Caron hesitou no momento em que o pingente de Mike começou a brilhar, ele não soube exatamente o motivo. Seu corpo simplesmente parou, como se fosse um boneco de dar corda.
Pequenas fadas começaram a sair do pingente, e o único movimento que Caron conseguiu fazer foi um singelo mover de dedos que desconectou o colar de Mike e foi parar na mão de Caron. As fadas buscaram refúgio imediatamente nas roupas de seu mestre.
Rapidamente, Mike agarrou os papéis e olhou para cima, vendo Caron parado feito uma estátua. Ao mesmo tempo, um rosnado profundo foi ouvido pelas paredes da caverna, uma grande fera se projetando ao lado de Mike, com garras afiadas e pronta para lutar.
Caron conseguiu sair de seu transe antes de Lolo o atacar, escapando de seus golpes violentos enquanto a pantera rosnava. Mike não estava mais lá, fugindo para longe antes que Caron o alcançasse.
— Covarde! — Rosnou Caron, puxando Mike para si, mesmo sem tocar nele e estarem a bons metros de distância.
Mike não arremessado, mas sentiu algo puxar sua perna, caindo no chão e pegando um arco de suas costas rapidamente. Enquanto era arrastado, Mike soltou uma flecha que por pouco não acerta a mão de Caron, ao menos conseguiu pendurar seu pingente na parede. Lolo rapidamente afundou suas presas na perna de Caron, o puxando para baixo.
— Você errou! — Rosnou Caron para Mike, enquanto se livrava das mordidas da pantera.
Mike simplesmente sorriu, ainda sendo puxado para o tio de David feito um ímã gigante.
— Eu não erro. — Dito isso, tirou outra coisa de seu bolso, uma arma moderna.
Antes de Caron sequer reagir, Mike atirou diversas vezes contra o teto da caverna, fazendo cristais brilhantes e pesados caírem em cima de ambos.
Caron finalmente parou de puxar Mike, para se livrar dos cristais Com um assovio, Lolo seguiu Mike para fora do recinto, não antes do homem pegar seu colar na parede um segundo antes de sair.
No encalço de ambos, Caron não deixou de notar que esteve a um ponto de perder esse corpo que usava como receptáculo. Mike o teve em sua mira por um segundo e não o matou. Duas vezes.
Por outro lado, por ser um ataque surpresa, Caron não conseguiu desviar completamente de alguns cristais e agora mesmo tinha um em seu ombro direito, deixando um traço de sangue por onde passava.
Mike era lento, ao menos era o que Caron dizia, já que estava muito perto de alcançá-lo em menos de cinco minutos de perseguição. Mas, é claro, qual humano venceria uma corrida contra um feérico? Seres biológicamentes mais rápidos e mais fortes…
Impaciente, Lolo mordeu a camisa de Mike e o jogou por em suas costas, e embora pego de surpresa, ele não reclamou, se agarrando no pelo da pantera.
Mike olhou por cima do ombro para ser seu perseguidor, e neste exato momento, ambos sentiram o mesmo arrepio subir pelas costas. Algo estava errado, muito errado.
Do lado de Mike, ele se questionava, porque Caron não me matou ainda? O que o está impedindo? Porque ele parecia mais fraco? Ao menos, fraco o suficiente para que até mesmo o humano Michael Allans pudesse dar conta dele sozinho.
Porém, do lado de Caron, as perguntas eram diferentes. Era para ele estar furioso, mas porque este homem parece tão calmo? Michael Allans roubou o coração de sua irmã e de seu filho também, era para ser meu maior inimigo. Então porque não me olha como se eu fosse seu vilão? Não, não é bem assim…
Mike não poderia perdoar Caron por toda a dor que causou em seu filho quando David era pequeno, mas não era o olhar de um pai furioso que ele lançava a Caron.
Conhecido por ver coisas além do que olhos de humanos comuns conseguiam, a compreensão de que a mesma regra se aplicava aos feéricos enviou uma onda gélida de pânico sobre Caron. De repente, ele sentiu que não conseguia controlar seu corpo, suas pernas não lhe obedeciam quando tentava parar, seus Dons não seguiam seu comando e Mike podia ver isso.
Michael Allans não enxergava Caron O'Niell, um antigo rei de Arbor e o responsável pela miséria de seu filho. Não, Michael Allans enxergava exatamente o que Caron realmente era (naquele momento): uma marionete do Feiticeiro Negro.
Contra seu próprio desejo, Caron sorriu. Seus sentidos voltando a si subitamente, um objetivo claro: matar Michael Allans.
Os olhos castanho esverdeados de Mike já haviam mudado para um tom fraco de dourado há alguns minutos e ele sentiu a mudança, a sede de sangue. O que fez algo em Caron estalar, seu corpo inteiro estremeceu enquanto a voz de seu mestre em um tom mais profundo e alucinante martelava: mate! Mate! Mate! A Praga De Olhos Dourados não pode viver!
Praga De Olhos Dourados… Caron já ouviu falar deles. Homens ou mulheres, nos prelúdios de Slagven, onde Arbor sequer era um reino ainda, homens e mulheres com esses olhos poderiam erradicar a magia negra completamente de algo ou alguém. Todavia, com os séculos se passando, ninguém pararam de se falar deles e em toda Arbor jamais nasceu alguém com olhos dourados novamente.
— Já chega! — Rugiu uma voz pela caverna.
Mike não parou, sequer conseguiu ouvir a voz, e deu umas batidinhas leves em Lolo quando sentiu o ar ficar mais denso, indicando para ele não parar também. Letra gregas douradas começaram a ser desenhadas lentamente em suas peles.
Sabendo que Mike estava prestes a escapar, embora seus poderes estivessem mais lentos do que da última vez. Talvez devido ao fato que o pingente de Mike, que carregava as Fadas Exiladas, responsáveis pelo poder de se teletransportar facilmente de um lugar para o outro, consumia muita energia do portador. E Mike havia usado muito esse "poder" nos últimos dias. Principalmente quando tirou as crianças e Jin longe das garras de Caron.
Caron tentou puxar ambos para suas garras, ao mesmo tempo em que tentava corta-lós com sua própria escuridão, antes de ser empurrado contra a parede por Rei.
O Espírito Mentor parecia furioso, somente sua presença foi o suficiente para queimar a pele de Caron, suas mãos começaram a pingar sangue.
Mike sumiu novamente em uma poeira dourada, e Caron teve a sensação de que ele se foi com uma informação crucial.
Antes de sequer virar para o Espírito Mentor, o Rei estremeceu, sua forma espectral se contorcendo de maneira fisicamente tortuosa, o fazendo urrar de dor.
Era o de se esperar, afinal Caron era protegido por um Espírito Do Bosque. E era uma regra explícita no mundo dos Espíritos que não se podia mexer com o que eram chamados de "Campeões". Isso é, seres (humanos, feéricos,etc) que recebem a proteção direta de um espírito. Quando nasceu, David recebeu a proteção de quatro, de acordo com os rumores.
— Imbecil… — Caron resmungou, tirando um cristal de seu ombro, fazendo mais sangue jorrar. O corte cicatrizou em pouco tempo, já que ele possuiu o corpo de um O'Niell, afinal de contas. A família real de Arbor conseguia se curar rapidamente.
— Sou o herói de Arbor, é meu dever proteger o povo… Você foi longe demais ao ferir Rhion, A Fera Sagrada Dos O'Niells… — Rei murmurou, com uma expressão de dor.
Caron arqueou ambas as sobrancelhas.
— Aquele era Rhion? A fera que decidia quem era o próximo herdeiro de Arbor?
— Não é bem assim que acontece…
Caron jamais saberia, já que viu a fera por uma quantidade mínima de tempo. Afinal, seu pai escondeu do povo de Arbor que Caron jamais recebeu a Fera Dos O'Niell em seu corpo para garantir seu direito ao trono.
Portanto, mesmo que tenha se tornando o rei, o trono deveria ter ido para sua irmã, a mãe de David. A quem Michael Allans já foi doente de amor e ainda acreditava que era unilateral, o amor dos dois ter acabado, mesmo que Rós o amasse verdadeiramente… bem, isso também foi culpa de Caron.