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Capítulo - 05

- Lorenzo -

— Como assim não posso entrar? — perguntei a enfermeira.

— Ela não permitiu a sua entrada, senhor.

Fiquei confuso.

— Não permitiu? — Ri cético. — Isso é tão a cara dela.

Quando Camila caiu de repente na minha frente enquanto conversávamos fiquei sem reação por três segundos, depois agi rápido chamando uma ambulância e sustentando a cabeça dela nos meus braços.

Acompanhei-a na ambulância e não posso negar que fiquei enjoado estando do lado de quem se preocupa e não de paciente. Ela abriu os olhos em certo momento, os mesmos encontraram os meus e permaneceram fixos em mim antes de se fecharem novamente.

Eu não entendia o que estava acontecendo com ela, nem porque estava acontecendo. Mas aquilo me deixou nervoso.

Será que foi algo que eu fiz? Ou algo que eu disse? Pessoas com estresse excessivo tendem a ter sintomas. Seria esse o caso? Ou ela estava doente?

Não entender algo me deixava furioso, eu gostava de saber o que estava acontecendo para ter certo controle da situação. E a situação em que nos encontrávamos estava me deixando agoniado.

Fui obrigado a esperar junto a outras pessoas que também tinham suas preocupações. Fiquei cogitando se eu deveria ligar para a minha avó e contar o que havia acontecido e onde eu e Camila estávamos. Só que eu sabia que ela ficaria preocupada e isso poderia ser prejudicial a ela. Já bastava de pessoas doentes.

Uma hora depois, Valenccio me liga perguntando se estava tudo bem e respondi que por enquanto eu não sabia de nada, ele pediu para que eu retornasse caso tivesse notícias. Imaginei que os amigos de Camila, os que trabalhavam conosco, também estivessem preocupados e pediram para ele ligar em busca de informações.

Me ocupei com ficar vendo as horas no celular de segundo em segundo, levantar para andar, beber incontáveis copos de água e ficar sentado batendo os dedos no braço acolchoado da cadeira.

Eu sempre odiei hospitais, tanto pelo fato de eu ser constantemente o paciente quanto pelo próprio ambiente. Frio, deprimente, triste e branco demais.

Isso justificava parte da minha inquietação.

Eram sete horas da noite quando desisti e me rendi à máquina de café. Minha avó surtaria se me visse bebendo café, afinal a cafeína acelerava o coração e eu não estava em condições de alterar qualquer coisa no meu.

Tomei um pequeno gole saboreando o gosto forte e quente. Eu estava indo para o próximo gole quando Camila surge com papéis debaixo do braço e o rosto pálido.

Seus cachos rebeldes caiam sobre seus ombros, os olhos abatidos. Ela parecia frágil e isso me fez querer ajudá-la.

Dei passos largos para chegar até ela depressa.

— Como você está?

Ela parou de andar.

— Estou bem, não tem que se preocupar. — A última parte ela disse em tom de ironia.

— O que os exames dizem? — insisti, eu não esperei tantas horas ali para que ela não me contasse nada.

— Dizem que preciso ir embora agora mesmo ou vou ficar maluca — respondeu ela caminhando com certa lentidão para fora do hospital.

Suspirei sem muita paciência para as respostas dela.

— Estou falando sério, Camila. Como seu chefe preciso saber como você está — Só assim ela contaria.

— Eu também estou, preciso mesmo ir embora daqui. — Ela parou na calçada estendendo o braço para a rua.

Nem assim ela contaria.

— O que está fazendo?

Camila bufou desistindo do braço estendido.

— Pedindo um táxi, posso?

— Não, não pode. Acabou de sair de uma internação e acha que vai pegar um táxi?

— Uma pequena internação — corrigiu ela.

Foi a minha vez de bufar e revirar os olhos. Por que era tão difícil lidar com ela?

— Vamos, eu levo você. Além disso, vamos para o mesmo lugar, de todo modo. — Não aceitei qualquer resposta dela e peguei seu pulso conduzindo-a para o estacionamento.

Assim que entramos no carro começou a chover e trovejar.

Encarei Camila querendo dizer "Prefere ir na chuva?" e ela pareceu entender, porque me olhou com uma expressão de "Saiba que odeio você".

Durante o trajeto até a pensão ficamos em silêncio, apesar de mil coisas passarem pela minha cabeça.

Eu não sabia porque estava me importando tanto com tudo aquilo. Ok, seria natural que eu me preocupasse. Mas ao ponto de ficar horas na sala de espera de um hospital? A ponto de beber café por não aguentar de tão inquieto que eu estava? Não. Para mim isso era loucura. Talvez eu tenha batido a cabeça e me esquecido de que eu não ligava para muitas pessoas e de que eu era alguém ocupado demais com meu restaurante para ficar esperando por alguma coisa ou por alguém.

Parei o carro em frente a pensão já sentindo raiva de mim mesmo.

— Espere. — A voz fraca de Camila me fez congelar no lugar. Ela respirou fundo e umedeceu os lábios pálidos antes de falar: — Não diga nada a Martina, por favor.

É claro que eu não diria nada, a última coisa que eu queria era a minha avó apreensiva com alguém que caiu de paraquedas nas nossas vidas.

— O que eu posso contar se você nem me disse nada dos exames? — disparei.

Seus olhos focaram na rua a sua frente, depois encararam os meus.

— Anemia — disse ela. — É o que tenho, mas não é sério. Algumas vitaminas e eu estarei bem.

Permaneci olhando para ela, um canto de sua boca subiu levemente, mas não era um sorriso.

Camila se virou para sair do carro e eu fiz o mesmo.

Anemia? A expressão dela dizia outra coisa que era o contrário de "nada sério".

Mas aquilo não era da minha conta, não se ela dizia que estava bem.