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Águia Sobre os Ox's

Ava voltou à sede da Torre, e entrou seriamente na sala de reuniões. Nicolas e Cole ainda estavam concentrados nos arquivos, e assim que ela se aproximou, Nicolas levantou o olhar com um ar de urgência.

— Comandante Ava, temos algo sobre Rod Sugg — disse Nicolas, inclinando-se levemente à frente e ansioso para compartilhar a descoberta — Nos arquivos, encontramos uma possível ligação entre o presidente da Torre Brasileira e uma unidade da Agência Nacional de Telecomunicações em Cuiabá. As conexões estão nos registros de ligações, mas essa unidade, que deveria ser estatal, não opera mais sob a jurisdição do governo, porque o Conclave está no controle de toda cidade.

— Então o Rod está em contato com essa unidade? — perguntou ela, tentando extrair mais detalhes.

— Sim. Segundo os registros, há várias chamadas entre ele e um homem, mas as conversas são muito sugestivas, indiretas. É como se estivessem se protegendo, falando de forma contida, evitando declarações explícitas. Isso não parece normal, considerando o nível de poder que ambos possuem.

Ela pensou por um momento, olhando a grande janela da sala, e disse — Rod sabia que suas ligações seriam monitoradas. Ele deve ter ajustado o tom da conversa para não levantar suspeitas. Quem quer que seja o outro homem, ambos estavam tentando se proteger — concluiu ela, cruzando os braços — E quanto a você, Cole? Encontrou algo sobre o Conclave?

— Não, comandante, nada relacionado ao Conclave por enquanto — ele balançou a cabeça, com uma leve hesitação.

— Continuem vasculhando esses arquivos. Eu voltarei à noite para revisar tudo e, enquanto isso, fiquem atentos ao telefone na mesa. Estou esperando uma ligação da Central de Contenções sobre a cooperação de Tahiko.

Nicolas, curioso como sempre, perguntou — Comandante, por que vai sair de novo?

— Vou ao Centro de Operações. Preciso de uma atualização sobre o avanço de Koji e Saik rumo à capital, Cuiabá.

Assim que Ava saiu, Nicolas virou-se para Cole — Cara, por que você não falou para ela que talvez seja parente do Koji?

— Ela nem parecia interessada. E, além disso, eu nem tenho certeza disso ainda — ponderou Cole.

— Você podia pelo menos ter mencionado. Vai que ela ficava para ouvir a história. Afinal, não é todo dia que você descobre que pode ser parente de um portador!

Cole refletiu por um momento antes de responder.

— Não é tão fácil assim, sei lá, é mais complicado. A minha família… os Fuller's… foram praticamente pulverizados pelos Oxford's há muito tempo. A chance de dois membros da nossa linhagem se encontrarem é mínima.

— A minha família é tranquila, nunca teve essas tretas. Mas por que essa outra família aí odiava tanto vocês?

Cole inclinou-se na cadeira com uma expressão um pouco mais séria — Quando eu era menor, meu pai contava que as famílias milenares sempre lutaram pelo controle das Escritas. Quem controlasse mais Escritas, teria mais poder. Os Oxford's sempre ditaram as regras e procuravam eliminar qualquer um que se desviasse do que eles achavam certo. 

— Parece que teu pai odiava esses Oxford's — comentou Nicolas, enquanto arrumava alguns papéis de forma descontraída.

Cole ficou em silêncio por um instante antes de responder em pensamento "Esses Oxford's... ele não sabe quem eles realmente são." Depois, ele olhou para Nicolas e disse.

— Não só meu pai, mas todas as outras famílias milenares os odiavam. Eles são os causadores de todo esse conflito.

— Teu pai mora contigo?

— Não. Não o vejo há anos. Nem sei se ele está vivo.

— E tua mãe?

— Eu também não sei como ela tá hoje.

— Porra, então essa outra família aí realmente lascou vocês mesmo.

Cole hesitou antes de responder, meio que sua expressão caiu numa lembrança antiga que ainda não tinha sido superada — É…

14 anos atrás em Dynami, 26 de abril de 2011

Cole era apenas um garotinho de nove anos, deitado no colo do pai, que sorrindo e alegre, disse ao filho.

 — Eu sei que eu vou precisar preparar a bela macarronada que tu gosta, mas preciso contar o primeiro capítulo da historinha que eu tenho em mãos. Não vai ser um simples capítulo, é mais um resumo porque eu sei que essa cabecinha tá focada na comida, não é?

Então, entre risadas e entusiasmo, o pai começou.

— Então, meu garoto, lá atrás, bem antes das civilizações que você já ouviu falar, existia uma família chamada Oxford. Eles eram como sombras, sempre presentes, mas ninguém sabia de onde vinham. Alguns dizem que apareceram muito antes dos primeiros impérios, quando nem existia escrita ou ordem. E adivinha? O símbolo deles — "Ox" — foi encontrado em santuários antigos, lá onde hoje é o Chile, muito, muito antes de Cristo, uns 70 mil anos! Um povo misterioso fez esses monumentos, e depois… puff! Sumiram, deixando só a marca dos Oxford pra trás.

— Mas o que tornou essa família tão especial, Cole, foi que eles não se tornaram poderosos por serem reis ou guerreiros, não. Foram os pactos deles, feitos nas sombras, com seres que ninguém entendia. Temarus, era o nome pertencente ao ser mais próximo do que conhecemos como Diabo, foi quem começou tudo lá por volta de 15 mil antes de Cristo, no que é a Turquia hoje. Eles adoravam forças que o homem comum jamais entenderia. Mas, como sempre acontece com esses Oxford, as coisas deram errado. Um desastre estranho destruiu dois terços da família original, e, depois disso, eles começaram a se espalhar pelo mundo, levando com eles o símbolo "Ox". Esse nome foi mudando com o tempo, sabe? De "Ox" para "Oxfho" e, finalmente, "Oxford". E, cada vez que mudavam de nome, mais tragédias seguiam. Sempre um preço alto a pagar.

— E, claro, na Grécia antiga, eles se dividiram, formando diferentes linhas familiares como Primários e Secundários, e causaram mais confusão. Mas o poder deles não era militar. Não. Eles mexiam com cultos e alianças com forças que ninguém ousava mencionar. Lá na Roma antiga, estavam por trás de reis, impérios, e até mesmo de algumas quedas terríveis. Eles nunca apareciam na linha de frente, mas sempre mexiam os fios nos bastidores.

— Mas, Cole, o auge deles foi na Idade Média. Eles se tornaram os guardiões de segredos que ninguém ousava contar. Tinham livros, pactos... E sempre que uma crise global surgia, lá estavam eles, puxando as cordas. Durante a queda de Roma, uns andarilhos encontraram um manuscrito, e foi então que o mundo começou a ver que os Oxford não eram só uma família de poder e riqueza, mas um pilar de algo muito mais sombrio, algo que conectava os humanos a entidades… diferentes.

— Ao longo do tempo, eles estavam lá nos momentos mais terríveis da história. No auge e colapso do Império Assírio, na destruição de Jerusalém e exílio dos hebreus, as civilizações caíam, como os minoicos, ou quando Roma desmoronou, sempre tinha um Oxford nas sombras. E o que guiava essa família? Ah, meu filho, era a Wesk, uma pedra misteriosa que, dizem, foi presente de Temarus. Essa pedra brilhava de um jeito que só eles podiam entender, e dava a eles um poder de localizar as tais Escritas, chamadas por eles mesmo de glórias.

— E sabe o que é mais interessante, Cole? Mesmo hoje, no nosso mundo moderno, dizem que os Oxford ainda estão por aí, nas sombras, mexendo com governos, eventos…

Impactado e atônito com os olhos arregalados, tanto com medo quanto com fome, Cole não piscava. O pai, simpático e brincalhão, acordou o filho.

— E agora… que tal aquela macarronada?

Levantando-se do sofá da sala para ir à cozinha, o pai fechou o livro, que na capa estava escrito, "Os Malditos Ox's por Jürgen Fuller, 1880."

De volta a 2025

Enquanto isso, Ava entrou no vasto Centro de Operações da Torre, onde grandes painéis de informações estavam espalhados pela sala, e os controladores, semelhantes a operadores de tráfego aéreo, monitoravam os agentes da Torre em missões. 

Ela se aproximou de Max, um controlador moreno de cabelos curtos e óculos escuros, que estava sentado em sua cadeira, ajustando os monitores.

— Boa tarde, controlador Max. Como estão os portadores, Koji e Saik?

Max sorriu, sempre com seu jeito galanteador.

— Finalmente a mulher mais poderosa dessa bagaça aparece! — disse ele, com um tom brincalhão. — Eles já chegaram à próxima cidade, Campo Verde.

— Não houve resistência do Conclave?

— 90% do estado não está mais sob a Onda de Energia, depois que eles derrotaram Alaric. A Onda se dissipou quase completamente, mas não sabemos se essa dissipação ocorreu devido ao que aconteceu em Primavera do Leste, ou se algo fora do radar fez isso de propósito.

Ava estreitou os olhos, pois se encheu de surpresa — Alaric? Eles lutaram e não me informaram?

— É… O Alaric é um portador do Conclave, e melhor, ele é de terceira classe — comentou Max, sorrindo enquanto falava.

— Terceira Classe? É uma classe muito alta, o Koji e o Saik não são portadores avançados, como eles venceram?

— Eu também fiquei curioso e liguei para o agente Nahome, e pelo que ele me contou, provavelmente foi uma luta pesada e difícil, mas não foram nem Koji nem Saik que o derrotaram. Foi o bichão de sombra que anda ao lado do Koji que entrou em ação.

Processando as informações, a comandante pousou suas mãos levemente no painel e fez outra pergunta.

— Alaric já foi transferido para a Central de Contenções?

— Ainda não, mas deve chegar em poucos minutos.

Então, ela botou sua mão direita no ombro esquerdo de Max e falou — Avise os agentes Nahome e Tovah para ficarem de olho em Koji e Saik, eu preciso que dois agentes da Torre acompanhem os garotos. Eles tiveram sorte contra Alaric, mas não podemos arriscar quando chegarem a Cuiabá. Lá está o verdadeiro poder do Conclave.

— Pode deixar, comandante.