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Capítulo 12

LETTIE

Quando o Sol atingia seu pico máximo nos céus, nós os sentimos.

Os Saiyajins chegaram.

Estávamos num campo aberto, porém rodeado com algumas formações rochosas aqui e ali, treinando entre nós três, meio que… só por desencargo de consciência, e porque não aguentávamos ficar parados, na espera e numa ansiedade sem fim.

Eu e Gohan estávamos a meio caminho de golpear Piccolo, quando paramos no meio do ar, em alerta, e olhamos para cima.

Um calafrio percorreu minha espinha.

Duas cápsulas redondas, iguais as de Raditz, entrecortaram as nuvens, caindo e caindo, até sumirem por detrás das montanhas.

Mesmo longe, sentimos a surpreendente força dos seus Ki.

De repente, um grupo de aves sobrevoou nossas cabeças para o lado oposto, decerto fugindo daquela ameaça. Seguiu-se um silêncio quase palpável, e apenas o som de uma leve brisa farfalhando algumas árvores a uma distância preenchia aquela atmosfera carregada de tensão.

— Tia Lettie… — choramingou Gohan, se agarrando à minha perna, do mesmo jeito que havia feito com seu pai na ilha do Mestre Kame quando o conheci. Toquei sua cabeça para acalmá-lo e reparei o quanto o pobrezinho tremia.

Piccolo se colocou atrás da gente, com seus mais de dois metros de altura nos cobrindo como um anjo da guarda pessoal. Peguei na mão de Gohan e nos encolhemos em sua sombra protetora. No entanto, quando olhei o rosto de Piccolo, percebi como estava soturno.

— Sejam fortes e corajosos — disse ele, numa entonação grave. — Não saiam de perto de mim.

Piccolo parecia bem pior desde a nossa conversa ontem a noite. Seus olhos escuros traduziam uma grande preocupação e temor, e tudo o que desejei foi envolvê-lo num abraço carinhoso, mas a situação não me permitia tal luxo.

É engraçado pensar que, há um ano, abraçar Piccolo para reconfortá-lo estaria no último item da minha lista de desejos. Na verdade, acho que nem na lista estaria.

Fazendo um retrospecto, foi um tremendo desafio suportá-lo naqueles dois primeiros meses de Treinamento. Me lembro de pensar que esta aliança feita entre nós três custaria minha saúde física e mental, mas nunca imaginei que ultrapassaria todos os limites existentes.

Piccolo nos tratou como lixo e como vermes; um carrasco impiedoso, e eu não concordava nem um pouco com seus métodos de ensino. Entretanto, eu te pergunto, caro leitor: o que eu poderia fazer? Jogar tudo para o alto e abandonar a missão? E o futuro da Terra, como ficaria? E o futuro de Gohan? Por acaso eu deveria tê-lo abandonado, sem seu pai para ajudá-lo, e voltado para minha vidinha miserável e fingir que nada aconteceu? Como eu sequer dormiria, mesmo que fosse num beco escuro qualquer, sabendo que eu poderia ter feito algo para salvar a humanidade, e não fiz?

E outra, não fui eu quem passou a vida toda querendo um professor para me ensinar de graça? Pois bem, eu ganhei o meu.

Então, sim. Mesmo passando por aquele inferno nas mãos de Piccolo, não me permiti ser abalada. Mesmo odiando tamanho sofrimento, eu continuaria o obedecendo, mansa e pacífica.

Eu não conseguia ser diferente. Sou assim, e sempre fui.

Contudo, pelo visto, agir de acordo com o meu temperamento natural me trouxe um resultado inesperado, pois, ao contrário do que eu pensava, Piccolo mudou, e muito.

E gostei daquela mudança.

A partir daquele dia em que passei mal, seu comportamento em relação a mim e Gohan se transformou. É claro que ele continuou com sua mesma natureza irritadiça e rabugenta, mas, ele passou a também demonstrar certa… gentileza em suas maneiras e, aos poucos, foi se tornando um homem paciente, tolerante e, acima de tudo, bom.

Confesso que, querendo ou não, eu já o olhava com certa consideração devido a sua posição de Mestre para comigo e Gohan, e por sua disposição em nos treinar por um ano inteiro. Além de que era inegável o quanto ele possuía um vasto conhecimento e habilidades na arte da luta.

Porém, foi somente quando vi o genuíno arrependimento em seus olhos quando nos trouxe a sopa na barraca e se desculpou pela sua atitude, que Piccolo ganhou meu verdadeiro respeito e admiração. Então, conforme os meses foram passando, e seu comportamento foi mudando para melhor, esses sentimentos só cresceram, até darem lugar a outros sentimentos, também; tão intensos e poderosos quanto minha força Saiyajin.

E agora, ali naquele campo aberto após avistarmos as cápsulas dos nossos inimigos chegarem, tudo o que eu mais desejava era ficar junto a ele, segura em seus braços protetores com Gohan, mesmo que eu e meu sobrinho já fôssemos capazes de nos virarmos muito bem sem ele.

Era como se… Piccolo se tornara um elemento essencial para o meu bem-estar; uma presença da qual eu não conseguia mais ficar sem.

No entanto, a sinistra sensação de medo logo voltou a nos alcançar, quando, por trás das montanhas onde as cápsulas dos Saiyajins haviam sumido, emergiu um clarão, tão forte quanto o Sol, e com ele, uma intensa e poderosa onda de choque nos atingiu com a energia de uma bomba.

Gohan teria saído voando se eu não tivesse o agarrado e o abraçado quando ele gritou já a um metro do chão. Nos agachamos e Piccolo nos cobriu com sua capa, e meu coração doeu quando senti ele dar espasmos ao ser atingido por algumas rochas em suas costas enquanto nos protegia daquele vento fortíssimo ao nos pressionar contra o seu peito.

A onda de choque enfim terminou, e aos poucos olhamos ao redor e nos levantamos, ofegantes.

— Piccolo! — Coloquei Gohan no chão. — Você está bem?

Ele me respondeu com um grunhido de dor, e o virei para inspecioná-lo. Cobri a boca ao arquejar. Suas costas estavam cobertas de cortes feitos pelos detritos, com sangue escorrendo e misturando-se com a capa branca e o tecido roxo do seu macacão de luta.

— Não se preocupe. — Piccolo me deu um pequeno sorriso tranquilizador. — Já estou me regenerando. E vocês? Estão bem?

— Acho que sim… Muito obrigada por nos proteger.

Ele anuiu com a cabeça, piscando devagar, e Gohan perguntou:

— O que foi aquilo?!

Nós três ficamos olhando para uma gigantesca nuvem de fumaça que emergia atrás das montanhas, e tive um horripilante pressentimento.

— Parece que foi uma explosão… — eu disse.

— Sim — completou Piccolo. — Uma explosão causada pelos Saiyajins.

— V-Você acha que alguém se feriu? — repliquei, preocupada.

Piccolo ficou em silêncio e engoliu em seco. Sem tirar os olhos da nuvem de fumaça, respondeu:

— Ali fica a Cidade do Leste. É bem provável que fora dizimada.

— O QUÊ?! — exclamamos eu e Gohan.

Piccolo não disse mais nada, e não o culpei. Eu mesma não conseguia emitir uma palavra, apenas sentia uma intensa náusea. Só que, mesmo contra minha vontade, sussurrei:

— Então, este é o poder do nosso inimigo…

— Muito bem. Já chega. — Piccolo cruzou os braços, olhando sério para nós. — Lettie, quero que pegue Gohan e vá embora. Fujam para o mais longe daqui. Não quero mais vocês envolvidos nisso. — Ele então ergueu o olhar para a nuvem de fumaça que ficava cada vez mais alta e densa. — Eu e os outros guerreiros iremos enfrentá-los.

Franzi o cenho e escancarei a boca.

— Ficou louco?! — Me ergui na ponta dos pés para encará-lo. — Treinamos por UM ANO para este momento. E outra, nem sabemos se os outros guerreiros virão! Está querendo enfrentá-los sozinho?! Nem pensar! — Virei-me para o meu sobrinho. — Também somos Saiyajins, não é mesmo, Gohan?!

— S-S-S-Sim, Tia Lettie… — Ele esfregou as mãozinhas na frente do corpo.

Não senti confiança em sua resposta, mas me voltei para Piccolo, decidida e obstinada, e acrescentei:

— Nós não vamos te abandonar.

Ficamos nos olhando por longos segundos. Piccolo bufava pelas narinas, pressionando tanto os lábios até formarem uma linha fina. Por fim, ele revirou os olhos e resmungou:

— Argh! Você é mesmo uma Saiyajin. Teimosa igual!

— Na verdade, este atributo aprendi com meu o Mestre. — Estreitei os olhos com um sorrisinho irônico. — Conhece ele? É um cara verde, costuma se irritar fácil e é bem fresco, sabe?

— É mesmo, é? — Piccolo me olhou de cima com o mesmo sorrisinho enquanto tirava sua capa e turbante através do seu poder de transfiguração. — Ele parece ser uma pessoa legal. Podia me apresentar para–ESPERE! TEM ALGUÉM SE APROXIMANDO!

Nós três nos viramos para esquerda.

— Tem alguém também vindo dali! — Me virei para a direita.

— Será que são mais de dois Saiyajins?! — indagou Gohan.

Foi então que uma sombra muito veloz surgiu no topo de uma grande rocha e, no segundo seguinte, pulou dela e se materializou na nossa frente.

— Kuririn! — exclamamos eu e Piccolo em espanto, desfazendo nossa posição de combate.

— Olá, pessoal! — sorriu ele. — Há quanto tempo!

— Oh! — arquejou Gohan. — Você é um Saiyajin?!

— Não, querido. Kuririn é amigo do seu papai. — Afaguei seus cabelos. — Nós o vimos lá na ilha do Mestre Kame.

— Não se preocupe, Lettie. — Kuririn abanou a mão. — Faz muito tempo, ele não deve se lembrar. Puxa, você parece bem mais forte desde a última vez que te vi, e Gohan, também. Olha como ele cresceu! Está a cara do pai.

— Ei, agora me lembro de você, sim! — Gohan se aproximou dele com um grande sorriso. — Você é o baixinho que também é forte! Meu papai já me falou muito sobre você! Vai lutar com a gente contra os Saiyajins, certo?

— Aff! Não precisa falar que sou baixinho… — Kuririn fez uma careta. — É que o seu pai cresceu um pouco mais que eu, só isso. — Ele então se inclinou para sussurrar no ouvido de Gohan (o que não foi muito, considerando seu tamanho): — Imagino que o Treinamento com Piccolo foi bem difícil, não foi?

— Ah, foi super difícil, sim! Mas, o Sr. Piccolo é muito mais bondoso do que eu pensava. Sabe, ele é bem carinhoso e gentil com a gente; ele nos leva todo fim de semana para brincarmos nas Águas Termais, explora a natureza comigo todo dia, faz massagem nos pés da Tia Lettie quando ela está cansada e–

— JÁ CHEGA DE TAGARELAR!!! OS SAIYAJINS ESTÃO AQUI!!! — cortou Piccolo, tremendo e suando frio, vermelho desde o pescoço até a ponta das orelhas, e precisei me conter ao máximo para não rir de como Gohan expunha com tanta indiscrição para um confuso Kuririn as intimidades do nosso… hã… como posso dizer? Do nosso… "círculo familiar"?

— Ah, Piccolo… — Lhe dei um tapinha brincalhão no braço. — Não precisa ficar ass– Um arrepio sinistro de repente percorreu todo o meu corpo e todos olhamos para cima.

Duas figuras nos observavam; seus corpos entrecortados pela luz do Sol.

Piccolo não estava mentindo. Eram os Saiyajins!

— O-O Ki deles é… é muito poderoso…! — sussurrei ao sentir meus músculos tensionarem.

Observamos os Saiyajins descerem lenta e assustadoramente, flutuando até pousarem seus pés no chão à nossa frente. Um era o completo oposto do outro. Pelo menos, no quesito da aparência física.

O primeiro era quase tão baixinho quanto Kuririn, mas seus fartos cabelos negros espetados para o alto lhe proporcionavam mais altura. Já o outro, parado ao seu lado, era careca, possuía um bigode em estilo ferradura, e só perdia para Piccolo no seu tamanho vertical, porque no horizontal, era tão largo quanto um guarda-roupa de portas-duplas. Ambos usavam o mesmíssimo uniforme e armadura de Raditz, com suas caudas enroladas na cintura. A única diferença era que o menor decidiu usar uma roupa azul royal por baixo com luvas brancas, enquanto o outro preferiu deixar seus braços e pernas desnudos.

— Então… — disse o menor, sorrindo de braços cruzados e com um olhar sádico por trás do monóculo. — Vocês já estavam à nossa espera. É um prazer conhecê-los. Sou Vegeta, e este — ele gesticulou para o outro — é Nappa.

Nenhum de nós ousou emitir um pio, mas, não pude deixar de refletir. "Vegeta"? Esse nome não me era estranho… Ah, sim! Me lembrei! Era o nome do planeta natal dos Saiyajins!

Porém, um calafrio medonho me acometeu quando senti os olhares daqueles dois fixarem diretamente em mim.

— Ora, ora... — disse Vegeta. — Pelo visto, a história de Raditz era verdadeira. Há mesmo Saiyajins morando neste planeta, e ainda por cima, uma mulher! Hahaha! Nappa, acho que nossos problemas de conseguir descendentes de sangue puro acabaram. — Ele me abriu um sorriso malicioso. — Temos carne fresca por aqui.

Vi Piccolo cerrar os punhos e se enrijecer, grunhindo numa respiração raivosa. Ele estava prestes a fazer uma besteira quando, delicadamente, toquei seu braço e lhe disse através do olhar para que deixasse aquilo comigo. De início, ele não gostou, mas o apertei um pouco mais e sacudi a cabeça de leve, querendo dizer que não era bom nos precipitarmos. Podia ser muito perigoso. Por fim, nada satisfeito, ele acatou.

Respirei fundo e andei alguns passos, de cabeça erguida. Se teve uma coisa que aprendi com Piccolo durante esse ano de Treinamento, foi de que eu nunca deveria permitir ser menosprezada pelo meu inimigo.

— Agradeço a oferta, Vegeta, mas eu passo. — Cruzei os braços, assim com ele, e o escrutinei dos pés a cabeça com desdém. — E tem outro detalhe. — Dei um sorrisinho. — Eu gosto de caras altos.

O semblante altivo de Vegeta se desfez, dando lugar a tamanha raiva que ele estremeceu. Nappa, no entanto, riu alto.

— Disse que gosta de caras altos?! — Ele colocou as mãos na cintura e estufou o peito. — Então, acho que eu e você nos daremos bem!

— De fato… — Coloquei a mão no queixo, fingindo analisá-lo. — Você é até que bonitinho. Também gosto de homens carecas, sabe? Mas… — Balancei a cabeça negativamente, agora fingindo decepção. — Sinto muito. Você é pálido demais, não sei… Parece que falta… uma cor.

Nappa escancarou a boca em incredulidade e, sem mais nem menos, me virei para voltar aos meus companheiros, escondendo um riso zombeteiro como se eu acabasse de contar uma fofoca para minha melhor amiga. Devo esse tipo de comportamento ao Piccolo, também.

— C-COMO OUSA NOS DAR AS COSTAS, SUA MEGERA?! — vociferou Nappa atrás de mim enquanto eu retornava ao meu lugar. No caminho, reparei que Piccolo me fitava com perplexidade, piscando várias vezes, mas não consegui sustentar seu olhar, porque estava ocupada demais, corando e sentindo mil borboletas voando no meu estômago ao me posicionar ao seu lado.

— Boa, Tia Lettie! — Gohan sussurrou, e lhe respondi com uma piscadela.

Ouvi Piccolo soltar um discreto riso satisfeito pelo nariz, e ele retrucou ao Saiyajins:

— Como ousa VOCÊ, chamar uma guerreira Saiyajin de "megera"? Se disser uma única palavra contra esta mulher, farei você engolir sua língua.

As borboletas no meu estômago só voaram mais forte ao presenciar Piccolo me defender tão fervorosamente do insulto de Nappa. Até Kuririn o encarou com surpresa, pois era bem provável que a última imagem que ele tinha de nós dois na cabeça, fora a nossa troca de farpas quando nos conhecemos na ilha do Mestre Kame.

Só que algo estranho aconteceu. A reação de Nappa e Vegeta não foi a que esperávamos. Pelo contrário, eles se entreolharam com uma expressão confusa, e depois se voltaram para Piccolo.

— Hmm… — disse Vegeta. — Essa sua voz… Ela me é familiar… Ah, sim! Agora me lembro! Foi você quem venceu Raditz, não foi?

— O que tem minha voz? — replicou Piccolo.

— Raditz não te contou? — Vegeta apontou para o seu monóculo. — Este aparelho também serve para nos comunicarmos.

Percebi que Nappa analisava Piccolo com um semblante intrigado, e se dirigiu a Vegeta:

— Ele é um Namekuseijin, não é?

— É o que parece — respondeu Vegeta. — Por isso não é estranho Raditz ter sido vencido por ele.

O quê? O que estavam dizendo?

Piccolo era um… "Namekuseijin"?

Interessante. É um nome com uma sonoridade parecida com "Saiyajin", então, será que significava que aquilo era o nome de… sua raça?

— Caramba… — Kuririn virou-se para ele. — Você também é um alienígena!

— Faz sentido, Sr. Piccolo! — acrescentou Gohan.

Os olhos arregalados de Piccolo então se encontraram com os meus, brilhantes e cheios de assombro e surpresa, e vi transcritos nele todas aquelas conversas particulares que tivemos sobre sua verdadeira origem.

Então, eu estava certa! Piccolo era mesmo um alienígena, como eu!

— É isso mesmo! — exclamou Vegeta. — Os Namekuseijins têm poderes incríveis e habilidades extraordinárias. E já ouvi dizer que alguns conseguem fazer truques surpreendentes com magia.

Ora essa, então estava explicado o porquê Piccolo tinha a estranha (porém mega útil) habilidade de criar roupas a partir do absoluto NADA! Fazia parte dos atributos de sua raça.

Entretanto, ao olhar para ele para mostrar o quanto eu estava feliz por descobrirmos sua origem, senti meu coração apertar em angústia. O pobrezinho não estava bem. Parecia terrivelmente transtornado ao descobrir mais sobre o seu povo. Droga… Sei que ele tinha todo o direito de reagir daquela maneira, afinal, quem não reagiria? Mas aquela não era a hora e nem o momento ideal para ele ter outra crise de identidade.

Vegeta, contudo, não lhe deu tempo nem para processar aquela informação, pois perguntou:

— Foi você quem criou as Esferas do Dragão?

— O quê?! — exclamou Kuririn. — Vocês sabem sobre as Esferas do Dragão?!

Essa não! Me lembro de como Piccolo nos alertou de que seria perigosíssimo eles tomarem posse delas. O estrago seria grande demais!

— Mas é claro que sabemos — respondeu Nappa. — Obtê-las é o nosso principal objetivo. Portanto, é melhor entregá-las. Mesmo tendo dois Saiyajins e um Namekuseijin entre vocês, não passam de moscas para nós!

Sua fala só nos deixou mais nervosos e irritados.

— Muito obrigado — disse Piccolo, me assustando ao se mostrar totalmente recuperado do baque. — Graças a vocês, entendi alguma coisa sobre os meus antepassados. Lamento decepcioná-los, mas não fui eu quem criou as Esferas do Dragão, e, para sua informação, minha especialidade é luta. — Ele então adquiriu uma posição de combate. — POR QUE NÃO LUTAM COMIGO, ASSIM PODERÃO DIZER SE SOU UMA MOSCA OU NÃO?!

De repente, ouvimos um barulho; um barulho alto e turbulento. Quando olhamos para cima, avistamos uns cinco helicópteros, todos com emblemas de emissoras de TV do mundo todo, com jornalistas e repórteres se pendurando nas portas com suas câmeras apontadas para nós.

— ARGH!!! SUMAM DAQUI!!! — Nappa lançou um raio de energia num dos helicópteros, o explodindo na mesma hora. O clarão do seu golpe nos iluminou com intensidade, o que só aumentou nosso temor ao vermos mais uma amostra do poder dos Saiyajins.

Mas, não deixamos aquilo nos abalar. Assim que os helicópteros se afastaram, nos posicionamos ao lado de Piccolo, prontos para a luta.

— Parece que nenhum de vocês vai nos falar sobre as Esferas do Dragão — disse Vegeta.

— Certo — concluiu Nappa. — Eu os farei falar à força! — Ele então apertou um botão na lateral do seu monóculo e anunciou nosso poder de luta. Para Gohan, disse 981; para mim, 1157; para Piccolo, 1220; e para Kuririn, 1083.

— Que bando de idiotas! — exclamou ele. — Não me digam que nos atacarão com esses poderes de luta tão baixos assim?!

— Ouça, Nappa — Vegeta virou-se para ele —, tire o seu rastreador. Eles mudam frequentemente seu poder enquanto estão lutando. — Ele jogou seu aparelho no chão. — Não podemos mais confiar nisso aqui.

— É, tem razão. — Nappa esboçou uma expressão ousada e também tirou seu rastreador ao nos encarar. — O fracote do Raditz confiou nos números e acabou sendo morto por esses insetos.

Eu e Piccolo trocamos olhares conturbados. Para esses Saiyajins, Raditz era considerado um fracote? O mesmo cara que quase nos massacrou há um ano?

Aquela notícia não foi nada animadora.

— Agora — prosseguiu Vegeta, parecendo bem satisfeito —, vamos ver suas habilidades, pra valer! Ei, Nappa, você ainda tem aquelas sete sementes de Saibaimans?

— Hehehe, você gosta mesmo de brincar, hein, Vegeta?

Eu e meus companheiros nos entreolhamos. O que aqueles caras estavam dizendo?

— S-Saibaimans? — repeti, confusa.

— O que é isso? — acrescentou Gohan.

— Tenho a sensação de que é algo bem desagradável — lamentou Kuririn.

— Independente do que for — disse Piccolo —, não baixem a guarda!

— Não se preocupem! — Vegeta abriu um sorriso zombeteiro. — Assim que virem os Saibaimans, vão ficar com muita vontade de nos contar tudo sobre as Esferas do Dragão.

Eu compartilhava dos mesmos sentimentos de Kuririn. Aqueles dois Saiyajins tinham literalmente acabado de chegar do ESPAÇO. Era inimaginável e inconcebível qualquer ideia do que eles podiam fazer contra o nosso grupo.

Naquele momento, qualquer coisa poderia acontecer.

Num ato inconsciente de proteção mútua, Gohan, eu e Piccolo nos juntamos mais em nossa formação, e até Kuririn também se achegou, enquanto assistíamos Nappa tirar um frasquinho cheio de sementes do bolso de sua armadura, cavar sete buracos no chão, colocar uma semente em cada, e os tapar com terra. Após isso, ele pegou outro frasquinho e derramou um líquido verde e gosmento sobre cada área que plantou uma semente.

Meu corpo estava muito tenso, e eu apertava os dentes ao assistir Nappa. Foi então que um calafrio arrepiante percorreu minha espinha quando a terra começou a brotar; não uma flor, uma planta ou uma árvore frutífera das quais tanto me alimentei durante um ano morando neste lugar, mas sim, sete criaturas humanoides verdes e asquerosas, mais ou menos da altura de Gohan, com carcaças duras cobrindo seu tórax, garras despontando dos seus curtos dedos e grandes cabeças cobertas por veias protuberantes.

Contudo, o que mais me aterrorizou foram seus olhos; vermelhos, brilhantes e sombrios, nos fitando e traduzindo seu único objetivo: nos matar.

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