pego por Edyr antes de cair com a cara no chão.