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Sonho Lucido

Desde o nosso pequeno ataque ao culto das Chamas Cinzentas o bebedor de galões parece ter ganhado um estranho senso de urgência ou seria proposito? De qualquer jeito ele começou a se mover com mais determinação.

O que se traduz no fato que agora não paramos mais, estamos sempre nos movendo para a próxima cidade, nossos intervalos, são para realizar nossa rotina de treinamento, então voltamos a andar/correr, até Kaz resolver nos zumbificar e o ciclo se repete.

Como consequência não consigo me concentrar em nada a não ser a dor nos meus músculos, se eu tento usar o sexto sentido, não consigo me concentrar o suficiente para filtrar qualquer coisa, isso me assusta, me sinto cega e surda, na estrada sem cobertura.

Melhor não pensar nisso, vou pensar em outra coisa como: se devo usar a pedra lapis para me sincronizar com fogo e começar meu avanço ao terceiro estagio.

Sim. Eu não o luxo de esperar chegarmos a essa tal torre pra começar a fazer alguma coisa, qualquer coisa mesmo, para reverter minha situação pelo menos um pouco.

Por causa do regime de treinamento sem pausa do velho bêbado eu mal recuperei algum Ki, meu dantian parece um lago que secou, e foi atingido por uma garoa fraca, então não a melhor das condições para um avanço, mas posso começar a me familiarizar com o ritmo das chamas através da lapis, não é muito mas é alguma coisa pelos menos.

Toda vez que Kaz nos zumbifica, já que não preciso controlar o meu corpo vou aumentar a eficiência do meu treinamento adicionando mais uma tarefa, tento sincronizar com a energia das chamas que a pedra imita, sim imita, vejo os pontos de luz que representam o processo de combustão no sexto sentido, não crio uma chama, esse treino é só pra me familiarizar com o fogo, por enquanto.

Fico sempre a meio passo de formar uma conexão com as chamas, e observo as reações que os pontos de luz tem a cada uma das minha tentativas: se agitam-se ou se acalmam, se aglomeram ou se afastam.

Vou testando esses pequenos detalhes cada vez que Kaz sincroniza com a gente, criando um estranho ciclo de treinamento multitarefa.

"Há uma cidade a quinhentos metros, quando entrarmos tirem um cochilo, especialmente você Mingten." O velho galões fala de repente.

Cidade já? Não estamos andando a tanto tempo, estamos?

Quando essas perguntas começam a aparecer na minha cabeça entendo porque Kaz quer que eu descanse: estou mentalmente exausta, obviamente.

Tão exausta que nem percebi o quão taxante o treino foi pro meu corpo, não de um jeito bom, é mais um: nem percebi que algo doía, porque tem outro algo que doí ainda mais, tipo de situação.

Parece que exagerei.

Não me arrependo, na verdade provavelmente vou tentar algo parecido assim que descansar minha logica pra fazer esse tipo de burrice é simples: tenho um velho bebado, com galões de álcool no sangue, mata imperadores pra me parar antes que eu atinja um ponto sem volta.

Hnm, isso soa irresponsável, melhor assim: Tenho um Kaz para me parar.

Me referi ao velho bêbado com respeito?!

Droga, eu realmente to mal.

Acho que é melhor eu só descansar.

Após eu desistir de treinar até queimar meu cérebro e me decidir a descansar de verdade, os quinhentos metros até a cidade foram chatos, nada demais.

Não que assim que entramos na cidade algo tenha mudado, no geral a mesma coisa de sempre, uma cidade murada, edifícios de dois e três andares de materiais baratos, com exceção das poucas mansões no centro da cidade, uma rua que se transforma em mercado, bem, quase um mercado, por ser ocupada por uma quantia ridícula de estandes.

"Nós partimos amanhã uma hora antes do sol nascer." O bebedor de galões fala, secamente, sem um pingo de emoção.

Não, acho que é mais justo dizer que ele está insatisfeito por quão devagar estamos indo.

Bem, nós não podemos correr na velocidade do som, então tenha paciência, velho monstro.

Como de rotina procuramos por uma pousada do tipo que da pra ignorar que existe, reservamos três quartos. Kaz tem bastante dinheiro apesar de ser um ladrão de licores.

Será que ele roubava as bebidas para poupar o dinheiro que ganhava como ferreiro?

Que raios eu to pensando? Eu preciso dormir.

Decidida me jogo na cama sem me trocar, eu tomo um banho assim que acordar, e solto um murmuro abafado pelo travesseiro:

"Com a personalidade dele, é possível."

Após uns cinco minutos me revirando na cama finalmente adormeço.

Eu estou num pavilhão de armas, espadas, lanças, alabardas e machados entre outras, todas presas em prateleiras ornamentadas com pedras lapis de todas as cores.

Um sonho lucido, hmn, tento mexer em uma das espadas, nada, minha mão toca a espada mas não nenhuma sensação na minha mão e também não consigo move-la.

Lúcido e sem agencia, bem, isso é uma droga.

Creak.

Com um rangido uma porta de madeira ornamentada é aberta a minha esquerda, pela porta passam duas pessoas, uma criança e um adulto, a criança uma menina de cabelos ruivos curtos olhos verdes e sardas quase não visíveis nas bochechas, o adulto um homem de cabelos vermelhos e olhos negros, ambos usando uniformes marciais.

"A partir de hoje você vai passar á praticar com as armas desse pavilhão." O homem de cabelo preto amarrado em um rabo de cavalo diz para a criança.

"Sozinha?" A menina que mal alcançava a cintura do adulto pergunta, tentando ver os olhos do adulto.

"A maior parte do tempo." O adulto fala num tom monótono. "Algumas vezes os anciões virão checar o seu progresso."

"Não!" A menina fala com força "Eu quero brincar com os outros herdeiros, não com essas espadas velhas!" A menina infla as bochechas e cruza os braços em dessatisfação após falar.

"MINGTEN."

A menina para com qualquer sinal de insatisfação do corpo, e se coloca em posição de sentido, bem ela tenta.

'Pai, normalmente você era tão indiferente que eu tanto ansiava quanto temia quando você demonstrava alguma emoção.'

'Essa foi a primeira vez que entrei no pavilhão Quebra-domínios, ahh, nem eu acredito que eu chamei armas para matar deuses de 'espadas velhas'. Tecnicamente elas são velhas.

"Nunca mais se refira as armas desse pavilhão com desrespeito, especialmente na frente dos anciões, entendido?" Meu pai repreende o eu de anos atrás.

"Mas elas são velhas." E eu não ouvi obviamente, penso enquanto o observo a pequena 'eu' dando chutes silenciosos no chão.

"Essas armas são antigas, não apenas velhas, Mingten." Meu pai tinha esse jeito de falar e expressão que te deixava em duvida se ele estava sempre irritado, ou simplesmente indiferente a tudo as pessoas ao seu redor. "Elas são a fundação da nossa ordem, é através de armas como as que estão nesse pavilhão que nós aprendemos a usar o poder de ruptura para quebrar todas as amarras do mundo."

"Se há armas fora do pavilhão por que eu preciso treinar aqui?" As vezes ainda me pergunto isso.

"Por causa do fardo da herança que você vai passar a carregar." Meu pai responde com uma pequena sugestão de tristeza nos olhos.

Herança o carr*lho, fomos apunhalados nas costas antes de todo esse treinamento se fazer valer a pena.

Chega disso. Como eu faço pra acordar?

Cansada da melancolia que essas memorias estão me causando procuro um jeito de acordar. Tento sair do pavilhão, não deu certo, assim que passo pela porta volto aqui. Destruir as prateleiras, também não, não consigo nem toca-las.

Bom só me resta isso, me desculpe pai.

Com esses pensamentos me aproximo do meu pai, coleto minha energia, ou o equivalente disso num sonho, no meu punho e soco a cara do meu pai.

Com um som de vidro quebrado o sonho acaba, e eu acordo.

Me levanto e olho para fora da janela.

Ainda falta um pouco pra hora de partimos.

Vou aproveitar para cultivar um pouco, não quero passar o resto da viagem com meu Ki no mínimo.

Começo a acumular tanto Ki do ar quanto de ruptura, quando chego no limite do que consigo acumular antes de Kaz nos arrastar para próxima cidade. Olho para os anéis com a pedra lápis, como Kaz não precisa de um e Baha só pode manter uma ancora por enquanto, assim eu fiquei com dois anéis, um para chamas e outro para para rochas, granito especificamente.

Hugh, quase consigo sentir o soco que levei do guia com as mãos de pedra.

Provavelmente não vou conseguir abrir um terceiro canal no meu dantian antes de chegarmos a torre, não que isso me impeça de tentar adiantar o trabalho, num ritmo razoável dessa vez obviamente.

Antes de poder continuar treinando sinto Baha se aproximar, ele bate na porta duas vezes e diz:

"Mingten, vamos sair daqui dez minutos."

"Okay, já vou descer." Respondo, e começo arrumar as minhas coisas.

Apesar de dizer arrumar as minhas coisas, no final é só trocar de roupa e pegar a minha espada, e claro checar se eu deixei algo que possa ser usado para me rastrear.

Paranoia não se vai de um dia pro outro, e no meu caso é quase uma vantagem, quase.

Bem, diviniação e rastreamento não são a minha especialidade, mas pelo pouco que Yanan me ensinou um dos métodos mais básicos de rastreamento é usar tecido morto como unhas e cabelo para estabelecer uma conexão entre o rastreador e o rastreado.

Então obviamente limpo o meu quarto de qualquer coisa parecida antes de descer.

*********

"BAHA! Acorde agora, eu não vou esperar vocês se enrolando por nada." Com a voz de um pesadelo em forma humana me acordando, logo toda e qualquer esperança de ter um dia tranquilo se vai.

"To indo." Digo ainda sonolento.

"Bastardo, não consegue nem acordar alguém com educação." Resmungo após colocar as minhas roupas e ajeitar a minha mochila "Se ele não fosse basicamente invencível, ele veria uma revolução."

"Ahh, e antes de descer vá acordar a Mingten."

"Sim, senhor." Respondo com um calafrio correndo pela minha espinha, achei que ele já tinha descido. Você não pode fazer algum barulho quando anda monstro dos infernos?

Apesar das minhas reclamações internas ainda faço como o pedido, afinal até onde eu sei ele é invencível, o que eu ganharia por ficar descordando dele por coisas triviais.

Depois de passar pelo quarto da Mingten, desço até a recepção da pousada onde Kaz e eu tomamos um leve café da manhã enquanto esperamos por uns dez minutos para Mingten descer.

"Seja mais rápida da próxima vez." E isso é tudo que Kaz tem a dizer.

"Da pra ver que cavalheirismo não é seu forte Kaz." Mingten fala.

Apesar de só fazer dois dias que estou viajando junto com eles Kaz tende a ignorar qualquer elogio ou xingamento que joguem nele, apesar dele fingir aceitar os elogios, isso quase me deu a impressão de que ele é indiferente a tudo na verdade e todas as emoções são fingidas.

Mas as perguntas da Mingten e a reação que ele teve fizeram eu mudar de ideia: a indiferença que é forçada, por ele mesmo.

Mas arrogância ou confiança, chame do que quiser a linha é fina mesmo, parece real. Pelo menos é o que eu acho, não é como se desse pra ver todas as facetas de alguém em dois dias.

"Vamos, o treinamento de vocês recomeça assim que sairmos da cidade."

Mas eu conheço uma faceta dele, ele é um sádico chato de aturar.