Alinos (M-932A)
-Ano 691 A.C.I
-Colônia móvel de mineração 3(Sweeper 03)
Flashback (20 anos imperiais atrás)
Juno's P.O.V
Morte.
Desde o meu primeiro sopro de vida neste maldito planeta, estou cercada por ela.
"Merda!" Gritou um homem cujo nome eu não me lembro muito bem. Mentira, eu nunca esqueço de nada.
"Harlla, aguente firme!" Disse o homem que me tinha atualmente em seus braços.
Esqueci de avisar, eu era um bebê.
Um patético bebê.
Minha primeira memória, eu acho, era de fogo. Um inferno. Minha mãe havia sido queimada pelas chamas enquanto tentava fugir do caos no nível 8, e por alguma razão eu havia achado que esse era o momento perfeito para fazer minha estreia neste mundo.
Eu lembro claramente os gritos de dor de minha mãe e o desespero dos mineradores que tentavam a todo custo ajudá-la a me trazer ao mundo.
Quando finalmente decidi sair, minha mãe sucumbiu aos ferimentos.Merda.Foi o que eu teria dito se soubesse falar naquela época, mas sabe como é, né.
Ainda bem que meus pensamentos foram lidos e expressados pelo bom homem que me tinha em suas mãos.
O nome da minha mãe era Harlla. Ela era uma operadora de máquinas no nível 8 do Sweeper. Sua morte foi...triste.
Eu nunca conheci meu pai biológico. Ouso dizer que talvez minha mãe nem soubesse quem ele era.
Quem me criou foi o Senhor Janus, o responsável por me trazer a este triste mundo.
12 anos imperiais depois
"Juno, está na hora do seu treinamento." Disse o Senhor Janus.
Morávamos no nível 22 do bloco E do Sweeper, em um dormitório pequeno demais para duas pessoas, mas dávamos um jeito.
"Senhor Janus, você viu minha bota?!" Perguntei enquanto vasculhava o quarto.
"Já te disse para manter suas coisas arrumadas," ele respondeu com uma paciência que, embora fosse a mínima, ainda era mais do que a que demonstrava aos demais. Também não ajudava muito o fato de eu ter um costume de fingir 'perder' minhas coisas pela casa, apenas para interagir com ele.
Ele era carinhoso no seu jeito, mas bastante estrito e difícil de agradar desde o incêndio no nível 8. Ele era um imperial convicto e passava boa parte do tempo vendo os boletins imperiais da Exonet.
"Você não tem mais tempo para procurar. Vamos, é hora de você começar a se preparar para a sua futura função," ele continuou, enquanto me entregava a bota com um olhar severo.
Era hora de começar meu treinamento para ser operadora do sistema de comunicações e telemetria, que ocorria no nível 28 do bloco A. Era um passo importante para meu futuro, e eu sabia que precisava aproveitar a oportunidade.
"Sim, senhor!" Respondi, tentando esconder o nervosismo e a excitação ao mesmo tempo.
Eu estava prestes a começar uma nova fase da minha vida, e nada iria me parar.
O Senhor Janus deu uma última olhada em mim antes de eu sair, seu olhar sempre avaliador. Mesmo que ele nunca demonstrasse muito afeto, eu sabia que ele se importava de uma maneira que seu comportamento rígido não conseguia expressar.
"Não se atrase," ele disse com um tom que não admitia contestação.
Eu assenti e me apressei em direção ao nível 28, meu coração batendo forte com a expectativa e a ansiedade pelo que viria a seguir.
O nível 28 era um mundo à parte, uma cacofonia de ruídos e sinais, onde a tecnologia avançada parecia dominar o espaço. Era aqui onde se coordenava toda a comunicação e monitoramento do vasto interior do veículo e é aqui onde o meu futuro vai começar.
3 anos imperiais depois
Eu estava no meu último ano, prestes a completar o meu treinamento para me tornar uma operadora plena. Durante esses três anos não fiz amigos.
Meus colegas de classe eram, pela falta de um termo melhor, inferiores. Indisciplinados, barulhentos e sinceramente, a vergonha da profissão.
Eles também me evitavam, espalhavam rumores de que eu era manipuladora e obcecada com resultados, diziam que eu não tinha interesse em fazer amizades. De certo modo, eles estavam certos.
Meus instrutores estavam convencidos de que eu estava sendo desperdiçada em um planeta de classe M, e que eu teria um futuro brilhante na marinha imperial. Infelizmente o resultado dessa loteria já saiu, e eu acabei tomando no meu cu. Eu irei morrer em Alynos, e eles sabiam disso.
Minha vida estava extremamente monótona, até que um dia ele apareceu.
No início, Kassio foi um desastre. Ele tropeçava em cabos, derrubava equipamentos e levava broncas dos instrutores.Apesar disso, mantinha um sorriso no rosto. Decidiu fazer uma breve pesquisa sobre ele no banco de dados do Sweeper.
Vejamos, 12 anos, se envolveu em um acidente 2 anos atrás, envolvendo a explosão de um tanque de combustível no hangar leste, onde perdeu seus pais.
Mais uma família destruída por esse maldito lugar. Eu lembro desse acidente, aparentemente o abastecedor de uma das naves teve um infarto no meio do abastecimento de uma das naves de transporte. 127 pessoas morreram nesse dia.
Mas vendo o como ele se portava durante as aulas, sempre sorrindo, isso me deixou curiosa sobre ele até que um dia decidi me apresentar a ele.
"Ei, você está bem?" perguntei, vendo Kassio tentando recolocar um painel que ele havia derrubado.
"Sim, só um pouco atrapalhado ainda. Desculpe, estou tentando pegar o jeito das coisas," respondeu ele, ainda sorrindo apesar do caos.
"Você parece estar se esforçando muito," eu disse. "Se precisar de ajuda, posso mostrar como fazer isso."
Kassio parecia surpreso com a oferta, mas aceitou sem hesitar. Enquanto eu o guiava pelos procedimentos, percebi que ele tinha uma determinação genuína, mesmo que suas habilidades não fossem perfeitas.
"Obrigado!Não pensei que alguém fosse se importar comigo desde que cheguei aqui," ele disse, ainda sorrindo.
"Não se preocupe," eu respondi, tentando esconder um raro sorriso. Algo que me surpreendeu grandemente. "Todos começam de algum lugar."
À medida que o tempo passava, Kassio e eu começamos a nos tornar amigos. A presença de Kassio trouxe um toque de humanidade ao meu dia a dia.
Ele era um lembrete de que, mesmo em um lugar tão desolador e impiedoso quanto o Sweeper, havia espaço para a camaradagem e para o crescimento. E quem sabe...