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Interocepção

Uma amiga pediu para ver algumas das coisas que escrevi em meu livro, expressões do meu amor por você.

Resposta?

'Se meu namorado escrevesse isso para mim, com certeza eu casaria na hora...'

Ainda bem que ela falou 'meu namorado', pois:

A persuasão da mensagem depende do mensageiro.

Você nunca casaria comigo simplesmente por ser eu.

Em sua maioria, importa mais o mensageiro do que a mensagem.

O valor dado para a mensagem é mediado pelo mensageiro.

Pude afirmar isso com todas as certezas quando escrevi 'RPG, o mímico'.

Mentir sobre quem eu sou. O que eu sou.

Tento achar um motivo para te amar, inclusive mentir.

Mas simplesmente não tem um porquê.

Admiro sua inteligência e acho você bonita, desejando seus lábios.

Mas não é isso que faz meu coração bater de forma arrítmica.

Não tenho palavras ou ideias para descrever esse amor.

Talvez isso me incomode, sempre tento encontrar um sentido nas coisas e amar você não tem um sentido.

Querer presentear o mundo para você não tem sentido.

Tudo que quero te presentear é o que quero receber: amor.

Quero tudo o que dou, quero tudo o que não sou.

Talvez por isso não amo a mim mesmo? Talvez seja por isso que você também não me ama.

De qualquer forma.

Nada faz sentido e ainda assim, meu cérebro é enganado por algo chamado amor, que pensa que essa coisa (irreal) tem sentido.

Você é uma ilusão.

Você, meu amor.

Não existe.

Sou perdidamente apaixonado por você.

O detalhe é que és uma ilusão.

A concepção da tua existência é obra minha.

Eu te amo dentro da minha (falsa) realidade.

Essa (falsa) realidade entra em constantes conflitos com a (real) realidade.

Ao ponto de não saber o que é ilusão e o que é real.

Sonhei que você me amava.

É por isso que eu te amo?

Porque você me amava (na miragem)?

Não sei, não tenho explicações.

Ou agora eu já sei e estou apenas fingindo a resposta?

Para a minha (falsa) realidade.

Com você, converso sobre (quase) tudo.

E aí está o ponto.

Converso com você (quase) tudo que EU gosto.

Filosofia, história, ciências da natureza, português, musicalidade e outras coisas assim, personagens com ideais interessantes e legais.

Percebe? (Lógico que você percebe)

São coisas que gosto.

Mas você não vê tanta graça.

Não sei de músicos estrangeiros, nem de filmes internacionais, não sei dessas coisas que você gosta de falar.

Você gosta de conversas mais normais.

Pois talvez (isso é uma visão, uma conjectura minha que estou formando agora, ou seja, uma possibilidade) você veja tanto disso no seu dia a dia que fica cansativo e chato falar mais uma vez sobre isso.

Talvez tenha feito tudo errado mesmo.

Mas talvez se eu tivesse entrado com essa premissa, nessa linha de visão, ainda daria tudo errado.

Pois não muda o fato do mensageiro ser eu.

Você sabe que o mensageiro é mentiroso. Você sabe que o mensageiro está disposto a mentir por verdades. A corromper para ter sucesso. Não sou bom (mas não sou mal).

Sou algo ruim.

Como uma fruta podre que envenena o que toca, manipula e apodrece as coisas em volta (mesmo que inconscientemente).

Eu poderia me defender, dizendo que você nunca deu uma chance para conversas mais rasas ou para outras coisas que gosta.

Estaria disposto, mesmo que seja só para escutar, pois no fim só queria estar com você.

Meus métodos estão errados.

Eu sei disso.

Tanto que estou falando com você através de um livro.

Não em sua casa, sentado no seu sofá olhando seus olhos que me fisgam e morro como peixe.

Pela boca.

Mas a boca de quem?

Sua boca? Ou a minha boca?

Não querer nadar no raso faz com que eu sempre esteja no raso.

Querendo voar mesmo sem ter asas.

Querendo afundar sem ter vesícula gasosa.

Querendo correr sem ter pernas.

Querendo imaginar sem ser humano.

Falando de mim mesmo quando o que queria era falar sobre você e com você.

(Idiota)

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