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Raiva

Não sei bem quando terminou,ainda sentia o seu peso sobre o meu corpo.

A minha mente não conseguia processar nem as tarefas mais fáceis,pelo que ainda estava na mesma posição que tinha sido deixada ontem á noite.

Todo o meu corpo doía quando tentei levantar-me sem sucesso,as lágrimas já tinham cessado e deixaram apenas um vazio.

O meu telemóvel tocou, penso que passou a manhã toda a tocar,mas não tenho a certeza.

Era a minha mãe, então forcei-me a atender.

-Bom dia filha! Tenho estado a tentar ligar-te, ontem não falaste comigo, fiquei preocupada.

- Trabalhei até tarde.

- Está tudo bem?

- Sim mãe. Tenho de ir tomar um banho para descer até á pastelaria.

Falamos mais tarde.

- Tudo bem, beijo!

Desliguei a chamada e as lágrimas regressão, o que diria a minha mãe se eu lhe contasse? Ficaria do meu lado ou me chamaria de idiota por ficar sozinha com um homem em casa?

Tomei o meu banho na esperança de me sentir menos suja mas a sujidade não quer deixar o meu corpo ferido.

Vesti-me e segui para a cozinha onde ainda estavam alguns biscoitos e a garrafa de vinho pela metade, as provas que a noite anterior tinha realmente acontecido.

Um surto de raiva invadiu o meu corpo e atirei com a garrafa contra a parede oposta e a seguir, os biscoitos têm o mesmo destino.

Virei costas á bagunça e voltei-me para a saída. Rodo a maçaneta para abrir a porta mas está não abriu, tentei novamente, a chave não estava na fechadura,revirei a casa toda mas nada da chave.

Eu não podia estar presa aqui!

O meu telemóvel é isso! Vou ligar a alguém que me possa ajudar, pensei.

Assim que tive o telemóvel nas mãos para ligar ao meu professor e contar o que estava a acontecer alguém entrou no apartamento, não precisei de pensar muito para saber quem era. Penso em correr e trancar a porta do quarto mas o invasor já se encontrava na porta.

- Vejam quem acordou. O que vais fazer com isso? Já ligaste á tua mãe a dizer que está tudo bem, a quem vais ligar agora?

Como ele sabe que eu liguei para a minha mãe?

- Achas mesmo que eu te ia deixar o telemóvel aqui para tu ligares a alguém e falares demais? Deixei-te falar com a tua mãe senão ela ia arranjar-me problemas. Tenho o teu telemóvel ligado ao meu,consigo ouvir as tuas chamadas e interromper -las quando quiser.- Fala como se lesse os meus pensamentos,ou acabei por fazer a pergunta alto e não me apercebi-Só vim aqui ver como estas,o pessoal está a começar a ficar preocupado por não teres aparecido,agora ficas aqui quieta enquanto eu lhes digo que tás a sentir te doente.

-Doente estás tu!

 

Ele não me respondeu, veio direito a deu-me uma bofetada na minha bochecha direita. Com o empacto acabei por ir parar ao chão levando logo a mão ao local atingido.

A minha visão ficou turva por um momento e a minha bochecha arde bastante,vai ficar a marca por um tempo.

Sinto raiva,raiva deste homem que eu pensei ser outra pessoa,raiva dele por me fazer passar por isto.

Raiva, nestas últimas vinte e quatro horas tenho sentido muita coisa, entusiasmo, nervosismo, alívio, felicidade, cansaço, insegurança,medo, desespero, angústia, impotência,nojo, tristeza,vazio, esperança, raiva.

Não me apercebi quando o David sai novamente, deixo-me ficar no chão durante algum tempo,sei que estou a ser fraca mas sinceramente não sei o que mais posso ser neste momento.