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Dona do meu destino

Tomei essa decisão no dia em que pedi ao meu pai para morar sozinha e me foi negada a minha própria vida. Aquentei por 17 anos, e acho que isso foi muito mais tempo que uma pessoa pode aguentar. Julia nunca me bateu, mas sempre me humilhou e meu pai nada fez para me defender. Eu não o culpo, eu sou a intrusa. Cheguei sem que me quisessem e fiquei porque não tinha para onde ir. Sou a dona da minha história e ninguém irá me impedir de escrevê-la ao meu modo. 

Acordei cedo e fui ao lago. Era como se eu precisasse contar para o lago e a toda aquela paisagem o que tinha decidido. Durante todos os meus 17 anos, o lago, a lua e o sol foram os únicos que me entenderam e era a eles que eu precisava contar que iria fugir de casa. E assim fiz. 

Eram 5 e 30 da tarde, as águas amareladas balançavam como se embalassem o sono do sol. O problema de ter que conversar com eles, meus amigos, era que nunca os via juntos. E fiquei até o anoitecer para contar também a lua o que havia contado ao lago e ao sol. 

No entanto, tomar conta de minha própria história não foi nada fácil. Não sei como, mas quando eu cheguei em casa meu pai e minha madrasta já sabiam do que eu tinha conversado sozinha a beira do lago. Então, tudo fez sentido. Na raiva acusei meu meio irmão Jonas de estar a me observar tomando banho. Ele não negou, e quando sua mãe perguntou se era verdade, ele a tratou como sempre: xingando-a e mandando que ela cuidasse de sua vida. 

Então vi o meu pai fazer por Julia o que em toda minha vida esperei que fizesse por mim. Num súbito, ele acertou Jonas com um tapa na cara e exigiu respeito. Eu era a vítima, era a mim que Jonas estava olhando nua e, no entanto, meu pai exigia respeito a Julia. E dirigindo-se a mim, disse que eu não iria sair de casa enquanto não fosse maior de idade. 

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No dia seguinte, percebi que o melhor era ficar calada, sempre. No ônibus, a caminho da escola, descobri que Jonas não estava mais falando comigo. Eu tinha agora um inimigo declarado, meu próprio irmão. Não insisti. Mas não consegui ficar na escola, estava muito triste para assistir aula. Sai andando nas ruas daquela pequena cidade, olhando as pessoas e querendo ser uma delas. 

Parei em frente à igreja. Eu precisava conversar com Deus, talvez ele soubesse me dizer o que devia fazer. A igreja estava fechada. Sentei-me em uma calçada a olhar a igreja e imaginar Deus lá resolvendo o problema de todos. Ele seria capaz de resolver o meu problema? Eu pensava. A rua estava quase deserta, uma ou outra pessoa passava de carro ou de moto. E eu continuava ali. Eram quase 3 horas da tarde. 

Eu não podia sair de casa, e isso significava ter que viver a mesmice que vivi todo aquele tempo. Nunca me senti feliz. Eu queria fazer parte da minha família, mas eu sabia que aquela família não era minha. Naquele lugar eu só me sentia acolhida pelo lago, até os pássaros me odiavam.  A verdade era que eu queria ser amada. Eu queria o que o pai e a Julia davam a Jonas: amor, atenção e cuidado. 

Eu sabia que minha família seria incapaz de me dar isso. Desde pequenina eu tinha sido a rejeitada, até pelo meu pai, ele via em mim minha mãe e a chance que tinha perdido de ser feliz. Quando olhava para mim, eu via refletida em seus olhos a história que ele desejou viver com minha mãe. Mas ele escolheu Júlia, e Jonas veio para provar que ele fez a escolha certa e confirmar que eu tinha sido um erro. 

Eu queria, na verdade, descobri ali naquela calçada, ser amada. Enquanto pensava no que eu tinha sido e no que não podia ser. Eis que um homem chega para abri a igreja. Decidi então perguntar a Deus o que eu precisava fazer para ser feliz. 

Empurrei a porta apenas encostada. O ranger das dobradiças enferrujadas chamou a atenção do homem, que veio a porta me receber. Perguntei se podia entrar, ele disse que sim, trancando com a chave a porta por dentro. 

A única pergunta que ele me fez foi se alguém havia me visto entrar. Disse que não, ele sorriu. Estava vestido de calça social preta e descalço, a camisa meio aberta denunciava que em seu peito haviam muitos pelos. Ao longe vi os baldes e descobri que ele começara a pouco tempo lavar o chão da igreja. Perguntei se não estava atrapalhando. Ele me disse que não, convidando-me para ir até ele aos fundos do prédio. 

Deus não estava lá. Mas aquele olhar me agradava. Eu me sentia importante, eu era desejada. Sentei-me num banco acolchoado enquanto ele se sentou em uma cadeira branca a minha frente. Ficamos frente a frente, então eu perguntei de supetão: 

- Por que me deu aquela nota de 100 reais com o número de telefone anotado nela? 

- Isso já faz muito tempo -  essa foi a resposta dele. 

 - E você não se lembra do motivo? -  Insisti. 

Ele respondeu que tinha sido um momento de fraqueza, que havia ficado encantado comigo. Cruzei as pernas e deixei que aparecesse por baixo de minha saia, a minha calcinha. Ele fingiu não ver. Descruzei as perna e coloquei os pés sobre o banco, e abracei meus joelhos, deixando exposta a minha virgindade. Ele perdeu a voz. E um volume começou a surgir em sua calça. 

- Tire a camisa - eu pedi sem nenhum pudor. 

Ele me obedeceu. 

Levantei-me despindo a farda da escola, a única peça que me vestia da cintura para cima. Um sentimento de poder tomou conta de mim quando vi em seus olhos o desejo gritar. Despi-me toda a roupa e fiquei nua diante dele. Não deixei que ele me tocasse, exigi que ele ficasse nu diante de mim, ele obedeceu. Eu queria perder a virgindade que de nada me serviu.

Eu tinha sede de felicidade. E ele tinha fome de sexo, de toque, de beijo. Nossos corpos se entrelaçaram num pecado sem perdão. 

Uma mancha de sangue no banco acolchoado branco denunciava que eu não era mais virgem. Ele perguntou se estava tudo bem e eu ordenei que continuasse o seu trabalho. Não estava tudo bem. Eu sentia prazer, muito prazer, mas queria, na verdade, era sentir felicidade. 

Mergulhado em meu orgasmo, ele indagava que não usamos prevenção. Eu era virgem, respondi. E descobri nas palavras dele que o seu maior medo era que eu ficasse grávida. Essa conversa terminou em uma segunda rodada de prazer, sem prevenção. Ele tinha fome de sexo e eu amei a sensação que ele me fez sentir. Eu era desejada e isso me fazia existir, de alguma forma. 

Voltei para escola com a sensação de que minha independência tinha começado. Mas uma vez tinha feito algo sem racionalidade, e tinha sido bom. 

Em casa, minha família nada dizia comigo, mas eu não me importava. A lembrança do que tinha acontecido naquela tarde era a única coisa em minha cabeça. Eu era Rosa. Minha primeira vez, foi minha... eu decidi. Eu quis. Eu tomei a decisão, isso mostrava que eu estava escrevendo aquilo que acontecia comigo. 

Já a noite, sentada no meu colchão olhando o céu lá fora coberto de nuvens escuras, comecei a pensar que talvez aquele sentimento que inundava minha alma fosse felicidade. Talvez eu estivesse descobrindo os ingredientes que compunham a felicidade, eu podia ser feliz. 

Não se passou mais de dois minutos, eu já me sentia culpada. Pensava na esposa de Dornelles e na dor que ela poderia sentir ao saber que estava sendo traída. Mas a lembrança do poder que exerci sobre aquele homem me tirava a culpa. E eu vivia um misto de sentimentos.

Eu não era virgem, mas também não era puta. Eu escolhi com quem e como fazer sexo. E isso me deixava muito feliz. Eu estava começando a ser eu mesma, fazer minhas próprias escolhas. 

Em meios àqueles pensamentos, o sono foi chegando com os ventos frios e fortes que anunciavam uma grande tempestade, uma mudança no tempo. O céu comemorava minha conquista e eu podia dormir tranquila, sem nenhuma culpa.