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A Ruptura

A noite em Celestria era estranha. Uma sensação de aperto no ar fazia as pessoas olharem para o céu, como se algo estivesse prestes a acontecer. As estrelas, normalmente brilhando com um ritmo pacífico, piscavam mais intensamente do que o normal. As ruas da cidade estavam mais vazias que o habitual, os sons da vida cotidiana abafados por um silêncio incomum.

Kael Alaric caminhava pelas ruas desertas, o olhar perdido na vastidão do céu. Seu rosto, marcado por cicatrizes e uma expressão cansada, refletia um homem que estava distante do mundo ao seu redor. O ex-piloto de naves espaciais não via sentido em nada mais. Depois do que aconteceu na última missão, ele havia se retirado do que restava de sua antiga vida.

Era uma tentativa de se manter afastado de seu próprio poder, das realidades que ele agora podia manipular, e da responsabilidade que o perseguia como Conector. Mas o destino sempre tinha uma forma de interromper as tentativas de se isolar.

Uma explosão no céu rasgou a noite.

Kael parou abruptamente, a respiração acelerada. O som reverberou em seu peito, como uma onda de choque. O céu, até então límpido, se distorceu, como se estivesse sendo puxado por uma força invisível. As estrelas começaram a brilhar com uma intensidade assustadora, e o horizonte foi tomado por uma névoa pulsante que parecia envolver a cidade.

Foi quando ele sentiu. Não era uma sensação física, mas algo que ele sabia instintivamente: uma ruptura dimensional. Uma falha, um ponto fraco na estrutura do espaço-tempo. E ele sabia o que isso significava.

O chão tremeu sob seus pés. O prédio à sua esquerda começou a balançar, e a estrutura que antes parecia sólida começou a se desintegrar. As ruas estavam se distorcendo, as sombras se contorcendo de formas impossíveis. O mundo ao seu redor estava se desfazendo, e Kael sentia a pressão em sua mente, como se a própria realidade estivesse tentando se fechar sobre ele.

A dor surgiu primeiro, uma pressão intensa em sua cabeça, como se seu cérebro estivesse sendo comprimido. Ele viu flashes de imagens, de outras realidades colidindo, se sobrepondo à sua própria. Um segundo parecia uma eternidade.

"Não de novo..."

As palavras vieram com dificuldade. Ele sabia o que isso significava. A distorção não era acidental. Alguém estava manipulando as realidades.

Kael fechou os olhos e, sem pensar, estendeu as mãos à frente. Ele não sabia se poderia controlar a falha, mas, por um instinto profundo, tentou.

Um brilho azul-emana da palma de suas mãos. A energia começou a se concentrar, como uma esfera crescente. Ele estava tentando estabilizar a distorção, corrigir a ruptura. Mas as forças que ele estava enfrentando eram muito maiores que tudo o que ele havia enfrentado antes.

"Conectores..." – ele murmurou para si mesmo, lembrando-se da antiga terminologia que usavam para descrever os manipuladores das realidades. Aqueles que, como ele, tinham o poder de acessar as camadas de espaço-tempo. Mas havia uma diferença. Ele era um Conector perdido, um que havia perdido o controle e não se via mais como parte dessa "ordem".

A esfera de energia em suas mãos ficou mais forte, mas Kael sentiu uma dor lancinante em sua cabeça. Seus olhos se abriram, e ele viu a distorção tomar forma diante de seus olhos. As ruas da cidade se desvaneceram, dando lugar a uma realidade alternada. Pessoas e objetos começaram a desaparecer e aparecer em formas impossíveis. Uma construção antiga surgiu do nada, apenas para ser substituída por algo completamente diferente a cada piscar de olhos.

Ele estava no limite.

A dor se intensificou, e Kael caiu de joelhos. "Eu não quero... Eu não posso...!"

No entanto, uma presença apareceu diante dele, uma figura que parecia tão intangível quanto a própria distorção que ele tentava conter.

"Você sabe o que precisa fazer, Kael."

A voz era suave, mas carregava uma autoridade que ele não podia ignorar. Ele olhou para frente e viu uma mulher, com os olhos brilhando em tons de roxo profundo. Ela estava flutuando no ar, seu corpo iluminado pela luz de várias realidades ao seu redor.

"Lira...?" Ele gaguejou, o nome da pesquisadora que ele conhecia. Ela estava envolta em um brilho etéreo, como se fosse parte da distorção, mas também fosse algo completamente diferente.

"Você precisa agir agora." Lira estendeu a mão para ele, sua voz firme. "A ruptura é mais do que você imagina. Alguém está manipulando as realidades, e se você não fizer nada, elas vão colidir."

Kael tentou resistir. Ele sabia que suas ações tinham consequências. Manipular as realidades era perigoso. Mas ele não tinha escolha.

Com um último suspiro de exaustão e raiva, Kael fechou os olhos, focando toda a sua energia no ponto de distorção que ainda se expandia. Uma linha tênue de luz azul surgiu de sua mão, se conectando à falha.

"Eu não posso falhar..." ele sussurrou, mais para si mesmo do que para qualquer outro.

A luta estava apenas começando.

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