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VII. CONEXÃO

Estava acomodado na traseira da carroça de Marceline, um lugar encantador para mim, repleto de centenas de frascos e feixes, saturado por mil odores. Para minha mente jovem, era um paraíso, geralmente mais divertido que a carroça de um criaferro; mas não naquele dia.

Chovera intensamente na noite anterior, transformando a estrada em um denso lodaçal. Como a trupe não tinha compromissos específicos, decidimos aguardar um ou dois dias para que as estradas secassem. Era um evento bastante comum e ocorreu no momento perfeito para Marcy aprimorar minha educação.

Assim, sentei-me diante da bancada de madeira nos fundos de sua carroça, impaciente por pensar que desperdiçaria o dia ouvindo lições que já compreendia.

Meus pensamentos devem ter se revelado, porque Marceline suspirou e sentou-se ao meu lado.

— Não é bem o que você esperava, não é?

Relaxei um pouco, percebendo que seu tom indicava um adiamento da lição. Ela pegou um punhado de ocros de ferro que estavam na mesa e os chacoalhou na mão, pensativa.

Olhou para mim e perguntou:

— Você aprendeu a fazer malabarismos de uma vez? Com cinco bolas de uma só vez? E com facas também?

Enrubesci ao lembrar. Inicialmente, Stap nem mesmo me deixara tentar com três bolas. Fez-me começar com duas, e eu até as deixei cair algumas vezes. Foi isso que contei a Marcy.

— Certo — disse ela. — Domine este truque e você aprenderá outro.

Esperei que ela se levantasse e reiniciasse a aula, mas não foi o que aconteceu. Em vez disso, ela exibiu o punhado de ocros de ferro e perguntou:

— O que acha destes? — E bateu uns contra os outros na mão.

— Em que sentido? Físico, químico, histórico...

— Histórico. — Ela sorriu. — Surpreenda-me com sua compreensão das minúcias históricas, A'lun.

Eu lhe perguntara uma vez o que significava A'lun. Ela disse que significava "sábio", mas eu tinha minhas dúvidas, pelo jeito que torcia a boca ao dizê-lo.

— Muito tempo atrás, as pessoas que... — comecei.

— Quanto tempo?

Franzi o cenho, esboçando um ar severo.

— Mais ou menos 2 mil anos. Os nômades que vagavam pelos sopés da cordilheira de Pankav foram reunidos sob o comando de um chefe.

— Como era o nome dele?

— Hordred. Seus filhos eram Heldir e Heldon. Quer que eu lhe dê a linhagem inteira, ou devo ir direto ao ponto? — indaguei, fechando a cara.

— Desculpe-me, senhor — disse ela. Sentou-se empertigada na cadeira e assumiu uma expressão de atenção tão absorta que ambos começamos a rir.

Recomecei:

— Hordred acabou controlando os contrafortes de Pankav. Isso significou que passou a controlar as próprias montanhas. Eles começaram a cultivar a terra, abandonaram seu estilo de vida nômade e, aos poucos, foram...

— Quer ir direto ao ponto? — interrompeu Marceline. Em seguida, jogou os ocros de ferro na mesa à minha frente.

Ignorei tanto quanto me foi possível.

— Eles assumiram o controle da única fonte de metal que era abundante e de fácil acesso numa grande extensão, e logo se tornaram também as pessoas mais habilidosas no trabalho desse metal. Exploraram essa vantagem e conquistaram grande riqueza e poder. Até então, o escambo era o método de comércio mais comum. Algumas cidades maiores cunhavam sua própria moeda, mas, fora delas, o dinheiro valia apenas o seu peso em metal. As barras de metal eram melhores para o escambo, mas as grandes barras eram inconvenientes para carregar.

Marcy me exibiu sua melhor expressão de aluna entediada. O efeito só foi ligeiramente inibido pelo fato de ela ter queimado as sobrancelhas uns dois dias antes.

— Você não vai entrar no mérito das moedas representacionais, vai?

Respirei fundo e resolvi não atormentá-la tanto quanto ela me atormentava nas aulas.

— Os ex-nômades, já então chamados de cealdamos, foram os primeiros a criar uma moeda-padrão. Cortando uma daquelas barras menores em cinco pedaços, obtinham-se cinco ocros — continuei. Comecei a juntar duas fileiras de cinco ocros cada uma, para ilustrar o que dizia. Eles ficaram parecendo pequenos lingotes de metal. — Dez ocros valem o mesmo que um iyane de cobre; 10 iyanes...

— Basta — interrompeu Marcy, dando-me um susto. — Então, estes dois ocros de ferro poderiam ter vindo da mesma barra, certo? — E segurou um par para que eu inspecionasse.

— Na verdade, é provável que eles os cunhassem individualmente... — Deixei a voz morrer, sob seu olhar severo.

— Apesar disso, ainda há alguma coisa que os conecta, não é? — E tornou a me olhar da mesma forma.

Eu não tinha certeza, na verdade, mas sabia que não convinha interromper.

— Certo.

Marcy pôs os dois na mesa.

— Logo, quando você movimentar um deles, o outro deve se mexer, não?

Concordei, a bem da argumentação, e estendi um braço para mexer num deles. Mas Marcy deteve minha mão, abanando a cabeça.

— Primeiro, você tem que lhes recordar disso. Tem que convencê-los, na verdade.

Buscou uma tigela e a usou para decantar lentamente uma massa de piche de pinho. Molhou um dos ocros no piche, grudou o outro nele, disse várias palavras que não reconheci e separou lentamente as duas moedinhas, com fios de piche se esticando entre elas.

Colocou uma na mesa, mantendo a outra na mão. Depois murmurou mais alguma coisa e relaxou. Levantou a mão e o ocro que estava na mesa imitou o movimento. Girou o da mão para lá e para cá e a outra moeda a seguiu.

Olhou de mim para a moeda.

— A lei da simpatia é uma das partes mais básicas da magia. Ela afirma que, quanto mais semelhantes são dois objetos, maior é sua conexão por afinidade. Quanto maior a conexão, maior a facilidade com que eles se influenciam mutuamente.

— A sua definição é circular.

Marcy soltou a moeda. Sua fachada de professora deu lugar a um sorriso enquanto ela tentava, com sucesso precário, limpar o piche das mãos com um trapo. Ela pensou um pouco.

— Parece bem inútil, não é?

Balancei a cabeça com hesitação, já que as perguntas traiçoeiras eram bastante comuns durante as aulas.

— Você preferiria aprender a chamar o vento?

Seus olhos dançaram diante de mim. Ela murmurou uma palavra e a cobertura de lona da carroça farfalhou à nossa volta.

Senti um sorriso voraz tomar conta do meu rosto.

— É uma pena, A'lun — comentou Marcy, cujo sorriso também era voraz e selvagem. — Você precisa aprender as letras antes de ser capaz de escrever. Precisa aprender a dedilhar as cordas para poder tocar e cantar.

Pegou um pedaço de papel e rabiscou umas palavras.

— O truque é manter a Vileza firme em sua mente. Você precisa acreditar que eles estão ligados. Precisa saber que estão. — E me entregou o papel. — Aqui está a pronúncia fonética. Chama-se Simpatia da Conexão de Movimentos Paralelos. Exercite-se.

Ela estava com um ar ainda mais lupino do que antes; velha, grisalha e sem sobrancelhas.

Retirou-se para lavar as mãos. Esvaziei a mente, usando o Coração Congelado. Pouco depois, eu já flutuava num mar de calma desapaixonada. Grudei as duas moedinhas de metal com o piche de pinho. Fixei mentalmente a Vileza — a convicção do rebenque de que os dois ocros de ferro estavam ligados. Proferi as palavras, separei as moedas, pronunciei a palavra final e aguardei.

Nada de afluxo impetuoso de força. Nada de onda de calor nem calafrio. Nenhum facho radiante de luz me atingiu.

Fiquei bastante decepcionado. Pelo menos, tão decepcionado quanto era capaz de ficar com o Coração Congelado. Levantei a moeda que segurava na mão e a da mesa se ergueu de modo semelhante. Era magia, quanto a isso não havia dúvida. Mas fiquei bem pouco impressionado. Eu esperava... Não sei o que eu esperava. Não era aquilo.

O resto desse dia foi gasto em experimentos com as simpatias de conexões simples que Marceline me ensinou. Aprendi que era possível conectar quase tudo. Um ocro de ferro e um crimo de prata, uma pedra e um pedaço de fruta, dois tijolos, um punhado de terra e um dos burros. Levei umas duas horas para descobrir que o piche de pinho não era necessário. Quando lhe perguntei, Marcy admitiu que aquilo fora um mero auxiliar da concentração. Ela pareceu surpresa ao ver que eu descobri sem sua ajuda.

Permita-me resumir brevemente o conceito de simpatia, pois, provavelmente, você só precisará de uma noção geral para entender como essas coisas funcionam.

Primeiramente, a energia não pode ser criada nem destruída. Quando você levanta um ocro, o outro se ergue da mesa como se estivesse levantando ambos, porque, na verdade, você está. Essa é a essência. Na prática, é como se você estivesse levantando três ocros. Nenhuma conexão de simpatia é perfeita. Quanto mais diferentes os objetos, mais energia se perde.

Imagine isso como um aqueduto com vazamentos, conduzindo água até uma roda hidráulica. Uma boa conexão de simpatia tem pouquíssimos vazamentos e quase toda a energia é utilizada. Uma conexão ruim, por outro lado, é repleta de furos; apenas uma fração do esforço investido chega ao seu objetivo.

Por exemplo, tentei conectar um pedaço de giz a uma garrafa de vidro. A semelhança entre os dois era mínima, então, embora a garrafa pesasse cerca de um quilo, ao tentar levantar o giz, senti como se ele pesasse quase 30. A melhor conexão que encontrei foi com um galho de árvore que eu havia partido ao meio.

Depois que entendi essa noção básica de simpatia, Marcy me ensinou muito mais. Uma infinidade de conexões, uma centena de truques para canalizar a força. Cada um deles era uma palavra nova em um vasto vocabulário mágico que eu mal começava a explorar.

Muitas vezes, a prática era maçante, e isso é apenas uma parte da história. Marcy continuou a me fornecer pequenas doses de conhecimento em outras áreas: história, aritmética e química. No entanto, eu me apegava a tudo o que ela podia me ensinar sobre simpatias.

Ela compartilhava seus segredos com cautela, exigindo que eu dominasse um conceito antes de revelar outro. Mas eu parecia ter um talento especial para isso, algo que transcendia meu simples desejo de aprender, de modo que nunca houve uma espera muito longa.

Não estou dizendo que minha jornada tenha sido sempre tranquila. Minha curiosidade, que me fazia um estudante voraz, também me metia em encrenca com frequência.

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