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Prólogo

Ela sorriu para dentro enquanto a indiferença turvava os lábios retos.

- Sabe, não há o que amar em você. – Prosseguiu quebrando o pequeno silêncio entre eles. – É mais fácil odiá-lo que de fato amar-te. – Ela não deixa que nada escoe pra fora. Bom ou ruim fica preso e nem ressoa em suas palavras. – É mais fácil odiar a forma incisiva e carinhosa que me olha, como repara nas coisas que eu gosto ou em mim. A maneira como me da atenção e sempre tem tempo pra mim. - A mulher se aproxima, com apenas dois passos, o ergue pelo colarinho como se não pesasse nada e o encara deixando algo escapar. – Eu te odeio porquê não consigo amá-lo. É tão fácil... eu quis te afastar, desejei te matar e tentei de fato aqui dentro. – No auge da frustração que banha até as menores da silabas ditas ela ergue-o um pouco mais, acima de seu cabeça. – Por que você não ama outra mulher? Uma que possa te amar, que o faça de verdade, que saiba retribuir tudo que há em você... Que mereça. – Diz com um sorriso doloroso e condoído.

A brisa acaricia o rosto dele, o toque quente da primavera, e o dedilhar suave de um inverno que ainda se faz presente. Ele não nota o tapete branco sobre os seus pés, as árvores ganhando vida, ou as folhas verdes desabrochando em meio aos galhos nus. Nem o sol dando cor, e vida, ao céu cinzento do entardecer. Só há ela e mais nada, ao seu redor e em seus pensamentos.

- Eu só preciso que me abrace. – Ele não pede provas e nem que o chame de amor, só que dessa vez que ela o garre, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, feito um item valioso que perdeu e achará.

- Eu, eu, eu... – Ela o põe no chão, o braço o descendo sem forças e por um momento o texto decorado se perde no breu de seus pensamentos. – Não posso. – Diz por fim desviando os olhos.

Então ele compreende que há injustiças no mundo, que a magia não quebra todas as barreiras, que existem limites intransponíveis, que o ser humano em si é todo limitado e humano é tudo que ele é. E isso o faz querer ser mais do que poderia ser, mais do que humano, algo além da sua limitada humanidade. Mas a frase ecoa em sua mente, como um mau agouro e não uma ameaça.

"Querer não é poder."

Ele busca os olhos dela, turvos com um milhão de palavras mais sem dizer nada, estão cheios, mas não transbordam. Abraça o ser pequeno de cabelos longos e a protege do seu próprio desespero. Pequena e frágil é tudo que ela não é.

- Eu não tenho pressa. – Sussurra no ouvido dela, emaranhando o rosto entre os fios de cabelo. – Por você posso esperar uma eternidade inteira, milhares delas, e ainda isso seria pouco. – Ele pausa, e algo escorre não pra fora porque era isso que queria ouvir mais é ele quem diz. Então algo dentro dele se estilhaça, se rasga um pouco mais. – Por que você vale apena, o sacrifício e a espera.

O homem a aperta contra o peito detendo as próximas palavras, segurando o que sente dentro de si. Tudo que não escoa em lágrimas ou em duras verdedes. Tenta se manter calmo, intacto, mas de alguma forma isso também não é possível e não a solta. Sabe que a está perdendo. Achou um tesouro inestimável e lutará por ele, e esperará pelo o que é seu até que o seja ou que morra. O que vier primeiro.

- Eu tenho... medo... – Gagueja pela primeira vez em sua vida, se sente sem forças, vazia, ainda que cheia de ar e do que compreende tudo. Magia. – de te amar e você ir embora... que me traiam mais uma vez.

- Eu vou esperar até que confie em mim e no que sinto. – Passa o dedão sobre a bochecha, úmida e lisa e se perde nos olhos dela, como se fosse a primeira vez, e então Profere pondo pra fora o que havia dentro de si. – Provê-me, se quiser.

Mesmo dizendo a si, que não foi ele que a traiu, foram todos e não ele. Ainda estava ali. A centelha da dúvida, insignificante como toda fagulha preste a iniciar um grande incêndio.

Ela o beija, um roçar suave dos lábios contra os dele, não profere, tão pouco diz, antes da a ordem pondo em marcha o mais hediondo dos encantos.

- Me esqueça. – Pede tomando o arco e a aljava das costas dele. – Ame outra e tenha um filho com ela. – Toma as duas espadas da cintura e a deixa cair junto com as primeiras armas. – E nunca se lembre de quem é... – Ela se afasta mais ainda não vai embora, antes concede uma benção que soa feito uma maldição. – Desista da vida pelo que ama e então vencerá a morte. Me encontrará mais uma vez.