Meu nome é Camilla, ou era.
A minha vida não era exatamente perfeita, desde cedo fui considerada como gênio prodígio pelos meus professores e isso me deu um grande destaque, mas isso nunca foi suficiente para chamar a atenção dos meus pais ou dele.
Passei a minha vida inteira estudando e aprendendo novas coisas, enquanto meus pais passavam todos os dias afundados em um buraco chamado "trabalho". O meu único consolo para a minha rotina cansativa era a literatura, eu não diria alta literatura porque eu era ruim com palavras difíceis.
Entre todos eles, havia um manhwa que era meu preferido. Um que eu lia e relia sem me cansar, decorando até os mínimos detalhes. O nome era "Secrets of a Saint".
Eu morri, e houve um problema:
Eu reencarnei como a vilã principal da história.
Luella Everett, a esposa má do duque.
...
Eu estava destinada a morrer pelas mãos do meu próprio pai como um bode expiatório.
As memórias ainda eram vagas e turvas, mas eu ainda conseguia me lembrar de como eu morri na minha vida passada. Foi no dia da minha formatura na faculdade de Física na USP, realizada em uma balsa perto de Guarujá. Estava perto da beirada, meio bêbada, quando alguém me empurrou.
Conforme a água ia enchendo meus pulmões e eu perdia os sentidos, senti uma mão segurar meu pescoço. Uma mão pálida com dedos compridos, senti lábios gélidos tocarem minha nuca. Meus cabelos foram molhados por lágrimas.
"Eu... quero viver..." a pessoa sussurrou em meu ouvido.
De repente, todo o peso do meu corpo sumiu e foi substituído por um lençol. Ao abrir os olhos, me deparei apenas com um quarto pequeno e mal iluminado. Do tamanho do que eu tinha como Camilla, além da cama, havia apenas uma penteada, repleta de cacos que um dia pertenceram a um espelho.
Esse não era o meu quarto, me levantei sobressaltada. Meu corpo inteiro doía, encarei minhas próprias mãos, pálidas, sem nenhum calo.
'Eu morri certo? Essas mãos definitivamente não são minhas. As minhas são repletas de calos devido aos meus artesanatos.'
Prestei atenção na voz da minha mente, também não era minha voz... Ela era um pouco mais fina, mas ao mesmo tempo escura. Aquela voz... Era da mulher, na água! Corri até o espelho e segurei um dos estilhaços. Eu poderia reconhecer o formato daqueles traços... eram meus, excepto pelo nariz fino... A pele pálida, os olhos negros e os cabelos longos vermelhos.
Aquela seria... Luella Everett? Eu não esperava que ela dormisse naquele tipo de lugar, já que muitos personagens afirmavam que ela viveu uma vida luxuosa...
Seria possível que eu reencarnei em uma história, tipo um isekai? Eu não quis acreditar.
'Não... não... não! Eu me recuso a viver como Luella, isso só pode ser uma alucinação pós-morte. E se não, eu vou reencarnar como outra pessoa, não ela!'
Então eu enfiei aquele pedaço de vidro em meu peito, direto no meu coração.
Tudo ficou escuro, um vazio. Excepto pela própria Luella, que estava caída no chão. Seus olhos repletos de lágrimas, eu não esperava... Ela parecia tão ordinária e miserável, como a mim mesma.
Luella foi uma mulher repleta de luxúria, que gastava todo o dinheiro de seu marido sem hesitar, além de roubar informações para seu pai. Todos afirmaram, inclusive seu pai, que ela havia vivido uma vida luxuosa e sem preocupações na casa Everett.
Morta para apaziguar o conflito entre as famílias e expiar os pecados de seu pai, eu pensei que aquilo foi justo.
Será mesmo?
Ela ergueu os olhos para me encarar, olhos repletos de uma dor inimaginável.
"Vo...cê...?" a voz dela era falha, sem forças.
"Luella?"
"Por favor, Camilla... Não me deixe morrer dessa vez."
Oiii, tudo bem? Eu não sei o que falar, faz muito tempo que não escrevo uma nota para os meus leitores: se é que alguém vai ler isso. Bem, se realmente existir alguém que esteja lendo isso... obrigada e boa leitura!