Após chegar em casa, Jayden não se importou com nada que normalmente teria chamado sua atenção. Mesmo com os mordomos a sua disposição, as iguarias deliciosas prontas para serem saboreadas e os videogames mais sofisticados ao seu alcance, ele não tinha cabeça para aquilo. As distrações do luxo e do conforto não significavam mais nada.
Este não era mais um mundo pacífico como a Terra que ele conhecia. Este era o universo de Dragon Ball, e a realidade ali era muito mais implacável. Dinossauros gigantes vagavam pela terra, criaturas antropomórficas lutavam por sobrevivência, mortos-vivos ressurgiam das profundezas, artes marciais eram a chave para o poder, magia podia ser manipulada por qualquer ser com a habilidade certa e alienígenas de todas as formas e tamanhos rondavam o planeta. Sem contar os Reis Demônios e outras ameaças indescritíveis.
E todas essas ameaças não estavam apenas no passado, nem eram histórias antigas para contar. Elas estavam prestes a surgir, algumas com força total em apenas cinco anos. Jayden sabia disso. Ele sabia que o tempo estava contra ele. Ele não poderia mais se dar ao luxo de ignorar a realidade.
Como um simples humano, sem técnica marcial alguma, sem um corpo extraordinário ou poderes natos de guerreiro, ele sabia que sua sobrevivência estava por um fio.
O que ele faria quando esses monstros, alienígenas e demônios chegassem? Como ele, alguém sem habilidades especiais, poderia enfrentar inimigos tão poderosos, com forças capazes de destruir planetas?
Se não se esforçasse para se tornar mais forte, Jayden sabia que não passaria de um mero figurante, uma estatística esquecida na história, uma vítima do caos que se aproximava.
E o pior de tudo: ele não era o único a ter experimentado a morte em Dragon Ball. Todo ser humano na Terra já havia morrido pelo menos uma vez, graças a Majin Buu. Mas todos foram trazidos de volta pelas Esferas do Dragão, e isso era uma dádiva, certo?
Não. Jayden sabia, pela experiência, que não era nada prazeroso. A sensação de sua vida se esvaindo, sua alma saindo do corpo... era uma experiência que ele nunca queria reviver.
Ver o mundo de cima como um espectro, impotente, enquanto sua mãe chorava desesperadamente por ele... Isso era deprimente.
Você não morria em paz. Não havia descanso. Havia apenas um vazio, um silêncio ensurdecedor, e a dor de ver os que você ama sem poder fazer nada.
Talvez o céu e o inferno existam, ele apenas não teve o prazer de ir para lá, apenas podia vagar pela terra como um espírito.
E o pior de tudo: em Dragon Ball, o céu e o inferno eram lugares acessíveis. Qualquer um podia ir até lá, invadir esses reinos e destruir almas mortas, apagando para sempre a existência de alguém.
A morte não era um fim. Ela podia ser apenas o começo de um sofrimento eterno. E Jayden sabia disso. Ele sabia que, se quisesse ter alguma chance de sobreviver e proteger os outros, ele não poderia ficar parado, esperando ser destruído.
O único caminho, então, era um: tornar-se forte. Mais forte do que qualquer um desses inimigos poderosos. Como ele poderia ter esperança de lutar contra figuras como o Rei Demônio Piccolo, o Imperador do Universo Freeza, os Androids, Cell ou Majin Buu? Como ele poderia encarar o Deus da Destruição Bills? Como ele poderia sobreviver a qualquer outra ameaça que surgisse?
Esses nomes, esses seres eram deuses em seus próprios direitos. Eles eram praticamente invencíveis para qualquer humano normal. Mas isso não significava que Jayden iria se dobrar. Ele sabia que a única solução era se tornar mais forte. O mais forte de todos. E, para isso, ele teria que treinar como nunca antes. Não importava quanto tempo fosse levar ou quão difícil seria o caminho. Ele estava disposto a arriscar tudo para não se tornar uma vítima do destino. Ele estava decidido a ser o guerreiro mais forte deste universo.
Agora, mais do que nunca, ele entendia o peso da realidade em que estava. A sobrevivência não era garantida. Mas ele não iria se deixar ser apagado da história.
Com a determinação brilhando nos olhos, Jayden caminhou firme em direção à sua academia pessoal.
Como todo bom casal rico, os pais de Jayden decidiram incluir uma academia completa em casa, com todos os equipamentos de última geração. Curiosamente, eles mesmos nunca haviam usado a academia – era mais um dos muitos luxos que estavam ali, disponíveis mas ignorados. Na prática, quem mais usufruía daquele espaço eram os funcionários da mansão, que aproveitavam para manter a forma nos intervalos.
"Mestre Jayden, tem certeza disso?" perguntou Jhon, um dos faxineiros da mansão, que observava o jovem com uma mistura de cautela e curiosidade.
Além de ser um dos responsáveis pela limpeza, Jhon também era formado em Educação Física e Nutrição. Ele sempre sonhara em ser um fisiculturista profissional, um bodybuilder aclamado que competiria por títulos, mas a vida havia tomado outro rumo. Quando sua filha nasceu, ele precisou abandonar esse sonho, pois o investimento em dietas, suplementos e treinos avançados era algo que não podia bancar. Mesmo assim, ele acabou sendo contratado como faxineiro na casa de Jayden, mas, como o salário era surpreendentemente generoso – coisa de gente rica, em que até o faxineiro ganha um valor várias vezes acima do mínimo –, ele aceitou a posição. Afinal, trabalho é trabalho.
"Senhor Jhon, você já ouviu falar do Deus das Artes Marciais, Mestre Kame?" Jayden perguntou, com os olhos fixos, mas brilhando de expectativa.
"Se já ouvi falar? Claro que sim!" respondeu Jhon, com uma ponta de admiração na voz. "Esse cara é uma lenda. Dizem que, apesar da aparência magricela, ele esconde um poder imenso, capaz de destruir montanhas quando realmente liberado."
Jayden assentiu, absorvendo cada palavra. "Eu já decidi meu sonho: quero ser o homem mais forte do mundo. Mais forte até que o Mestre Kame."
Jhon sorriu de canto, surpreso e um pouco cético, mas ainda assim admirado. "Você tem um sonho grande, Mestre Jayden. Mais forte que o Deus das Artes Marciais? Hahaha! É preciso coragem para sonhar tão alto. Mas, já que você quer minha ajuda, é meu dever guiá-lo."
"Então pode ir com tudo", respondeu Jayden, firme. "Eu não espero moleza."
Jhon deu um sorriso determinado, enquanto cruzava os braços, medindo o jovem com um olhar afiado. "Pode confiar em mim, Mestre Jayden. Eu vou te fazer passar pelo inferno, mas você sairá de lá um monstro."
Jayden respirou fundo, sentindo o peso do compromisso que acabara de fazer, mas, em vez de hesitar, ele apenas reafirmou: "Sim!"
...
E assim começaram os dias de treinamento intensivo e rotineiro de Jayden.
Pela manhã, ele frequentava a escola, a única obrigação que seus pais negligentes faziam questão de impor.
Sendo um engenheiro em sua vida passada, Jayden revivia as experiências escolares sem dificuldade; os assuntos eram simples demais para ele.
O verdadeiro desafio era suportar o tédio, pois a sensação de estar revendo tópicos triviais o deixava inquieto.
Depois da escola, Jayden costumava dar uma passada na casa dos Briefs. Panchy e Bulma estavam sempre felizes em recebê-lo.
Panchy, com sua natureza calorosa, o tratava como parte da família, e Bulma, sempre curiosa e inventiva, fazia questão de desafiá-lo com alguma invenção ou de compartilhar suas ideias mirabolantes.
Esses momentos de descontração eram uma pausa bem-vinda antes do treino rigoroso que o aguardava.
Às quatro da tarde, Jayden voltava para casa e iniciava a rotina de musculação.
Com uma academia cheia de equipamentos de última geração e a orientação constante de Jhon, seu instrutor e amigo, ele fazia cerca de duas horas de exercícios físicos intensos.
A dieta equilibrada e supervisionada por Jhon também contribuía para que Jayden mantivesse energia e recuperasse seus músculos de forma eficaz.
Para ele, o treinamento físico não era difícil, apenas cansativo. Muitos falam das dificuldades do treinamento físico, mas, na visão de Jayden, uma vez que se aprende a técnica correta, o maior obstáculo é a repetição.
Em um universo onde o conceito de energia vital, ou qi, fazia parte da vida, Jayden conseguia suportar cargas de peso e repetições impressionantes para alguém de sua idade.
No mundo de Dragon Ball, preocupações como o medo de que musculação excessiva atrapalhe o crescimento eram irrelevantes.
O qi permitia que o corpo se adaptasse e se fortalecesse de formas que seriam inimagináveis em sua vida anterior.
E, embora Jayden não fosse um Goku ou um Kuririn, ele tinha uma resistência acima da média para um jovem, talvez em parte devido à vitalidade extra que Light lhe havia concedido ao reencarnar.
Falando em qi, Jayden não negligenciava o aspecto energético de seu treinamento.
À noite, quando a casa ficava mais silenciosa e a agitação do dia se dissipava, ele dedicava um tempo à meditação, concentrando-se em sentir e controlar seu qi.
Ao contrário do que muitos imaginavam, manipular energia não era simples. Requeria disciplina e uma mente focada.
Ele sabia bem como as fanfics costumavam tratar o assunto: em muitas histórias, o protagonista era uma pessoa comum reencarnada que, de repente, se tornava um gênio natural, capaz de controlar o qi como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
Esses personagens inventavam técnicas complexas sem esforço aparente, como se criar habilidades avançadas fosse tão fácil quanto respirar.
Esses escritores, pensava Jayden com uma ponta de humor, pareciam acreditar que era possível dominar o ar e o vento com a mesma simplicidade de um Avatar, faz uma dancinha boba e pronto.
A realidade, no entanto, era completamente diferente do que muitos imaginavam. Manipular o qi exigia uma combinação intensa de força de vontade, disciplina, concentração, e, acima de tudo, anos de prática e tentativas fracassadas para começar a dominá-lo.
O qi era, em sua essência, uma energia física, algo que reagia instintivamente ao corpo. Até mesmo um recém-nascido possuía algum controle involuntário sobre ele, como uma chama fraca que ardia sem direção, respondendo apenas aos impulsos naturais do organismo. Contudo, para um verdadeiro artista marcial, o controle consciente dessa energia era imperativo, uma habilidade que separava os amadores dos mestres.
Jayden se acomodava em uma posição confortável no chão, cruzando as pernas e apoiando as mãos sobre os joelhos. Ele começava a respirar fundo e lentamente, acalmando a mente e tentando se desconectar do mundo ao seu redor. A mansão era silenciosa àquela hora da noite, mas ainda assim, ele precisava esquecer até o leve farfalhar das árvores lá fora. Sua atenção deveria ser voltada completamente para dentro de si.
Ele concentrava seu foco em sua barriga, o centro do corpo onde, segundo os mestres, residia a energia vital. Era ali que o qi se acumulava, como uma pequena chama ou uma esfera de calor. Ele buscava por qualquer sensação sutil – uma faísca de calor, uma leve pressão, algo que indicasse a presença da energia. Com o tempo, ele aprendeu que o qi podia se manifestar de diferentes formas, às vezes como um calor morno, outras como uma leve vibração, ou até mesmo como um pulsar contínuo.
Quando finalmente sentia o calor familiar em seu abdômen, Jayden tentava imaginar essa luz se expandindo, enchendo seu corpo, passando para os braços, para as pernas, como se ele estivesse controlando um rio de energia. Esse era o verdadeiro desafio: fazer o qi seguir sua vontade. Jayden podia senti-lo, sim, mas guiá-lo era uma batalha à parte.
Para ele, o qi era como uma chama rebelde, algo que queria ser livre, que resistia à manipulação. Com cada tentativa, ele imaginava que estava segurando essa luz em suas mãos, forçando-a a percorrer o caminho que desejava. Mas o processo não era simples. Bastava uma leve distração, uma fração de segundo em que sua mente se dispersava, e o qi escapava, voltando a seu centro ou se dispersando.
Mas ele já sabia que essa tarefa não seria fácil e não se deixou abalar, se falhar então tente de novo até conseguir.
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