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Conto 59: Pamps

A casa está silenciosa...

A solidão aperta meu coração e me entristece. Sexta-feira fria, anoitece, então visto meu pijama e faço um chá de erva cidreira.

"Por que minha vida sentimental está tão destruída?" – indago-me.

"Ela foi como uma agência de correios, pessoas chegaram e foram despachadas. Fui bombardeada com decepções, e, por dentro sou, agora, como uma cidade em ruínas." – resumo.

Meus finais de semana tem sido assim, Luigi visita o pai, e eu fico só, escrevendo. Não consigo me interessar por alguém. Por outro lado, sinto que meu coração não aguentaria outra decepção, adoeceria.

Luigi chega na tarde de domingo. Conta-me o que fez e por onde passeou com o pai.

- Sabe, Luigi, sinto-me cada dia mais velha.

- Natural, mãe, você este envelhecendo mesmo.

- Obrigada. – respondo, chateada.

- Mas você é bonita, mãe.

- Obrigada pelo consolo.

- Eu queria pedir uma coisa, mas acho que vai dizer que não. – fala diminuído o tom de voz a cada palavra.

- O que é, Luigi?

- Eu queria um cachorrinho! Diga pelo menos que vai pensar! – implora, com as mãos juntas e os dedos entrelaçados.

- Vou pensar.

- Eba!

Não é uma má ideia. Teria uma companhia no final de semana. Entramos na internet para procurar:

- Essa mãe! Que bonitinha!

- Linda!

Conversamos, por videochamada, com a dona do canil, e, no dia combinado a trouxeram. O rapaz abre a portinha da casinha, pega-a com cuidado e olha pra mim:

- A bebê chegou. – fala, enquanto a entrega.

Pego-a com carinho, e a dou para Luigi. Ele sorri feliz e seus olhos se enchem de lágrimas.

Explica-me como cuidá-la e se vai.

- Mãe, eu quase chorei, mas me segurei. – contava-me, abraçando-a perto do rosto, e continua. - O nome dela será Pompom, porque ela parece um pompom.

Era marronzinha e fofinha. Chegando em casa...

- Mãe, ela tá com fome! Foi procurar no potinho de comida, e não tinha nada!

- Não tem ração! O rapaz esqueceu de trazer! – exclamo, colocando a mão na testa.

Lembro que deixou o nome. Corro para o petshop... não tem, vou a outro, acho com um nome parecido... e agora?

Enquanto isso Luigi envia inúmeros áudios...

- Mãe, corre, ela tá morrendo de fome! – avisava, choramingando.

- Mãe, achou?

Envio uma foto do pacote para o rapaz:

- Sim, é essa que ela come!

Compro a ração e corro para casa...

- Mãe, tá chegando? Ela olha para o potinho e chora!

Chego em casa e encontro Luigi cabisbaixo, sentado no chão, com a bebê no colo, do lado do potinho vazio. Ele me vê e sorri:

- Rápido, mãe!

Derramo a ração no potinho e ela come voraz, quase engasgando. Depois dorme.

Entre uma brincadeira e outra, começamos a chamá-la de Pomps, e depois Pamps, porque era menina.

- Gostei de Pamps, mãe! É mais bonito.

Parecia uma raposinha, e era geniosa como tal, mordia e rosnava.

Com o passar do tempo fizemos amizade, e, o seu olhar ficou cheio de amor.

- Mãe, a Pamps te ama mais do que eu! – diz Luigi, sorrindo.

- Como assim? Quer dizer que uma cachorra me ama mais do que meu filho? – pergunto, chateada.

- Vou explicar: eu te amo 100%, mas a Pamps te ama 110%!

Luigi ria de mim, acho que está com ciúmes.

- Eu te amo muito, meu filho!

Abraço-o forte, e dou-lhe um beijo. Ele me abraça e vai assistir desenho. Pego-a no colo:

- Vou cuidar de você para sempre, Pamps. – prometo.

Meus finais de semana nunca mais foram os mesmos! Ela corria, brincava e enchia a casa de alegria!

- Au, au! – latia, feliz.

Pamps se tornou a minha fiel companheira, sempre perto, e, por incrível que pareça, pedia colo!

Passado um tempo, algo começou a me incomodar: enquanto trabalhava e Luigi estudava, ela ficava sozinha. Não é bom ficar só. Aquele seu olhar triste, ao nos ver saindo, comovia-me. Pensando bem, acho que Pamps vai ganhar um cachorrinho...