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Assassino de Heróis

Singulares, são assim chamados as pessoas com habilidades especiais, e graças a elas, o planeta foi sendo destruído a um ponto irreversível. Agora o mundo é controlado por pequenos grupos de singulares, e dentre eles está o mais poderoso que já existiu: os Heróis. Neste mundo, ter uma habilidade poderosa é sobreviver e prevalecer, o que não é o caso de Mary, que possui um poder considerado inútil pela maioria. Mas nada disso importa mais, pois após ver sua família ser morta pelos Heróis, ela irá até o fim para destruir esse grupo e se vingar. Se seu poder não é o suficiente para fazer os singulares a temerem, então ela fará isso com as próprias mãos. Muitos a conhecem pelo título de: Assassina de Heróis.

Elyuity · Urban
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27 Chs

Capítulo 4 - Busca por ajuda

Mary terminava de enfaixar a mão de Ethan enquanto o garoto estava desmaiado. Quanto ao braço retorcido dela, a moça não podia fazer muita coisa: se ela tentasse mexer mais, iria piorar. De certa forma ela se sentia culpada, porque foi por irresponsabilidade e falta de atenção dela que os dois acabaram desse jeito, e não estavam nem no começo da jornada ainda. A partir de agora, ela deveria ser precavida e lembrar que as vidas dos dois dependiam dela.

Ela então se ajeita e coloca sua máscara de pano no rosto, coloca o capuz de Ethan para cobrir sua cabeça e então dá um jeito de colocar o menino em suas costas, afinal eles não podiam ficar muito mais tempo ali, sabe-se lá quem apareceria por ali depois de toda a confusão causada.

Apesar de só conseguir usar um dos braços, Mary de certa forma era bem forte, mas também tinha o fator de Ethan ainda ser novo, portanto, baixinho e leve, então pôde levar até as mochilas junto, apoiadas nas costas do menino. Ela segurava os braços dele com a única mão restante e a bainha da katana ela fixou atrás de si para manter Ethan naquela posição em suas costas.

Enquanto andava com ele nas costas, Mary tentava ir mais pelos cantos, para evitar ser vista facilmente, pois naquela situação seria morte certa. Ela então se lembra de como Ethan, após disparar para matar Dex, estava com um olhar muito assustado e até mesmo lacrimejando, não por hesitação de atirar, mas por estresse e até pânico. Ela novamente se sente culpada por colocar tanta pressão em um garoto pequeno, mas ela não tinha tanta escolha, não naquele mundo de singulares.

- Você evoluiu bastante, que bom. – Mary sussurrava para si mesma, lembrando como Ethan era no começo do treinamento.

O menino era bem medroso e mal sabia montar uma pistola mesmo após ensinado. Por muitas vezes Mary saía para realizar algumas tarefas e deixava Ethan tentar conseguir por conta própria, e, por muitas vezes, ele não conseguia concluir. Porém, mesmo assim, ele continuava se esforçando para quem sabe um dia ajudar sua mestra, que agora era basicamente a única pessoa que ele podia contar com.

Mary um dia havia chegado no esconderijo que eles estavam utilizando, que nada mais era que uma casa subterrânea abandonada, e viu Ethan com a cabeça deitada nos braços, que estavam apoiados na mesa. Olhando mais de perto, ele ainda não tinha conseguido montar a pistola sozinho, estava pela metade. Ela vê isso e até sorri um pouco, não podia negar que havia sentido um certo orgulho de Ethan. E, agora, o garoto estava ali, com uma mão perfurada por uma bala porque sabia atirar como foi ensinado.

A moça continua carregando Ethan, subindo ruas, descendo com dificuldade e tendo que se virar para saltar obstáculos no caminho. Mary acaba saindo daquelas ruínas da cidade, deparando-se com um matagal aberto e em seguida um conjunto de árvores, o que dava a entender que mais à frente teria no mínimo uma floresta para percorrer ainda.

- ... – Mary encarava aquele campo de mato verde aberto com muita suspeita, era um caminho limpo demais. Ela decide fazer um teste, chutando uma pedra que encontrou ali perto bem no centro do campo. Como ela suspeitava, o local em que a pedra caiu explodiu como se fosse uma mina.

Ela se concentra. Não conseguia sentir nenhuma energia vindo do campo, o que indicava que, se tivessem bombas plantadas ali, então eram todas artificiais, plantadas manualmente. Porém, ela sente uma energia vindo da lateral daquele campo, em que havia uma cerca de arame farpado se estendendo até a floresta mais à frente. Aproximando-se mais dali, Mary olha em volta para ver se não estava sendo vigiada e entender se aquela cerca tinha algum tipo de rede elétrica.

Mary então pega uma pedra no chão novamente e joga num dos meios da cerca. Na primeira tentativa não acontece nada, na segunda também não, porém na terceira tentativa, a pedra simplesmente passa pelos arames como se não tivesse nada ali. A moça chega mais perto e tenta fazer a mesma coisa só que com a mão, e, novamente, a mão dela passa pelos arames como se não tivesse nada no local.

- ... – Mary pensava consigo mesma se essas ilusões também poderiam ser criadas com pessoas. A singular passa pela ilusão de cerca e então se vira na direção da floresta, conseguindo chegar nela sem ter que passar pelo campo minado.

Assim que chega no conjunto de árvores, ela passa por alguns morros complicados de barro, tentando não derrubar Ethan de suas costas. Mary chega no final daquela floresta que de certa forma era meio curta, parece que servia apenas para fechar melhor a entrada do que tinha logo depois. Após acabar o conjunto de árvores, ainda tinha mais um morro para descer, e depois dele o destino final, uma espécie de vilarejo contendo poucas casas improvisadas com escombros.

De longe já era possível ver pessoas andando nas ruas e trabalhando com seus poderes, regando plantas, preparando terrenos para pequenas plantações. Mary pensa como isso sim era um bom uso dos poderes, facilitar o trabalho. Porém, antes mesmo de dar mais um passo na direção do vilarejo, ela ouviu um barulho de pistola sendo armada e quando se virou para trás, viu aquele rapaz parceiro de Dex, que havia colocado aquela mancha na moça para poder rastreá-la com seu poder.

Ele mirava a pistola na direção de Mary, ofegante e com uma das mãos no olho que recebeu o tiro da singular, onde sangrava bastante.

- Como sobreviveu? – A moça começava a suar, não conseguiria revidar de jeito nenhum da maneira que estava.

- Não importa, passa o garoto. – O rapaz dizia enquanto se contorcia de dor por causa de seu olho. – Nem mais um passo, ou eu atiro em você. Passa o garoto pra cá. – Ele dizia com uma expressão enraivecida enquanto estendia a mão para frente.

Mary tentava pensar numa solução, porém as opções estavam mais que escassas. Não podia largar Ethan, senão ele cairia morro abaixo: seu braço direito estava comprometido e, se fizesse qualquer movimento suspeito, provavelmente levaria uma bala. A moça estava pronta para fazer uma jogada arriscada, mas que talvez desse certo.

Um pouco atrás deles, pendurada em uma árvore, uma figura vestindo uma calça cargo feminina preto, um par de tênis esportivos brancos e surrados, regata também preta e tendo um porte físico magro, desce do galho que estava sem fazer barulho e, ao aterrissar no chão, leva sua mão esquerda à boca e morde seu polegar até seu canino perfurar sua pele e começar a sangrar.

O líquido então escorre pela mão da moça e, justamente ao começar a descer pela sua pele, ele começa a flutuar na direção da outra mão da mulher, que fazia gestos que lembravam a alguém puxando alguma coisa. Após puxado o que precisava, o sangue dela fica na ponta de seu indicador direito, a moça estende seu braço na direção do rapaz e começa a de certo modo mirar nele.

Agora sendo possível ver seus olhos e cor de cabelo, ambos eram vermelhos. A moça então se concentra um pouco e aquele sangue flutuando na ponta de seu dedo se molda e se torna praticamente uma lâmina. Por fim, a singular faz um movimento de disparar uma arma com o dedo e a lâmina vai em alta velocidade na direção do rapaz.

- Não vai passar? Então, que seja. – O rapaz se prepara para puxar o gatilho, porém, antes de conseguir fazer isso, sua cabeça foi perfurada por trás por uma lâmina vermelha, atravessando seu cérebro e enfim derrubando-o de vez.

Mary se aliviava um pouco, pois, julgando pela cor da lâmina e a maneira como ela se desfaz, já sabia de quem se tratava. Justamente por causa disso, ela também fica um pouco apreensiva. A singular de sangue se aproxima e enfim é visto seu rosto, seus cabelos eram lisos e curtos, amarrados atrás de sua cabeça como rabo de cavalo, e utilizava piercings na orelha esquerda. Mary reconhece na hora.

- Lucy. – Seu tom não era de empolgação.

- Mary. – Por outro lado, o tom e expressões de Lucy demonstravam raiva e até desprezo. – Tem culhão para voltar aqui, o que você quer? – A moça repara no menino atrás das costas dela. – Ah... Então quer dizer que a sangue frio, indomável e sem escrúpulos Mary se tornou uma babá? – Ela dizia com um claro tom de sarcasmo.

- Preciso de ajuda. – Mary dizia da maneira mais neutra que conseguia. Lucy reparava no braço retorcido da moça e na mão enfaixada do garoto.

- E por que eu deveria ajudar alguém que só age por egoísmo e não se importa de deixar os outros para morrer? – Lucy confrontava a moça.

- Você sabe que não tínhamos escolha. Queria sacrificar mais em prol de menos?

- Fala isso para o David, e a primeira coisa que você recebe é uma estaca de gelo na sua garganta. – A singular estava ficando irritada, sua mão estava coçando para mirar uma bala de sangue em Mary, porém algo segurou seu ombro por trás, impedindo-a.

- Deixe essa parte comigo, Lucy. – A moça olha para o lado e vê um homem alto, com cabelos curtos e loiros, assim como seus olhos, que também eram amarelos por conta de seu poder. Ele ainda por cima tinha uma barba rala. Utilizava uma jaqueta de flanela verde e uma camiseta branca com calças jeans e botas.

- Hum... – Lucy olha um pouco para o rapaz e relaxa sua mão, logo ela cruza os braços e deixa que o rapaz assuma a conversa.

- Bruno. – Mary também se lembrava do nome do rapaz.

- Por que voltou, Mary? Já falei que não vamos enfrentar os heróis, e sabe bem que nem todo mundo gosta de você. – Bruno dizia, tentando pelo menos alertar a moça.

- Eu não ligo para o linchamento de palavras. Eu preciso de ajuda, tanto nisso, – Ela mostra seu braço quebrado. – ,quanto contra os Heróis. E você vai me ajudar, lembra o serviço que fiz para você?

- Lucy, verifique se ela não foi seguida por mais alguém. – O rapaz dizia para a moça ruiva. Dito e feito. – Mary, mesmo que você tenha salvado minha filha, não posso simplesmente ordenar a todos da cidade para te seguirem contra os Heróis, você sabe que o David não superou ainda a morte do irmão.

- Ele sabe que não foi minha culpa, dezenas morreriam se eu tivesse voltado. – Mary pensa um pouco no que poderia fazer. – Bruno, eu ouvi que vocês estão tendo muitos problemas com um grupo de singulares, né?

- Como descobriu? – Ele questiona.

- Encontrei um cidadão do seu vilarejo fazendo compras num local próximo de onde estava, pode procurar pela Alice depois.

- A mensagem não deve ter chegado ainda. Certo, eu verifico depois.

- Então, para não haver problemas, façamos um novo acordo demoníaco, Bruno.

- Tem certeza disso, Mary? – O rapaz perguntava, a moça olha para Ethan em suas costas e acena positivamente com a cabeça. Bruno suspira e, depois de ver que não tinha jeito mesmo, pois ele já sabia do que Mary era capaz com aquela espada, ele então estende a mão para a singular e ela brilha num tom amarelado.

- Ofereço minha ajuda aos Cicatrizes. – Mary começava o acordo.

- E, em troca, ofereço ajuda contra os Heróis. – Bruno continuava.

- Desde que Ethan e eu possamos receber ajuda e abrigo no vilarejo se necessário. – Mary dizia.

- Desde que a ajuda contra os Heróis não afete nossa localização nem a quantidade de cidadãos.

- Fecho este acordo absoluto.

- Caso um de nós o descumpra, este pagará com a vida.

Dito todas essas palavras, os dois apertam suas mãos, ambas são envolvidas em chamas azuis e, após um tempo, elas se dissipam e o brilho na mão de Bruno se desfaz.

- Obrigado de novo, Bruno. – Mary dizia.

- Não me agradeça, eu não posso obrigar os nossos melhores singulares, como o David ou a Lucy. Se reconciliar com eles infelizmente vai ter que ser com você.

- Eu sei...

Lucy volta da floresta e diz que estava tudo limpo, não havia sinal de alguém além do rapaz já morto ter seguido Mary. Bruno então explica a situação para a singular, que, ao ouvir que Mary novamente estaria no vilarejo, faz uma expressão de certa forma decepcionada.

- O David vai ficar tão puto... Eu que vou ter que acalmar ele depois, você sabe, né? – A ruiva coçava a cabeça, ainda não aceitando de vez que aquilo era real. Lucy respira bem fundo e se vira para a albina, acenando negativamente e virando o olhar para cima. – Tá, beleza, melhor que nada.

- Fica tranquila, ele vai ficar bem. – Bruno dizia.

- Não tenho tanta certeza. – Lucy utiliza seu poder e puxa o sangue do corpo do rapaz morto, tentando retirar o máximo que conseguia. Logo após isso, o líquido flutuava em sua mão no formato de uma esfera. – Estende esse seu braço.

Dito e feito, Lucy então se aproxima de Mary e começa a fazer movimentos de mão naquele sangue flutuante, como se estivesse alterando algo nele.

- Meu tipo de sangue você já sabe, o dele é O positivo. – Mary dizia. A singular fica meio receosa de aplicar seu poder no garoto e olha para Bruno, que acena positivamente.

- O que o garoto tem de tão importante? – Lucy perguntava enquanto separava aquele sangue todo em duas esferas.

- Ele é minha esperança. – Mary dizia.

- Hum, como sempre, só pensando em acabar com os Heróis. – Lucy retrucava.

- Não, ele é só minha esperança mesmo. – Mary respondia.

Lucy abre uma expressão confusa, como se nada do que a moça tivesse dito fizesse sentido, afinal, aquela era Mary, uma das singulares mais letais que o vilarejo já viu. Mesmo que seu poder fosse um pouco limitado, já que não adicionava nenhum benefício físico ou mental, ela ainda tinha uma lista de 20 mortes confirmadas de singulares e humanos comuns. Grande parte dos usuários de poder eram dos Heróis e, mesmo que enviassem alguém poderoso atrás dela, Mary simplesmente sumia do radar. Ela era basicamente chamada de Assassina de Heróis pelo vilarejo.

A ruiva então só ignora o que ela havia dito e coloca a esfera de sangue que ela alterou para o tipo da albina e a mira para o braço retorcido de Mary. O líquido então começa a se envolver no braço da singular e ela começa a sentir algumas dores, porque seus ossos, músculos, pele e tudo mais estava voltando para o lugar certo e se cicatrizando com a ajuda daquele sangue. O mesmo acontece com Ethan, só que, por estar praticamente anestesiado, ele nem reage.

Terminado o procedimento de cicatrização, Bruno pede para que as duas sigam-no. Após chegar na entrada do vilarejo, eles passam e Mary sente um formigamento, pois lembra que em volta dela havia uma barreira que protegia a cidade de ataques vindos de cima, e, se qualquer um que entrasse nela, o usuário daquele poder saberia na hora.