Aylin passou toda a sua vida em uma floresta sombria, isolada do resto do mundo, sob a proteção de seu avô. Criada com poucas explicações e muitas regras, ela cresceu sem saber o verdadeiro motivo de sua reclusão. Agora, em busca de respostas, Aylin enfrenta seu avô, determinada a descobrir o que realmente os mantém presos ali e quais perigos rondam suas vidas. À medida que desvenda esses segredos, ela percebe que sua realidade é muito mais sombria e complexa do que poderia imaginar, e que seu destino está entrelaçado com forças que ela ainda não compreende.
Aylin caminhava em silêncio pela floresta densa, onde a luz do sol apenas sussurrava entre as copas das árvores. Os anos vivendo ali, longe de tudo e de todos, haviam moldado seu espírito em algo diferente, algo que ela ainda não compreendia completamente. A única companhia constante era seu avô, um homem de poucas palavras e muitos segredos.
Naquela manhã, a sensação de inquietude que a havia atormentado durante semanas parecia ter atingido seu auge. Ela sabia que algo estava para acontecer, mas não sabia o quê. As árvores ao redor pareciam sussurrar segredos antigos, e cada sombra parecia esconder algo que seus olhos não podiam ver.
Aylin se aproximou de seu avô, que estava sentado à mesa, olhando pensativo para a lareira quase apagada.
"Vovô," começou ela, hesitante. "O que existe na floresta além das árvores e dos animais? Eu sinto... algo mais."
O velho ergueu os olhos lentamente, seu olhar era uma mistura de cansaço e algo que ela não conseguia decifrar. "Há coisas que é melhor não buscar entender, Aylin. Há coisas que vivem nas sombras e que não desejam ser perturbadas."
Ela franziu o cenho, a curiosidade queimando em seu peito. "Mas eu sinto que elas estão me chamando. Como se algo estivesse me esperando."
O avô se levantou abruptamente, derrubando a cadeira no processo. "Pare de falar essas tolices! Já disse para você nunca se aventurar além do lago. Não há nada lá para você, só perigo."
Aylin se encolheu diante da reação inesperada. Seu avô nunca a havia tratado assim, com tanto medo em sua voz. "Mas eu preciso saber. Por que estamos aqui, tão longe de tudo? O que você está escondendo de mim?"
"Eu estou protegendo você!" Ele gritou, a voz falhando no final, como se a própria força tivesse escapado com suas palavras. "Há coisas neste mundo que não são para os nossos olhos. Coisas que podem destruir o que temos."
A jovem observou seu avô, notando o tremor em suas mãos, a maneira como seus olhos evitavam os dela. Decidiu, então, não pressioná-lo mais. Não por enquanto. Mas dentro de si, ela sabia que não poderia ignorar o chamado que sentia.
Naquela noite, enquanto a lua cheia brilhava alta no céu, Aylin fez algo que sabia ser perigoso, mas necessário. Esperou até que seu avô adormecesse e, em silêncio, deixou a cabana. Seguiu pela trilha que sempre foi proibida, aquela que seu avô temia como a morte.
A floresta estava diferente naquela noite, como se estivesse viva, observando-a a cada passo. O coração de Aylin batia forte, mas ela não recuou. Sabia que estava se aproximando de algo importante. E então, ela chegou à clareira.
No centro, uma árvore antiga, de tronco retorcido, se destacava. Era como se a própria natureza tivesse tentado apagá-la, mas algo a mantinha firme, desafiando o tempo. Aylin se aproximou, seus olhos captando um brilho estranho no tronco. Era um símbolo, esculpido profundamente na casca escura. Algo que mexeu com ela de uma forma que não conseguia explicar.
"Não toque nisso!" A voz firme de seu avô ecoou pela clareira, fazendo-a saltar e se virar rapidamente.
Ele estava lá, parado à beira da clareira, o rosto uma máscara de pavor e raiva. "O que você acha que está fazendo?"
Aylin recuou um passo, mas não desviou o olhar. "Eu preciso saber a verdade. Você nunca me contou por que estamos aqui, o que realmente tememos."
O velho se aproximou lentamente, os olhos fixos nela. "Você não entende o que está pedindo, Aylin. Há coisas que não podem ser desfeitas, coisas que foram seladas nesta floresta há muito tempo."
"Então me explique!" Ela implorou, sentindo as lágrimas ameaçarem cair. "Eu não posso continuar vivendo sem saber por que sempre sinto que algo está me esperando."
Ele parou diante dela, o rosto endurecido por uma decisão difícil. "Esta floresta guarda segredos que não pertencem ao mundo dos vivos. Esse símbolo," ele apontou para a árvore, "é um marco. Ele sela algo que não pode ser libertado."
Aylin olhou para o símbolo, agora ciente do peso que ele carregava. "E se estiver relacionado a mim? E se eu tiver algo a ver com isso?"
O avô a olhou longamente, como se estivesse pesando cada palavra antes de falar. "Você é minha neta, Aylin, e é por isso que sempre te protegi. Mas talvez seja hora de você conhecer a verdade, por mais dolorosa que seja..