Emma trocou um olhar divertido com Andrey, mas como não sabia como responder aquela pergunta sem mentir, deixou que Andrey respondesse e ficou observando enquanto ele foi até Caio e o pegou em seus braços.
"Eu e sua mãe estávamos encomendando um irmão para você... O que você acha de ter um irmão mais novo?"
Emma achou que ele se saiu bem.
"Só um? Eu queria ter mais..." Caio disse pensativo. "Meu amigo da escola tem sete irmãos..."
"Quem sabe você também poderá ter sete irmãos?" Andrey disse rindo ao ver a expressão de Emma e colocou Caio no chão. "Mas só podemos encomendar um por vez..."
Caio ficou feliz. Seus olhos brilharam e se voltou para a mãe.
"É mesmo mamãe? Vai me dar sete irmãos."
Emma sorriu, mas ficou com o rosto vermelho.
"Sete são muitos... Talvez mais dois... Mas discutiremos isso mais tarde." Emma disse desejando que já estivesse grávida para a felicidade dos dois homens que ela mais amava no mundo.
"Mamãe! Eu quero sete!" Caio disse cruzando os braços.
"Vamos almoçar Caio." Andrey disse depois de conferir a hora no relógio.
"Ah" Sim. Por isso estou aqui. O almoço está pronto."
Andrey estendeu a mão para Emma, mas ela fitou Caio.
"Andrey... Pode ir na frente. Eu preciso falar algo com Caio."
Andrey não gostou quando percebeu que Caio ficou em silencio. Ele queria mesmo ficar sozinho com a mãe.
Emma olhou de lado para Andrey com o olhar divertido e ficou em silêncio, vendo o rosto de Andrey ficar vermelho diante de Caio.
"Nós estávamos mesmo encomendando... Depois vou explicar a você como isso acontece... Em breve. Daqui uns dez anos mais ou menos..." Andrey disse não querendo deixar seu filho sozinho com Emma. Amava ela, mas ainda não tinha confiança."
"É isso que fazem enquanto estou na escola?" Caio perguntou com a ingenuidade das crianças de sua idade.
"Não meu filho." Emma decidiu resolver. "Hoje estávamos resolvendo alguns assuntos e acabamos... Decidindo que era uma boa hora para encomendar seu irmão."
"Ah! Mamãe eu tenho fome. Vamos almoçar? Tio Richard e aquela outra mulher já estão esperando." Caio disse fechando o semblante.
"Ela não é ruim, meu filho." Andrey disse preocupado com a hostilidade de seu filho tão pequeno por Elena, mas feliz por saber que não ia deixar eles sozinhos.
Caio encarou Andrey sem lhe responder e estendeu a mão para Emma, que pegou e juntos desceram as escadas para a sala de jantar. Mas antes que entrasse, Caio puxou a mão de Emma, deixando que Andrey entrasse primeiro na sala. Emma o fitou curiosa.
"Mamãe, hoje eu vi essa mulher em frente à escola." Caio disse com gravidade na voz e Emma ficou impressionada com a intenção de alerta na voz de seu filho.
"Tem certeza disso? Certeza que era ela?"
"Sim. Ela não percebeu que eu estava no pátio. Sai da sala de aula para ir ao banheiro e a vi lá. Depois que voltei, percebi que ela olhava direto para minha classe."
Emma ficou pensativa por um tempo. Não duvidava que Elena tinha seus próprios planos para fazer com que Andrey ficasse com ela. Mas se ela estava atrás de Caio, não eram bons planos.
"Passarei a ir buscar você." Emma disse em sussurro, e Caio entendeu que era um segredo e Emma entrou com Caio na sala, onde todos estavam apenas esperando por ela.
O almoço foi servido e ninguém parecia disposto a falar. Emma e Elena encaravam Richard. Ele estava com um ar misterioso. Elena foi convidada por ele, para saírem juntos após o almoço e estava muito curiosa, pois quando chegou, foi até a cozinha e o viu de conversa com a cozinheira que a ajudava na infertilidade de Emma. Ele não quis contar debaixo daquele teto onde estavam sendo hospedados, em um ataque de moral tardio e assim seguiram para a sala de jantar e ficaram à espera do casal em silêncio.
"Vou me preparar para treinar." Andrey disse assim que terminou o almoço e se voltou para Caio. "Você vem comigo. Hoje quero ver como você está no judô."
Caio saiu imediatamente da mesa. Ele gostava de lutar judô com Andrey. Emma acreditava que era seu esporte preferido.
"Eu e Elena também vamos resolver alguns... Assuntos." Richard disse e se levantou antes mesmo de Andrey e se retirou.
Andrey deu um beijo rápido nos lábios de Emma e a fitou com ternura.
"Você devia voltar a estudar. Ter uma profissão vai fazer com que seu tempo livre seja bem aproveitado, só as aulas de dança é pouco para alguém tão...Disposta. Peça algum dos motoristas para levar você até a faculdade para escolher um curso." Andrey disse e também saiu.
Só então, Emma percebeu que Elena estava de pé a fitando debochada.
"Acha que venceu essa batalha, não? Mas não fique tão feliz. Os tempos de alegria em sua vida estão contados."
"Você está me ameaçando Elena? Se esqueceu do que sou capaz?"
"Eu não estou ameaçando você. Estou apenas a alertando para que aproveite bem seus dias de felicidade. Eles não vão durar muito tempo."
"Você não pode fazer nada. Não sou mais uma pessoa que se ofende com suas palavras venenosas ou que se deixa manipular. Você não é nada para Andrey e isso já basta para mim."
"E quando a empregada que fode com ele toda noite? Sabe que ele pode morrer aqui no deserto se for denunciado. A menos que você aceite que ele tenha uma terceira esposa."
Emma sorriu tranquila.
"Você vai denunciar Andrey? Para quem? A policia daqui bate em mulheres que se atrevem a falar mal de seus maridos."
"Percebo que não está muito familiarizada com a politica daqui... Vou esclarecer você sobre algo... Os homens daqui não podem ter relação fora do casamento."
"É mesmo? E o que fazem com as prostitutas daqui?"
"Depende... Em algumas regiões elas só são aceitas para cultuar seus deuses e esta região não é uma delas."
"E porque está falando comigo? Porque não vai a policia e o denúncia? Vai ser sua palavra contra a dele e considerando onde estamos, quem você acha que eles vão ouvir?
Elena fitou o vazio enquanto meneava a cabeça.
"Ele conseguiu o que queria. Você vai tentar dar um filho a ele..."
"Não só tentar. Uma hora dessa, posso já estar carregando outra vida dentro de mim."
Elena queria dizer a ela que era impossível, pois ela estava infértil por causa das ervas, mas achou melhor não. Precisava que ela agora continuasse pensando que poderia engravidar. E era bom que ela tivesse se mudado para o quarto de Andrey. Era tudo que ela precisava para poder ficar grávida dele.
"Vai ficar parada ai como uma estátua?" Emma perguntou se levantando.
"Não. Tenho um encontro com Richard." Elena respondeu piscando um olho e se retirou.
Emma foi até o estúdio onde ela usava para dar aulas de dança e começou a limpar tudo, para se distrair. Podia ouvir as risadas de Caio e Andrey no aposento ao lado e era como musica aos seus ouvidos.
Elena encontrou Richard no banco que ficava de frente para o balanço, onde Emma estava com Caio e Andrey no dia anterior e sentou ao lado dele no banco.
"Qual é o plano?" Elena perguntou sem olhar para ele.
"Preciso que autorize a cozinheira a parar de dar as ervas para Emma."
"Ficou louco? Agora que ela corre mais risco de engravidar."
"Preciso que ela engravide."
"Não."
"Eu posso fazer com que a cozinheira pare de dar sem sua autorização, mas preciso que aceite, pois vai ter um papel fundamental em tudo isso."
"Se hipoteticamente eu aceitar, o que ganho com isso? Sabe que desejo riqueza e não quero ficar presa a nada. Você vai assinar me dando todo seu patrimônio? Porque só isso me faria desistir de meus planos."
"O que tenho para dar a você é bem mais que isso."
"Nada além de dinheiro e conforto me interessa."
"Uma eternidade jovem, não é algo que te atrai?"
Elena riu.
"E você descobriu a fonte da juventude?"
"De certa forma... Você vai envelhecer, mas toda vez que chegar aos setenta anos, voltará a ter vinte e um anos."
"Acha que sou idiota para acreditar em uma coisa assim? Elena disse e se levantou. "Uma pessoa de posse dessa informação seria a pessoa mais rica do mundo."
"Você tem que pagar um preço para ter isso e não vai impedir que você tenha Andrey e dinheiro."
"Deixando Emma engravidar." Ela disse irônica.
"Sim. Para depois matar a criança ainda no ventre dela."
Elena o fitou surpresa.
"Ficou tempo demais no sol pela manhã, Richard? Porque acho que enlouqueceu."
"Você não quer dinheiro e juventude?"
"Matando um bebê? Quem você acha que sou?"
"Você é alguém que quer matar um menino de cinco anos e a mãe dele. São duas mortes e não vai ter chance de ficar com Andrey nunca mais. O que estou oferecendo é que tire apenas uma vida que ninguém conhece e tenha tudo que deseja."
Elena ficou pensativa. Sabia que aquele lugar era cheio de histórias de magia e sabia que algumas não eram apenas histórias. Acreditava que os antigos deuses habitaram aquele lugar. Talvez Richard pudesse mesmo lhe dar o que estava dizendo.
"Pode me garantir que terei Andrey?"
"Não. Mas posso garantir que afastarei Emma dele, e você deve usar os artifícios que tiver a mão para conquistar ele e seguir com seus planos."
"Como vai afastar Emma de Andrey? Não vejo essa possibilidade..."
"Você não precisa saber dos detalhes. Só precisa saber que vou tirar ela de Andrey, mas preciso que ela esteja grávida quando isso acontecer."
"Porque?"
Richard a fitou a sério.
"Porque a criança é o sacrifício que você deve fazer. Claro que ficará ligada a um pacto que vai acompanhar você para toda a eternidade, mas isso não é nada perto do que vai conseguir."
"Você também vai ganhar com isso. Me diga o que, eu farei o pacto."
"Eu vou realizar a profecia que é minha fantasia. Vou ter Emma."
"E quando isso deve acontecer? Não sei quanto tempo leva para o efeito da erva sair do organismo... E como fazemos esse pacto?"
"A cozinheira sabe de chás que aceleram a limpeza do organismo. Acredito que se você a liberar hoje, até o final do mês que vem, Emma esteja grávida."
"Sabe que Andrey está preparando uma festa para Caio e que no final do mês seguinte será realizada, não?"
"Sim. Mas a surpresa vai ser de Andrey. Pois Emma não vai a esta festa."
"E quanto ao pacto?" Elena perguntou acreditando ser improvável que Emma não comparecesse a festa de seu filho.
"faremos esta noite, pois teremos lua azul."
Elena o fitou nos olhos e viu a determinação ali. Ela estava com medo de suas decisões, mas achava que não ter que matar Caio era uma ideia melhor. Ela voltou para o palácio sem se despedir de Richard e foi até a cozinha.
A cozinheira fingiu que não a viu entrando e continuou em sua tarefa de sovar com as mãos uma massa para biscoitos. As outras mulheres conversavam aos sussurros, cada uma em uma tarefa diferente.
Elena não se importou e nem se intimidou com a indiferença da cozinheira e se aproximou, ficando ao seu lado enquanto falava de forma que só as duas podiam ouvir.
"Pode parar de colocar as ervas para Emma."
A mulher assentiu sem olhar para ela.
Elena a fitou desconfiada. Viu ela conversando com Richard e o olhar dela para ele era de devoção.
"Eu entrei em acordo com Richard." Elena disse para ver a reação da mulher.
"Então sabe que o pacto deve ser feito essa noite. Não poderá estar presente no jantar. Deve inventar uma desculpa qualquer para sua ausência." Ela disse sem mudar a expressão.
"Não pode ser após o jantar?"
"Não. Tem que ser as nove horas da noite."
"E não chegamos a tempo... O jantar só é servido as dez horas."
A mulher parou o serviço dela e encarou Elena.
"Já fez algum pacto antes?"
"Não..."
"Fez sim. Você se casou."
"Isso não é um pacto..."
"Não jurou fidelidade e essas coisas que vocês ocidentais estão acostumados?"
"Sim, mas..."
"Então fez um pacto." A mulher disse e voltou ao seu trabalho. "Esse pacto que vai fazer hoje também exige um ritual que deve ser seguido fielmente. Você não vai voltar a mesma pessoa de lá, e nem Richard."
Elena riu debochada.
"O que vai mudar? Vai aparecer uma aureola em minha cabeça?"
"Você... Vai continuar com seus pensamentos egoístas e mercenários por algum tempo, mas depois que perceber a inutilidade dessas coisas, vai entender que seus desejos se tornarão outros, após esse ritual, mas quem convive com você, vai perceber a diferença imediatamente."
"Ninguém convive o suficiente comigo para perceber alguma mudança, mesmo que seja significativa. Parece que não sou importante para ninguém dessa forma." Elena disse rindo. Podia parecer triste para outras pessoas, mas ela gostava de ser percebida apenas quando lhe convinha.
"Richard." Foi a única coisa que a mulher disse antes de dar por encerrada aquela conversa e sair da cozinha.
Elena entendeu. Richard conhecia ela como ninguém jamais conheceu. Nunca havia sido tão próxima de alguém quanto era dele, mas ela sabia que não tinha importância alguma para Richard.
Elena saiu da cozinha e foi para seu quarto. Não sabia os detalhes. Não sabia onde devia estar e nem a que horas. Nenhum dos dois se incomodou em deixar ela informada. Então, para não ser pega de surpresa, chamou uma das empregadas e mandou que preparasse a banheira para ela, com pétalas de rosa.
Emma viu Richard e Elena conversando no jardim da sacada da sala de dança. Mas não foi apenas isso que viu enquanto observava os dois. A mulher estava lá. Diante deles de braços cruzados e olhava para Emma com preocupação. Eles pareciam não perceber a presença da mulher com uma coruja nos ombros. Emma teve a certeza que os dois falavam sobre coisas sombrias e dando uma última olhada para a mulher que só ela enxergava, entrou para cumprimentar as suas alunas que chegavam.
Elena ouviu baterem na porta enquanto escovava seus cachos dourados, pensando que estava na hora de os cortar. A cozinheira entrou antes que ela pudesse autorizar e olhou com desgosto para a mulher.
"O que foi?"
"Richard a espera no caminho das tâmaras." A cozinheira disse e saiu.
Elena olhou a hora na tela do celular. Eram oito horas da noite. E ela não havia pensado em uma desculpa para sua ausência no jantar e sabia que agora não tinha mais tempo. Levantou e dando a volta pelos fundos do palácio para não ter que passar por dentro e atrair a desconfiança das pessoas, viu Richard vestido com uma túnica a esperando e sorriu. "Até que ele ficou bonito vestido daquela forma." Ela pensou. Havia um cinto de ouro em volta da roupa muito branca e assim que ela se aproximou ele colocou um embrulho em suas mãos e pelo tato percebeu que devia ser algo para ela vestir. Ele começou a caminhar sem dizer nada pelo caminho das tâmaras e Elena foi o seguindo. Ele entrou em uma fenda entre as tâmaras, onde a cozinheira estava toda vestida de verde com o cabelo e rosto escondido pelo véu da mesma cor. Mas Elena sabia que era ela. Eles andaram mais um pouco pelo deserto e encontraram uma caverna. A mulher entrou. Richard trocou um olhar indeciso com Elena. Era impossível a existência daquela caverna. Ela já havia andado por todo perímetro do palácio e podia dizer que aquilo não estava ali. Ela deu de ombros e entrou na caverna atrás da mulher e Richard a seguiu. Eles saíram na clareira de uma floresta. Haviam muitas pessoas ali. Pessoas com roupas bem antigas da época dos primeiros homens da civilização, pessoas vestidas com roupas das décadas que se passaram e pessoas com roupas mais modernas.
A cozinheira parou junto de um biombo de bambu e a fitou.
"Deve se trocar aqui."
Elena sorriu e entrou no biombo e trocou sua roupa por uma muito parecida com as roupas que Andrey providenciou para Emma. Ela gostou do contato daquela roupa com sua pele, mas nunca havia visto aquele tecido. Era algo inédito. O vestido mudava de cor conforme o balançar do seu corpo e assim não tinha uma cor definida. Mas era lindo e ela se sentiu uma rainha. Saiu do biombo e todas as pessoas estavam sentadas no chão. Apenas a mulher e Richard permaneciam de pé. Ela foi até eles. Não queria sentar no chão e estragar aquele vestido.
"Estamos reunidos aqui hoje para que o pacto com ele seja feito. Hoje acaba o castigo de nosso deus Hórus e começa a segunda fase de seu tormento. Hoje é também o começo do fim para vocês que permanecem presos aqui na floresta." A mulher começou a falar assim que Elena chegou ao lado de Richard. "Em algumas décadas nascera um menino com a missão de buscar a mulher que vai libertar todos vocês. Começa aqui e termina aqui." Ela disse essas palavras e um vento fresco e incomum passou por eles. Elena pode sentir o cheiro agradável e se sentiu atraída por ele. Olhou para as pessoas ali e todos haviam se ajoelhado e mantinham a cabeça baixa, a mulher também. Apenas ela e Richard continuaram em suas posições ainda em busca do que causou aquele efeito em todas as pessoas. Então uma forte luz surgiu diante deles e colocaram as mãos sobre os olhos para ver o que se aproximava com aquela luz. Richard viu primeiro. A luz se tornou apta para os olhos humanos e viram um homem com asas muito grandes e também muito alto os fitar friamente. Quando Elena conseguiu o ver, teve a certeza de que estava sonhando.
"Hórus... Você está mais de um século adiantado. Sua amada ainda não nasceu. Porém deixarei que tenha o que quer e quando enjoar dela, pois vai descobrir logo que tem uma ligação com ela, mas que ela mesma não pode satisfazer você. Contudo, como castigo pela sua pressa, não vou intervir quando a sua verdadeira amada vir ao mundo, para que fique com você. Estará por conta própria." Ele disse e voltou seu olhar para Elena. "Você está linda, como sempre. É uma sorte para mim que você não faça ideia de sua beleza e faça pouco do seu valor. De outra forma não teria nada para oferecer a você."
"Porque me chamou de Hórus?"
A criatura se voltou para Richard com olhar surpreso.
"Como sou distraído! Esqueci." Ele disse e soprou no rosto de Richard. Ele não estava tão próximo dele, mas Richard sentiu como se tivesse sido atingindo por uma ventania e olhou para a criatura que o fitava amistosamente agora.
"Como não é ela ainda? Já está próximo do milênio, fiz tudo que mandou!" Ele disse, agora como se fosse outra pessoa. Elena sentiu que Richard deixou de existir.
"Quase tudo Hórus. Você não esperou pela mulher certa, para me despertar." A criatura disse e sorriu com seus dentes brancos e perfeitos.
Elena não conseguia parar de olhar para ele depois daquele sorriso. Ele tinha o cabelo comprido e olhos azuis que brilhavam como faróis. Era perfeito. Não entendia nada do que falava com Richard, pois sua atenção estava presa ao desejo que sentia por aquele ser.
"Guarde essas asas Lu. Já causou o efeito que queria." Richard, Hórus, disse apontando Elena com o queixo.
A criatura guardou suas enormes asas vermelhas e se voltou para as pessoas que estavam sentadas.
"Vocês ousaram passar perto demais de meu território e o castigo foi permanecer aqui para sempre. Alguns conhecem esse lugar como Triangulo das Bermudas, mas não estamos lá. Vocês entraram em meu portal, seja por terra, mar ou ar e hoje estão aqui. As pessoas acreditam que sumiram e cada uma tem uma teoria sobre o que aconteceu com vocês. Eu digo que é uma ideia mais idiota que a outra. E essa mulher que está aqui agora atrás de mim, vai tirar o sangue de um inocente até que ele morra. Todos devem tomar desse sangue e em um século, alguém do mesmo sangue voltará e o dará de boa vontade e vai libertar a todos vocês. Esse é o meu acordo com vocês."
"Mas se tomarmos o sangue sem consentimento de um inocente que vai morrer... Estaremos condenados. De qualquer forma, ficaremos presos a você." Disse uma das pessoas sentadas.
"Sim. Mas apenas poderei torturar cada um por uma década e depois devo devolver a alma de vocês para sejam felizes. Mas vocês podem escolher ficar aqui para sempre. Eu não me importo, desde que parem de me perturbar para que os liberte."
Um barulho de murmúrio começou de repente e assim como começou terminou. O anjo olhou para a mulher.
"Eles aceitaram." Ela disse apenas.
O anjo então se voltou para Elena.
"Então você será a mulher que vai dar inicio a libertação dessas pessoas?"
"O que eu ganho com isso? Não me importo com elas. Não as conheço e mesmo se conhecesse, não aceitaria menos do que Richard me prometeu."
"Posso cumprir com tudo que ele disse. Sei que vai estar presente quando a jovem for trazida para quebrar o encanto que mantém todos presos aqui, inclusive você. E nesse dia poderá escolher se vai ou não continuar sua história."
"E só tenho que matar um bebê na barriga da mãe..."
"Sim. Hórus não pode sacrificar humanos. Mas garanto que tudo será facilitado para você. Sei que deve estar se perguntando quando e como vai fazer isso, e eu digo que será muito em breve, em uma pedra atrás desse biombo. Vamos trazer ela para cá e você só terá que usar a faca. E depois disso, vai viver jovem até que deseje ser diferente."
"Richard disse que vou envelhecer..."
"Não. Essa não é a história que você vai viver. Você não ficará mais velha um dia a mais sequer depois que matar o bebê."
Elena o fitou desconfiada e depois se voltou para Richard, mas ele não estava mais ali. Nem ele e nem mais ninguém. Ela se surpreendeu por não ter percebido a saída deles.
"Para onde foram todos?" Ela perguntou pensando em como faria para voltar até o palácio.
"Horus os levou para dentro da floresta, onde vai se iniciar algo grande para o futuro..."
"Eu... Não sei como vou sair daqui sem a ajuda de Richard."
"É isso que deseja agora? Sair daqui?" Ele perguntou desafiante.
Elena não soube disfarçar o desejo, mas tinha que saber de algo que estava considerando desde que o viu e que era assustador e incrível ao mesmo tempo.
"Quem é você?"
"Sou eu mesmo. Sou quem está pensando nessa cabeça linda."
"Você é o anjo caído..."
"E você deseja algo comigo que não quer que ninguém presencie. E darei isso também a você, mas tenho que avisar que nunca mais, em toda sua vida, vai amar homem algum."
"Porque não?"
"Porque nenhum vai poder proporcionar a você o prazer que deseja e que ainda não encontrou. Vai encontrar em mim a plenitude que nem se entregando a dois homens ao mesmo tempo, você conseguiu alcançar. Como poderá amar alguém que não satisfaça você como eu?"
"Você é muito arrogante. Pelo que entendi aqui, Richard não é humano e se nem ele conseguiu me saciar dessa forma, porque acha que você vai?"
"Não acho, tenho certeza. E Richard é pior que um humano. É um deus burro o suficiente para desejar o amor de um humano. Fruto de um estrupo por deuses que desejavam a deusa mais bela. Ele não pode um décimo do que eu posso."
"Então é melhor não ficar com você, pois depois que esse pênis de ouro entrar em mim, não vou ter outro, o que vou fazer com minha eternidade? Virar freira? Prefiro passar minha eternidade buscando um ou dois homens que possam me satisfazer do que sentir o que quero apenas uma vez."
"É uma decisão sábia." Ele disse e saiu da frente de Elena que percebeu assustada que havia seres escondidos nas sombras. "Não vão machucar você. Vá até eles e será levada de volta ao palácio."
Elena deu três passos na direção deles e parou pensativa e se voltou para o anjo.
"Eu... Não poderei ficar com você novamente, se ficarmos agora?"
O anjo abriu um sorriso. E respirou o ar.
"Posso sentir sua libido daqui. Seus ovários produzindo testosterona em abundancia apenas pela minha presença... Não acha que mais vale uma transa que vai deixar você plena por vários dias do que mil que nunca vão dar o que você busca?"
"Se é assim tão bom, não vou querer apenas uma única vez."
O anjo a encarou nos olhos e ficou pensativo por um tempo que Elena considerou grande demais. Estava quase indo embora quando ele resolveu responder.
"Poderemos ficar uma vez a cada ano e deixarei que escolha o dia, porém sempre vou querer algo em troca antes e se recusar uma única vez a fazer o que eu pedir, vai se transformar. Não retirarei sua eternidade, mas tirarei sua formosura e nunca mais voltarei a ficar com você. Nem eu e nenhum humano."
Elena voltou até ele.
"Se me fizer plena por vários dias, pode pedir o que quiser. Não conhece o tamanho da disposição quando quero algo. Sou capaz de qualquer coisa. Mas primeiro vai ter que me provar que vai mesmo me fazer sentir o que ninguém mais conseguiu."
O anjo abriu as asas e a enlaçou pela cintura e a levou consigo em direção ao céu.