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Capítulo 8

Capítulo: Os Portos Sombrios de Asshai

Asshai das Sombras, 286 d.C.

O céu estava encoberto por nuvens espessas e opressoras, e o ar carregava um cheiro de incenso pesado, quase sufocante, que se mesclava ao miasma da cidade misteriosa de Asshai. Os portos sombrios, envoltos em névoa, mostravam-se tanto um convite quanto uma ameaça, com seus barcos e navios ancorados, muitos deles encobertos por figuras de velas escuras. Arran Longworth, um comerciante de Westeros, observava tudo com um misto de fascínio e inquietação.

Ele estava em Asshai havia apenas algumas horas, e a cidade já parecia diferente de qualquer outra em Essos. As ruas eram silenciosas, as pessoas encapuzadas, e as construções, erguidas de uma pedra negra e fria, pareciam absorver a pouca luz do sol que conseguia romper as nuvens. Arran costumava negociar em Braavos, Lys e Qarth, mas Asshai era outro mundo. Um mundo envolto em escuridão, mistérios e rumores.

Arran fez um gesto para um dos carregadores do porto, ordenando que deixassem suas mercadorias em segurança antes de se aventurar um pouco mais. Ele continuava examinando os navios quando algo chamou sua atenção: uma frota composta de setenta embarcações estava ancorada no lado mais afastado do porto. Suas velas eram negras como o céu daquela cidade, e cada um dos barcos trazia o mesmo emblema: um grifo dourado, com um olhar feroz e ameaçador.

Não foi preciso muito para que Arran reconhecesse a frota. Os murmúrios sobre ela já haviam chegado a Westeros: aquela era a frota de Shahadiin Dragas, o comerciante de Myr cuja reputação corria como um rumor venenoso em todos os reinos. Havia histórias sussurradas de que até mesmo o rei Robert Baratheon odiava o homem, chamando-o de "a sanguessuga de Essos" por conta de seus lucros acumulados em meio à guerra.

"Setenta navios," murmurou Arran, impressionado. Quando Shahadiin comprara quarenta navios da Frota Targaryen, isso já fora um escândalo. Agora, três anos após a queda dos dragões, sua frota estava quase dobrada. Mas o que levaria um homem como ele a Asshai? E por que tantos navios?

Intrigado, Arran se aproximou de um pescador local, um homem velho de pele curtida pelo sol e olhos profundos. Ele ofereceu algumas moedas de prata e, em voz baixa, perguntou sobre a frota.

O pescador olhou em volta antes de aceitar as moedas. "Eles chegaram há poucas semanas," disse ele, com um sussurro quase conspiratório. "Vieram com as marés negras e trouxeram mais escuridão com eles. O tal Shahadiin… o homem que comanda essa frota… ele fez acordos por aqui, dizem."

"O tipo de acordos que seriam úteis para ele em Westeros?" Arran pressionou, cauteloso.

O velho deu de ombros, olhando desconfiado ao redor. "Dizem que ele procura coisas que nem mesmo em Qarth ou Yi Ti ele encontraria. Há magias antigas em Asshai… poder que não se pode medir. O tipo de poder que pode mudar o destino dos homens. Ou destruí-los."

Arran estreitou os olhos, sentindo um frio na espinha. Shahadiin Dragas já era um nome de má fama em Westeros por sua influência e por seu comportamento ambicioso e impiedoso. Mas vir a Asshai em busca de magia? Isso passava dos limites de qualquer ambição comercial; isso soava como algo muito mais sinistro.

Decidido a descobrir mais, Arran aproximou-se de um mercador de especiarias que empacotava seus produtos, um homem de Yi Ti, com longos cabelos negros e barba cuidadosamente trançada. "Setenta navios não passam despercebidos em nenhum porto," Arran começou, tentando parecer casual. "Você sabe o que Shahadiin Dragas procura aqui em Asshai?"

O homem de Yi Ti o encarou com olhos astutos antes de responder. "Dragas procura muitas coisas. Ouro, talvez. Mas aqui… ouro não é o mais valioso. O que ele procura é poder. Dizem que já esteve em contato com os feiticeiros. E que pagou grandes somas para adentrar os recessos mais sombrios de Asshai."

Arran sentiu o coração bater mais rápido. Era exatamente o tipo de informação que o rei Robert acharia útil. Um comerciante de Essos acumulando riquezas e, ao mesmo tempo, explorando artes negras? Arran estava ansioso para retornar a Westeros com esses rumores, mas ainda precisava de mais detalhes.

Olhando em volta, ele viu uma mulher encapuzada que observava a frota de Shahadiin. Ela usava mantos longos e negros, e a pele era de um branco fantasmagórico. Talvez fosse uma moradora local, alguém que conhecesse melhor os segredos de Asshai. Ele se aproximou com cautela, oferecendo uma moeda de ouro para ganhar sua atenção.

"Estou procurando entender a frota de Shahadiin Dragas," disse ele em voz baixa, medindo suas palavras. "Por que ele viria a Asshai?"

A mulher pegou a moeda sem hesitar e o estudou com um sorriso quase predatório. "Ah, o myriano," murmurou ela, com uma voz sibilante. "Ele está à procura de algo que o ajude a manter seu domínio. Alguns dizem que busca amuletos, outros dizem que procura aliados. Mas o que Shahadiin quer de verdade é o segredo do controle… do controle sobre o próprio destino."

Arran reprimiu um arrepio. Era exatamente o tipo de ambição que Shahadiin demonstrara durante a Rebelião de Robert, comercializando armas, mantimentos e informações tanto para o Trono de Ferro quanto para os rebeldes. Agora, parecia que ele queria mais do que ouro e influência — ele buscava algo que transcendia o poder mundano.

Arran agradeceu e se afastou, satisfeito com o que ouvira. Se Shahadiin estava realmente se envolvendo com feiticeiros e explorando as artes negras, isso era um problema que deveria ser informado ao rei Robert. Shahadiin não era um homem de Westeros, mas seu alcance e influência continuavam a crescer. Era imperativo que Robert soubesse dos passos do myriano.

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Ao anoitecer, em seu alojamento provisório, Arran organizava mentalmente tudo o que havia descoberto.

A frota de setenta navios. A busca por amuletos e poder. As alianças misteriosas com feiticeiros e talvez até com forças que ele mal compreendia. Arran não tinha todas as respostas, mas possuía o suficiente para entender que Shahadiin Dragas era uma ameaça não apenas à economia de Westeros, mas talvez à sua própria estabilidade.

Ele terminaria suas transações e zarparia para Westeros o mais rápido possível. Robert Baratheon precisava ouvir sobre a ambição do comerciante de Myr que, ao que parecia, não se contentava mais em jogar o jogo dos mortais.

Asshai era um lugar de sombras e segredos, e Shahadiin Dragas, ao mergulhar nessas profundezas, mostrava que estava disposto a ir além dos limites do mundo conhecido.

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