Capítulo: O Retorno Triunfal a Myr
Myr, 286 d.C.
Os portos de Myr fervilhavam de atividade, repletos de marinheiros, mercadores e trabalhadores que descarregavam a carga preciosa de Shahadiin Dragas. A chegada de sua imponente frota, composta por setenta navios escuros, trouxe uma mistura de reverência e temor. Os barcos estavam abarrotados de ouro, especiarias exóticas e itens raros, cada um carregando um pouco do mistério de Asshai, e rumores corriam por toda a cidade. As pessoas cochichavam sobre a viagem ao leste e as intenções que Shahadiin poderia ter agora que estava de volta com mais poder e riqueza.
Entre os muitos tesouros, Shahadiin trouxe também tomos de magia, os quais ele examinava com curiosidade, mas sem o talento para compreender plenamente. Ele sentia-se frustrado ao folhear as páginas e ver desenhos de runas e símbolos que pareciam flutuar fora de seu alcance, como se fossem segredos de um mundo que ele jamais poderia tocar. Ele sabia que os poderes místicos escapavam-lhe, mas encontrou outra maneira de canalizar essa ambição que parecia arder cada vez mais forte: a prática da espada.
Em Asshai, entre os muitos objetos valiosos, Shahadiin adquirira uma espada valiriana, uma lâmina de um aço escuro e brilhante, forjada com padrões intrincados e leves tons de azul. Era uma arma forjada com magia antiga, mas, em suas mãos, seria apenas uma espada. Shahadiin dedicava-se, assim, à disciplina da lâmina, tornando-se um espadachim implacável, e passava horas com a espada valiriana em mãos, aprimorando sua técnica e dominando o manejo com uma precisão calculada.
Mas em Myr, sua vida estava longe de ser apenas treinamento e tesouros exóticos. Embora seus bens e sua frota tivessem conquistado respeito e influência, Shahadiin agora começava a enfrentar uma nova batalha — e desta vez, não era no campo de batalha, mas nas intricadas tramas políticas de Myr. Sua ascensão meteórica, financiada pelos lucros da guerra e pelas alianças cuidadosas que ele fizera, despertou olhares de desconfiança e receio entre a elite mercante e política da cidade.
Os conselhos de comerciantes e figuras influentes começaram a ver Shahadiin com cautela e questionamentos. O homem que conseguira construir uma fortuna em meio ao caos da guerra era, para eles, uma ameaça. Eles não sabiam de onde ele vinha, como ele se financiava, e seus negócios amplos e eficazes pareciam ofuscar antigos comerciantes que, até então, controlavam o fluxo de mercadorias na cidade.
Os rumores eram incontroláveis. Diziam que Shahadiin negociara com feiticeiros em Asshai, que trazia maldições junto com seus tesouros, que ambicionava o domínio de Myr e que, com sua fortuna, poderia corromper ou comprar qualquer um. Mas Shahadiin sabia que muitos desses boatos vinham de homens que, em vez de enfrentá-lo abertamente, tentavam enfraquecê-lo com intrigas e insinuações.
Nos salões luxuosos de Myr, Shahadiin logo entendeu que precisaria usar uma estratégia diferente. Sua fortuna o tornara poderoso, mas isso também atraía inimigos. Ele precisava navegar com astúcia por essas águas traiçoeiras, pois sabia que um erro o transformaria de um ícone da cidade a um homem perseguido por todos aqueles que invejavam seu sucesso.
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Uma noite, em um banquete organizado por um dos comerciantes mais influentes de Myr, Eleas Callaris, Shahadiin teve uma amostra clara do que enfrentaria dali em diante.
Os salões estavam lotados, e cada olhar, cada palavra sussurrada parecia ser um golpe calculado. Callaris, um homem de postura altiva e olhar perscrutador, o observava de longe, sorrindo de maneira irônica enquanto trocava olhares com outros nobres da cidade. Eles sabiam que ele estaria presente, mas Shahadiin tinha consciência de que fora convidado apenas para ser estudado e testado, como um animal exótico em um circo.
Enquanto tomava um gole de vinho e examinava a sala, Shahadiin percebeu Callaris se aproximar, ladeado por dois homens de confiança. Com um sorriso calculado, Callaris o cumprimentou.
"Shahadiin Dragas, o nome que ecoa nas tavernas e salões de Myr," disse ele, em um tom ligeiramente teatral. "O comerciante que prospera como poucos, até mesmo durante uma guerra que arruinou muitos."
Shahadiin apenas sorriu de volta, mantendo a calma, embora soubesse que aquilo não era um elogio. "A guerra é uma tempestade para alguns, mas para outros, é apenas uma oportunidade de navegar."
Callaris sorriu, mas seus olhos não mostravam nenhum traço de simpatia. "Mas é interessante… dizem que sua fortuna aumentou de forma extraordinária, ainda mais que o esperado para alguém de Essos. Como um homem consegue tanta riqueza e poder em tão pouco tempo?"
"Com trabalho duro e um pouco de sorte," Shahadiin respondeu, desarmando a pergunta. "Assim como todos nós aqui."
Mas Callaris não se dava por satisfeito e continuou: "E o que mais? Tenho ouvido rumores… sobre a sua visita a Asshai. Coisas obscuras que apenas os mais corajosos, ou os mais insensatos, se arriscam a buscar."
Shahadiin encarou Callaris com uma expressão imperturbável. "É natural que a ignorância gere rumores," respondeu ele, sua voz firme. "Estive em Asshai para adquirir mercadorias e expandir meus negócios. Nada além disso."
Ele sabia que Callaris tentava desafiá-lo, plantar dúvidas entre os presentes. Mas Shahadiin havia aprendido a controlar suas emoções e não permitir que o orgulho o dominasse, especialmente em um jogo tão delicado como aquele.
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Dias depois do banquete, Shahadiin recebeu um informe de Varris, seu conselheiro e homem de confiança.
Varris entregou-lhe um pergaminho com um leve sorriso. "Aparentemente, Callaris e seus aliados estão ainda mais inquietos desde o banquete," disse ele. "Eles acham que você é uma ameaça que precisa ser contida. Há rumores de que estão considerando medidas para reduzir seu alcance em Myr."
"Medidas, Varris?" Shahadiin perguntou, enquanto analisava o pergaminho. "Ou conspirações?"
Varris deu de ombros, mas seus olhos brilhavam com uma astúcia fria. "Digamos que eles consideram opções menos diretas… como influenciar contratos e limitar suas licenças comerciais na cidade."
Shahadiin ergueu a cabeça, seus olhos endurecendo. Ele sabia que isso não acabaria ali. Callaris e outros não eram apenas comerciantes comuns; eram homens com influência suficiente para tornar sua vida em Myr insustentável se quisessem. Mas Shahadiin tinha uma vantagem — sua visão de longo prazo e sua capacidade de adaptação.
"Deixe que eles pensem que têm o controle," disse Shahadiin, um sorriso calculado surgindo em seu rosto. "Se eles querem guerra, terão guerra. Mas não com espadas ou lanças. Esta será uma guerra de contratos e alianças. E eu sempre estou disposto a negociar."
Varris assentiu, reconhecendo o tom determinado de Shahadiin. Ele sabia que o mestre tinha um plano, e isso significava que Myr jamais seria a mesma.