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Morra Por Causa Dele

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Ela não voltou a vê-lo, a humana não cumpriu sua promessa, Valerie constatou enquanto se sentava naquele chão desgastado, ainda encostado na parede. Um dia se passou desde sua última visita e o silêncio foi sua única companhia. Era engraçado como o destino funcionava, pois ele tinha passado de predador a presa.

Valerie não tinha conseguido dormir desde a noite em que a humana o deixara ali para se curar – ou morrer. Ele não estava em condições de se defender, nem havia os guardas de costume para mantê-lo seguro. Estar tão perto do Divisor o deixava muito desconfortável, sabendo que qualquer criatura poderia se infiltrar e acabar com sua vida, por isso ele se recusava a ceder ao sono. Pelo menos acordado, poderia enfrentar uma boa luta ou encontrar uma maneira de escapar.

Ele era um príncipe e não poderia morrer facilmente, essa era a única explicação para como ele tinha escapado da aparição. Mas agora ele estava lutando por sua vida e com a magia perigosamente baixa. No entanto, não desistiria, sabendo que seu pai já devia ter percebido que precisava de ajuda. Mesmo que a humana não o ajudasse, eles viriam buscá-lo.

No entanto, Valerie ansiava por vê-la mais uma vez. A maioria, senão todas as criaturas Fae, eram imensamente belas e ele estava acostumado com isso, mas aquela humana tinha uma beleza interior que o cativou e agora ele não conseguia esquecer o rosto dela. Havia sido um risco procurá-la para pedir ajuda, sabendo que sua espécie era gananciosa e traíçoeira. Mas era morrer sozinho ou formar uma aliança improvável.

Ele era um tolo por ficar aqui sentado esperando que ela voltasse, quando a humana poderia traí-lo num piscar de olhos. Embora a guerra tivesse terminado, ambos os lados mal se associavam um com o outro e não era incomum ouvir notícias de humanos capturando um Fae para seu divertimento. Afinal, havia escravos humanos em Astária também. Ambos os lados não eram exatamente inocentes.

Agora, Valerie estava numa posição em que também podia ser capturado e não conseguiria se defender. Se isso acontecesse, provocaria outra guerra e, embora seu traseiro lamentável fosse resgatado mais tarde, seus irmãos nunca o deixariam esquecer disso. Resumindo, ele tinha que sair daqui.

Mas Valerie não saiu. Ele daria mais um dia e se ela não voltasse a vê-lo, era seguro dizer que ele tentou o seu melhor e o destino não quis que ficassem juntos. As criaturas Fae eram grandes crentes no destino e nada era coincidência. O fato de os deuses terem permitido que a humana cruzasse seu caminho poderia significar que ele ainda não estava destinado a morrer e que qualquer erva que ela tivesse usado nele estava funcionando. Valerie podia sentir-se curando, ainda que lentamente.

Por isso ele se entregou ao silêncio que tem sido seu companheiro por dias afora, quando um galho quebrou e ele se sentou ereto de uma vez, alerta. Os Fae tinham sentidos aguçados e, julgando pelo peso que quebrou o galho, ele podia dizer que era um humano. Alguém estava aqui. A princípio, seu coração se alegrou com a ideia de que poderia ser a garota vindo por ele, mas quem quer que fosse andava cuidadosamente, como se não quisesse ser descoberto.

A garota o traiu?

Seu sangue gelou e sua espinha se endureceu enquanto ele levantava a mão chamando a magia que podia sentir dentro de si. Seu poder estava mais baixo do que o usual e, dependendo do número de pessoas contra as quais teria que se defender, ele poderia acabar se prejudicando mais do que ajudando se acabasse esgotado. Contudo, ele se recusava a cair sem lutar.

Ele inclinou as orelhas para o lado com os olhos fechados para conseguir se concentrar. Valerie captou os passos cautelosos e estavam mais próximos do que ele pensava, então, no instante em que o humano empurrou a porta, ele já tinha lançado a bola de chamas em suas mãos na direção, no mesmo momento em que abriu os olhos e percebeu que tinha cometido um grande erro.

Era ela.

E seus olhos estavam do tamanho de uma lua enquanto observava a magia destinada a ela. Valerie entrou em pânico e quis recolher a chama, desfazer o que tinha feito, mas estava muito fraco para realizar tal proeza e só pôde assistir enquanto destruía a única humana que jamais fora gentil com ele.

Ela desviou a tempo, e as chamas passaram perto de sua cabeça e acabaram sendo apagadas na pilha de neve lá fora. Enquanto o desastre era evitado, Valerie podia sentir o cheiro de cabelo queimado e engoliu nervosamente, especialmente quando ela levantou a mão e tocou seu cabelo. Seja humano ou Fae, era um fato conhecido que as mulheres valorizavam seus cabelos e ele acabara de cometer uma ofensa ao chamuscá-lo.

Nesse momento, Valerie sabia que, se não sucumbisse às suas lesões, a humana o mataria. Ele viu o choque em suas feições e seus olhos se encontraram no processo. Ele esperava que ela se irritasse com ele, mas em vez disso, ela perguntou,

"Antes de você decidir me transformar em carne assada na próxima vez, você poderia ao menos deixar eu fazer minha última prece?"

Hã?

A expressão de Valerie demonstrava seu choque enquanto ele a encarava, não era a resposta que ele esperava dela. Foi então que ele se deu conta de que a humana temia ele.

"E-Eu…" Ele engoliu, procurando as palavras para usar, "não te machucaria."

"Bom, eu discordo, você acabou de jogar sua chama mágica em mim. Eu teria virado um espeto humano se não tivesse reagido a tempo." Ela não acreditava nele.

Valerie se contorceu por dentro, ele não sabia como lidar com um humano. Ele só havia feito uma visita diplomática ao reino humano uma vez e o líder humano tinha sido tão insuportável que ele não se incomodou em esconder seu desrespeito. Mas esta era uma humana e uma que salvou sua vida, e pela lei deles, ele lhe devia.

"Foi um erro," Ele explicou, "não sabia que era você. Você não veio me ver ontem como prometeu e eu ouvi passos, eram diferentes dos seus e pensei que você…." Ele parou de falar porque não podia acusar diretamente sua salvadora de traí-lo.

"Você acha que eu te trairia?" Ela disse e seus olhos se arregalaram.

Ah não, ele não queria deixá-la zangada.

Sua confiança retornou e ela estava caminhando em direção a ele com uma carranca, visivelmente irritada. Mesmo assim, ela estava linda, tendo cuidado de sua aparência, ao contrário da primeira vez quando estava suja de terra e do sangue do cervo que havia caçado. Ela era a humana mais bela que ele já tinha visto.

"Olhe para mim, Valerie," Ela exigiu e ele ficou surpreso ao descobrir que ela estava agora em seu espaço. Ele estava distraído?

Ela disse, "Entendo que nós dois não nos conhecemos o suficiente para estabelecer confiança, mas eu salvei sua vida quase que ao custo da minha. O único motivo pelo qual não consegui vê-lo foi que adoececi devido ao frio -"

"Doente?" Seu tom de repente se encheu de urgência, já pensando no pior. Os humanos eram fracos, frágeis e facilmente morriam de doenças. Foi o que lhe contaram. Será que ela já estava morrendo? Quanto tempo ela tinha? E pensar que foi por causa dele!

"Sim, mas não se preocupe…"

Valerie a puxou para si, silenciando qualquer palavra que ela pretendesse dizer. Ele segurou ambas suas mãos e as cobriu com a sua maior, observando enquanto ela engolia nervosamente.

"Estou profundamente envergonhado e culpado por você ter sacrificado sua vida por mim. Saiba disso, nunca esquecerei o favor que você me fez até que eu durma com meus pais…." Ele poderia tê-la abraçado para mostrar sua apreciação mas não queria agravar sua lesão então segurou as mãos dela em vez disso.

"Humm, Valerie…?" A frágil humana piscou para ele em confusão, "Estou um pouco perdida aqui."

"Seu nome?" Ele perguntou em vez disso.

Valerie precisava honrá-la pelo nome, não pelo título depreciativo de "humana"

"Você está começando a me assustar, Valerie."

Ele olhou para ela e, de acordo com suas palavras, ela estava ficando receosa dele. Ah, ele deve ter parecido intenso e a sobrecarregou.

Valerie soltou as mãos dela e segurou o ombro dela em vez disso. Ele perguntou, "Você está doente por minha causa, certo?"

Houve uma leve hesitação mas

ela assentiu no final, sem palavras.

"Humanos morrem quando estão doentes e por minha causa, você também vai morrer -"

"O quê?!"

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