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Pequenas Mudanças

Três dias haviam se passado desde o retorno de Ana à cidade, e a floresta ao redor estava longe de ser o mesmo lugar de antes. Os lobos de Garm haviam se espalhado pelas sombras da densa mata, criando uma nova dinâmica no ecossistema noturno. Seus uivos se entrelaçavam em uma sinfonia selvagem que preenchia o ar, vinda de todas as direções, como um mar de ecos longínquos e ao mesmo tempo próximos que dominavam a atmosfera.

Para qualquer um que passasse pela região à noite, seria impossível ignorar a presença esmagadora da alcateia. O mar de árvores se tornara uma fortaleza viva, onde cada tronco parecia guardar segredos e cada arbusto poderia esconder um par de olhos atentos.

Felizmente seus portes eram esguios, quase raquíticos comparados ao seu líder. Desta forma, mesmo grandes, não exigiam muito alimento, o que foi um alívio temporário para os bestiais que ainda estavam nos estágios iniciais para criar uma produção de gado adequada. Até que isso estivesse funcionando plenamente, as criaturas eram obrigadas a caçar na floresta, contentando-se com a vida de predação ao redor. Garm, porém, era uma exceção.

O grande lobo negro havia encontrado um lar na cidade, estabelecendo-se em uma caverna artificial que fora construída diretamente sob a ponte principal da cidade, logo acima do nível do rio que separava os grandes muros do mundo de fora. O local era estrategicamente perfeito, oferecendo uma visão clara de qualquer possível invasão, ao mesmo tempo que proporcionava sombra e tranquilidade ao imponente animal. 

A comida era trazida até ele, e Garm passava a maior parte do tempo dormindo, vivendo uma vida que, para muitos, parecia de luxo. Aproveitava suas tardes preguiçosas, saindo apenas ocasionalmente à noite para esticar as patas e rondar a cidade em patrulha. Parecia estar satisfeito com o lugar que havia escolhido como seu refúgio.

— Guardião... hehe... — murmurava várias vezes quando sonolento, com um sorriso que apenas suas presas afiadas podiam criar.

O título lhe dava um sentimento de importância e propósito que ele não experimentava desde as batalhas passadas ao lado de Ana. Porém, tais palavras roucas inconsciêntemente se espalhavam pelo vento, e, mesmo no pouco tempo desde sua chegada, começaram a se tornar uma das pequenas lendas da cidade, caindo na boca do povo como o misterioso fantasma que cuidava dos portões, pois poucos sabiam que a habitação de tal besta estava ali localizada.

Os conselheiros que estavam presentes, por sua vez, ainda estavam se acostumando com a presença do novo companheiro. A princípio, a simples visão de Garm tinha causado espanto e desconfiança. Muitos já ouviram as histórias que Ana contava sobre o Abismo, sobre como ela e o lobo fugiram juntos, lutando lado a lado por dias intermináveis. Mas ouvir aquelas histórias e ver ele de perto eram coisas completamente diferentes.

Já em outra parte do reino, em meio às longas avenidas, Ana estava finalizando as últimas pendências das organizações que havia iniciado. As plantações estavam finalmente sendo estabelecidas com a ajuda da Divisão Dríades, as tensões entre os grupos de diferentes origens estavam mais ou menos sob controle, ao menos por enquanto, e o estabelecimento da segurança com os lobos patrulhando a floresta ao redor também havia aliviado parte da pressão sobre ela.

Tudo estava se encaixando, mas havia uma questão que ainda permanecia em sua mente. 

Ela soubera que Madame estava na cidade havia mais de uma semana. Evitara o encontro até então, não por falta de interesse, mas simplesmente porque havia outras prioridades a tratar. Agora, com a maioria dos problemas mais urgentes resolvidos, Ana decidiu que era hora de finalmente reencontrá-la.

Conforme caminhava pela cidade em direção à taverna, os habitantes faziam reverências silenciosas ou acenavam respeitosamente. Ana, por sua vez, acenava de volta, porém seus olhos estavam sutilmente confusos por baixo da máscara.

— O que diabos aconteceu enquanto eu estive fora?

— Bem, tudo cresceu. É a primeira cidade livre que aceita todas as variantes — respondeu Gabriel, em seu tom costumeiramente neutro. — Pelo menos, a primeira que conheço. É normal que as pessoas se interessem.

O entardecer começava a dar lugar à noite. As luzes das ruas já iluminavam as vias principais, e as vozes alegres e sons de convivência enchiam o ar. Mudanças drásticas ocorreram no curto período em que a rainha esteve fora, em um ritmo tão impressionante que, por um momento, a fez se perguntar se voltou a perder a noção do tempo.

A cidade, antes composta somente por bestiais e estátuas vivas, agora abrigava uma mistura ainda mais variada de seres, incluindo corrompidos estrangeiros de diferentes tipos, todos coexistindo de maneira pacífica. 

Pequenos e grandes, alguns com braços longos, às vezes garras ou pelos e, ocasionalmente, alguns cascos. Embora não passassem de três dezenas, era uma visão interessante vê-los andando pelas ruas, se integrando com os habitantes locais como se aquilo fosse o mais natural possível.

— Pequenos povos de fora pediram permissão para se mudar para cá — continuou o anjo de pedra. — Eu estava aguardando sua aprovação sobre as solicitações, é claro, mas tomei a liberdade de permitir alguns como visitantes temporários.

— Desde que não sejam uma quantidade grande o suficiente para afetar a cadeia de suprimentos, pode autorizar. Mas certifique-se de que saibam que não terão voz nas decisões políticas. Se não se adaptarem, que se retirem — a resposta de Ana era firme, sem margem para discussões.

Gabriel acenou, prevendo essas palavras.

— Perfeito. Já comecei a preparar espaços ao redor da cidade principal, algo semelhante ao que fizemos com os bestiais. Pensei que seria mais eficiente para manter as coisas em ordem.

— Parece ótimo. Foque em manter apenas casas, galpões e fábricas de produção geral nesses espaços. O comércio principal ainda deve estar focado nas muralhas centrais da cidade.

A estátua anotava tudo em seu pequeno caderno de bolso, e seu balançar de cabeça indicava que estava ouvindo atentamente cada frase. Um silêncio cômodo se seguiu, onde o administrador mascarado exalava uma aura feliz ao notar o interesse quase infantil de Ana com cada construção nova que se deparava.

— Tudo está indo rápido demais… o que acha de implementarmos um sistema econômico mais sofisticado? No momento, somos quase comunistas — brincou a rainha, uma leve ironia permeando suas palavras. No entanto, logo bufou, notando que não entenderam o termo. — Podemos seguir focando na exploração de recursos naturais, e talvez um sistema de escambo funcione inicialmente, ao invés de trocar tudo por contribuições. Infelizmente não temos infraestrutura para criarmos uma moeda oficial.

Gabriel ponderou por alguns segundos antes de responder.

— Isso é viável, sem dúvida. Talvez também seja interessante expandir o conselho. Seria mais fácil ter pessoal especializado em áreas como educação e saúde.

Ana sorriu de leve e, em seguida, concordou.

— Os espaços estão sendo preenchidos aos poucos, mas aceito sugestões de nomeações. Até termos alguém mais adequado, você pode escolher quem quiser junto com os demais.

Nesse momento, Miguel, que caminhava alguns passos atrás, adiantou-se levemente.

— Farei o necessário para marcar uma reunião com os membros do conselho para discutirmos esses detalhes — disse ele, já organizando os próximos passos mentalmente.

— Sem pressa, podemos voltar nisso daqui uns dias. Já pretendo reunir os preguiçosos para alguns outros assuntos importantes, podemos esperar até lá.

Miguel assentiu, entendendo as ordens, e apenas manteve o passo ao lado dos dois até finalmente chegarem à taverna. O lugar estava surpreendentemente movimentado. A maioria dos presentes eram bestiais, suas vozes graves enchendo o ambiente de energia. Aqui e ali, Ana notou alguns forasteiros mais isolados, parecendo um tanto deslocados, mas não totalmente desconfortáveis. De vez em quando, mascarados também passavam, apressados, envolvidos nas mais diversas tarefas.

— Nem fodendo… — sussurrou de repente a mercenária quando seus olhos captaram um bestial sentado em uma das mesas, tomando grandes goles da cerveja avermelhada, aparentemente satisfeito.

Com passos anormalmente rápidos, quase saltando, ela se aproximou do homem. Seus olhos se encontraram com os dele, o encarando com ceticismo, e o cheiro forte da bebida invadiu suas narinas. Sem pensar duas vezes, Ana pegou a caneca assim que ele a colocou de volta na escura madeira da mesa.

O bestial arregalou os olhos, confuso e claramente prestes a protestar, mas ao perceber quem era a mulher, suas palavras ficaram presas na garganta. Sua expressão mudou de uma indignação inicial para uma resignação quase reverente. Sem dizer nada, ele simplesmente ofereceu voluntariamente a caneca à rainha, como se fosse um presente.

Ana sorriu, agradecida, e seu olhar logo foi conduzido novamente para o líquido, com cada vez mais desconfiança.

— Por que alguém beberia esse troço horrível? — murmurou para si mesma, franzindo a testa antes de finalmente levar a borda da caneca aos lábios.

O composto amargo e gelado desceu por sua garganta, e, para sua surpresa, o gosto não era tão terrível quanto ela imaginara. Na verdade, era bom. Muito bom. Seus olhos brilharam por um breve momento, e ela devolveu a caneca ao bestial com um leve sorriso no rosto.

— Interessante…

Sem perder mais tempo, Ana acelerou o passo, agora mais ansiosa para finalmente reencontrar sua velha conhecida.

***

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Depois de meses escrevendo sem parar, decidi dar um passo ousado (talvez um pouco precipitado, mas quem liga?): transformar Eternidade de Ana em um livro físico!

São mais de 2000 páginas espalhadas por 4 volumes (e contando!), e com muitos outros planejados, achei que já era hora de dar início à confecção do primeiro livro.

"Mas e daí, Sandman? O que eu tenho a ver com isso?"

Ótima pergunta, caro leitor sagaz.

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Este é um projeto, pelo menos até a novel estar finalizada, sem fins de lucro. É sobre realizar um sonho (e preencher algumas prateleiras com um livro que um dia achei que ninguém leria). Mesmo se a campanha não der certo, minha meta continua sendo ter meu próprio livro em mãos. Mas, infelizmente, meu bolso só permite algo mais simples, sem a profissionalização que essa história merece.

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E, por fim, obrigado pela leitura!

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***

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