(...)
Dion
Chegou o momento de Dylan se libertar das correntes que o prendem. Desde o dia em que se tornou um zumbi para me salvar, ele virou um verdadeiro animal de estimação nas mãos dos humanos. Agora que conquistou sua liberdade, é hora de seguir seu próprio caminho, mesmo que eu não esteja mais ao seu lado.
Aceitar o inaceitável não traz bem algum, nem para ele, nem para Charlotte. E, mesmo que eu me distancie, jamais deixarei de ser seu irmão mais velho. Esse laço, com o tempo, pode se transformar em uma lembrança distante, mas não será algo que eu deseje recordar. O melhor é deixar esse sentimento para trás.
Fomos até a fazenda, um lugar cercado por altas cercas elétricas. Mas isso é apenas um detalhe irrelevante para nós, super-humanos. Sem guardas a vigiar, pulamos a cerca com facilidade e começamos a avançar com cautela. No caminho, encontramos alguns homens e, sem hesitar, cortamos suas gargantas com facas de caça, poupando assim a preciosa munição.
Dylan me faz um sinal indicando que irá para um lado, e eu o sigo, cada um se dispersando em direções opostas. Enquanto faço meu caminho, elimino vários homens até que, ao entrar em um celeiro, me deparo com uma série de jaulas.
"Silêncio. Vim ajudá-los," - digo, enquanto os prisioneiros começam a rosnar. Com um movimento firme, quebro a porta de ferro e libero cada um deles. "
- "Estão livres," - anuncio, enquanto eles saem em desespero.
"Quem diabos é você?" - Uma voz masculina interrompe, e ao olhar para trás, vejo um homem segurando Anna pelo braço. Não dou tempo para ele reagir e, com um disparo certeiro, acabo com ele.
"Onde está sua irmã, Anna?" - Pergunto, e ela responde com sinais. - "Existem mais zumbis racionais?" - Ela nega. - "Eu e Dylan iremos resgatar sua irmã. Enquanto isso, você pode levar seus amigos até Charlotte?" - Ela acena afirmativamente e chama os outros, que começam a correr. Saio em direção à sede, onde encontro Dylan.
"A irmã de Anna está presa no sótão," - ele afirma, e a porta se abre, revelando um homem.
"Então, a cadelinha trouxe amigos," - ele ri, cercados por outros homens. - "Mas só vieram dois."
"Soltem a garota e deixaremos vocês viverem," - Dylan declara e o homem ri alto.
"Estamos em maior número. O que vocês podem fazer?" - Um assobio ecoa e, de repente, um dos homens cai, e um vento veloz passa por mim.
"Charlotte," - murmuro, ao vê-la eliminando os homens com uma agilidade impressionante. Em poucos segundos, todos estão no chão.
"Você não me obedeceu," - Dylan a crítica.
"Não sigo ordens de ninguém," - ela responde, sem olhar para ele, e, apontando a arma, dispara em um homem. - "Agora ele está morto."
"Onde está Aaron?"
"Está seguro. Não sou uma mãe que deixa seu filho desprotegido," - ela diz, entrando na casa. Eu a sigo e, minutos depois, ela arromba uma porta. - "Você está livre," - diz ao encontrar uma mulher grávida.
"Quem são vocês?" - A mulher indaga, levantando-se, mas logo tomba para o lado. Corro até ela e a sustento. - "Obrigada."
"Conhecemos sua irmã Anna. Ela falou sobre este lugar," - explico, e ela me olha, abraçando-me em gratidão, enquanto lágrimas escorrem por seu rosto.
"Muito obrigada," - ela repete, enquanto a pego em meus braços e Charlotte começa a andar.
"Está tudo bem, Charlotte?" - Pergunto.
"Acho que um ano sozinha foi tempo suficiente," - ela responde, e fico em silêncio, pensando em suas palavras. Após alguns minutos, saímos e vejo os zumbis racionais que salvamos.
"Lotte," - Dylan a chama, aproximando-se, mas a garota o abraça com força, e ao olhar para mim, apenas balanço a cabeça em negação.
Charlotte
Tentei permanecer em casa, aguardando o retorno deles, mas sem minha ajuda, a morte é certa. Após colocar meu filho em um quarto blindado, com uma música de ninar tocando para garantir uma noite tranquila, saí e tranquei a porta.
Pego minha arma e sigo o rastro deles. Após algum tempo, chego ao local e vejo que estão cercados. Sem hesitar, elimino todos os inimigos e, ao salvar a mulher grávida, sinto uma pontada de raiva ao ver a garota abraçando Dylan. Como ela se apega a ele me faz pensar que, provavelmente, esse idiota não contou a ela o que somos um para o outro.
Quer saber? Que se dane!
"Agora que todos estão livres, vou para casa," - digo, passando por ele, sem olhar.
"Espera!" - A mulher exclamou, fazendo com que olho para trás. Dion a coloca no chão, e ela se aproxima de mim, me abraçando. -"Muito obrigada por me salvar."
"De nada," - respondo, afastando-me. - "O bebê é dele?"
"Não. Já estava grávida quando invadiram nossas terras e mataram meu marido," - ela diz, tocando a barriga. - "Ele era um zumbi racional, como os outros, e me protegeu até o fim."
"Sinto muito."
"Você acha que meu bebê nascerá saudável?"
"Eu tenho uma criança que nasceu quando o pai era um zumbi. Ele é forte e saudável," - toco seu ombro. - "Portanto, não se preocupe."
"Graças a Deus," - ela começa a chorar novamente, voltando a me abraçar. - "O que farei? Sozinha, não consigo controlar todos. Os homens mataram meus pais e meu marido, e eles controlavam meus amigos."
"Posso ajudar," - digo, soltando-a. - "Se eles quiserem, posso fazê-los voltar a ser humanos."
"Você tem uma cura?" - ela pergunta com esperança.
"Digamos que sim."
"Então, faça minha irmã e os outros voltarem a ser humanos, por favor."
"Vocês terão que vir comigo," - digo, olhando para o grupo de zumbis racionais que concordam. - "Vamos," dou início à caminhada e todos me seguem até que chegamos à minha fazenda.
"Charlotte," - Dion me chama, puxando meu braço. - "Tem certeza de que vai transformá-los em super-humanos? A maioria são crianças e adolescentes."
"Consegui desenvolver um soro com meu sangue. Eles se tornarão apenas humanos normais," - digo, mantendo contato visual. - "Confie em mim."
"Isso é o que eu deveria ter feito desde o começo. Talvez as coisas fossem diferentes," - ele solta meu braço e se afasta. - "Espero que um dia me perdoe por tirar sua família de você e por toda a dor que causei com meu desprezo."
"Dion," - seguro seu olhar. "Somos soldados e nosso dever é seguir ordens. Mas você foi um verdadeiro idiota e só não te matei devido ao seu irmão." - O abraço que se segue é um misto de alívio e amizade. - "Só te perdoarei se prometer que não irá embora."
"Estou fazendo isso para você ser feliz."
"Então fique, e serei muito feliz," - digo, olhando nos olhos dele. - "Não sou uma líder, e essas pessoas precisam de alguém forte para guiá-las. Você pode ser essa pessoa."
"Tudo bem, mas com uma condição."
"Qual?"
"Faça as pazes com Dylan."
"Melhor você ir embora," - digo, virando-me e dando os primeiros passos. Mas o eco de uma risada me faz hesitar.