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É Preciso Continuar

John narrando...

Quando saio de casa de manhã, sempre cálculo cerca de 60 minutos para chegar ao trabalho. É o tempo que geralmente levo para percorrer o trajeto entre minha casa e o escritório. No entanto, há dias em que esses minutos se estendem, como hoje, quando o universo parece conspirar contra minha pontualidade. Às vezes, esse tempo se estica até 90 minutos, especialmente quando me deparo com situações inesperadas, como uma velhinha que deveria estar em casa, tranquilamente em sua cadeira de balanço, mas que, por algum motivo, decidiu atrapalhar o trânsito.

Meu companheiro nesta jornada diária é meu Opala 4.1 SS, uma verdadeira relíquia sobre rodas. Enquanto dirijo, aprecio cada rugido do motor, cada vibração do volante que conta histórias de décadas passadas. É como se o carro fosse uma extensão de mim mesmo, uma peça de um quebra-cabeça que completa minha personalidade e meu estilo de vida.

Ao dobrar a esquina da rua do escritório, percebo que ainda faltam mais 15 minutos até eu finalmente me sentar em minha cadeira. O burburinho das teclas e o som abafado das conversas formam a trilha sonora cotidiana deste ambiente de jornalismo. O carro do editor-chefe já está estacionado lá fora, indicando que ele chegou antes de mim, como sempre.

— Ei, John, que bom que chegou! Precisamos discutir assuntos urgentes. — disse Rafael, o editor-chefe, com um olhar preocupado.

Enquanto isso, Thomas, outro jornalista, apresentou um caso inquietante:

— Pessoal, temos um possível caso de tráfico humano. A investigação sobre o desaparecimento desses quatro bebês precisa ser prioridade. — Thomas olhou para nós, buscando apoio.

Julia prontamente se dispôs:

— Isso é sério. Vamos nos aprofundar nessa história e trazer à tona a verdade.

Conversamos sobre nossos respectivos assuntos e buscamos por boas diretrizes.

— John, como anda sua investigação sobre aquele escândalo político? — perguntou Rafael, buscando atualizações.

Eu só conseguia me lembrar da pilha de papéis na minha mesa e toda minha procrastinação sobre minha investigação.

— Está quase pronta Rafael —, digo com a voz nada firme.

Enquanto abordamos questões jornalísticas, a dinâmica do escritório se desdobrava, revelando nossas interações e responsabilidades diárias.

No entanto, minha melancolia e amargura eram palpáveis, mesmo em meio às demandas do trabalho.

Descido ir ao Sabor & Aroma que fica na esquina, lá tem um cappuccino ótimo, ao entrar, vejo Beatriz sentada com uma expressão tensa. Ela me chama com um aceno, e percebo imediatamente algo de errado em seu semblante.

— John, tenho algo para te contar... — sua voz soa trêmula e preocupada.

— O que houve, Bia? Você parece nervosa. — minha preocupação aumenta enquanto me sento ao lado dela.

Beatriz suspira antes de continuar — Fui demitida. Acabaram de me informar. — sua voz falha um pouco, e vejo o brilho de lágrimas em seus olhos.

Minha reação é de surpresa e choque. Rapidamente, passo meu braço ao redor de seus ombros em um gesto de conforto, enquanto minha mão toca suavemente sua testa.

— Sinto muito, Bia. Isso é realmente difícil. Você está bem? — pergunto, tentando oferecer algum apoio.

Ela balança a cabeça, sua voz embargada pela emoção:

— Não sei... Estou assustada, preocupada com o que vem pela frente.

Uma onda de compaixão me atinge enquanto escuto suas palavras. Compartilho minha própria experiência de enfrentar momentos de dificuldade, tentando transmitir que ela não está sozinha nessa jornada.

Conheci Beatriz durante meu curso de jornalismo e ela rapidamente se tornou uma grande amiga, tanto para mim quanto para a Jennifer.

***

Helena narrando...

  O dia havia começado como outro qualquer. Adoro as manhãs no Ponto de Notícias. Chego cedo, ligo o computador, preparo o café enquanto troco algumas palavras com Carlos e Matheus, que sempre chegam animados, mesmo nas segundas-feiras. É reconfortante sentir o calor da redação, ouvir o tilintar das teclas dos teclados e os murmúrios das conversas enquanto as pautas do dia são discutidas.

Gosto da atmosfera agitada, das risadas compartilhadas e até mesmo das tensões que surgem às vezes. Cada matéria que escrevo é uma pequena aventura, e compartilhar essas histórias com Carol, que sempre está disposta a ouvir e ajudar, é uma parte especial do meu dia.

Mas tudo mudou quando. Augusto, me chamou para uma conversa séria. Ele parecia sério, tenso. Eu não entendia o motivo até que ele soltou a bomba: por pressão política, eles precisavam me demitir. Era como se o chão tivesse sido arrancado sob meus pés.

— Não é uma questão do seu desempenho, Helena. É mais complexo do que isso. Algumas das suas investigações e matérias estão causando problemas para pessoas influentes.

Fiquei sentada na cadeira sem ação, ele me entregou um cartão Pulso Jornalístico era o nome do escritório.

— Helena, vou te indicar para um escritório jornalístico que é o mais reconhecido do país, que fica em São Paulo em gratidão por toda sua dedicação. Não sei se vai valer a pena para você se mudar, mas foi o que pude fazer para te ajudar.

[...]

— São Paulo! — meu pai exclamou, a preocupação evidente em seu tom.

Minha mãe prepara um chá de camomila para acalmar meu pai.

— É tão longe minha filha —, disse enquanto minha mãe lhe servia o chá.

— Eu sei pai, mas não posso ficar desempregada e já está certo, Augusto já conversou com o editor-chefe de lá e explicou toda a situação, o porque fui demitida, eles estão precisando de um jornalista. É a oportunidade perfeita!

— Bom, é o mínimo que ele poderia fazer, já que você se dedicou tanto aquele lugar nos últimos três anos. E você está sendo demitida por fazer o seu trabalho. — disse minha mãe indignada com minha demissão.

— Eu sei que é injusto, mas a vida é assim, injusta. — digo enquanto pego uma xícara de chá.

— Fico tão preocupado de você ir para tão longe minha filha. — a voz do meu pai estava embargada pela emoção.

— Nossa filha é uma garota inteligente. Vai se virar muito bem lá José. — minha mãe tentava transmitir confiança, mesmo enquanto se afundava no sofá.

Enquanto debatíamos os prós e contras da mudança para São Paulo, ficou claro que o salário que eu traria para casa seria crucial para o sustento da família, especialmente considerando as despesas médicas contínuas do meu pai. A responsabilidade pesava em meus ombros, tornando a decisão ainda mais angustiante.

Apesar das preocupações, meus pais me apoiavam na minha decisão de ir para São Paulo. Era um gesto de confiança que eu apreciava profundamente, mesmo que o medo do desconhecido continuasse a me assombrar.

***

John narrando...

Fiquei abalado com a notícia da demissão da Beatriz, ela é uma grande amiga. Ela estava passando por problemas em seu relacionamento, o que acabou afetando seu desempenho no trabalho. Sinto que o próximo a ser demitido sou eu, também estou permitindo que meus problemas pessoais afetem meu trabalho. No entanto, é tão difícil continuar quando nada mais parece fazer sentido, quando tudo o que era importante para mim se foi.

Chego ao escritório, Thomas me informa que Rafael quer conversar comigo. Já me encaminho para a sala dele, aguardando a carta de rescisão. Escuto os murmúrios dos meus colegas de trabalho.

— Agora é a vez de John mais cedo foi a Beatriz. — murmurava Benjamin.

Tenho procrastinado bastante e é completamente compreensível que o Rafael me demita, embora somos amigos, mas trabalho é trabalho.

Entro na sala de Rafael — Você quer falar comigo Rafael?

— Sim Jon, preciso muito falar com você sobre seu desempenho. — seu tom é sério, mas não parece que vai me demitir.

— Me desculpa Rafael, só que está sendo muito difícil para mim — digo e me sento na cadeira.

— E você acha que está sendo fácil para mim? Jennifer era minha irmã. — disse enquanto colocava uma xícara de café em minhas mãos.

Começo a lembrar de Jenni e as lágrimas começam a cair.

— Eu sei que é difícil, meu Deus como eu sei, mas a Jennifer não iria querer ver você assim, com certeza onde quer que ela esteja, ela quer te ver feliz, realizado. — disse Rafael com a voz emocionada.

Conversamos sobre outras coisas nos distrairmos e já fazia bastante tempo que eu não ria.

— John, eu sei que sua investigação está parada, mas você precisa continuar você é o único aqui que confio para continuar essa investigação, estamos sofrendo bastante ameaças, por causa dessa investigação.

— Vou continuar Rafael, e dar o meu melhor nessa investigação, prometo. — digo com ânimo renovado.

— John, essa investigação é pelo bem de todos, se levantarmos provas o suficiente será a notícia do século e estou pronto para as perseguições e retaliações que vou sofrer.

— Eu também estou, pelo bem de nossa nação.

— Está vindo uma jornalista lá de Brasília, vou contratar ela para te ajudar na investigação. Ela foi demitida por estar investigando essa possível manipulação nas eleições.

Saio da sala e Júlia me pergunta se fui demitido, falo para ela que não, ela fica feliz por eu não ter sido demitido.

— Nossa John, que bom que não foi demitido. — disse Júlia e eu percebi o alívio em suas palavras.

— Pois é Júlia você vai ter que aguentar minha presença melancólica por mais um tempo. — ela ri.

Então mais um dia chega ao fim entro no meu Opala e vou para minha casa, o meu refúgio da agitação cotidiana. Mas algo parecia diferente, dessa vez eu conseguia escutar a música que passava na rádio "Guardei sem ter porquê, nem por razão ou coisa outra qualquer. Além de não saber como fazer pra ter um jeito meu de me mostrar".

Por coincidência tocava essa música, nossa música Jenni.

***

Helena narrando...

Hoje é terça-feira fui demitida ontem, Rafael editor-chefe do Pulso Jornalístico me falou que preciso estar lá quarta-feira, ou seja, preciso sair daqui hoje.

— Mas eles nem deram tempo para você se organizar direito. — dizia minha mãe enquanto me ajudava com as malas.

— Helena, onde você vai ficar quando chegar lá? — pergunta meu pai preocupado.

— O Rafael, me falou que Jonathan, um dos jornalistas do escritório, já alugou um apartamento no prédio que ele mora.

— Fico tão preocupado.

— Vou ficar bem paizinho, eu sei me cuidar.

Chego no aeroporto, foi muito emocionante minha partida, minha mãe e meu pai chorando, mas eu preciso ir, é o melhor a ser feito.

A oportunidade de trabalho em São Paulo se estendia à minha frente como uma passagem para um novo capítulo, mesmo que isso significasse deixar para trás tudo o que eu já conhecia. Enquanto as nuvens passavam rapidamente pela janela, meu coração batia em compasso acelerado, misturando ansiedade e determinação. Cada quilômetro percorrido representava um avanço em direção a um novo capítulo da minha jornada. Eu não sei o que o destino me reserva, mas estou disposta a enfrentar o desconhecido.