Hoje era o dia de estrear meu novo equipamento. A armadura que eu comprei encaixou perfeitamente, e eu a complementara com alguns itens adicionais. Adicionei uma pequena bolsa na lateral oposta à espada, onde guardei minhas poções, bandagens, e, claro, meu almoço e água. Apesar de pequena, a bolsa era bem feita e prática.
Também peguei uma capa que não comprei, mas que havia encontrado empoeirada no porão de casa. Era uma capa confortável, com pele de lobo grisalho ao redor dos ombros. A capa não só me oferecia conforto, mas também me fazia parecer mais imponente para os monstros.
Diferente dos outros dias, hoje eu estava misturado com os aventureiros. Com o elmo no rosto, era fácil me esconder, e eu não queria chamar atenção desnecessária. Enquanto caminhava pelos primeiros andares, tentando me acostumar com o novo equipamento, tive a oportunidade de ver o jovem Bell Cranel correndo em direção à Dungeon.
Que garoto peculiar. Ele realmente acreditava que teria um encontro predestinado com uma garota...
Continuando meu caminho pelos andares iniciais, estava focado em me adaptar ao novo equipamento. Ao contrário dos dias anteriores, não estava usando o arco, mas treinando com a espada. Como um aventureiro solo, não tinha outra opção senão enfrentar monstros na Dungeon para melhorar.
Tudo estava indo bem até que comecei a sentir o chão tremer. Estava em uma bifurcação; a sala era um pouco mais longa que a maioria, e era uma das entradas para os andares inferiores.
O tremor no chão se intensificou, como se uma manada estivesse se aproximando. Esforçando a vista para enxergar melhor, percebi o que estava causando o tremor: vários minotauros se aproximavam. Imediatamente, lembrei que a Família Loki estava a caminho.
Isso significava que Bell estava prestes a ter seu encontro com Aiz Wallenstein.
Ainda assim, a quantidade de minotauros era impressionante...
Mas eles estavam correndo em minha direção.
— Hora de correr...
Mas então, lembrei que, de acordo com a história, apenas um minotauro deveria subir para esse andar. No entanto, havia mais de cinco aqui...
"Que droga..." pensei, olhando para os minotauros avançando. Será que conseguiria lidar com ao menos um deles? Não parecia que Aiz apareceria tão cedo, e eu me sentiria péssimo se alguém morresse porque eu não estava com vontade de enfrentar o monstro.
Um plano de emergência começou a tomar forma na minha mente.
"Ok..."
O som de cascos pesados ecoava pelo túnel enquanto os minotauros avançavam. O tremor no solo era cada vez mais forte, e meu corpo estava tenso, tentando calcular cada movimento. Quando vi os três primeiros passarem pela sala, meu coração disparou, mas eu sabia que precisava agir.
Rapidamente, tirei minha capa e a joguei no rosto de um dos monstros, cegando-o por um momento. Ele tropeçou com o peso e caiu no chão. O segundo minotauro fixou os olhos em mim, suas narinas inflando com raiva, mas antes que pudesse atacar, lancei meu punhal diretamente em seu olho. Ele rugiu de dor, segurando o rosto enquanto cambaleava para trás.
Eu corri em direção a ele. Minha mente estava focada. Sabia que minha lâmina comum não seria suficiente para perfurar o couro resistente de um minotauro. Com isso em mente, comecei a reforçar minha espada com a bênção de Eirina, sentindo o peso aumentar enquanto a lâmina crescia em tamanho e poder.
O minotauro, mesmo cego de um olho, girou o punho em minha direção. O golpe foi rápido, muito mais rápido do que eu esperava. O ar ao meu redor pareceu congelar quando o soco passou perto da minha cabeça, quase me acertando. Meu corpo agiu por instinto, recuando o suficiente para evitar o impacto direto, mas o medo foi palpável. Se aquele golpe tivesse me acertado, eu estaria morto.
Mas uma brecha se abriu. O minotauro estava desequilibrado, e minha espada caiu com toda a força em sua perna. A lâmina cortou através do couro grosso, decepando o membro com um som horrível de carne rasgada e ossos quebrados. O monstro caiu no chão com um baque pesado, e eu, sem hesitar, cravei minha espada em seu peito, terminando a batalha.
Por um momento, fiquei ofegante. O som de meus batimentos cardíacos era ensurdecedor, mas logo ouvi algo que cortou minha concentração.
— Onde diabos aqueles minotauros foram? — A voz era familiar, e logo percebi de quem era. Bete.
Eu olhei ao redor. O minotauro que eu havia cegado com minha capa estava finalmente livre e furioso. Mas então, ao longe, vi aventureiros de primeiro nível, e tudo ficou claro. Não queria que eles interferissem.
— Três minotauros foram por ali! — Apontei rapidamente, esperando que eles não viessem atrás de mim.
Os olhos deles pousaram brevemente em mim e depois na pedra mágica que restava do monstro que eu tinha acabado de abater. Eles entenderam que eu sabia me virar e, sem falar nada, seguiram pelos túneis. Nenhum deles parecia interessado em falar com um desconhecido.
Mas o minotauro que havia arrancado a capa não estava disposto a me deixar em paz. Ele começou a correr em minha direção. Meu coração disparou.
— Ah, seu maldito...
Pensei em falar algo, mas desisti. Não adiantaria – ele não escutaria mesmo.
...
O calor sufocante do hálito do minotauro queimava o ar ao redor de Bell. Ele estava encurralado, o corpo paralisado pelo medo e pela exaustão. O rugido da fera ressoava pelas paredes da Dungeon, e cada passo pesado do monstro fazia o chão tremer sob os pés do jovem aventureiro. Seu coração batia descontroladamente, e a única coisa que ele conseguia ouvir era o som de sua própria respiração ofegante.
"Estou acabado...", ele pensou, o desespero crescendo enquanto a enorme criatura erguia seu punho massivo, pronto para esmagá-lo. Bell sabia que não tinha chance. Ele não tinha força, nem experiência, e sua magia ainda não havia despertado.
Foi então que aconteceu.
Um silvo cortou o ar.
Antes que Bell pudesse processar o que estava acontecendo, a lâmina de uma espada brilhou na penumbra da Dungeon. A espada se moveu tão rápido que parecia uma extensão do próprio vento. Em um único movimento preciso e elegante, a lâmina atravessou o corpo do minotauro, e o rugido do monstro foi interrompido abruptamente.
Bell não conseguia acreditar. O que antes era um inimigo imparável, agora estava morto a seus pés, o corpo colossal desabando no chão com um estrondo que ecoou pelas paredes da Dungeon. E ali, diante dele, estava ela.
Aiz Wallenstein.
A garota conhecida como a "Princesa da Espada", uma aventureira de primeira classe da Família Loki, permanecia imóvel, com sua espada ainda em mãos. O brilho pálido de sua lâmina contrastava com a sombra pesada da Dungeon, enquanto seus olhos dourados se voltavam para Bell, que ainda estava no chão, chocado e sem palavras.
O silêncio entre eles era quase ensurdecedor. Bell sentia o peso da presença dela. Era como se o tempo tivesse parado. Aiz não disse nada no início, apenas guardou sua espada com um movimento fluido, como se aquilo tivesse sido apenas mais um dia de trabalho. Para ela, talvez fosse. Mas para Bell, era o momento mais marcante de sua vida.
Ela estendeu a mão, e Bell, ainda trêmulo, olhou para ela com uma mistura de admiração e constrangimento. Com esforço, ele pegou a mão dela, e Aiz o ajudou a se levantar.
— Está tudo bem? — A voz dela era suave, quase indiferente, como se estivesse perguntando algo trivial.
Bell, ainda em choque, sentiu o calor subir ao rosto. Ele mal conseguia processar o que acabara de acontecer. O minotauro, o medo esmagador, a espada brilhante de Aiz atravessando o ar como um relâmpago... e agora, ela estava ali, diante dele, falando com ele.
gritou ele, de repente, com a voz alta e estridente. Sem dar a Aiz qualquer chance de responder, Bell se virou e começou a correr com todas as suas forças.
Aiz ficou parada por um momento, seus olhos arregalados em surpresa. Ela não esperava essa reação. Quem correria assim depois de ser salvo? Especialmente alguém que acabara de sobreviver a um encontro com um minotauro? Seus olhos dourados o seguiram enquanto ele desaparecia rapidamente na escuridão dos corredores da Dungeon.
Ela inclinou a cabeça levemente, confusa, enquanto o som dos passos apressados de Bell diminuía no corredor da Dungeon.
— Heh... hehehehe! — Uma risada alta e debochada ecoou atrás dela.
Era Bete, caminhando com seu sorriso característico. Ele claramente havia testemunhado toda a cena e parecia estar se divertindo à beça.
— Ele... ele fugiu de você, Aiz! — Bete mal conseguia falar entre as risadas. — Você viu a cara dele? Parecia um tomate prestes a explodir!
Ele se dobrou, gargalhando ainda mais alto, completamente entregue ao ridículo da situação. Aiz, por sua vez, apenas o olhou de soslaio, ainda absorvendo o que havia acontecido. A confusão no rosto dela permaneceu, sem saber como reagir ao fato de que, em vez de agradecer, o garoto simplesmente fugira.
— Sério, Aiz — continuou Bete, enxugando uma lágrima de tanto rir —, eu nunca vi alguém fugir tão rápido depois de ser salvo. Que covarde!
Aiz permaneceu quieta com uma pequena carranca fofa, enquanto Bete ria sem parar, o som de sua risada preenchendo a caverna ao redor.
Enquanto isso, eu me aproximava dos aventureiros. Passei a mão por baixo da costela, procurando sentir qualquer dor ou rachadura na armadura, uma precaução que havia se tornado quase automática.
— Família Loki, não é? — Minha voz saiu firme, mas com uma pitada de curiosidade.
Os dois aventureiros me encararam com expressões neutras, embora a postura alerta entregasse que não esperavam uma aproximação. Eu balancei a pedra mágica de um dos minotauros em minha mão, ainda quente e pulsando com a energia que acabara de extinguir.
— Sabem me dizer por que tem minotauros nesse andar? perguntei, mantendo um tom casual, mas com a tensão de quem sabia que algo fora do comum estava acontecendo.