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Conto 57: Deus não faz acepção

Helena brigou com Klaus, seu padrasto, e veio morar comigo. Lívia ainda estava de convalescença e não teve forças para intervir. O quarto de Victor, então, virou quarto de Helena.

Certa noite, navegando pela internet, reencontrei Thor, e, como eu usava um outro Nick, não me reconheceu. Não quis conversar com ele, pois a lembrança de como partiu ainda me chateia. Contei para Helena:

- Não fica assim, tia! Esse cara não te merecia! É um otário, se ele quisesse estaria aqui! – falava irada.

- Deus o afastou, foi melhor assim.

- Esse cara não queria nada, tia! Ou não podia, sei lá!

Falava alto enquanto abria um espumante. Pego as taças e sentamos.

- Brindemos à sua formatura! Parabéns por todo seu esforço! – falo erguendo a taça.

- Tin tin!

- Tin tin! Hummm... doce na medida certa, tia.

Os olhos de Helena brilhavam de felicidade. Que moça bonita! Longos e ondulados cabelos castanhos e um sorriso encantador. De repente, fica séria.

- Tia, posso te contar uma coisa? Promete que você não vai brigar comigo? Promete que você não vai me expulsar de casa?

- Prometo, pode contar! – respondo apreensiva.

- Dá o dedinho então, promete?

Entrelaçamos os dedinhos.

- Prometo!

- Eu sou bissexual! – declara, observando atentamente a minha reação.

- Imaginava.

- Como imaginava?

- Sua mãe me contou aquele episódio: encontrou você com a perna em cima de uma amiga, na sala de sua casa.

- Vacilei naquele dia! Não é uma coisa que controlo... Ela te contou que me levou na igreja depois para o pastor orar por mim? – fala, magoada.

- Sim, citou uma tia sua, e, disse que você não precisava seguir por esse caminho.

- Ela jogou fora um monte de coisas minhas! Chorou, falou um monte! Disse que ia me expulsar de casa! O Klaus disse que nunca mais veria minha irmã! Que era pecado e que Deus não aceitava isso! Chorei e fiquei pensando se continuo indo na igreja...

Lembro da visão que tive... A palavra Deus escrita com cores do arco-íris.

- Deus não faz acepção de pessoas! Não deixe de ir à igreja por esse motivo! Não deixe a sua fé!

- Eu sei tia, vou continuar indo na igreja...

- Deus olha o coração! Quer um coração quebrantado perante Ele! E que sejamos honestos, lógico.

- Eu sei...

- Você nasceu assim, ninguém vira gay ou hetero! Se me disserem pra pegar mulher, eu não vou pegar! Você pega os dois! E dá para mudar essas vontades? Deus conhece a natureza humana! Repito: Deus não faz acepção de pessoas! Quem faz são as pessoas! Deus nos ama como somos!

- Eu sei...

- Helena, não vou te mandar embora! Fique tranquila... fique aqui até o dia da sua viagem! Logo você irá com o seu pai para a Alemanha, e tudo isso serão só lembranças.

- Obrigada, tia.

- Te amo como você é, minha sobrinha!

- Também te amo como você é, tia!

Nos abraçamos e terminamos a nossa bebida alegremente! Tin tin!

Durante a semana, Helena, animada prepara suas malas. Chega, enfim, o dia da partida...

- Obrigada, tia! Te amo! – abraça-me agradecida.

- Te amo Helena, cuide-se e não se esqueça de mim! – confesso, emocionada.

- Imagina, tia! Nunca vou esquecer de você!

- Se cuida, faça uma boa viagem e Deus abençoe você sempre! Beijos!

- Tchau, tia! Fica com Deus!

Lívia e Bela a levam até o aeroporto. Não quis acompanhá-las, pois acho que é um momento só delas.

O quarto de Victor, que virou quarto de Helena, agora ficou vazio mais uma vez. Enxugo as lágrimas e fecho a sua porta, prendendo a escuridão. Não quero sentir esse vazio...

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