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"Hollow" A Série

Cada história precisa de duas coisas: coração e realidade. Um escritor não pode escrever sobre algo que odeia e, ao mesmo tempo, não pode se separar totalmente da realidade. Uma história como essa é impossível de criar e compreender. Mas o que aconteceria se o personagem principal não tivesse os dois? Um garoto de 17 anos é enviado em uma missão para outro mundo após uma coincidência horrível ... Mas o que parece ser a sua história comum de Isekai vem com uma reviravolta um tanto peculiar.

Next_Broadcast · Fantasy
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11 Chs

Grupo Disfuncional

"Ei! Jake! Espere por nós!" A voz de Klynt corre até as orelhas do rapaz que está focado naquela perseguição.

"Isso não vai ser possível. Em nenhum momento eu disse que iria esperar por vocês para fazer o próximo passo." Jake continua correndo, pensando consigo mesmo.

Aquela perseguição é, em parte, apenas uma grande provocação. Aquela garota de cabelos alaranjados fizera questão de aparecer e de se exibir para Jake, quando poderia simplesmente fugir e se dar bem com isso. É notável que esta situação é algo como um jogo para ela, e que está se divertindo com isso, postas as inúmeras risadas leves que escapam de seus lábios enquanto ela se mantém alguns metros à frente de Jake.

"Eu vou pegar esse anel e ganhar esse dinheiro, e ninguém há de me impedir de conseguir isso." Jake mantém seu foco em mente, passo por passo, correndo em pelas ruas daquele trecho da cidade.

Várias pessoas com suas cestas de frutas, pão e demais coisas observam enquanto aqueles dois correm, sendo seguidos pelo grupo de Klynt, que não consegue correr com o mesmo vigor. Se Jake se ativesse a esperar por eles, aquela garota já teria conseguido fugir.

Eles dobram à direita, e conforme cobrem mais espaço, Jake pode perceber que as ruas se tornam mais estreitas, um pouco mais semelhantes às presentes no Burgo Camponês. Eles se aproximam da fronteira com o Burgo Esquecido.

A garota olha para trás, sorrindo provocativamente para Jake. Ela o fita em seus olhos, e ele reflete aquilo ao aplicar ainda mais foco na corrida.

Eles já se aproximavam da divisão entre os quadrantes da cidade. A agilidade aprimorada de Jake garante uma aproximação maior. Ele já está perigosamente próximo de segurar aquela garota, e sequer um dos demais integrantes do grupo. Aquela corrida é apenas para dois.

"Apenas mais alguns centímetros..." Jake estende sua mão, tentando agarrar o magro ombro direito daquela misteriosa ladra.

No entanto, algo pelo qual nenhum dos transeuntes que assistia a cena esperam acontece. Ao perceber a mínima distância entre Jake e si, a misteriosa garota realiza um feito surpreendente: Em seus pés, ela materializa gelo, e literalmente patina conforme uma trilha do material frio e cristalino se forma sobre o caminho abaixo de seus pés.

"Gelo? Huh... Então ela realmente está apenas brincando comigo." Jake observa conforme a aproximação que demorou tanto para construir é simplesmente destruída por aquele movimento.

"Mais importante do que isso... Isso é Magia, acredito eu. Isso é mau... Um grupo carente em força e estratégia está correndo em direção a experientes usuários de Magia."

O pensamento dele não pode estar mais correto. Se aquela garota é usuária de Magia, muito possivelmente o restante do grupo também é. Uma situação problemática, na melhor das adjetivações.

De toda maneira, ele apenas continua correndo, e ao dobrar à esquerda em uma viela, percebe que ela havia simplesmente desaparecido.

***

"Como é possível que uma pessoa desapareça tão rapidamente?!" Marelle se mostra preocupada.

"Não sei, contudo isso não me cheira bem... Esse grupo certamente detém de boas estratégias para sempre conseguir se dar bem..." Klynt responde.

Após alguns minutos, o restante dos aventureiros alcançou Jake, que apenas encarava aquela parede de dois metros e meio.

"Nós a perdemos de vista..." Leuthe lamenta, olhando para baixo.

Não. Para Jake, aquela batalha ainda não está perdida, afinal ela sequer começou. O jovem rapaz aproxima-se da parede, percebendo algo no mínimo estranho.

"Estes tijolos estão soltos." Esta frase gera uma imediata reação de surpresa que toma os rostos de todos.

Ele posiciona sua mão direita sobre um tijolo, e sem esforço algum o empurra, fazendo-o cair para o outro lado, relevando assim a existência de um passagem previamente selada para o Burgo Esquecido. Ao perceber isso, Klynt aproxima-se, e tenta repetir o processo. O jovem espadachim tenta empurrar um único tijolo, apenas para não obter sucesso algum.

"Eu não consigo empurrar..." Ele olha para sua mão direita.

Jake repete o processo, e novamente faz com que um tijolo de pedra deslize para trás de uma maneira visualmente simples. Aquilo impressiona todo o restante do grupo, que não poupam tempo em questionar.

"Como você consegue fazer isso?!" Klynt observa, estarrecido, o modo como Jake consegue lidar com a situação.

Jake respira profundamente, e tomando uma posição combatente, fecha seu punho esquerdo em um soco único, atingindo a parede, levando-a ao colapso completo. Todos os tijolos de pedra caem com absurda facilidade, revelando para todos que nenhum deles jamais esteve conectado aos outros. Aquela tarefa mostra-se simples como destruir uma torre de cartas.

"Incrível..." Marelle segura seu arco contra o corpo. A garota apenas consegue olhar conforme a poeira que toma a atmosfera é levada pelo vento.

Jake estala os dedos, calmamente tomando seus primeiros passos em direção ao Burgo Esquecido. Nenhum dos que ali estão conseguem esboçar outra reação além de um rosto que grita "minha nossa!".

"O caminho está livre. Vamos continuar a perseguição." A naturalidade de Jake assusta os demais.

"... Claro...!" Leuthe treme diante da imagem de Jake.

"É... Vamos..." As palavras hesitam em escapar da boca de Klynt.

Após aquela demonstração de poder, todos passam a ver Jake como uma espécie de líder, e ao invés de orientá-lo caminhar sua frente, os três aventureiros põe-se detrás dele, como subordinados, enquanto fazem seu caminho pelas ruas do Burgo Esquecido.

***

"Esse lugar é assustador..." Marelle olha para todos os lados, hesitante em caminhar mediante os olhares ríspidos dos habitantes daquele lugar.

Este é o Burgo Esquecido. Por todos os lados, a decrepitude e abandono faz sua presença. Ao contrário do Burgo Camponês, o lugar é quase desprovido de habitantes, e os poucos que ali tiveram de fazer sua morada depressa fecham as janelas quebradas ou encaram com desaprovação o grupo de aventureiros. Idosos desdentados, jovens desnutridos e mães de vários compartilham o espaço com os cães de rua e roedores propagadores de doenças.

O mau-cheiro penetra forçadamente pelas narinas, e as repugnantes misturas de dejetos atiradas ao chão tornam aquele espaço impróprio para os fracos de estômago. Tudo é estranhamente silencioso e uma sensação de incerteza acomete o grupo de três.

Jake, entretanto, não está sequer um pouco incomodado, e mantém a postura firme e decidida. Percebendo isso, a arqueira abraça o rapaz por trás, em busca de proteção.

"O que pensa que está fazendo?" Jake questiona, notando aquilo.

Ela não aparenta desejar largá-lo. Marelle afunda seu rosto nas costas de Jake, temendo os olhares e enojada pelos odores e visões. Ela finca as pontas dos dedos nas costelas dele, buscando sustentação.

"Me largue. Você só está piorando as coisas." Ele utiliza de sua força para desfazer o agarro da garota.

Após isso, Jake vira-se para trás. Ele reconhece a incerteza e o medo na face dos aventureiros, e por isso trata de fornecer um útil aviso acerca de como lidar com aquela situação.

"Prestem atenção. O que estão fazendo apenas está atraindo mais atenção por parte dessas pessoas. Quando se está em um local duvidoso ou desconhecido, deve-se evitar encarar as pessoas excessivamente ou demonstrar abertamente que está com medo. Mantenham uma postura relaxada e natural e se comportem como fariam em situações normais." Ele fornece um pouco de seu conhecimento.

O resultado desejado é misturar-se da melhor maneira possível, e este é o contrário do que o grupo de três aventureiros está obtendo como resultado no momento.

"Vocês compreenderam?"

Ainda temerosos, os três apenas balançam suas cabeças em confirmação enquanto olham para o chão.

"Desfaçam essas caras e continuemos a caminhar." Jake afirma, retomando as passadas.

"... Sim..." Klynt demora em responder.

Enquanto caminham, Jake desliza sua visão pelos arredores de forma bastante discreta. Em algum tempo, eles finalmente pisarão no território correspondente à parte do quadrante que foi carbonizada pelos Cruzados do Fogo.

"Eles não são um grupo competente. Meu progresso pode estar sendo retardado por essas pessoas."

Jake pensa em como aqueles aventureiros agem de maneira completamente descuidada, e para ser sincero, os imagina como nada além de crianças que possuem gosto por empunhar armas perigosas e fingirem estar lutando contra o mal.

Seus pensamentos são interrompidos pela voz chorosa de Marelle. A garota gagueja em tom baixo ao seguir Jake pelas ruas estreitas e escuras.

"... Me desculpe..."

"Huh?"

Jake vira-se, observando aquele acontecimento. Marelle está sendo acolhida por seus dois amigos, que a apoiam em seus ombros. A garota cobre seus olhos com as duas mãos, que periodicamente deixam que as lágrimas sejam derramadas ao chão.

Jake torna seu foco para ela, esperando pelo o que a arqueira deseja dizer. Seu olhar direto é quase punitivo, se mostrando pesado e bastante rígido.

"Eu não quero ser um estorvo... Me desculpe por ser tão inútil... Eu sou fraca e boba, e choro por tudo... Me desculpe, Jake..." A jovem moça derrama seus sentimentos naquele momento.

Jake não demora em responder àquela emotiva súplica.

"Em nenhum momento forcei vocês a virem comigo. Essa missão é minha. Se estão incomodados com isso ou com o ambiente em que estamos, podem simplesmente voltar por aquele caminho e irem para suas casas."

Escutando isso, Klynt se posiciona firmemente, abraçando sua amiga lateralmente.

"Ei, Jake... Ela só está pedindo desculpas..." Klynt diz.

Jake não responde. Klynt toma um impulso de coragem, e arrumando sua postura, desafia a presença intimidadora de Jake com suas palavras.

"Já estou pensando nisso há algum tempo... Durante esse tempo inteiro, você está nos tratando como crianças, Jake... Nada do que fazemos está certo, nenhum dos nossos maiores esforços é o suficiente para você... Você está o tempo inteiro nos lecionando e corrigindo cada uma das nossas ações. Marelle está fazendo seu máximo por essa missão e é isso que você a diz quando ela pede desculpas?!"

Ele deixa Marelle, e caminha alguns passos em direção a Jake, encarando o rapaz em seus olhos.

"Você sempre age como se fosse melhor do que nós, e isso me tira do sério... Ela está chorando por sua causa! Você jamais teria se tornado um de nós se não nos envolvêssemos! Seja ao menos um pouco grato!"

Jake devolve o olhar por alguns segundos, antes de virar-se novamente.

"Ei...!" Klynt grita, acreditando ter sido ignorado.

Jake o encara por cima do ombro, respondendo de maneira fria e metódica.

"Eu repito. Não pedi pela ajuda de vocês. Se vocês decidirem ficar no meu caminho, sofrerão as consequências."

O olhar de Jake é suficiente para fazer as pernas de Klynt hesitarem. Ele sabe acerca dos feitos de força e capacidade de Jake, e possui conhecimento de que é incapaz de derrotar o mais novo aventureiro. Posta essa situação, o espadachim apenas pode caminhar para trás, vestindo com toda sua determinação uma expressão séria.

Leuthe observa o embate, apoiando sua amiga, que apenas chora mais em decorrência do que ali se passa. De certa forma, ela concorda com Klynt. Jake não está de fato contando com eles como membros de uma equipe.

Os poucos habitantes, contáveis com os dedos, apenas olham conforme os dois aventureiros ajudam sua amiga e se levantar, envolvendo seus braços ao redor dela. Klynt olha para Jake, e tomando o máximo de coragem, desfaz a aliança temporária que justo havia sido formada.

"Esse grupo acaba aqui... De agora em diante, somos duas forças de trabalho diferentes. Não iremos abandonar a missão, apenas não iremos mais cooperar com você, Jake, já que você não precisa de estorvos como nós... Adeus." Klynt exibe uma feição de desgosto.

***

"Huh... Bem, não possuo tempo para lidar com esses tipos de pessoas. Durante todo o caminho eles estiveram me atrasando."

Aquilo é algo frio e calculista a se pensar, no entanto, Jake não vê o erro em apontar as verdades. Ele jamais pediu ajuda e não é como se realmente necessite dela. Ao contrário do que é senso comum, a lógica de Jake é a de que "uma única cabeça focada pensa melhor do que várias dispersas".

Os dois grupos se dividiram. Jake tomou o rumo para o oeste, enquanto o restante continuou caminhando para o leste. Ambos visam a mesma coisa, contudo, ao invés de unidos, os dois grupos estão competindo. Aquele que encontrar o anel primeiro e ser capaz de devolvê-lo será o ganhador.

"Estas são boas casas." Jake observa o estado das residências da região não-habitada do Burgo Esquecido.

O lugar é limpo, afinal, é inteiramente desprovido de habitantes. As casas grandes e antigas, feitas da mais fina madeira escura aos poucos veem seus valores a cair, consumidas pelas intempéries e supremacia do tempo. Olhar para esse lugar é estranhamente confortável, até mesmo para alguém incapaz de sentir.

Jake aproxima-se de uma casa qualquer. As ruas são amplas, e o calçamento em paralelepípedos ainda é visível por baixo da terra que cobre a grande parte do chão. Se não estivesse abandonado, este lugar seria um dos mais apropriados para a habitação humana.

O motivo para se aproximar daquela casa? Certamente aquele imóvel não havia sido escolhido por acaso. A porta range de forma leve, e, estranhamente, água é vista a formar pequenas poças no chão. Tomado por sua curiosidade, Jake abre a porta.

"Bastante empoeirado..." Ele tosse um pouco ao entrar em contato com a atmosfera repleta de partículas de poeira e madeira pulverizada.

Está escuro, e apenas as janelas quebradas permitem que o sol adentre tímido nos cômodos. É difícil enxergar na penumbra, e para guiar-se mais precisamente por ali, Jake desliza sua mão pelas paredes de madeira polida, sentindo a mobília que decora aquela espécie de sala de estar.

"Isso há de valer bastante." Jake avalia o estado dos móveis, percebendo sua nobre constituição.

"Um momento... Algo está errado nessa história. Esses móveis certamente não pertencem a pessoas pobres, então, por qual motivo essa parte da cidade teria sido queimada e uma verdadeira comunidade de pessoas pouco favorecidas teria se formado ao redor? E mais importante: por que tudo isso continua intacto e intocado?"

As informações são conflitantes em um nível elevado. Este lugar certamente não é parte de uma comunidade pobre que foi exterminada em função de uma epidemia, e Jake consegue concluir isso com facilidade. Algo mais obscuro aconteceu aqui no passado, e essa versão não passa de um punhado de invenções.

Ainda raciocinando acerca de suas descobertas, ele sente algo a deslizar por seu pescoço, um toque molhado e gelado que sutilmente acaricia a pele de sua nuca.

"Seus amigos estão irritados com você, não é mesmo?" Uma sutil voz feminina corta o ar.

Uma voz tenra, calma como as ondas do mar em um dia de verão, e ao mesmo tempo tão repentina quanto as tempestades que em tal estação ocorrem.

Jake imediatamente vira-se, acertando aquela pessoa com um poderoso soco. O golpe acertou em cheio a misteriosa garota, que sorri antes de se dissolver em água.

Ele mantém-se vigilante conforme as risadas mantém-se nas proximidades. O corpo da garota imediatamente dissolveu-se em uma poça de água sobre o chão. Aquela é apenas uma réplica.

"Se está aqui, há de ser por causa disso. Venha pegar." Ela surge de um escuro corredor à direita de Jake, chamando por ele com seu dedo indicador.