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CAPÍTULO 12

Por sorte, se é que a palavra sorte podia se entrar naquele contexto, Cris e Marina não estavam acordadas.

Maira não conseguiria subir as escadas. Dormiria ali mesmo pelo sofá, sujando tudo... e o que isso importava agora?

Allan subiu para o quarto e ela teve certeza que ele iria no mínimo, jogar suas roupas pela janela.

Tomou coragem e subiu... Precisava ser castigada na medida que merecesse...

Mas não... No quarto, Allan apenas arrumava as malas.

Bia pensou em pedir que ficasse, que ela sairia.

Mas decidiu não falar. Não iria interferir na decisão de Allan.

Ele foi ao quarto das filhas e as beijou, enquanto dormiam. E sem uma só palavra, saiu, pedindo ao porteiro do condomínio que chamasse um táxi.

Trêmula, Bia olhava seu companheiro de uma vida... De vinte e cinco anos de convivência, indo embora de sua vida naquele momento.

E desejou que naquele início de noite de vinte e cinco anos atrás, ele não tivesse chegado a tempo.

Pela manhã não teve coragem para ir ao trabalho. O celular tocando com número privado identificava Nika, mas ela não atenderia.

Maira subiu para o quarto assim que amanheceu e ainda bêbada, chamou as irmãs e contou o que acontecera.

Elas choravam sem saber onde o pai estava e não entendiam o porque da traição da mãe. Maira contara a situação com detalhes.

Elas não queriam mais morar ali. Queriam saber onde estava o pai.

Bia não se sentia capaz de interferir em nenhuma decisão.

E fez a única coisa que poderia fazer... Pediu que Cris ligasse para o pai, dizendo que viesse busca-las enquanto ela estivesse para o trabalho.

No outro dia, ela iria... Teria que enfrentar a realidade.

O doutor Celso a chamou na sala.E disse que ela não poderia mais ficar como secretária executiva.

Ele havia dado chances demais, sido bom demais e ela sempre se envolvendo em escândalos que poderiam prejudicar a clínica.

No dia anterior, todas as pessoas que pelas janelas haviam assistido Maira arrastando Bia pelos cabelos, tinham comentado para alguém, que havia repassado para mais alguém,até que a conversa, como um rastilho de pólvora,chegou ao restaurante da clínica.

E Bia teve o seu salário e cargo rebaixado, passando a trabalhar uma sala isolada.

Allan alugara um quarto de hotel provisoriamente, enquanto localizava um apartamento para alugar.

E naquela manhã,veio buscar Cris e Marina para morar com ele. Bia não as recriminou. Da maneira como as informações chegaram até a elas, colocando-se no lugar das filhas, Bia teria o mesmo procedimento.

Parecia insuportável trabalhar. O trabalho era diferente, com situações desconhecidas. Ao cruzar com os outros funcionários nos corredores, os olhares falavam mais que mil palavras.

Os hematomas deixados pelos dentes e pelas unhas de Maira eram evidentes.

As feridas da alma, somente Bia conhecia.

Não via Nika. Ninguém falava sobre ela.

No apartamento vazio de calor humano,restara Maira, deprimida e em constantes crises de vômito.

Um pensamento fez com que Bia ficasse aterrorizada...

Lembrou-se de quando Nika falara que sua antiga namorada estava se envolvendo em orgias.

E essa namorada era Maira. Sua filha poderia estar grávida.

Lembrou-se também que durante sua vida, nunca pensara muito em Deus. Aliás, nunca pensara muito em nada...

Reprimida, calada, sob a opressão e o abandono, dedicara-se ao trabalho doméstico e ao da clínica.

E esquecera de Deus e da família... Agora, questionava que Deus era esse, que a punia desde criança... E agora a faria se aproximar de sua filha que destruíra tudo que ela pensara ter construído nos últimos vinte anos.

O pesadelo... sua filha buscando ajuda e ela se vendo no espelho, quando deveria ver a filha... E a filha sumindo no escuro. Por mais que ela tentasse, não conseguira entender aquele sonho.

Relutante, foi até Maira. Ela estava fraca e quieta. Não se alimentara nos últimos dias.

Ela teria que tomar alguma providência. Teria que levar a filha ao médico.