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Recomeço ou Revolta?

Dynami se tornou uma cidade abandonada. Um vasto céu cinza se esforçava para encobrir a metrópole, outrora movimentada e vívida, agora morta e devastada. Suas ruas e avenidas estavam lotadas de carros explodidos e capotados, as casas em pedaços e a maioria dos prédios totalmente desmoronados.

As aeronaves das Forças Especiais da Torre e da Alliance não permaneceram muito tempo sobrevoando a cidade. O objetivo inicial de resgatar aliados e sobreviventes já não era mais viável, pois a cidade estava destruída e milhares de pessoas haviam morrido devido à irresponsabilidade dessas forças e à demora em agir.

Nas primeiras horas pós-devastação, chegou todo tipo de ajuda que se podia imaginar. Ninguém sabia ao certo como o governo resolveria essa situação, afinal, uma grande metrópole havia sido inteiramente perdida, junto com mais de 2 milhões de vidas. Mesmo assim, segundo o presidente, a população brasileira tinha motivos para confiar nele.

— Companheiras e companheiros — começou o presidente, com uma voz triste que parecia genuína.

— Hoje, venho aqui com um coração pesado e uma tristeza profunda pelo que aconteceu na nossa querida cidade de Dynami.

Ele fez uma pausa, seus olhos brilhavam com lágrimas que ameaçavam cair, enquanto o silêncio preenchia o ar no Palácio do Alvorada.

— Quero, antes de mais nada, oferecer minhas sinceras condolências às famílias que perderam entes queridos e àqueles que sofreram ferimentos e traumas indescritíveis. Este é um momento de grande dor para todos nós, e estou verdadeiramente comovido pela coragem e resiliência demonstradas por tantos em meio a essa tragédia.

O presidente continuou seu discurso, mascarando sua verdadeira personalidade com uma expressão de pesar. Sabia que a demora para as forças especiais agirem fora culpa sua, por não ter emitido uma permissão de caráter federal a tempo.

A mídia internacional demonstrou sua comoção diante do desastre que deixou milhões de mortos. A Casa Branca e o Kremlin emitiram comunicados de apoio e cooperação com o governo brasileiro, prometendo reforçar o país neste momento de crise.

Por todo o Brasil, inúmeros protestos e manifestações eclodiram contra o governo atual e as gestões da Torre e da Alliance no Brasil. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, as manifestações foram especialmente intensas e duradouras, levando milhares de pessoas às ruas com bandeiras, faixas e camisas. A raiva e o descontentamento estavam estampados nos rostos dos manifestantes, suas vozes ecoavam pelas avenidas em um clamor por justiça e mudanças.

A devastação de Dynami não era apenas uma catástrofe física, mas um abalo profundo na confiança da nação em seus líderes. E enquanto o presidente discursava, escondendo sua própria culpa, o povo brasileiro se levantava, determinado a exigir respostas e responsabilidades.

Enquanto o país se consumia em protestos e discussões nas vias públicas e nas redes sociais, o helicóptero militar Black Hawk da Alliance, que levava Koji e Tahiko para Brasília, aproximava-se cada vez mais do seu destino.

Na parte interna da aeronave, havia poucos militares, todos concentrados na cabine ou próximos a ela. Koji e Tahiko estavam sentados lado a lado, em silêncio. A sujeira e o sangue em seus rostos e corpos retratavam a brutalidade da batalha em Dynami.

Suas feições expressavam abatimento, fracasso e impotência pelas vidas perdidas. O silêncio entre os dois era ensurdecedor, e a sensação de querer gritar e explodir consigo mesmo pairava no ar.

Koji olhava para cima, fixando o olhar no teto da aeronave. Mesmo com os ferimentos, sangramentos e sujeira, ele finalmente pôde sentir algo que desde o começo não havia sentido.

— Estou cansado de ver um céu escuro — murmurou Koji, com a voz amargurada e cansada.

Tahiko não reagiu. Ele permanecia cabisbaixo, mas sua expressão não era de tristeza, e sim de uma raiva contida. Koji, ao notar isso, desviou o olhar do teto e fixou os olhos em Tahiko, que segurava um colar com um grande pingente, balançando-o levemente.

Em um momento específico do balançar do colar, Koji percebeu que o pingente trazia a foto de uma mulher com um filho. Lembrou-se então do cordão que pegou da moça grávida que morreu na Avenida do Porto. O colar de Tahiko era extremamente parecido com o que ele havia recebido.

— Ei, Tahiko… — Koji estava hesitando.

— O que é? — Tahiko perguntou sem olhar para Koji, a tal curiosidade não era de seu interesse.

— Esse seu colar, eu posso ver? 

Tahiko olhou para Koji, com uma certa insegurança.

— O que tá querendo?

— É que eu tenho um parecido, é praticamente idêntico — respondeu Koji, tirando o cordão do bolso da calça e esticando o braço para mostrar a Tahiko. 

Tahiko pegou o cordão da mão de Koji e colocou-o ao lado do seu colar. Eram basicamente iguais, ambos brancos, com o mesmo pingente.

— Calma… Eu conheci esse garoto da imagem, o nome dele é Riley e ele me disse que essa mulher do pingente era a mãe dele, você conheceu a mãe dele? — perguntou Tahiko, enquanto continuava olhando e comparando as duas peças, claramente surpreso pela coincidência.

— Conheci, mas… ela não está mais viva. E o garoto aí, o Riley? Está vivo?

— Um daqueles portadores malditos levou ele, mas ele está vivo — disse Tahiko, sua face marcava uma expressão de insatisfação.

— Um portador? Então encontrou um deles também? Eu também estive de frente com um deles, ele não me contou o nome dele, mas ele controlava os Gyakus, eu vi o cara responsável pela aparição das criaturas, e foi esse cara que matou a mãe do garoto.

Contou Koji, levemente surpreso, a ponto de sentir uma rasa animação nos olhos e um leve erguer de sobrancelhas.

— Esses malditos devem fazer parte de um grupo, sei lá, são uns merdas qualquer.

De repente, um militar se aproximou deles e informou.

— Chegamos.

O helicóptero desceu e pousou finalmente na maior base militar da Torre no Brasil, localizada na região oeste de Brasília. 

Ao descerem, Koji e Tahiko levaram imediatamente as mãos ao rosto, protegendo-se do forte sol e do calor intenso que sentiram. O contraste com o clima frio e ventoso de Dynami era avassalador.

— Fazia tempo que eu não sentia o calor do sol… por que tô achando isso bom? — disse Koji, tirando as mãos do rosto, abrindo os braços completamente e erguendo a face para o sol com os olhos fechados com um discreto alívio.

— Olha o que toda essa desgraça fez comigo, pela primeira vez na vida estou gostando mais de calor do que frio — comentou Tahiko, perplexo com seu comportamento, olhando para os próprios braços e mãos, admirando a sensação do calor.

A submersão absurda que os dois presenciaram nos combates em Dynami foi descomunal, mas isso tinha que se tornar algo comum para eles. Afinal, eles eram portadores, não simples humanos.

Os poucos combatentes que estavam dentro do helicóptero também desceram e fizeram continência militar a um único homem. Tanto Koji quanto Tahiko se encontravam atrás dos militares e não conseguiram ver quem exatamente era o homem, mas logo ele se aproximou deles e se apresentou.

— Boa tarde, vocês são Koji e Tahiko?

— Sim. Somos — responderam os dois simultaneamente, ainda tentando ajustar os olhos à luz brilhante do sol.

— É um prazer conhecê-los. Meu nome é Rod Sugg, sou presidente da Torre aqui no Brasil e peço para que me acompanhem, por favor — disse ele, com um sorriso cordial, estendendo a mão em um gesto de boas-vindas.

A Torre era um departamento internacional financiado pelas maiores potências mundiais, presente em centenas de nações em todos os continentes. Essa presença motivava obviamente uma gestão brasileira de caráter federal da Torre no Brasil, da mesma forma que na Argentina e seguindo o mesmo exemplo em outros países.

Koji e Tahiko seguiram Rod Sugg, sentindo o peso da responsabilidade e o impacto das recentes batalhas. O caminho à frente era incerto, mas ambos sabiam que a luta estava longe de terminar.