Após dias de preparação e meditação, Darius estava pronto. Vestia sua túnica negra, o amuleto das sombras em seu pescoço, pulsando levemente como se reagisse ao seu estado de espírito. Ele sabia que o Santuário das Sombras não era apenas um lugar; era um portal para uma batalha que não poderia ser vencida com força física, mas com a força de sua alma.
Naquela manhã, Darius se despediu brevemente de Thalia e Kael. Eles estavam preocupados, mas ambos entenderam que essa jornada era dele e apenas dele.
"Cuide-se, Darius. Lembre-se de quem você é, de quem você quer proteger," disse Thalia, com uma mistura de apreensão e esperança no olhar.
"Eu volto. Prometo," respondeu ele, apertando a mão dela antes de partir em direção ao coração da Floresta Negra.
A floresta era sombria, como sempre, mas havia algo de diferente naquele dia. As árvores pareciam maiores, as sombras mais densas e vivas, como se estivessem observando cada passo de Darius. Ele seguiu o mapa que encontrara na biblioteca, cada marca guiando-o para um lugar onde a luz não se atrevia a entrar.
Finalmente, após uma longa caminhada, Darius avistou o que procurava: o Santuário das Sombras. Era uma estrutura antiga, meio enterrada na terra, rodeada de runas que brilhavam em um tom frio de azul. As pedras eram cobertas de musgo e, ao redor, a escuridão parecia dançar, movendo-se como uma fumaça viva.
Ele respirou fundo antes de entrar. O interior era silencioso, tão profundo que ele podia ouvir o próprio coração batendo. Ao caminhar, sua visão se adaptou lentamente, revelando paredes cobertas de símbolos antigos e desenhos de figuras com formas nebulosas. O ar estava pesado, como se a própria atmosfera carregasse o peso dos antigos Guardiões que falharam na Prova das Sombras.
Darius avançou até o centro do santuário, onde um círculo de pedra estava marcado no chão. Ele sentiu o amuleto em seu peito pulsar intensamente, respondendo ao poder do local. Era ali que ele deveria enfrentar sua Prova.
De repente, uma voz sussurrou ao seu redor, ecoando por todas as direções. Era uma voz profunda e sombria, que parecia vir de dentro dele e, ao mesmo tempo, de algo muito mais antigo.
"Darius... Você veio para enfrentar a escuridão que carrega? Está pronto para olhar nos olhos de sua própria alma e encarar seus maiores temores?"
"Eu estou pronto," respondeu ele, sua voz firme, embora uma ponta de medo o rondasse.
As sombras ao seu redor começaram a se agitar, formando uma figura diante dele. Era uma versão dele mesmo, mas distorcida. Os olhos eram vazios, a pele pálida, e um sorriso cruel se desenhava no rosto sombrio de sua própria imagem. Darius sentiu um calafrio. Aquele era o lado dele que ele sempre tentara ignorar, as inseguranças, as dúvidas e os impulsos sombrios que ameaçavam controlá-lo.
"Quem é você?" Darius perguntou, encarando seu reflexo sombrio.
"Eu sou você," respondeu a figura, com uma voz gélida. "Eu sou todos os seus medos, sua raiva, sua fraqueza. Eu sou o que você esconde e teme enfrentar. Você realmente acha que pode me derrotar? Acha que pode ser o Guardião sem me aceitar?"
Darius cerrou os punhos, tentando manter a calma. Ele sabia que lutar contra essa sombra não seria fácil, mas não poderia deixar que o medo o consumisse. "Eu não vim para fugir de você. Eu vim para entender quem realmente sou, para aceitar a sombra dentro de mim e usá-la como minha força."
A figura riu, um riso sombrio que ecoou pelo santuário. "Aceitar? Você acha que pode controlar a escuridão? Você não tem ideia do que eu sou capaz. Vou mostrar o que é verdadeiro poder!"
Antes que Darius pudesse reagir, sua sombra avançou sobre ele, atacando-o com uma força e velocidade desumanas. Darius tentou desviar, mas foi atingido e jogado contra a parede do santuário, sentindo a dor percorrer seu corpo. Ele se levantou, ofegante, enquanto a figura sorria com desdém.
"Você é fraco, Darius. Nunca será digno de ser o Guardião das Sombras. Assim como os outros, você também irá falhar!"
Darius sentiu a raiva crescendo dentro dele, mas respirou fundo, tentando manter o controle. Ele lembrou-se das palavras de Thalia antes de partir: "Lembre-se de quem você é." Ele fechou os olhos por um momento, deixando as sombras ao seu redor se acalmarem. Ele não precisava lutar com ódio; precisava aceitar sua sombra como parte de si.
Ao abrir os olhos, Darius encarou sua figura sombria com uma nova determinação. "Eu não sou perfeito. Tenho falhas, medo e inseguranças, mas isso não me torna indigno. É isso que me torna humano, e é isso que me torna forte. Eu não vou fugir de você. Eu te aceito como parte de mim."
As palavras de Darius ecoaram pelo santuário, e sua sombra hesitou por um momento, como se aquelas palavras tivessem enfraquecido sua presença. Então, lentamente, a figura sombria começou a se desfazer, as sombras se dissolvendo ao seu redor até que desapareceram completamente.
Darius sentiu uma onda de paz o envolver. Ele havia passado pela Prova das Sombras. Ao aceitar sua própria escuridão, ele finalmente se tornara o Guardião que estava destinado a ser.
Uma luz suave brilhou ao redor dele, e o amuleto em seu pescoço brilhou com uma nova intensidade. Darius sabia que agora possuía uma conexão mais profunda com as sombras e que havia ganhado um novo poder.
Saindo do santuário, Darius sentiu-se mais forte, mais completo. Ele sabia que ainda havia desafios pela frente, mas agora carregava uma confiança renovada. Com sua escuridão em equilíbrio, ele estava pronto para enfrentar qualquer ameaça que se aproximasse, não apenas como um guerreiro, mas como o verdadeiro Guardião das Sombras.