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Primeiro Dia

Helena Narrando...

Eu me olho no espelho, tentando conter a crescente frustração que ameaça transbordar. Meus cabelos castanhos, normalmente tão dóceis, hoje parecem ter vida própria, desafiando qualquer tentativa de controle. Eu deveria estar me preparando para o meu primeiro dia no Pulso Jornalístico, mas aqui estou eu, travando uma batalha épica com meus próprios fios rebeldes.

Respiro fundo e me lembro do conselho que minha mãe sempre me deu: "Não durma com o cabelo molhado, querida." Nunca mais durmo com ele molhado. Mas meus cabelos não estão nem aí para minha promessa. Eles continuam mais indisciplinados do que nunca.

Olho para a imagem refletida no espelho, uma mulher pálida de cabelos castanhos e olhos verdes me olha de volta. Sinto a pressão do primeiro dia de trabalho pesando sobre mim. Como posso enfrentar o mundo lá fora quando nem mesmo consigo domar meu próprio cabelo?

Com um suspiro, desisto da batalha perdida. Puxo meus cabelos para trás e os prendo em um rabo-de-cavalo, a única opção viável para parecer minimamente apresentável. Não é o visual que eu esperava para meu primeiro dia, mas é o melhor que consigo fazer sob as circunstâncias.

São 06:10h e estou quase pronta para o meu primeiro dia no Pulso Jornalístico. Meu celular começa a tocar, exibindo um número desconhecido. Respiro fundo antes de atender.

— Alô, Helena, sou eu, John. Peguei seu número com Rafael. — a voz de John soa do outro lado da linha.

— Oi, John. Tudo bem? — pergunto.

— Tudo, Helena. E você?

— Estou bem, ou tentando. — admito, sem querer revelar demais.

— Helena, sinto muito, mas não vou poder ir com você. Estou resolvendo um assunto. — John diz, parecendo um pouco desconfortável.

Fico tentada a perguntar o motivo, mas decido não me intrometer. Se ele não falou é porque não se sente à vontade para compartilhar o motivo.

— Tudo bem, John. Vou chamar um Uber. — respondo, tentando parecer compreensiva.

— Tchau!

— Tchau! — desligo a ligação e termino de me arrumar. Coloco um blazer e pego minha bolsa antes de chamar um Uber. Logo o carro chega e entro, cumprimentando o motorista.

— Oi, bom dia, Luiz! — murmuro enquanto entro no carro.

— Bom dia, Sr. Helena. — Luiz responde, educado.

— Só Helena, por favor, ainda sou muito jovem. — brinco, tentando aliviar a tensão.

Luiz ri, concordando.

Durante a viagem, Luiz comenta sobre o Pulso Jornalístico.

— Eles não têm medo de publicar a verdade, mesmo em meio à pressão política que recebem. Você vai começar a trabalhar lá hoje? — ele pergunta, demonstrando interesse.

— Sim, estou super animada. — respondo, compartilhando minha empolgação.

Chegamos ao destino e agradeço Luiz antes de sair do carro.

— Muito obrigada! — digo, fechando a porta.

— Por nada, não esqueça de dar cinco estrelas. — Luiz responde com um sorriso, antes de partir.

Estou diante do imponente edifício do Pulso Jornalístico e me vejo parada diante de um gigante de vidro e aço. Os vinte andares se erguem diante de mim, uma estrutura imponente e moderna. O nome "Pulso Jornalístico" brilha no pico do edifício.

John narrando...

Seus olhos brilham com uma luz própria, irradiando amor e serenidade. Ela estende a mão na minha direção, um sorriso gentil curvando seus lábios.

— John —, sua voz ecoa suavemente, como uma melodia celestial. — Você tem que prometer.

Sinto um nó se formar em minha garganta, as memórias da promessa não cumprida ecoando em minha mente.

Com essas palavras, ela se afasta lentamente, desaparecendo na névoa dourada que envolve o campo. Fico ali, imerso na sensação de paz e determinação que sua presença deixou para trás.

Com um sobressalto, acordei, meu coração batendo freneticamente. Eu me lembro da promessa que fiz para Jenni. Percebo que não estou sendo honesto, não estou cumprindo a promessa de viver e ser feliz; estou apenas vegetando. 

Decido finalmente ler a carta que Jenni escreveu. Tomo um banho, me arrumo, pego a chave do Opala, coloco a carta no bolso e sigo em direção ao cemitério.

Chegando ao local, me vejo diante da sepultura de Jenni. As lápides ao redor estão banhadas pela luz do sol, criando uma atmosfera serena e tranquila. Sento-me ao lado do túmulo, deixando-me envolver pela paz e pela calma que parecem emanar do lugar.

Com as mãos trêmulas, retiro a carta do bolso que Jennifer deixou para mim. Abro-a cuidadosamente, deixando-me mergulhar nas palavras que ela escreveu antes de partir.

"Meu amado John,

Se você estiver lendo isto, significa que eu não estou mais aqui ao seu lado. Mas mesmo na minha ausência física, eu estarei sempre contigo, no seu coração e nas memórias que compartilhamos juntos.

Quando olho para trás, vejo o quanto você mudou minha vida. Você foi minha luz nos momentos mais sombrios, minha força quando eu estava fraca, meu riso quando tudo parecia perdido. Seu amor transformou minha existência de maneiras que nunca poderia ter imaginado.

Você me ensinou a amar incondicionalmente, a viver cada momento como se fosse o último, a encontrar beleza até mesmo nas situações mais difíceis. Você me mostrou o verdadeiro significado da felicidade, e por isso serei eternamente grata.

Nosso tempo juntos pode ter sido curto, mas foi intensamente precioso. Cada risada, cada lágrima, cada abraço foi uma dádiva que guardarei para sempre em meu coração.

Não quero que você se torture com a minha partida. Em vez disso, quero que celebre nossa história de amor, que continue a viver com a mesma paixão e dedicação que sempre demonstrou. Prometa-me que encontrará alegria nos pequenos momentos, que perseguirá seus sonhos com determinação e que nunca desistirá de ser feliz.

Eu te amo mais do que as palavras podem expressar, mais do que o tempo pode apagar. E mesmo que eu não esteja mais ao seu lado fisicamente, meu amor por você permanecerá eterno.

Saiba que estarei sempre olhando por você, torcendo pelo seu sucesso, e envolvendo você com todo o meu amor.

Com todo o meu amor,

Jennifer"

As lágrimas escorrem livremente pelo meu rosto, misturando-se com a chuva que começa a cair do céu. Cada palavra é como um eco de seu amor. E então a carta se desfaz em meio as minhas lágrimas e a chuva que descia.

***

Helena narrando...

É 07:20 quando chego à redação. Um alívio de que, pelo menos, não estou atrasada. A portaria é uma fortaleza de vidro, uma barreira entre o mundo lá fora e o frenesi jornalístico que acontece dentro dessas paredes. Sua estrutura imponente de vidro e aço contrasta com a serenidade do arenito branco que a rodeia, criando uma sensação de grandeza.

Ao me aproximar da recepção, uma onda de insegurança me atinge. A recepcionista exala confiança, sua postura ereta e seu sorriso profissional contrastam com minha própria incerteza. Sinto-me instantaneamente julgada, como se cada falha minha estivesse sendo meticulosamente analisada.

— Hoje é meu primeiro dia de trabalho. Tenho uma reunião com o Sr. Rafael Albuquerque. Meu nome é Helena Sampaio.

— Um momento, por favor. — me olhava de cima a baixo enquanto falava.

E nesse momento eu queria muito que John tivesse aqui, como já tive um primeiro contato com ele com certeza eu estaria muito mais a vontade e certamente não precisaria passar por toda essa formalidade.

— Senhorita Helena o Sr. Rafael te espera. Por favor, pegue esse crachá —, nele já estava escrito meu nome.

— Vá até o último elevador à direita, pressione para o vigésimo andar. A sala dele é no final do corredor. Você não precisa bater, apenas entre. — ela sorri simpaticamente.

Agradeço a ela me viro e suspiro. Sigo em direção ao elevador que me levará ao vigésimo andar. Subindo vejo a vista deslumbrante da cidade de São Paulo, um lembrete constante da distância entre o mundo em que estou prestes a entrar e o que deixei para trás.

Respiro fundo, tentando reunir minha coragem enquanto o elevador sobe lentamente. Rafael está me esperando lá em cima, e a simples ideia de vê-lo me deixa ainda mais nervosa. Este é apenas o começo de um dia que promete testar cada pedaço de mim.

Chego ao vigésimo andar. O elevador para diretamente em um largo corredor sem portas e, no final dele, há uma porta. Eu a empurro:

— Senhorita Helena. Entre!. — ele se levanta.

Seus olhos azuis, intensos e luminosos, me observam. Sua altura imponente acrescenta uma sensação de poder à sua figura, enquanto seu traje elegante realça sua presença marcante. Cabelos loiros cuidadosamente penteiam para trás.

Demoro um momento para encontrar minha voz, hipnotizada pela presença cativante diante de mim. Quando finalmente consigo articular as palavras, meu tom é um pouco mais trêmulo do que gostaria.

— Bom dia, Sr. Rafael. — digo enquanto entro na sala.

O espaço é excepcionalmente grande para apenas uma pessoa. As janelas do chão ao teto proporcionam uma vista expansiva da cidade lá fora, inundando o escritório com uma luz natural. O teto, os pisos e as paredes são todos de um branco brilhante, criando uma sensação de amplitude e luminosidade que se estende por todo o espaço.

— Bom dia, Helena, mas por favor, apenas Rafael. — responde ele, com voz suave e envolvente.

— Muito prazer em finalmente te conhecer pessoalmente, Rafael.

— O prazer é meu! — ele estende a mão. — Estou ansioso para trabalharmos juntos. Por favor, se sente.

— Também estou bastante ansiosa e muito grata pela oportunidade de fazer parte desta equipe. Mal posso esperar para começar a contribuir. — respondo, tentando transmitir confiança, apesar dos nervos que ainda me dominam e me sento na cadeira indicada.

Rafael inclina-se para frente, os olhos azuis brilhando com intensidade enquanto fala.

— Você está aqui porque reconhecemos seu talento e potencial. Queremos que você seja parte ativa da equipe, trazendo sua perspectiva única e sua paixão pelo jornalismo investigativo para nossas matérias.

Eu escuto atentamente, absorvendo cada palavra que ele diz. A responsabilidade de corresponder às expectativas parece pesar ainda mais sobre meus ombros, mas também sinto uma centelha de determinação se acender dentro de mim.

— Sua primeira tarefa será se familiarizar com o caso das eleições. Estamos trabalhando em uma grande investigação e precisamos de toda a ajuda que pudermos obter para desvendar a verdade por trás desse escândalo. — Rafael continua, seu tom sério e comprometido.

— Entendo. Estou pronta para mergulhar de cabeça e fazer o que for necessário para contribuir com a investigação. — respondo, sentindo a urgência da situação se intensificar dentro de mim.

Rafael sorri, parecendo satisfeito com minha resposta. — Ótimo! Seu companheiro nesse caso vai ser Jonathan, como já havia falado antes por telefone, Jonathan não chegou ainda, mas vai chegar depois do almoço. Enquanto isso, sinta-se à vontade para explorar a redação, conhecer a equipe e se inteirar do trabalho que estamos realizando.

— Muito obrigada, Rafael. Estou ansiosa para começar. — digo, sentindo um misto de entusiasmo e determinação se formar dentro de mim.

Com um aceno de cabeça, Rafael se levanta, indicando o fim da reunião. — Ótimo. Se precisar de alguma coisa, não hesite em me procurar.

Eu me levanto também, sentindo-me mais confiante agora que a reunião chegou ao fim. — Com certeza, Rafael. Obrigada novamente pela oportunidade.

Com um último sorriso, Rafael me acompanha até a porta, encerrando nossa primeira interação oficial. Saio da sala, com o coração cheio de determinação e a mente repleta de possibilidades. Este é apenas o começo da minha jornada no Pulso Jornalístico, e estou mais do que pronta para enfrentar os desafios que estão por vir.