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As Montanhas de Ekhron

O vento gelado cortava o rosto de Darius enquanto ele avançava pelas trilhas escarpadas das Montanhas de Ekhron. Cada passo era pesado, não apenas pelo frio cortante, mas pelo fardo invisível que ele carregava em seu peito. O amuleto das sombras estava escondido sob sua túnica, mas ele sentia seu pulsar sombrio, como um coração inquieto.

O tempo parecia perder o sentido ali nas alturas, onde o céu era cinzento e a terra árida. O silêncio das montanhas era quase sobrenatural, interrompido apenas pelo rugido ocasional do vento e pelo som de suas próprias botas esmagando a neve endurecida. As lendas que ouvira sobre o Templo das Sombras vinham à sua mente. Diziam que era um lugar onde o tempo parava e onde o véu entre o mundo dos vivos e o mundo das sombras era fino o suficiente para que ambos se tocassem.

Depois de horas de subida, Darius parou em uma clareira onde enormes pedras negras formavam um círculo ao redor de uma estrutura desmoronada. A entrada do Templo das Sombras estava ali, como um portal para um mundo além da compreensão. Ele ficou parado por um momento, observando a escuridão que se escondia nas profundezas daquele lugar, e uma voz familiar voltou a ecoar em sua mente.

"Bem-vindo, Guardião," sussurrou a voz do amuleto, fria e tentadora. "Você cruzou o limiar e não há mais volta. Está preparado para enfrentar as sombras dentro de si?"

Darius engoliu em seco e respirou fundo. "Estou pronto," disse, mais para si mesmo do que para a voz. Com passos cautelosos, adentrou o templo. Assim que cruzou a entrada, a escuridão o envolveu completamente, como se o próprio ar fosse feito de sombras. Seus olhos levaram algum tempo para se acostumar, mas aos poucos conseguiu ver formas indistintas ao redor.

Ao caminhar pelo corredor principal, Darius notou esculturas antigas nas paredes — figuras envoltas em mantos, de olhos vazios, que pareciam observá-lo com expressões que misturavam reverência e pena. Em suas mãos, as estátuas seguravam amuletos idênticos ao que ele carregava.

"Quem eram vocês?" Darius sussurrou, a voz ecoando pelas paredes escuras.

"Antigos Guardiões," respondeu a voz do amuleto, com um toque de orgulho e melancolia. "Homens e mulheres que, como você, foram chamados pelas sombras. Alguns foram honrados... outros destruídos. Você é apenas o próximo de uma longa linhagem."

"Por que eu? Por que eu fui escolhido?" Darius perguntou, sentindo o peso daquelas palavras.

"Porque você possui o equilíbrio necessário. Um coração que pode suportar tanto a luz quanto a escuridão," respondeu a voz, ecoando pelas paredes como se o templo inteiro falasse. "Mas o equilíbrio é tênue, e agora, aqui, você deve provar que é digno."

De repente, a sala começou a mudar, e a escuridão ao seu redor se solidificou, tomando a forma de figuras escuras que pareciam feitas de sombras vivas. Elas se aproximaram dele, lentamente, como predadores rondando sua presa. Darius sentiu o pânico começar a crescer em seu peito, mas lembrou-se das palavras de Thalia e do colar que ela lhe dera. Com um gesto decidido, ele segurou o colar, sentindo uma breve onda de calma.

Uma das figuras se adiantou, os olhos cintilando com um brilho amarelado. "Você se considera digno do título de Guardião?" A voz da criatura era fria, vazia, e carregava um desprezo cruel.

Darius respirou fundo e se endireitou. "Eu não entendo tudo ainda, mas sei que fui escolhido. Se isso significa enfrentar vocês, então que assim seja."

As figuras se aproximaram mais, e ele sentiu uma pressão invisível sobre seus ombros, como se uma força tentasse esmagá-lo. Mas, em meio àquilo, o amuleto das sombras em seu peito pulsou intensamente, e ele sentiu um fragmento de poder fluir para dentro de si, como uma força misteriosa que o fortalecia.

Uma risada baixa ecoou pela sala. "Então prove, Guardião. Mostre-nos o que há de sombrio dentro de você. Pois apenas ao aceitar a escuridão é que você poderá controlá-la."

Com essas palavras, as figuras atacaram de uma vez. Darius instintivamente levantou as mãos, e uma sombra densa surgiu ao seu redor, formando uma barreira que absorveu o impacto do ataque. Era como se ele estivesse manipulando a própria escuridão ao seu redor. Sem pensar, ele concentrou sua energia e lançou a sombra de volta contra as criaturas, que recuaram, surpresas.

Sentindo a adrenalina e o poder correrem por seu corpo, Darius avançou, movendo-se com uma agilidade e força que ele não sabia que possuía. Lutou contra as sombras com determinação, até que, uma a uma, elas desapareceram, deixando apenas o silêncio e a respiração pesada de Darius preenchendo o espaço.

Quando finalmente ficou sozinho, ele caiu de joelhos, exausto. O amuleto pulsou uma última vez, e a voz sussurrou em sua mente, desta vez com uma suavidade incomum. "Você começou a aceitar a escuridão, Guardião. Mas lembre-se: o verdadeiro desafio ainda está por vir."

Com um último olhar ao redor da sala vazia, Darius sentiu que aquela era apenas a primeira de muitas provações. Ele se levantou, determinado a continuar. Agora, mais do que nunca, sabia que seu destino o aguardava, escondido nas profundezas da sombra.