O confronto com Morvyn deixou Darius mais vigilante do que nunca. As palavras do general ecoavam em sua mente, um lembrete de que a Ordem da Serpente estava espalhando suas raízes pelo reino, e sua ameaça era real e iminente. No entanto, ele não permitiria que o medo o consumisse. Ele sabia que, se quisesse proteger Valdara, precisaria entender melhor o passado dos Guardiões e os segredos de sua própria linhagem.
Naquela noite, enquanto o vilarejo estava em silêncio, Darius tomou uma decisão. Havia um lugar que ele ainda não explorara, um templo antigo escondido nos limites da montanha ao leste. Contava-se que ali repousavam os espíritos dos Guardiões que vieram antes dele, guerreiros que, assim como ele, haviam enfrentado a Prova das Sombras. Era uma relíquia esquecida, mas talvez fosse onde ele encontraria respostas para as dúvidas que o assombravam desde que aceitara seu destino.
Antes de partir, encontrou Thalia, que o aguardava em frente à forja do vilarejo. Ao vê-la, ele hesitou, perguntando-se se deveria levá-la consigo. Mas, antes que pudesse dizer algo, ela sorriu.
"Eu sei o que você pretende fazer, Darius. E sei que você quer ir sozinho... mas, se precisar de mim, estarei aqui."
Darius assentiu, tocando levemente o ombro dela em gratidão. "Obrigado, Thalia. Este é um caminho que devo trilhar por conta própria, mas a sua força me inspira a continuar."
Ao sair em direção às montanhas, sentiu uma mistura de emoções: determinação, curiosidade e uma pitada de ansiedade. O templo era mais do que uma construção antiga; era um lugar onde o tempo não parecia ter poder. Darius chegou ao local ao amanhecer, onde a entrada estava entrelaçada por vinhas e coberta de musgo, como se o próprio templo quisesse se esconder dos olhos dos curiosos. Ele entrou, sentindo o peso da história ao seu redor.
No interior do templo, uma penumbra dominava, interrompida apenas pela luz suave que passava pelas frestas nas pedras. À medida que avançava, ele pôde ver estátuas esculpidas dos Guardiões antigos, cada uma com expressões de coragem, dor e, em algumas, uma tristeza indescritível. Darius parou diante de uma delas, uma mulher com um manto escuro e olhos esculpidos com detalhes que transmitiam algo que parecia uma eternidade de luta.
"O que fizeram vocês, Guardiões, para proteger o mundo das sombras?" ele sussurrou, sentindo uma conexão com aquelas figuras. "E que sacrifícios vocês fizeram?"
De repente, uma voz ecoou pelo templo, baixa e melancólica. "Sacrifícios além do imaginável, jovem Guardião. Mas também conquistas que superam a compreensão." A voz era profunda, ressonante, como se o próprio templo estivesse falando.
Darius virou-se lentamente e viu uma sombra em forma de um homem alto, coberto por um manto escuro, que parecia feito de pura sombra e luz ao mesmo tempo. Os contornos da figura eram nebulosos, mas os olhos brilhavam em um tom prateado. Era um dos antigos Guardiões, um espírito preservado naquele local sagrado.
"Quem é você?" Darius perguntou, tentando não demonstrar o nervosismo.
"Eu sou Arthen, um dos primeiros Guardiões das Sombras. Eu e muitos outros permanecemos aqui, uma sombra do que fomos, para guiar aqueles que nos sucederam. Este é o seu legado, Darius. Você é o próximo na linhagem de uma batalha eterna."
"Arthen," Darius murmurou, absorvendo o peso do nome. "Eu vim aqui para entender. A Ordem da Serpente... eles querem o poder das sombras para si, para corromper o equilíbrio do mundo. Como posso enfrentá-los?"
Arthen caminhou ao redor de Darius, seus passos leves, quase inaudíveis. "A Ordem da Serpente sempre existiu, em uma forma ou outra, assim como os Guardiões. Eles representam a ambição desmedida, a tentativa de subjugar as sombras sem compreendê-las. Mas você, Darius, carrega um poder que eles jamais terão: a aceitação. Você entende que a escuridão e a luz coexistem em equilíbrio."
O espírito estendeu uma mão, e uma esfera de sombra flutuou entre eles, girando lentamente. "Dentro de você, há uma força que vai além do que você pode ver ou controlar. É a conexão com a linhagem dos Guardiões. Esse poder é despertado quando você abraça não apenas a sua escuridão, mas também a sua luz. Lembre-se disso."
Darius sentiu uma onda de compreensão percorrer seu corpo, como se algo dentro dele estivesse se alinhando com as palavras de Arthen. "E o que devo fazer, então? Como posso usar essa força?"
Arthen sorriu, um sorriso triste e resignado. "O caminho é solitário, Darius, e as respostas virão apenas com o tempo. Mas saiba disto: os Guardiões nunca estão verdadeiramente sozinhos. Há algo maior que nos une. Quando precisar de nós, quando precisar de força, busque neste templo, ouça as vozes do passado e lembre-se de que o verdadeiro Guardião é aquele que não se deixa consumir, mas sim iluminar pela própria sombra."
Darius assentiu, sentindo-se imbuído de uma nova determinação. Ele agradeceu ao espírito, e enquanto o templo começava a dissolver-se em um véu de silêncio, ele olhou ao redor uma última vez, sabendo que aquele lugar sempre seria um refúgio, um pedaço da alma dos Guardiões.
Quando saiu, o sol estava mais alto, e uma nova esperança preenchia seu coração. Ele sabia que a Ordem da Serpente ainda era uma ameaça, mas também sabia que tinha algo que eles jamais conseguiriam roubar ou entender: o vínculo com todos os Guardiões que vieram antes dele. E com essa força, ele voltaria para o vilarejo pronto para enfrentar o que estivesse por vir.