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Julgamento

Kowalsk acordou finalmente e percebeu que não estava sozinho.

Abriu seus olhos vagarosamente enquanto esfregava-os abrindo e fechando rapidamente.

A alta luminosidade da sala o impedia de ver qualquer coisa com nitidez e com os olhos ardendo tentou focar em alguma coisa para fazer reconhecimento do lugar que estava.

_Vai demorar muito pra levantar daí ou quer continuar deitado?

Zombou alguém perto dele

_Quem está aí?

Perguntou desconfiado.

_Você não me conhece e dizer meu nome de nada vai lhe adiantar.

Três segundos de silêncio foi o tempo que Kowalsk demorou para estourar em seu mau humor.

_Não seria por isso que eu estaria perguntando seu nome seu acéfalo?

Mais três segundos se passou e uma resposta mais explosiva aconteceu:

_Só queria estar do seu lado para lhe mostrar o quanto acéfalo eu posso ser.

Kowalsk já em pé ouvia seu interlocutor, e por mais que o procurasse não conseguia localizá-lo.

Agora com seus olhos já acostumado com o excesso de luminosidade podia ver todo o cenário que o cercava.

Monitores e teclados de computador para todo lado, uma mesa com diversos mapa impressos nela, vários extintores contra incêndio e diversas máquinas desconhecidas cheias de liquido viscosos vazando de suas tampas, umedecendo parte do piso em que Kowalsk estava pisando.

_Mas que meleca é isso aqui? Que coisa nojenta.

Reclamou Kowalsk levantando um de seus pés e constatando que seus dois calçados estavam melecados com aquela coisa estranha que parecia uma mistura de banana amassada com borracha queimada.

_Quem ouve assim pensa que sua casa é bem limpinha né soldado?

Kowalsk novamente procurou o dono da voz que insistia em lhe provocar e novamente não encontrou.

_Se quer mesmo me achar, não seja tão limitado soldado. Procure melhor, você consegue.

Instintivamente Kowalsk olhou para cima, encontrou de onde vinha a voz, mas ficou sem entender nada.

Uma capsula de um experimento qualquer pairava sobre sua cabeça, balançando levemente e sem parar.

_ Esconderijo covardemente interessante.

Cutucou Kowalsk já adivinhando a reação de sua misteriosa companhia.

E a resposta não tardou a vir em forma de um berro descontrolado:

_Quem você está chamando de covarde seu soldadinho mequetrefe?

Kowalsk não respondeu e ficou só ouvindo e analisando o que seria esse lugar.

_Ficou com medo de mim soldadinho?

Perguntou a voz pretensiosa e arrogante.

O ex-soldado começou a analisar cada coisa que via naquele lugar e por fim chegou à conclusão de que estava num laboratório de experimentos genéticos.

 E que havia cinco capsulas suspensas, duas quebradas e três aparentemente intactas, todas interligadas com uma infinidade de fios e mangueiras de variados tamanhos.

_Que espécie de zoológico é esse?

Perguntou Kowalsk sem tirar os olhos da primeira capsula que não parava nunca de se balançar.

A espera de Kowalsk não se demorou, pois logo depois a capsula que não parava de se mexer estilhaçou como um espelho barato em quase mil pedaços e seu ocupante veio num pulo só ficar em frente ao ex-soldado Kowalsk.

_E agora soldadinho, onde está sua coragem?

Kowalsk teve vontade de correr, pois seus olhos não conseguiram descrever para o seu cérebro o que era aquilo que ameaçadoramente lhe encarava.

Ainda que quisesse fugir, suas pernas também se recusavam a dar um passo fora dali, era quase como se ele estivesse esquecido como fazia para correr ou simplesmente, como dar o fora dali.

A sua frente estava uma figura humanóide de mais de dois metros de altura, com pernas parecidas com as de um gafanhoto, que continha até mesmo aquelas serrinhas nas laterais.

Alguns farrapos de roupa tentavam inutilmente lhe cobrir as pernas, enquanto que uma jaqueta velha cobria-lhe da cintura pra cima.

Os braços pareciam moles demais, mesmo que a figura quisesse se mostrar durona e cheio de pose.

Já a cabeça da estranha figura era a coisa mais medonha que Kowalsk já tinha visto em sua vida

Um rosto desprovido de pele e cabelo, com olhos demasiadamente à mostra e estupidamente esbugalhados.

Uma fosseta nasal desprovida de qualquer cartilagem e uma boca cercada de uma pequena grade aparentemente soldada ou colada no próprio maxilar, dando a esse personagem uma medonha aparência, digna do mais horripilante filme de terror assistido pelo trêmulo Kowalsk.

_Quem é você coisa feia? Ou melhor, o que é você?

_Assim como você, eu sou um soldado. Melhor dizendo, eu fui criado para ser um soldado, o melhor de todos.

_ Tô achando não.

Resmungou Kowalsk bem baixinho.

_Posso saber o porquê desse seu comentário soldado?

Perguntou o enigmático e desfigurado estranho.

_Por uma coisinha simples e à toa de que não vale a pena ser dita.

_Pois eu insisto em saber.

Intimou o desfigurado personagem avançando ainda mais para Kowalsk.

_Está bem, já que insiste eu vou lhe dizer, mas depois não vá achar ruim.

Declarou Kowalsk corajosamente e ainda tremendo.

_Você pode ter uma aparência assustadora, mas não tem sequer uma postura ereta de um soldado. Tem suas mãos moles e frouxas demais para segurar qualquer coisa, seja ela para combate ou para sua defesa. Seu centro de gravidade está errado, por isso você é quase um corcunda e provavelmente manca.

Kowalsk nem mesmo terminou de falar quando a porta que fechava a passagem principal abriu deixando um vão grande o suficiente para a criatura caçadora adentrar sua cabeçorra para a sala a procura de alimento.

Ele mal teve tempo para se refazer do susto e antes que pudesse ter uma reação apropriada para um soldado veterano, viu passar a sua frente como um vulto insano, o sujeito estrambólico que ele estava esculachando sem dó.

E sabia o quanto a criatura caçadora era forte e resistente, então ficou perplexo ao ver aquele sujeito torto e desfigurado, agarrando a fera pelo pescoço e socando-o seguidamente e tão rápido que seus olhos mal podiam acompanhar.

Vendo que a criatura alada era muito mais dura e resistente a golpes do que ele supunha, o sujeito estranho mudou de tática, sempre acompanhado pelos olhos atentos de Kowalsk que não perdia um lance sequer.

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