Capítulo 10: Nas Sombras do Passado
Endy caminhava em direção à sua casa, perdido em pensamentos. A noite estava tranquila, mas sua mente estava agitada. Enquanto os passos ecoavam na calçada, ele se perguntava se realmente merecia os amigos que tinha. A luz da lua iluminava o caminho, mas uma sombra pairava sobre seu coração.
"Ryomei," ele murmurou em voz baixa, sentindo um ódio fervente ao pronunciar o nome. Lembranças do passado o assombravam, e ele sabia que se o rival tentasse machucar seus amigos novamente, não iria deixar barato. A determinação crescia dentro dele, e ele decidiu que não se deixaria intimidar.
De repente, seu celular vibrou em seu bolso. Era uma ligação de Akiyo.
> — Endy? Você chegou em casa bem?
Ele respondeu enquanto continuava a andar.
> — Estou quase lá, eu acho.
> — Mas somos praticamente vizinhos! Você deveria demorar no máximo cinco minutos para chegar. Você foi a algum lugar a essa hora da noite?
> — Não, só quis andar um pouco. Havia um toque de descontração em sua voz, mas havia algo mais profundo, uma preocupação que Akiyo não poderia entender.
> — Yo, você só ligou para ouvir minha voz, né? Ficou carente muito cedo, não?
O silêncio se instalou por um momento, e Endy podia quase sentir a hesitação dela. Ele sorriu, tentando quebrar a tensão.
> — E quem era aquele esquisitão do baile?
Ele percebeu a mudança no tom dela.
> — Não é importante, respondeu, um pouco mais firme do que pretendia.
> — Endy...
> — Não era importante e ponto final. A voz dele soou decidida, quase ameaçadora.
> — Da próxima vez, não serei tão gentil,não insista.
Akiyo pareceu ceder, e a conversa mudou de rumo.
> — Tá tudo bem. As férias estão chegando... Você se importa se formos à praia juntos?
Endy sentiu uma onda de alívio. "Duh, obvio." "Eu lá sou protagonista de light novel para perder uma oportunidade dessas? Garota."
> — Tá, pode ser.
Ela então avisou.
> — Todos já concordaram, só faltava você.
Ela se despediu, e ele desligou a ligação, pensando: "Akiyo é muito gente boa, mas ela precisa parar de colocar o nariz onde não é chamada." O passado, sua rivalidade com Ryomei, era algo que ele queria enterrar, mas estava voltando à tona.
"Às vezes, o passado volta para te assombrar," pensou, com um peso no peito. "Vou ter que ficar na defensiva."
Enquanto caminhava, não pôde evitar pensar em seus amigos: Akiyo, a esquentadinha do grupo; Nenji, o piadista; e ele mesmo, o sério e mais bonito, pelo menos em suas próprias palavras. Riu ao pensar que Akiyo, embora bonita, perdia para as garotas 2D.
— Falando nela, a Akiyo é a esquentadinha e o nenji o piadista do grupo, eu sou o quê mesmo do grupo? Acho que sou o sério.
— Parando para pensar a Akiyo até que é bonitinha, vai? Ela perde para as 2D, mas quem não?
Ele inconscientemente falou isso em voz alta,de repente, ouviu uma voz abafada.
> — Hmm...Eu sou muito mais que isso, poxa!
Ele se assustou e olhou ao redor, confuso. "O que foi isso? Akiyo!" Pensou, sem encontrar nada.
Então percebeu: a ligação ainda estava ativa. Ele pegou o celular e viu que não tinha desligado.
"Merda!" Pensou, rapidamente desligando a chamada, envergonhado. O riso involuntário escapou enquanto imaginava a fúria de Akiyo. "Ela me mataria se tivesse aula amanhã."
Porém, aliviado por não ter que enfrentar as consequências imediatamente, decidiu que a raiva dela não seria um problema por enquanto.
"Mas, cara, se ela souber que ouviu isso, vai queimar de raiva agora," ele pensou, rindo da situação.
A caminhada continuou, e com ela, o peso da ansiedade sobre o passado. Endy decidiu que precisava se concentrar no presente e nos momentos bons que ainda estavam por vir, como a viagem à praia com seus amigos.
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Enquanto caminhava para clarear as ideias, Endy passou em frente a um restaurante familiar. O aroma da comida o fez parar por um instante, e, de repente, uma voz o chamou.
— Endy!
Era Hikaru, um dos membros do conselho estudantil.
— Hikaru?
Ele acenava animadamente, cercado por outros colegas. Endy hesitou, mas Hikaru insistiu:
— Venha se juntar a nós! Não é uma boa ideia ficar sozinho a uma hora dessas.
Endy fez uma careta.
— Tem certeza?
Ele não tinha certeza se queria se envolver, mas Hikaru continuou:
— Olha, se você é amigo da Akiyo, então não tem problema. Nós também somos amigos, né? Pessoal?
Depois de um breve momento de relutância, ele aceitou e entrou no restaurante. Ao se sentar, todos pareceram felizes por sua presença. Marihu estava claramente ao lado de Yuuta, e Endy se acomodou ao lado de Hikaru.
— É só a gente ou tem mais alguém do conselho? — perguntou Endy, curioso.
— Só mais uma garota, Aizawa — respondeu Hikaru, sorrindo.
Endy, não perdendo a oportunidade, brincou:
— Ah, então você e Aizawa são um par? Afinal, Yuuta e Marihu já namoram.
Hikaru e Yuuta se entreolharam, ambos visivelmente envergonhados. Marihu riu, enquanto Yuuta se defendia:
— Não é bem assim!
— Foi só uma piada! Não queria ser inconveniente — Endy explicou, levantando as mãos em rendição. Mas logo ele fez uma pergunta mais direta: — Sério, vocês não estão namorando?
— Nem em um milhão de anos! — responderam em uníssono, fazendo Endy rir.
Ele balançou a cabeça, concordando. O clima estava leve e divertido, até que Yuuta, com um sorriso travesso, lançou uma provocação:
— E você, Endy? Está namorando a Takahashi?
Endy riu nervosamente, respondendo:
— Não, somos no máximo amigos. Eu sou muito sem graça comparado a ela.
— Ah, para! Muitas garotas dariam tudo para sair com você, não fica se rebaixando, cara.— Yuuta disse, tentando elevar a autoestima de Endy.
— Eu não estou me rebaixando, sei que sou....disputado. Não sou esse tipo de pessoa. Mas, não estou no mesmo pacote que a Akiyo. Ela é toda esquentadinha e cheia de energia....até demais, enquanto eu sou... bem, mais introvertido e frio, sabe? Sou mais quieto. — explicou Endy, pensativo.
— Verdade, você e Akiyo são bem diferentes — concordou Hikaru.
— Ela combinaria mais com o Nenji — Endy comentou.
Yuuta rapidamente completou:
— Mas o Tanaka só tem olhos para a Shiina, então não vai acontecer, eu acho.
Endy riu, concordando:
— Eles são o não casal mais grudento que eu já vi. Às vezes até eu, não aguento essa palhaçada.
Yuuta, no entanto, não parecia desapontado:
— Eu acho fofo. Eles têm química.
Endy deu uma risada, mas logo se recompôs.
— Não fica rindo, cara! — Yuuta brincou, olhando para ele com uma expressão semi-séria.
Ele se despediu, sentindo-se mais leve do que quando entrou. Enquanto caminhava para casa, refletiu sobre o encontro.
"Isso até que foi legal, mas aquele cara de hoje cedo...", pensou, reconhecendo que, apesar das dificuldades, havia alegria em seu cotidiano
**☆**
No outro dia, Endy acordou com um susto e caiu da cama, seu corpo pesado ainda lutando contra o sono. "Mais um dia na minha vida depois daquele inferno da Escola Secundária Metropolitana de Hibiya," pensou com um suspiro. A escola, um labirinto sem fim,onde as pessoas são os ratos e vão fazer de tudo para sobreviver,custe o que custar, parecia um pesadelo constante. Ele se levantou, espreguiçou-se e se lembrou de que, desde que deixara aquele lugar, não tinha visto Ryomei. "Espero que isso dure."
Ryomei sempre foi um dos seus maiores rivais. Um rico mimado que, apesar de não ser muito bom em estudos, tinha um talento especial para estragar seus dias. Endy olhou para o espelho, seu reflexo refletindo a frustração que sentia. "Isso vai se repetir, e eu não quero que meus amigos acabem se envolvendo. Isso é entre eu e Ryomei." Ele balançou a cabeça, lembrando-se de como, no passado, o rival usou seus pontos fracos contra ele. "Ele sabe do meu passado, e isso é frustrante. E como se eu não tivesse nenhuma carta na manga, droga."Ele cobriu o rosto com as mãos."Ele me tem na palma da mão!"
Enquanto Endy fazia seu monólogo interno, o celular vibrou na mesa ao lado. Era Nenji.
— Opa! Você pode vir aqui em casa? Maninho? — Nenji perguntou, sua voz cheia de energia.
Endy hesitou.
— Sai dessa de maninho! Sai fora, não sou o demônio da Nemi!
Havia algo em sua mente, uma nuvem de preocupação que o impedia de relaxar. Mas a ideia de ficar sozinho o deixou inquieto. Ele respirou fundo.
— Tá bom, mano. O que você tá planejando? — respondeu.
Nenji riu, o som jovial atravessando a tela do celular.
— Ah, a mãe saiu, então vamos ficar sozinhos!
Endy arqueou uma sobrancelha, tentando discernir se era uma piada ou não.
— Você está falando sério? — perguntou, um pouco incrédulo.
— Sim, amorzinho! — Nenji respondeu, provocando.
— Para com isso, docinho de cocô. Já estou a caminho — Endy disse, sentindo-se um pouco mais leve.
Após se arrumar, Endy decidiu que era hora de arrumar o cabelo. Era uma raridade ele se preocupar com isso, mas, afinal, ele era uma pessoa muito caseira e não saía muito,ele decidiu fazer isso para não perder o hábito. Ele se olhou no espelho e, com um gesto rápido, arrumou os fios. "Não posso sair de qualquer jeito", pensou.
Ao sair de casa, notou que as pessoas o olhavam. "Não posso nem arrumar o cabelo sem que todos me encarem. Não sou um galã." Ele forçou um sorriso nervoso, tentando ignorar os olhares. O que era isso? Desde quando um simples "arrumei meu cabelo" atraía tanta atenção? Mas, quanto mais andava, mais os olhares aumentavam.
Finalmente, chegou à casa de Nenji e bateu na porta. Quando Nenji abriu, Endy perguntou, meio preocupado:
— Então? Eu esqueci de perguntar, sua irmã está em casa?
Nenji respondeu.
— S-Sim
Ao ouvir a confirmação, ele pensou em dar meia-volta. "Se a Nemi está aqui, não quero ficar aqui nem por mais um segundo." Mas Nenji o puxou para dentro, com um sorriso travesso.
— Fica! Vai ser legal — insistiu, ainda segurando Endy.
Endy revirou os olhos, mas não pôde deixar de rir.
— Isso é sequestro! Me solta! — protestou, embora soubesse que não estava realmente se sentindo assim.
— Você está chamando muita atenção — Nenji respondeu, percebendo que isso tornaria a situação ainda mais complicada. Endy aceitou, pensando que era melhor do que ficar lá fora.
Os dois subiram para o quarto de Nenji, onde Endy viu um garoto sentado no chão, jogando videogame.
— Você tem um irmão e não me contou? — perguntou, surpreso.
— Não, esse é um amigo das antigas, do 9º ano. Mudou de escola no ensino médio. O nome dele é Yamarushi Tadano — respondeu Nenji, animado.
Endy começou a rir.
— Tem algum problema no meu nome? — ele perguntou.
Ele respondeu.
— Vai por mim, você não entenderia.
Tadano olhou para ele, um pouco confuso.
— O que você quer dizer com isso?
Nenji interveio:
— O Endy é brasileiro, mas viveu a maior parte da vida no Japão. Deve ser coisa de brasileiro.
— E qual é o significado? — Tadano perguntou, curioso.
— É melhor você não saber — Endy respondeu, piscando um olho, tentando evitar explicações que poderiam levar a um mal-entendido.
Os três começaram a jogar e a atmosfera leve os envolveu. Enquanto jogavam, Tadano disse:
— Ouvi dizer que você é famoso na escola do Nenji.
Endy riu, balançando a cabeça.
— Sim, mas não é bem o tipo de atenção que eu queria, se é que me entende — disse ele, um tanto desconfortável com a ideia.
— Ah, vai, eu sei que você gosta de uma tal de Akiyo Takahashi, e por isso? — Tadano provocou.
Endy imediatamente se virou, lançando um olhar mortal para Nenji.
— O que exatamente você falou para o Tadano? — perguntou, desconfiado.
— N-Nada demais! — Nenji respondeu, tentando se desvincular da responsabilidade.
— Bom! Muito bom! Se não e melhor você começar a rezar — Endy insistiu, mantendo a seriedade.
Tadano então comentou que queria ser como Endy, mas ele revirou os olhos novamente.
— Não, não queira isso. É chato demais. Onde você vai, você chama a atenção. E o pior é que nem bonito eu sou!
— Você está enganado! — Tadano rebateu. — O Nenji até é bonitinho, mas você, Endy, é outro nível.
Endy fez uma expressão de dúvida, e todos começaram a rir.
— Tadano? Você usa óculos! — Endy provocou, rindo junto com os outros.
Mas, mesmo enquanto jogavam, a imagem de Ryomei não saía de sua mente. O pensamento de que ele poderia reaparecer a qualquer momento o incomodava. "E se ele tentar se vingar?", pensou. "Não posso deixar que ele me afete igual da última vez."
"Pensando bem, que se dane! Se ele quer briga,ele vai conseguir."
— E aí, Endy! Você está bem? — Nenji perguntou, percebendo que algo estava errado.
Endy sorriu, mas era um sorriso forçado.
— Só pensando em algumas coisas — disse ele, tentando disfarçar.
Tadano olhou para ele, curioso.
— Tipo o quê? — perguntou, interessado.
— Ah, só... problemas de escola — respondeu Endy, sem querer entrar em detalhes.
Os outros trocaram olhares, mas decidiram não insistir. O jogo continuou, e as risadas encheram o quarto. Endy, aos poucos, começou a relaxar, permitindo-se desfrutar da companhia dos amigos.
Depois de algumas horas jogando, Nenji sugeriu:
— Ei galera! Vamos comer alguma coisa? Estou morrendo de fome!
— Tudo bem — Endy concordou, levantando-se e alongando os braços.
Os três desceram para a cozinha e começaram a procurar algo para comer. Enquanto preparavam lanches, a conversa fluiu naturalmente, e a tensão que Endy sentia começou a se dissipar.
— Então, Endy, você está mesmo afim da Takahashi? — Tadano perguntou de repente, com um sorriso travesso.
Nenji riu. — E você ainda pergunta? Haha.
Endy parou por um momento, pensando na resposta.
— Não sei... — ele disse, hesitante. — Ela é legal, mas somos apenas amigos.
Tadano riu.
— Olha só você ta todo vermelho! Você gosta dela, admita!
Endy sentiu o rosto esquentar. Não era fácil falar sobre esses sentimentos.
— Olha, eu...isso não e da sua conta. — ele disse, tentando manter a calma.
Os dois riram, mas Endy percebeu que, no fundo, estava certo.
Mas as sombras do passado ainda pairavam sobre ele. O pensamento de Ryomei e o que ele poderia fazer o mantinha alerta. "Não posso me deixar levar com isso,ele e passado!", decidiu.