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Memórias

Era o dia do resultado das provas, e Yuki conseguiu ficar no topo da classe.

Esperando as notas boas, sua mãe disse que ia fazer seu ensopado especial.

Como sempre, o caminho para casa passava pelo parque da estação.

"E aí, a gente vai comemorar como?"

Seu amigo, que mora na mesma direção, também está com ele.

"Minha mãe disse que vai fazer um ensopado especial."

Os dois conversavam casualmente.

"Caramba, ela confia tanto na sua nota boa que disse isso antes mesmo de saber ela."

Tanto ele quanto seu amigo tinham a mesma altura, e eram os mais baixos da classe.

Yuki se perguntava quando eles iam crescer, ano que vem já era o ensino médio.

"Bom, eu estudo, diferente de você."

"Cara eu tirei um 70! Tá bom demais."

Nesse momento, Yuki sentiu um calafrio.

Ele rapidamente vira para a floresta, mas não havia nada de incomum lá.

"O que foi?"

O seu amigo para, preocupado.

"Nada, só pareceu que… Deve ser impressão."

Nos últimos tempos isso anda acontecendo as vezes, mas não era nada demais.

Os dois voltam a andar.

"Isso me lembrou, não acharam um corpo aqui perto esses dias? Melhor a gente ter cuidado."

"...Sério que você vai falar disso agora?"

O amigo começa a rir.

"Foi mal cara, foi mal. Mas e aí Yuki, aquele novo filme que vai lançar, é o mesmo da série dos guerreiros espaciais e..."

"Esse ai só lança mês que vem."

"Sério?!"

"Você viu o mês errado no cartaz."

Ele parecia chocado com isso.

"Ei, porque não vamos pro arcade?"

"Você me fala de assassinos por aí e quer ficar fora até tarde?"

"Precisamos comemorar as notas boas! Minha mãe sempre diz que você sempre precisa comemorar esse tipo de coisa pra incentivar a tirar ainda mais notas boas..."

"E eu vou, com ensopado."

"Tanto eu quanto você sabemos que isso não é suficiente! E podemos jogar aquele novo jogo que saiu anteontem!"

Yuki começa a rir.

"...Você nunca teve a intenção de não ir, não é cara?"

"Você sabe que eu nunca recuso uma chance de te destruir em jogos."

Eles atravessam a rua, andam pela cidade e chegam no arcade mais próximo.

Ele ficava no meio de várias lojas e não muito longe da casa de qualquer um dos dois, numa rua movimentada.

Os dois jogam, e Yuki ganha todas as partidas, deixando seu amigo frustrado.

Era um jogo de luta diferente de tudo que viram até então, e ele acabou pegando o jeito mais rápido, fazendo o vencedor do dia óbvio.

"Cara, você não tem piedade mesmo..."

Era perto do pôr do sol.

"Te vejo amanhã Yuki, da próxima vez eu vou ganhar!"

"Até, Manabu."

No caminho para casa, o céu estava um belo escarlate.

Era um pôr do sol lindo.

Ele chega a sua casa, enquanto aprecia a paisagem.

O apartamento deles era grande, e num prédio recém construído.

Eles eram um dos primeiros residentes da nova área residencial da cidade, ou seja, sem vizinhos barulhentos.

Abrir a porta, subir as escadas…

Tinha alguém no meio do corredor.

"Um morador novo?", ele pensou.

Ao chegar mais perto, parecia seu pai.

Ele estava prestes a falar com ele, quando a pessoa se virou.

Carne viva e sem olhos.

Aquela pessoa não tinha face.

Estava sangrando.

Yuki imediatamente correu para seu apartamento, que ficava no fim do corredor.

Ele tenta desviar da pessoa, mas acaba esbarrando nela.

...E mesmo assim, passando direto.

Ele entra, tranca a porta, e respira fundo.

Ao fazer isso, um cheiro desconhecido de metal.

Ele olha para cima.

O rosto de seu pai.

"Oh, olá."

No chão mais a frente, corpos desmantelados, ele pode contar 6 braços.

Dois deles eram menores.

A pessoa no meio disso estava usando o rosto de seu pai como uma máscara.

Suas roupas estavam encharcadas de sangue.

"Você… Se chama Yuki. A partir de agora, será meu irmãozinho mais novo!"

Naquele momento, enquanto desmaiava, pôde ouvir algo enquanto caia.

"Ah, ele desmaiou..."

A voz parecia preocupada.

Yuki acorda com a luz do dia em sua cara por entre as frestas da cortina.

Suas costas estavam cobertas de suor frio.

"Eu tive um pesadelo..."

Ele sai de seu quarto ao corredor, e lentamente vai até a sala…

Estava comum, sem nenhuma mancha de sangue.

Nenhum corpo desmantelado a vista.

Só o cheiro comum do produto de limpeza usado na casa.

O barulho de comida sendo feita na cozinha.

Ele respira aliviado, e vai ir tomar café da manhã.

"Bom dia..."

No meio de um bocejo, ele continua a rotina matinal comum.

"Bom dia irmãozinho, você gosta de panquecas?"

...Quem era aquela pessoa?

"Seus pais foram morar em outro país. Eu sou seu novo irmão mais velho."

Ah, então foi mesmo um pesadelo.

Aquele homem era só seu novo irmão mais velho.

Todos estão bem.

"Entendi. Panquecas são ok."

Eles comem em silêncio.

"Se ouvir algum barulho estranho, é porque gosto de filmes de terror. Mesmo que não me perceba, se alguém perguntar, eu sempre estou em casa."

"Entendi. Filmes de terror são legais."

Silêncio.

"Ah, eu fiz seu lanche! Tem omelete e legumes empanados."

"Obrigado, irmão."

Um mês depois, do filme de terror, era uma voz muito parecida com aquela senhora dona do prédio ao lado.

Mas era impressão.

As vezes eram vozes de homens, outras de mulheres.

Tinha alguns jovens e alguns mais velhos.

Algum tempo passou assim.

Yuki e aquele homem, para ele, eram uma verdadeira família.

Um dia, seu amigo veio visitá-lo desavisado.

Ele chegou em casa na hora errada.

Ele viu algo que não deveria.

Mas seu irmão mais velho não parecia incomodado.

Ele foi com ele, de noite, e viu o corpo do amigo ser enterrado, mas não aguentou o suficiente.

"Você se acostuma."

Irmão. Como sempre, sorrindo.

O olhar de Yuki era distante.

Ele vagou até chegar na estação.

Já não tinha ninguém na área.

Ele fez um desejo, na verdade dois desejos na forma de um, sem perceber.

E...

Quando ele abriu os olhos, estava no pátio da escola, perto da saída.

As vezes Yuki tem esse pesadelo, mesmo acordado.

Parecia até memórias, de tão realista.

Mas sempre que pensa nisso, ele olha para o lado, e seu amigo está lá.

Dessa vez…

Só havia duas pessoas que ele não conhecia.

"Você tá bem menino?"

Era alguém que nunca viu, bem mais alto que ele, que tinha uma cara preocupada. Ele segurava o braço do jovem com certa força.

E do lado uma menina loira, de olhos azuis, que parecia uma estrangeira.

Ela estava sorrindo enquanto encarava, mas seus olhos pareciam tristes.

Foi então que a pessoa o segurando olhou em volta, e soltou seu braço.

"Sheila, cadê o Makoto?!"

Sheila, surpresa, olha em volta, e os dois parecem desesperados.

Quem é Makoto?

Yuki fica cada vez mais incomodado, principalmente pelo fato de não ter ninguém além deles, mesmo que seja a hora de saída da escola.

"...Tch."

A pessoa o pega, e carrega ele nas costas.

O que está acontecendo?

"Sheila, vamos voltar a aquele lugar! Aquele cara é perigoso!"

Ele começa a correr muito rápido, e ela o segue.

Aquela menina era bem mais atlética que Yuki, o que deixou ele ainda mais chocado.

"Kyou, na verdade acho que entendi o que está acontecendo… mais ou menos, e-"

"Sheila, deixa isso pra depois! Foca em correr, o Makoto tá em perigo! Você sabe dizer o caminho?!"

"O suficiente!"

Como esses dois conseguem conversar enquanto correm desse jeito?

Esse Kyou-senpai até está carregando ele nas costas.

Em poucos segundos chegam na rua, e por algum motivo não tem carros passando.

"Perfeito! Kyou, me segue!"

A menina toma a liderança.

Os três correm até o apartamento, que está a alguns quarteirões de distância.

"Ei você! Não ouse ficar com dor de cabeça agora, ouviu?!"

Yuki não entendeu porque aquele senpai disse isso, mas ele ia tentar.