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XXVII - Elora

Algumas semanas se passaram desde aquele jantar na casa de Violet, eu e Faye acabamos nos aproximando mais de Violet, com essa maior intimidade as coisas ficaram melhores, agora podemos ir na casa dela sem que as coisas fiquem estranhas. Mayla, Raika e Agatha começaram a frequentar mais nossa casa também, estávamos todos nós muito bem, só faltava agora que eu trouxesse a tal Elora de volta para nós.

Conversando muito com Violet que era a mais próxima dela, descobri que Elora havia se distanciado desde algum acontecimento ruim, Agatha não deixou que Violet me contasse, disse que era melhor eu ir até Elora para saber, talvez se ela mesma me contasse as coisas pudessem ser diferentes.

Hoje dia 15 de Yurudito, iríamos ter treinamento armado, já tivemos algumas poucas vezes, mas eram mais coisas para se acostumar em pegar em uma arma, ou para aprender o quão forte é o impacto. Durante uma das nossas primeiras aulas Carl foi atirar com um rifle bem grande, o professor Rex pediu que ele apenas tentasse acertar um alvo, ele foi todo confiante se achando todo.

Ele ficou todo quieto para atirar, como se fosse um atirador de elite, mas na hora que atirou ele saiu voando para trás, errou completamente o alvo foi horrível, hoje em dia depois de algumas semanas treinando com isso, ninguém mais sai voando, mas nossa mira ainda não é boa.

Existe apenas uma aluna na sala que não erra um tiro, é a Kaya, muito empenhada, sabe usar qualquer arma que de para ela, ela é incrível, fizemos um desafio para ela tempos atrás, a turma pegou algumas armas e colocou em fileira, o objetivo era a Kaya ir correndo pegando cada uma e ir atirando nos alvos sem errar, a garota não errou um alvo.

Hoje era treino de batalha em dupla, cada dupla iria revezar entre Alfa, aquele que atira, e Beta, aquele que é o suporte.

- Fire vou te ensinar um macete! - exclamou Kaya.

- Diga então.

- Esses carregadores tem o números de munições marcados do lado, esses aqui são 10 munições...

- Sim, da para ver.

Ela apontava para a caixa do nosso lado.

- Então quando você for o Alfa sempre conte o número de tiros que dá, assim você consegue antecipar uma munição.

- Hmm, entendi.

- Vamos tentar, você vai ser o Alfa agora.

- Ok... - eu não sou nem um pouco bom em tiro.

Me apoiei na bancada em que a arma estava, era um rifle anti-material, era uma arma muito forte feita para ser usada contra equipamento militar, da para atravessar pelo menos cinquenta metros de concreto sem problemas com um tiro dessa.

- Preparar! Fogo! - gritou Kaya.

- Um... Dois... Três... Quatro... Cinco...

Entre cada tiro eu tinha que puxar uma espécie de pequena alavanca do lado da arma, ela funcionava para ejetar a capsula de explosivo vazia de dentro da câmara de explosão da arma, as cápsulas dessa arma eram grandes, levavam dentro delas cerca de 500 gramas de um pó vermelho, eram pesadas.

- Isso mesmo Fire!

- Seis... Sete... Oito... Nove... Kaya! Munição!

Ela pegou uma das da caixa e jogou para mim.

- Dez!

Dessa vez eu puxei a alavanca e já retirei a caixa de munição anterior, era até que fácil tirar e colocar, eram encaixadas, o único problema e que pelo impacto da arma, eu fiquei tremendo e errei um pouco na hora de colocar a nova, mas coloquei.

- Kaya, não sei se isso realmente faz ficar mais rápido...

- E não faz mesmo, não serve para acelerar a troca, é para você ter noção da munição que resta...

- Hmmmm...

- Está vendo aqueles dois manés ali, Carl e Steven?

- Ei! Não chame eles assim... Só eu posso.

- Enfim, eles já tentaram atirar sem munição umas quatro vezes.

- Ah, eles são manés mesmo.

Ela levantou do chão e trocou comigo de posição.

- Você acertou alguma bala?

- ...

- Tá, eu preciso melhorar isso em você.

Continuamos esse treino até a hora de ir embora, hoje eu queria passar por um caminho diferente, pedi para que Grace não viesse me buscar, existe um caminho pela floresta entre Quémeron e PeaceValley, era uma trilha que passava pela floresta, a caminhada levaria em torno de cinquenta minutos.

A mata era calma e bonita, cheirava muito bem, era tudo tão verde e úmido, dava para ver a luz do sol passando pelas folhas das árvores, era tão gostoso, dava para ouvir o eco de pássaros catando e também um leve som de água escorrendo em algum lugar.

Eu chego a um pequeno riacho que passa pelo caminho, mas eu vejo do outro lado do caminho, uma garota com cabelos rosa longos com certeza ela era Elora, estava admirando alguma coisa na água, eu não conseguia ver de longe, quero me aproximar, mas as garotas me falaram que ela era muito tímida, provavelmente ela fugiria se me ouvisse.

- Ainda bem que eu estudo na Husk.

Nos ensinaram na Husk como se mover de forma silenciosa, e para nós Skys foi um pouco diferente, nos ensinaram a usar uma coisa chamada "pressão mágica" para alterar o ar a nossa volta e suprimir o som.

Parece meio complicado mas na verdade é bem fácil.

Usei disso e me aproximei bastante dela, dei a volta pela mata e fui para trás dela, ela não percebeu nada, me abaixei e fiquei bem perto dela.

- O que está vendo na água? - disse para ela.

- Tem uns peixinhos coloridos aqui...

- Que lindos...

- Espera...

Ela se virou e tomou um susto.

- Quem é você! E de onde veio!

- Olá, meu nome é Fire Sky, eu moro aqui em PeaceValley.

- De onde você veio?!

- Ah, eu estava voltando da escola por esse caminho, eu vim de Quémeron, por alí...

Apontei o caminho.

- Quem é o esquisito que vem andando no meio do mato!

- Você está aqui no meio do mato...

- Estou! Mas é diferente!

- Como assim diferente?

- Eu moro aqui perto e sempre veio ver esse córrego! Não saio andando pelo mato.

- Hunf...

Ela parecia engraçada.

- A propósito... Você não me disse seu nome. - disse a ela.

- Meu nome é Elora.

- Ah, então você é a Elora! - minha intuição é perfeita tá.

- Você me conhece?

- Sim, bom, conheço de nome.

- Quem te falou de mim?

- Sou amigo de Agatha, Raika, Mayla e Violet.

- Nossa, eu conheço elas, eram minhas amigas.

- Como assim eram?

- Eu acabei afastando elas de mim...

- ?

- Você não tem que saber disso.

Vou fazer ela me contar.

- Preciso sim, eu planejava ir atrás de você, cedo ou tarde.

- Por quê alguém viria atrás de mim?

- Porquê eu quero que vocês se tornem amigas de novo.

- Não faz sentido, você nem me conhece.

- O que não faz sentido é querer ficar sozinha assim.

- Ninguém quer saber de alguém como eu!

- Como não? O que você tem que faria os outros não gostarem de vocês?

Ela parecia estar ficando irritado comigo insistindo.

- Não é da sua conta!

- É sim!

- Você não tem que saber!

- Eu tenho! Quero saber sobre você!

- Então eu vou contar, e você vai ver, vai querer ir embora também!

- Então diga!

- Eu não tenho pais!

- E?

- Como assim "E"?

Quando eu questionei ela ficou com as bochechas rosadas.

- Isso não é motivo para se afastar dos outros.

- Você não sabe.

- Como não? Eu também não tenho nem pai nem mãe, nem nenhum parente.

- Como assim? Você não tem nada?

- Eu sou um Sky de fogo, todos morreram de uma vez só.

- Ah, é verdade, eu me lembro.

- Vê isso não é motivo para os outros não gostarem de você.

- Como? As pessoas se afastaram de mim, todas elas tinham seus pais com elas, e simplesmente me abandonaram quando souberam.

- Quanto tempo isso faz?

- Um ano eu acho.

Eu acho que sei o que pode ser.

- Você não acha que pode ter as entendido errado?

- Como as entender errado, depois que souberam elas simplesmente pararam de falar comigo.

- Será que elas não tentaram de dar um tempo, sabe, para pensar, para se acalmar.

- ?

- Isso é sério? Você não pensou nisso?

- Não...

- Elas sentem saudades de você, e não sabem o porquê de você ter as abandonado.

- Elas acham que fizeram alguma coisa para você.

- Eu quem as abandonei então?

- Sim... Elas apenas tentaram te dar um tempo para pensar.

A feição dela começou a mudar, ela começou a ficar com a cara fechada.

- Eu perdi um ano da minha vida por um desentendimento?!

- Aparentemente sim.

Ela começou a chorar.

- Como eu pude ser tão burra!

- As vezes foi apenas algo pelo momento, o choque acabou fazendo você se confundir.

- Eu perdi tudo isso, eu perdi tanto tempo com elas, perdi todo esse ano por causa de uma coisa besta dessas.

Ela estava agora socando o chão, ela espantou os peixinhos coloridos.

- Não acredito!

Ela bateu mas forte agora, acertou uma pedra e feriu a mão.

- Argh!

- Se acalme, venha, deixe-me cuidar disso.

Ela me deu a mão, eu tirei da mochila algumas bandagens, hoje teve aula de primeiros socorros.

- Se acalme, vai arder um pouco, isso é para limpar sua ferida... - joguei água oxigenada por cima.

- Fire, como você se sentiu quando perdeu seus pais?

- Eu não sei, eu não me lembro deles direito, mas lembro de sentir um vazio, na verdade eu não sentia nada, eu não me sentia vivo.

- E o que você fez para se curar do vazio?

- Eu não fiz nada, mas eu conheci alguém, a pessoa mais importante para mim, minha melhor amiga Faye.

- Ela mora aqui em PeaceValley?

- Sim, ela mora comigo na velha biblioteca.

Ela esfregou as lágrimas do rosto.

- Você disse que elas estão com saudades de mim?

- Sim, elas estão, quer vir comigo? Vamos nos encontrar mais tarde lá em casa.

- Sim, vai ser um pouco estranho, nós costumávamos brincar naquela árvore quando menores.

- Vai ser legal.

Terminei de fazer as coisas na mão dela, agora vendo bem ela, era uma garota da minha altura, cabelos rosa, uma pele bem clara, ela ficava destacada na floresta, estava vestindo um tipo de jardineira com uma camiseta branca por baixo, estava com algumas sujeiras de terra dos joelhos.

- Sabe, eu achei que seria muito mais difícil de te convencer.

- O que te fez pensar isso?

- Bom, vocês ficaram se falar por muito tempo, você nem queria ver as outras.

- É verdade, mas se você por exemplo viesse atrás de mim, talvez não conseguisse falar comigo mesmo, elas tentaram, mas eu não dei ouvidos.

- Então basicamente foi tudo uma coincidência?

- Foi, se não fosse aqui, não teria sido em nenhum lugar.

Ainda bem que eu sou esquisito e gosto de andar no mato.

- Seu esquisito.

- Ei!

Ela riu.

Fomos então voltar para cidade.

No caminho de volta eu tentei fazer com que Elora se soltasse um pouco, mesmo com o ocorrido mais cedo ela parecia ser uma pessoa bem tímida, seus cabelos rosa refletiam a luz que passava pelas folhas das árvores, uma aura de luz rosa a rodeava, ela vestia um vestido amarelo, tinha pequenas estampas de folhas pretas na base.

- Como você se sente Elora?

- Estou com vergonha, e medo também.

- Acho que consigo imaginar...

Estávamos chegando ao fim do caminho, logo estaríamos na cidade.

- Estou pensando, que talvez se você não tivesse falado comigo, não sei quanto tempo isso iria durar.

- Isso não é comigo, mas não sei se iria durar muito, elas estavam com saudades.

- Eu também.

- E mesmo que por acaso, vocês iriam acabar se encontrando uma hora, entende?

- Sim, esse isolamento durou mais do que devia, e estava dando já o tempo.

Chegamos enfim na cidade, passamos na frente da prefeitura e dei um pulinho para ver pela janela, Faye estava ali dentro carregando algumas pastas.

- Daqui a pouco a Faye volta para casa, as meninas já devem estar nos esperando, elas saem da escola mais cedo que eu.

- Faye trabalha com a prefeita?

- Sim, ela está estudando pelo governo, e também está fazendo esse trabalho.

- Porquê?

- Ela quer ser uma líder, ela tem o sonho de governar e mudar o mundo.

- Entendo, e você?

- No momento eu não sei bem o que eu quero, quando eu era menor eu sonhava em ser capitão de uma nave.

Olhei para o céu e respirei fundo.

- Mas não acho que isso me agrada tanto mais, por enquanto eu quero só continuar na Husk e evoluir lá dentro.

- Faz bastante sentido, eu ouvi dizer que a vida lá dentro pode ser muito boa.

- Dentro na Husk você diz?

- Sim, isso, não sei como funcionam as coisas lá, mas foi o que eu ouvi.

- Você não está muito errada, realmente as coisas parecem ser simples.

Estávamos na avenida que dava em casa já, dava para ver ao fundo as janelas da biblioteca.

- Da para ver que vocês deram um jeito na árvore! - disse Elora olhando para as janelas limpas.

- Se está achando o lado de fora bom é porque não viu o interior.

- Quero ver em, aquele chão parecia ser um carpete de poeira.

Chegamos na porta, ela parecia maravilhada com a porta, provavelmente ela nunca a viu funcionando, sempre esteve trancada. Antes de abrir a porta tentei sentir aonde elas estavam, aparentemente estavam todas na cozinha, não iriam nos ver entrando.

Abri a porta e ambos entramos, ela parecia admirar o lugar limpo.

- Meninas! Venham aqui ver isso! - gritei para elas.

Raika colocou a cara para ver pelo degrau da cozinha.

- O quê! Pessoal venham ver isso! - gritou Raika.

Elora se escondeu atrás de mim, ela era maior que eu, então isso era meio difícil.

- Elora? - indagou Violet

- Elora! - exclamou Raika

- É a Elora?! - questionou quase gritando Agatha

- ELORA!!! - nem preciso dizer quem gritou.

Elora saiu de trás de mim devagar.

- E-Eu voltei...

As quatro desceram correndo, Raika pulou do segundo andar para descer.

- E-Eu... - Elora não pode terminar de falar.

Todas correram e abraçaram ela, algumas com lágrimas no rosto outras com sorrisos enormes, quase me derrubaram no chão.

- Elora sentimos tanta saudade de você! - falou Agatha com lágrimas no rosto.

- Era tudo tão diferente sem você, parecia que faltava algo... - disse Violet borrando a maquiagem.

- Nem sei o que dizer, então vou só te abraçar. - disse Raika.

- Mal conseguia viver sem minha parceira de cabelo! - gritou Mayla.

Elora olhou para ela.

- Parecia de cabelo?

- Sim, seu cabelo é rosa e o meu também!

- Sei cabelo é branco Mayla. - disse Violet

- Tem pontas rosas, então também é rosa.

- Acho que é meio prateado... - falou Raika.

Elas começaram essa discussão besta do nada.

- Parece até que voltamos já a como era antes! - falou Agatha com um sorriso no rosto.

Violet veio até mim, a maquiagem do olhos, não sei o nome, estava toda escorrida.

- Fire, foi você quem trouxe ela de volta, só estamos juntas de novo por sua causa, sou muito grata a você. - Violet me abraça forte.

Sujou minha camiseta de maquiagem.

- Nós todas somos na verdade Fire.

Agora o abraço veio para mim, quanto todas terminaram Elora veio sozinha.

- Muito obrigada Fire...

- Que isso, foi nada não.

- Ala o Fire tá todo constrangido! - gritou rindo Raika.

Nunca fui abraçado por mais de uma pessoa, não é minha culpa.

- Não estou nada!

- Não precisa ficar assim Fire, ser abraçado por cinco garotas lindas como nós derreteria até o príncipe Glacies! - disse Raika tentando fazer uma piada muito ruim.

- Cinco? Só conto quatro aqui.

Nessa hora Raika ficou vermelha de raiva, e ao mesmo tempo Violet e Mayla ficaram vermelhas, mas de outra coisa.

- Não se diz isso para uma garota Fire! - gritou Raika.

Agatha e Elora começaram a rir muito, me senti muito orgulhoso comigo mesmo por juntar elas novamente, mas também não acho que isso iria continuar por muito mais tempo, não creio que um desentendimento assim deveria perdurar tanto.

Bom, ficou dois anos assim.

- Vocês vão querer passar a noite toda aqui? - perguntou Faye.

- Podemos? - Raika.

- Por mim vocês podem ficar aqui sem problemas, você concorda Fire? - disse Faye.

- Claro, nenhum problema. - respondi.

Elas conversaram entre si e decidiram ficar.

Ver aquelas seis ali era muito gratificante, era como se elas fossem feitas para se encontrarem, eram todas diferentes, mas pareciam se encaixar.

Mesmo Faye que nunca teve tantas amigas, ela parecia estar muito feliz, ela estava com um sorriso que eu nunca vi antes.

Começou a chover lá fora.

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