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XLIV. FAVOR

Mestre Loran guiou-me através de um pátio silencioso, como uma sombra discreta.

— Foi sobre isso que se concentrou a maior parte da discussão — explicou, com a serenidade de uma pedra antiga. — Você precisava de uma taxa escolar. Todos precisam.

Recuperei minha compostura e me desculpei pela grosseria que havia cometido. Ele aceitou com uma calma imperturbável e se ofereceu para me acompanhar ao escritório do tesoureiro, para assegurar que não houvesse qualquer confusão sobre minha "taxa" de admissão.

— Depois que decidiram admiti-lo conforme sua sugestão — Loran fez uma pausa significativa, sugerindo que não foi uma decisão tão simples —, surgiu o problema de não haver precedente para conceder verbas a alunos em sua situação. Algo bastante incomum.

Ele me conduziu a outra construção de pedra, atravessamos um corredor e descemos um lance de escadas.

— Olá, Rowan — cumprimentou Loran.

O tesoureiro, um homem idoso e rabugento, franziu ainda mais o semblante ao perceber que teria que me dar dinheiro em vez de recebê-lo. Recebi meus três crimos, e Mestre Loran me acompanhou até a saída do prédio.

Lembrei-me de algo e, com um leve sorriso, tirei um recibo do bolso, contente por ter um pretexto para mudar de assunto.

— Tenho um recibo da livraria Restauração. — Entreguei-lhe o pedaço de papel, imaginando o que o dono pensaria ao ver o Arquivista-Mor da Universidade resgatar um livro que eu, um moleque de rua, havia vendido. — Mestre Loran, agradeço por concordar em fazer isso, e espero que não me ache ingrato se pedir mais um favor...

Loran deu uma olhada no recibo antes de guardá-lo no bolso, e então me fitou. Não, não me fitou de fato, pois seu olhar não carregava curiosidade ou irritação. Era um olhar vazio, como se eu fosse apenas uma sombra na parede.

— Sinta-se à vontade para pedir — disse ele, sua voz tão calma quanto uma brisa.

— Esse livro... ele é a única lembrança que tenho daquela época da minha vida. Gostaria muito de comprá-lo de volta, quando eu tiver dinheiro.

Ele balançou a cabeça, ainda sem expressão.

— Isso pode ser arranjado. Não se preocupe com a segurança dele. Será guardado com o mesmo cuidado que qualquer outro livro do Arquivo.

Ele ergueu uma das mãos, chamando um estudante que passava. Um garoto de cabelos cor de areia parou, nervoso, quase reverente diante do Arquivista-Mor.

— Pois não, Mestre Loran?

Loran apontou para mim com uma de suas longas mãos.

— Leif, este é Vanitas. Ele precisa conhecer as instalações, inscrever-se nas aulas e outras coisas. Kelvin o quer na Artificiaria. No mais, confio em seu julgamento. Você pode cuidar disso?

Leif assentiu e afastou o cabelo dos olhos.

— Sim, senhor.

Sem mais uma palavra, Loran se virou e se afastou, suas passadas largas fazendo a toga negra esvoaçar atrás dele.

Leif parecia jovem para estar entre os alunos, embora fosse uns dois anos mais velho que eu. Era mais alto, mas seu rosto ainda guardava a inocência infantil, e sua timidez o tornava quase pueril.

— Já tem onde ficar? — perguntou-me enquanto começávamos a caminhar. — Um quarto numa hospedaria ou algo assim?

Balancei a cabeça negativamente.

— Acabei de chegar hoje. Não pensei em nada além de passar no exame de admissão.

Ele riu suavemente.

— Sei como é. Ainda fico nervoso no começo de cada período letivo. — Apontou para a esquerda, descendo por uma alameda larga, ladeada por árvores. — Vamos primeiro ao Cercado, então.

Parei por um momento.

— Não tenho muito dinheiro — admiti.

Não havia planejado arranjar um quarto. Estava acostumado a dormir ao relento e sabia que precisaria economizar meus três crimos para roupa, comida, papel e a matrícula do próximo período. Não poderia contar com a generosidade dos professores duas vezes seguidas.

— O exame de admissão não foi tão fácil, né? — disse Leif, simpático, segurando meu cotovelo e me guiando para um dos prédios cinzentos da Academia. — Não se sinta mal por isso. Fiquei tão nervoso no meu primeiro exame que quase me mijei todo... figurativamente, claro.

— Não me saí tão mal — retruquei, ciente dos três crimos na minha bolsa. — Mas acho que ofendi Mestre Loran. Ele pareceu tão...

— Frio? Distante? Como uma coluna de pedra? — Leif riu. — O Loran é sempre assim. Dizem que o Lal Mirch oferece 10 marcos de ouro para quem conseguir fazê-lo rir.

— Ah — respondi, aliviado. — Isso é bom. Ele é a última pessoa que eu gostaria de irritar. Pretendo passar muito tempo no Arquivo.

— Basta tratar os livros com cuidado, e você se dará bem. Ele é tranquilo com a maioria das coisas, mas com os livros... — Leif levantou as sobrancelhas e abanou a cabeça. — Ele é mais feroz que uma mãe ursa protegendo seus filhotes. Prefiro enfrentar uma mãe ursa a ser pego pelo Loran fazendo uma orelha em uma página.

Leif chutou uma pedra que quicou pelo pavimento.

— Bem, você tem algumas opções no Cercado. Um crimo lhe dá um beliche e um cartão-refeição para o período letivo — explicou, encolhendo os ombros. — Nada sofisticado, mas você fica protegido da chuva. Por dois crimos, pode dividir um quarto, ou ficar com um só para você por três.

— O que é um cartão-refeição?

— São três refeições por dia no Rancho — ele apontou para um prédio longo e baixo do outro lado do gramado. — A comida não é ruim, desde que você não pense muito de onde veio.

Fiz as contas rapidamente. Um crimo por dois meses de refeições e um lugar seco para dormir era o melhor negócio que eu poderia esperar.

Sorri para Leif.

— Parece perfeito.

Ele meneou a cabeça, abrindo a porta do Cercado.

— Então, vamos procurar um ecônomo para você se registrar.

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