O sol nasceu em um céu claro, trazendo consigo uma sensação de renovação. Iara acordou cedo, como de costume, para cuidar de suas plantas e preparar uma infusão de ervas. Mas, naquele dia, havia uma sensação de expectativa no ar, um pressentimento de que algo estava prestes a acontecer.
Ares, por outro lado, estava com a cabeça cheia de dúvidas. A noite anterior na corrida tinha sido tumultuada e, apesar da emoção, ele não conseguia parar de pensar nas palavras de Iara. O evento havia terminado cedo, e ele voltara para casa com um sentimento de desilusão. A adrenalina havia sido substituída por uma inquietação que ele não sabia como lidar.
Por volta da tarde, Iara decidiu visitar o mercado local, uma atividade que ela achava relaxante. O mercado estava cheio de vida: vendedores oferecendo seus produtos, crianças correndo e pessoas conversando. Ela estava em busca de alguns ingredientes para suas receitas de remédios naturais, quando, de repente, avistou Ares em uma das barracas.
Ele estava de pé, examinando algumas ervas secas com uma expressão de curiosidade. Iara hesitou por um momento antes de se aproximar, preocupada em interromper algum momento importante, mas, ao vê-lo ali, decidiu que era um sinal para uma conversa sincera.
— Nunca pensei que te veria aqui. — Ela disse, tentando parecer casual.
Ares levantou os olhos, surpreso e um pouco constrangido.
— Eu... estou procurando algumas coisas. — Ele respondeu, tentando esconder a sensação de desconforto que estava sentindo.
Iara sorriu e se aproximou um pouco mais. Ares parecia fora de lugar naquele ambiente, com sua atitude de desdém misturada com uma curiosidade genuína.
— Parece que está tentando descobrir algo novo — observou Iara, enquanto pegava um punhado de ervas secas e cheirava.
— É, meio que isso. — Ares admitiu, enquanto tentava parecer desinteressado. — Ouvi que essas ervas são boas para... sei lá, acalmar a mente.
Iara levantou uma sobrancelha, surpresa pela escolha do Ares.
— E por que você está interessado nisso? — perguntou ela, genuinamente curiosa.
Ares hesitou, não sabendo exatamente como explicar. Sua relação com o mundo natural era limitada, mas algo em Iara e em suas palavras havia despertado um desejo de entender mais.
— Não sei, Iara. Talvez eu esteja tentando encontrar um pouco de paz em meio a toda essa bagunça. — Ele disse, olhando para ela com uma expressão de sinceridade que era rara para ele.
Iara o observou com um olhar de compreensão. Era claro que Ares estava lutando contra algo interno, algo que ia além das corridas e do caos em que se envolvia.
— Eu posso te ajudar com isso — ofereceu ela. — Se quiser, posso te mostrar algumas ervas que ajudam a acalmar a mente e relaxar. E quem sabe, durante o processo, a gente possa conversar um pouco mais sobre o que está te afligindo.
Ares considerou a proposta por um momento e, com um suspiro, concordou.
— Ok. Vamos ver o que você tem em mente.
Assim, os dois caminharam até o pequeno jardim de Iara, que ficava na parte de trás de sua casa. O jardim era um refúgio de cores e aromas, com uma variedade de ervas, flores e plantas medicinais. O ambiente era completamente diferente do mundo acelerado que Ares conhecia, e ele sentiu uma paz imediata ao entrar naquele espaço.
Iara começou a explicar as diferentes ervas e suas propriedades, falando com entusiasmo e conhecimento. Ares a escutava com atenção, absorvendo cada palavra. A conversa fluiu naturalmente, com Iara compartilhando não apenas o conhecimento sobre as plantas, mas também histórias sobre como aprendeu sobre elas com sua avó e o impacto que isso teve em sua vida.
— Você sabe, a natureza tem uma forma incrível de nos ensinar a desacelerar. — Iara disse, enquanto preparava uma infusão com algumas ervas. — Muitas vezes, o que precisamos é simplesmente parar e ouvir.
Ares observava Iara com um olhar novo. Ele sempre a viu como uma figura calma e distante, mas agora via a paixão e a dedicação que ela colocava em tudo o que fazia. Aquela tarde no jardim trouxe uma nova perspectiva para ele. Ele percebeu que, embora seu mundo fosse caótico, havia algo genuíno e valioso na serenidade que Iara representava.
— Eu nunca parei para pensar assim — admitiu Ares, enquanto tomava um gole da infusão que Iara preparara. — É estranho, mas isso parece ajudar.
— Às vezes, é preciso estar aberto para novas experiências e pensamentos — respondeu Iara com um sorriso. — E é bom ver você aberto a isso.
Enquanto o sol começava a se pôr, os dois continuaram conversando, compartilhando histórias e pensamentos. Ares se viu revelando mais sobre si mesmo do que jamais fizera antes, e Iara se sentia conectada de uma maneira que não esperava. O encontro dos dois mundos parecia estar criando uma nova dinâmica, algo que desafiava e ao mesmo tempo completava o que cada um buscava.
Quando a noite chegou, Ares se despediu de Iara com um sentimento de leveza que não havia experimentado há muito tempo. Sabia que a jornada seria longa e cheia de desafios, mas pela primeira vez em muito tempo, sentia que talvez houvesse um caminho diferente à sua frente. E, no fundo, estava disposto a explorar o que esse novo caminho poderia oferecer, especialmente ao lado de alguém que o inspirava a ser mais do que apenas o rebelde impulsivo que costumava ser.