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A Crônica do Contador de Histórias

Após uma vida de poucas conquistas e repleta de arrependimentos, Vanitas recebe uma segunda chance ao reencarnar como um bebê em um mundo onde magia e espadas fazem parte do cotidiano. Determinado a deixar seu passado para trás, ele abraça essa nova chance, vivendo com uma trupe itinerante de artistas da corte. Entre apresentações e jornadas por novas terras, Vanitas aprimora seu talento nato para o alaúde, mas é na magia que seu verdadeiro poder desperta. Sob a tutela da poderosa Arcanista Marceline, ele mergulha nos segredos da simpatia, a arte mágica que, desde o início, acendeu seu desejo de invocar o vento. No entanto, o destino de Vanitas toma um rumo inesperado quando cruza caminho com o enigmático grupo Sombraim, cujos segredos ocultos trazem à tona verdades sombrias sobre o mundo e sobre sua própria reencarnação. Em busca de respostas, Vanitas parte em uma jornada por terras desconhecidas, onde cada nova descoberta o arrasta ainda mais profundamente para os segredos esquecidos da história. Ao longo do caminho ele encontra aliados improváveis, constrói amizades inquebráveis e se apaixona... mas o que realmente aguarda em seu destino é algo que supera tudo isso. Com a chance de mudar o mundo em suas mãos, Vanitas precisa decidir entre seguir o caminho das revelações ou se perder nos laços do amor e da amizade. O peso dessa escolha pode mudar para sempre o curso de sua vida — e a de todos ao seu redor.

porep · Kỳ huyễn
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88 Chs

XLVI. DESDÉM

Após Leif me guiar pelas inscrições nas aulas, segui direto para o Arquivo, com o coração acelerado de ansiedade. Anos de sonhos e esperanças culminavam naquele momento, e eu mal podia esperar para dar uma espiada naquele lugar tão desejado.

Lá, um jovem cavalheiro estava sentado atrás de uma escrivaninha, batendo uma pena repetidamente contra um pedaço de papel que parecia ter sido escrito e reescrito inúmeras vezes. À medida que me aproximei, ele franziu o cenho e riscou outra linha, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.

Suas mãos eram macias e alvas, e seu rosto parecia talhado para exibir uma expressão carregada. A camisa de linho, de um branco reluzente, e o colete tingido em um belo tom de azul, tudo nele exalava riqueza. A parte de mim que ainda lembrava da dura vida em Notrean sentiu uma súbita vontade de roubar aquele jovem que esbanjava tanto.

Ele continuou batendo a pena por alguns instantes antes de soltá-la com um suspiro de irritação profunda.

— Nome? — perguntou, sem levantar os olhos.

— Vanitas — respondi.

Ele folheou o registro, encontrou uma página específica e franziu ainda mais o cenho.

— Você não está registrado — disse, lançando-me um olhar rápido antes de voltar sua atenção para o que quer que estivesse escrevendo. Quando percebi que ele esperava que eu fosse embora, fiquei parado. Ele agitou os dedos, como quem afasta uma mosca incômoda. — Fique à vontade para cair fora.

— Eu acabei...

Ele soltou a pena novamente, agora com mais ênfase.

— Escute — começou ele, como se explicasse a uma criança pequena —, você não está registrado. — Apontou exageradamente para o livro à sua frente. — Portanto, não entra. — Fez um gesto em direção às portas internas. — Fim.

— Acabei de passar pelas provas de admissão...

Ele ergueu as mãos, exasperado.

— Então é claro que não está registrado.

Enfiei a mão no bolso, procurando o bilhete de admissão.

— Mestre Loran me entregou isto pessoalmente.

— Pouco me importa se ele o trouxe até aqui nos ombros — retrucou ele, molhando a pena com ar de desdém. — Agora, pare de desperdiçar o meu tempo. Tenho coisas mais importantes a fazer.

— Desperdiçar o seu tempo? — repeti, sentindo a raiva crescer dentro de mim. — Você faz alguma ideia do que passei para chegar até aqui?

O jovem ergueu os olhos, seu rosto agora mostrando uma expressão divertida.

— Espere, deixe-me adivinhar — disse, levantando-se com as mãos espalmadas sobre a mesa. — Você sempre foi o mais esperto da sua cidadezinha, seja lá onde fica "Boçalândia". Sua habilidade de ler e fazer contas deixava os aldeões boquiabertos.

Ouvi a porta externa abrir e fechar atrás de mim, mas ele ignorou o som, contornando a escrivaninha e se encostando em sua frente.

— Seus pais sabiam que você era especial, então economizaram por dois anos, compraram-lhe um par de sapatos e fizeram uma camisa com o cobertor dos porcos — continuou, estendendo a mão para tocar o tecido das minhas roupas novas. — Foram meses de caminhada, centenas de léguas balançando na traseira de carroças puxadas por mulas. Mas, no fim... — Ele abriu as mãos em um gesto teatral. — Louvados sejam Adronai e todos os anjos! Aqui está você! Com os olhos brilhando e cheio de sonhos!

Ouvi risadas atrás de mim e me virei, vendo dois homens e uma moça que haviam entrado durante a sua performance.

— Pelo corpo chamuscado de Deus, Drazno, o que soltou sua língua? — perguntou um dos recém-chegados, rindo.

— Esses malditos calouros — grunhiu ele, voltando para sua cadeira. — Chegam aqui vestidos como mendigos e se comportam como se fossem donos do lugar.

Os três seguiram em direção às portas marcadas como ACERVO. Lutei para não corar de vergonha enquanto eles me olhavam de cima a baixo.

— Ainda vamos à Foles mais tarde?

Drazno confirmou com a cabeça.

— Claro. Ao sexto sino.

— Você não vai verificar se eles estão registrados? — perguntei, enquanto a porta se fechava atrás dos três.

Drazno se voltou para mim com um sorriso frio e nada amistoso.

— Escute, vou lhe dar um conselho de graça. Lá na sua terra, você era alguém especial. Aqui, é só mais um garoto insolente. Então, dirija-se a mim como A'scor, volte para o seu beliche e agradeça a seja lá qual deus pagão em que acredita por não estarmos em Mitreza. Se estivéssemos, meu pai e eu amarraríamos você a um poste como um cão raivoso.

Ele deu de ombros, continuando:

— Ou então, fique. Faça uma cena. Comece a chorar. Melhor ainda, me ataque. — Sorriu com malícia. — Eu lhe darei uma surra e o colocarei para fora daqui pelas orelhas.

Ele pegou a pena e voltou ao que estava escrevendo.

Fui embora.

Talvez você pense que esse encontro me desanimou, que me senti traído e que meus sonhos de infância com a Academia foram cruelmente despedaçados.

Pelo contrário, aquilo me trouxe uma estranha sensação de tranquilidade. Até então, eu me sentia fora de lugar, mas Drazno, com seu jeito peculiar, me mostrou que a Academia não era tão diferente das ruas de Notrean. Não importa onde estamos, as pessoas são essencialmente iguais.

Além disso, a raiva é um fogo que nos aquece durante a noite, e o orgulho ferido pode incitar um homem a realizar feitos extraordinários.