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Jogo de Palavras

Eu ergui a voz inconsciente quando fui falar com ele novamente. Continuava no batente da porta, porém virado para o quarto agora, achando graça. O brilho nos olhos dele era inconfundível. Nem me dei conta que havia passado por ele, de tão transtornada que ele me deixou.

_Olha aqui, acabei de sofrer um acidente automobilístico e morri! Como esperava que estivesse? Limpinha e com o cabelo escovado?

_ Confesso que não seria má ideia...

_ Ah... Mas é claro! No dia de sua morte, aposto como tomou um banho, se vestiu com sua melhor roupa, deitou na cama, pegou um jornal e ficou lendo enquanto esperava a morte chegar... - Ironizei.

_Fala como se tivesse morrido hoje...

_ E não foi? Afastei-me confusa recuando um passo.

Por um momento, vi uma sombra de compaixão passar por seus olhos, mas foi só por um segundo. Foi tão rápido que acho até que foi imaginação minha.

_Está aqui a pouco mais de um mês, segundo o tempo do lar terreno. - Ele informou impessoal, mas senti uma ponta de satisfação malévola, mas não foi o que mais me chocou...

_ Mas, não pode ser! O acidente foi ontem... Acabei de acordar e você só está querendo me deixar confusa.

_ E o que ganharia com isso? Pensei que já soubesse... – Ele disse franzindo a testa pensativo.

_ Não me deixariam naquele chão, ao tempo, durante todo esse tempo.

Ele me olhou impaciente. O humor desparecendo quase por completo de seus olhos.

_ Se dormiu, naquele chão durante quase quarenta e cinco dias é porque não estava tão ruim assim! E foste tu mesmo que não permitiu que a removêssemos. Tentamos ajudar as pessoas, mas não podemos obrigá-las a aceitar nossa ajuda!

_ Quer dizer que fiquei aquele tempo todo... Deus! Todo mundo passando ali e me olhando com ar de desprezo, acreditando que fosse uma mendiga! Por isso ninguém achou estranha a minha presença ali...

Ele revirou os olhos.

_ Como é pretensiosa... Acha mesmo que alguém daqui, perderia tempo em pensar algo sobre ti? Além disso, apesar da semelhança, não estamos no lar terreno. Aqui não temos a sociedade nos cobrando comportamentos absurdos! Não está, absolutamente, presa as regras da sociedade que conheceu. Isso acabou. Ficou para trás.

Olhei e vi que seu semblante agora estava com ar profissional. Ele falava como um professor.

_ Como pode ser tão grosso e insensível? Se estava dormindo, como poderia ter consciência que não estava aceitando ajuda? – Perguntei para provoca-lo. Na verdade não havia sido grosso, apenas não floreou as palavras. O que eu até preferia. Ele era sincero e isso na Terra era conhecido como grosseria.

_ Claro que tinha consciência! Estava apenas se escondendo da verdade. Não queria sair dali, porque ainda tinha esperanças de tudo não passar de um pesadelo e acordar em sua casa, na sua cama quentinha. É uma tola! Mas não é a única. Muitos fazem isso. Eu mesmo também fiz, apesar de não ter demorado como você para despertar, porque não estava em um lugar agradável que me permitisse ter o meu tempo de aceitação... Então você pensou que poderia fugir ao seu destino...

_ Então era esse meu destino? Nada poderia mudar... – Perguntei, mas as palavras dele que ficaram em minha mente, foram as que ele disse que não havia despertado em um lugar agradável. Só que não consegui questiona-lo sobre isso. Me pareceu algo muito pessoal dele.

_ Não, seu destino era muito pior... Acho até que o merecia, mas são desígnios do Mestre Divino, e sua vontade não deve ser contestada.

_ Do que está falando?

_ Você desenvolveu uma doença...

_Câncer. Antônio me falou sobre isso. Mas não foi o quis saber. Foi o motivo de achar que eu merecia.

_ Todos nós merecemos o destino reservado a nós. E você não é uma pessoa especial para que tenha escapado.

_ O destino que me aguardava era melhor que a morte. Poderia ter me tratado e sobrevivido. Estamos concordando em algo agora. Também preferia ter enfrentado meu destino.

_ Então deve saber que deve agradecer ao Senhor, por ter poupado sua mãe de descer a Terra quente. Sua chegada aqui, garantiu que ela não fosse parar lá em poucos meses...

_ O que minha mãe tem a ver com isso? E o que significa Terra quente?

_ Então ainda não sabe? Não foi por méritos próprios, que escapou a esse sofrimento, mas pelos de sua mãe. A carga seria muito pesada para ela, pois com todo seu egoísmo a atormentaria, jogando toda culpa por sua doença em suas costas e ela não suportando mais ver seu sofrimento e realmente acreditando que tinha culpa, tiraria a própria a vida, para que sua acusadora fosse mais feliz, pensando que pelo menos sobreviveu à responsável por seu mal. E quanto a Terra Quente... Falaremos sobre isso em outra oportunidade.

Fiquei ouvindo como se ele contasse a história de outra pessoa. Devia ignorá-lo, pois percebi que não gostava de mim, pois amava muito minha mãe e jamais faria tal coisa. Ele não parecia agressivo, mas suas palavras tinham um tom de quem quer machucar... Ferir.

_Não parece muito contente com essa mudança de planos... - Resolvi provocá-lo.

_ Não fiquei mesmo. Mas não por sua mãe. Por você. Acontece que li seu prontuário e fiquei aborrecido por termos que te atender aqui.

Eu o fitei curiosa, e ao olha-lo meu bom humor começou a voltar. Me perguntava o que haveria em meu prontuário de tão grave assim... Confesso que não podia pensar em nada que houvesse feito para ofender quem quer que fosse. Pelo contrário. Sempre fui amigável com todos, sem me preocupar com situação social, o que era muito comum na Terra. As pessoas eram avaliadas pelo que tinham. A posição social era fundamental para decidirem o tipo de tratamento que dariam...

_ Não entendo como pude confundi-lo com um anjo... Tem mais características do... A propósito, quem subornou para estar aqui?

Ele soltou uma gargalhada. E ela soou como o canto mais lindo que já ouvi. Fiquei feliz por ele ter caído em minhas provocações.

_ Sabe que tem um senso de humor admirável?

_ Nem todos pensam assim.

_Imagino. Não parece o tipo de garota descontraída, que se diverte com amigos.

_Elogio?

_ Pode ser. Mas também pode ser... Critica.

_ Não é nada lisonjeiro.

_Não tinha mesmo a intenção de ser.

_ Que crueldade...

_ Que garotinha sensível...

Por alguma razão, que desconhecia, aquele homem me atraia, até mesmo quando tentava ser grosseiro, ele era carismático.

_ Não sou nenhuma garotinha. Sou uma mulher.

Ele me fitou com olhar de indisfarçável desejo.

_ Creio que sim, mas não me importaria que me provasse isso.

_ Olha, como você mesmo fez questão de lembrar, estou mesmo precisando de um banho. E além disso, estou exausta e sem nenhuma disposição para continuar a ouvir seus desaforos. Então, porque não tenta ser um bom menino e dê o fora daqui? – Eu disse imitando o tom dele, mas realmente desejando ficar sozinha.

_ Bem que queria, mas não posso.

_ E porque não?

_ Já disse que fui designado para te cuidar. Enquanto não se recuperar, é minha paciente e vai ter que me aturar.

_Meu Deus! Isso é um castigo, uma tortura! Afinal estou no céu ou no inferno? – Era uma pergunta para ser divertida, mas ele agiu com seriedade, voltando a ter aquele ar de professor.

_ Nem um dos dois.

_ Então é o purgatório. Claro! Estou passando pelo purgatório.

_ Nada disso. Sua vida na carne, era a fase de expiação, para completar um ciclo. Agora está na fase da progressão. É Hora de pesar os prós e contras de um possível retorno. É aqui que aprenderá a se conhecer e se preparar para mudar de fase. Pode progredir ou regredir, ou até mesmo ficar como está, só depende de você. E... Não existe purgatório.

_ Se dependesse mesmo de mim, voltaria para meu corpo e continuaria a minha vida. Mas como não posso, no momento gostaria de ficar sozinha. Poderia se retirar por favor?

_ Se tem mesmo certeza que não precisa de uma ajuda...

_ Será que você ainda não entendeu que preciso tomar um banho, trocar de roupa, descansar... Coisas que posso fazer perfeitamente sozinha, sem sua ajuda e sua plateia?

_ Acha mesmo que pode me esconder algo? Seu pudor, não me impediria de vê-la se quisesse, o que não é o caso, através desses trapos que chama de roupa?

_ Porque me agride? O que fiz para merecer seu rancor? – Agora achei que ele havia ido longe demais no jogo de palavras em que estávamos.

Ele ainda ficou me observando algum tempo antes de parecer tomar uma decisão e virar-se de costas.

_ Não sou seu inimigo. Pelo contrário. Talvez pense assim por algumas vezes, mas tudo que faço é para seu bem. Já o que falo... Parece que você me faz agir irracionalmente. Sairei para que tome seu banho, mas estarei de volta assim que terminar.

_ Não precisa. Se precisar chamo.

_ Não sou seu criado, menina! Já decidi que ficarei aqui o tempo todo em que ficar aqui!

_ Que espero, não seja muito longo!

_ Pode acreditar que será!

Ele disse arrogante e saiu. Sem perder tempo, tirei minhas roupas e entrei na banheira. Mesmo exausta, fiquei a imaginar porque ele não gostava de mim. Não conseguia entender as atitudes de Gabriel. Fiquei assim a pensar, até que comecei a relaxar e esqueci de tudo. Fiquei muito tempo no banho, nem sei dizer o quanto, mas devem ter sido horas, e o mais incrível, era que a água estava com a mesma temperatura agradável de quando entrei. Sai decidida e escolhi uma roupa qualquer, tentando entender porque ainda tinha as mesmas necessidades de quando estava terra, escovei os cabelos e os dentes e olhei para a cama com a intenção de me deitar um pouco, quando avistei uma bandeja sobre o criado mudo, ao lado da cama. Nela havia uma sopa com ótima aparência e um suco da cor da laranja. Sentei-me na cama e comi tudo, me surpreendendo com o sabor sem igual da comida e com o fato de só perceber que estava com fome após esvaziar a bandeja. Deitei-me com a intenção de descansar um pouco e depois sair para procurar alguém que pudesse esclarecer minhas dúvidas, mas acabei pegando no sono.

Assim que acordei me espreguiçando, sentei com a esperança que tudo aquilo não tivesse passado de um sonho provando a mim mesma que Gabriel tinha razão sobre o que eu queria e me decepcionei ao perceber que não era meu quarto. Muito parecido, mas definitivamente, não era. Quando fui colocar os pés no chão, pisei em algo macio e recuei assustada. Fui ver do que se tratava e ali deitado estava um homem. O primeiro pensamento, foi de o que será que ele está fazendo aqui? Por outro lado, não conseguia parar de admirá-lo. Tinha pernas lindas, grossas e com pelos dourados. Ele estava só de cueca! Sorri ao constatar isso. Como podia me sentir atraída mesmo depois de morta? E o único homem que desejei na vida, não estava mais no mesmo mundo que eu... Então aquela pergunta persistia. Porque me atraia? Ainda mais com uma simples visão? Segui olhando seus peitos, cada vez mais animada... Dei um pulo assustada e envergonhada. Era Gabriel! Ele estava com a cabeça apoiada sobre seus braços, observando-me com aquele sorriso maldoso nos lábios. E o pior, é que seu olhar era cínico e prepotente. Não restava dúvidas. Ele reconheceu meu olhar de admiração... Nem sei como senti atração. Nem mesmo gosto de louros!

_Então, gostou do que viu? - Ele perguntou, já se pondo de pé.

_ O que faz aqui no meu quarto sem roupas?

_ Sem roupas? Mas do que está falando? – Ele me pareceu genuinamente verdadeiro.

Olhei novamente e vi que realmente estava vestido. E ele me fitou impaciente. Mas o divertimento ainda brilhava mais forte em seus olhos. E ele tentava disfarçar como se aquilo fosse uma espécie de humilhação para ele. Parecia querer sentir o que saia de sua boca.

_ Sei o que aconteceu. Ainda está misturando sua outra vida com essa e acaba confundindo as coisas.

_ O que uma coisa tem a ver com outra? O que disse não faz sentido algum.

_ Oras, quando ainda estava no lar terreno, se acordasse com um homem em seu quarto, como esperaria encontrá-lo?

_ O que! Como ousa insinuar...

_ Não se faça de inocente. Só porque sua carne morreu, não quer dizer que não tenha desejos.

_ Como é pretensioso e arrogante! Quer dizer que desejei vê-lo sem roupas, por isso vi?

_Exatamente, quase isso.

_ Mas não desejei nada disso!

_ Ah não?

_ Claro que não! E para o seu governo, nem mesmo gosto de louros. E também para sua informação, nem mesmo estava pensando em você quando acreditei que estava nu... – Terminei a frase ficando vermelha. Lembrei que uma amiga uma vez me disse que vira um lindo homem, uma única vez e não pensou mais nele, porém a noite sonhou que o estranho entrava em seu quarto e os dois transaram de uma forma louca. Ela disse que mesmo sem saber, o homem ficara guardado em seu subconsciente, pois tinha forte presença. Com certeza Gabriel era um homem de forte presença e pode ter sim se infiltrado em meu subconsciente. Mas jamais admitiria isso para ele.

_ Não foi o que pareceu... – Ele disse alheio aos meus pensamentos.

_ Olha aqui, como poderia desejar vê-lo sem roupas, se nem ao menos sabia que estava aqui?

_ Coração, ainda não entendeu que, até inconsciente, sente quando alguém está do seu lado? Não só do lado, mas a milhas de distância. Por exemplo, ainda não sentiu as vibrações de seus entes queridos, porque não está muito ligada a eles.

_ Está errado! Sempre fui muito ligada à minha família.

_ Sei disso. Mas é que agora está muito ocupada sentindo pena de si mesma.

_ Mas você é muito...

_ Já chega! Não quero me aprofundar em nenhum assunto agora! Mesmo porque, seu egoísmo pode estar agindo a seu favor. Não é bom sentir as vibrações de entes queridos... Elas nos enfraquecem e nos tira o foco... - Ele disse e pegou um fichário de dentro de uma maleta e sentou-se na beirada da cama. _ Preciso fazer sua ficha, aliás já era para ter feito a mais tempo, mas como é muito dorminhoca...

_ Quanto tempo dormi?

_ Não deve pensar em tempo aqui.

_ Por favor.

_ No relógio a que estava habituada, umas doze horas.

_ Doze horas! E fala como se fossem apenas alguns minutos.

_ Pense no que acabou de dizer. Para você não foram apenas alguns minutos mesmo?

_ Tem razão. - Admiti. Tempo ali era insignificante.

_ Ótimo. Vamos começar com essa palhaçada de burocracia. – Ele disse revirando os olhos. Pelo jeito pensávamos igual sobre algumas coisas. Nome completo?

_ Elizabete Pamplona da Costa.

Ele parou e ficou me observando, como se estivesse confuso.

_ Liza? – Ele perguntou apertando os olhos, como se assim pudesse me ver direito e de repente, parecia que ele estava vendo uma pessoa diferente diante de si. Como se já tivesse me visto antes, mas não como a moça que ele encontrara medindo a temperatura da agua.

_ Só meus amigos me chamam assim, o que não é teu caso. - Disse arrogante para entender o que mudou, mas ele pareceu não ouvir, continuando a me olhar como se só agora me notasse.

_ Mas como isso é possível? Agora não restam mais dúvidas... - Ele disse baixinho, como falando a sós para si. Será que tinha alguma coisa a ver comigo? Minha vontade de perguntar era grande, mas algo me dizia que aquele não era o momento. – Eu vigiei... Será que o pouco tempo que me distrai com outros pacientes ela crescera e...

_Está com vinte e quatro anos?

_ Sim... Como sabe?

_ Não percebeu o número ao lado de seu nome na porta?

_ Quer dizer que cada número representa uma idade?

_ Isso.

_ Então, Elisabete, com 24 anos, só tem eu?

_ Claro que não.

_ Mas só vi...

_ Porque não andou por todo hospital.

_É verdade...

Começamos a falar daquele hospital e descobri muitas coisas. Uma delas, talvez a mais importante, era que eu era privilegiada por estar ali, pois muitos espíritos costumavam ficar vagando pela terra, e sentiam fome, frio, e muitas dores. Gabriel deu por encerrado o assunto e após me examinar, saiu sem nada a dizer, mas antes que pudesse piscar já estava de volta, com uma bandeja na mão e colocou sobre meu colo, sem cerimônias. A bandeja continha biscoitos, sucos e gelatina.

Pensei que havia julgado errado, mas ele realmente mudara. Estava mais pensativo. O brilho de divertimento em seus olhos se apagara, e ele parecia não saber mais como agir comigo. Senti como se tivesse perdido uma parte importante dele, apesar de sentir uma grande conexão com ele ainda. Que crescia a cada minuto. Fiquei pensando se ele também sentia o mesmo. Se ele podia ver que havia uma linha invisível que nos ligava, ou se era tudo produto da minha mente. Não podia me apaixonar por ele, mas isso ia acabar acontecendo se continuássemos a nos falar daquela forma. Estivemos flertando um com o outro desde o momento em que nos vimos.

_ Coma. - Ele disse e foi até a janela. Suas palavras me despertaram de meus pensamentos e comi tudo em tempo recorde e depositei a bandeja no criado mudo.

_ Como foi que morreu? - Perguntei para levantar uma conversa.

Ele abaixou a cabeça. Algo o incomodava e muito. Mas a atitude dele aguçou minha curiosidade.

_ Ainda não respondeu...

_ Talvez porque não seja da sua conta! - Ele falou irritado.

_ Porque tanto mistério? Alguma história dramática?

_ Ainda não está preparada para saber. - Ele disse se dirigindo a porta com passos largos, mas pulei da cama e o segurei pelo braço, antes que pudesse sair.

_ Espere! Por acaso tive algo a ver com sua... Morte?

Ele me fitou com olhos frios como aço, mas retirou minha mão com delicadeza.

_Não faça me lembrar da força que me move! - Disse com voz irritada, e entre dentes.

_ Preciso saber! Foi algo que fiz? – Eu queria aquele Gabriel que conheci de volta e meus olhos se encheram de lágrimas. Será que havia o perdido também?

_ Não insista mais nesse assunto! - Ele disse e saiu batendo a porta.

Suas últimas palavras, me fizeram ter certeza que algo mudara dentro dele. E eu estava disposta a mudar aquilo. Ele já era muito valioso para mim. Aquele jogo de palavras desencadearam uma avalanche de sentimentos dentro de mim.