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INTERLÚDIO - ALON

"É um prazer te ter aqui novamente, Alon." – Disse a firme voz de Polano, usando de total ironia e repulsa em sua fala.

O homem de longo cabelo branco encarou o desfigurado soldado do país dos grandes muros. Alon estava sem um de seus braços, além de agir como um verdadeiro animal selvagem. Sua aparência era amedrontadora e nojenta, porém isso não parecia causar medo algum no homem de grande presença à sua frente.

Diferente de tudo visto antes naquela realidade própria, Polado tinha transformado aquele ambiente de cidade em uma vila, a qual pegava fogo infinitamente. Era possível sentir a angústia e o calor que surgia do profundo de cada casa que pegava fogo ao redor deles.

– "Sente-se" – Polano apontou para o banco branco, o mesmo no qual havia se sentado junto a Mizu.

Se recusando a se sentar, Alon partiu para atacar Polano, correndo da mesma forma de um animal selvagem e atacando com seus dentes, agindo como uma verdadeira besta.

– "Minha dica é para você se sentar, nossa conversa será um pouco longa…"

Estendendo a mão para o corpo de Alon que se movia em sua direção, Polano o fez ser atingido por uma luz branca que surgiu do céu, a qual o queimou por dentro, o fazendo ser desintegrado no mesmo instante, o reduzindo a pó.

– "Vamos começar de novo do zero."

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– "Dê um passo à frente e se sente Alon." – Uma voz velha e rouca chamou Alon para se sentar do outro lado da grande mesa de vidro que tomava toda a extensão da cozinha da casa onde estavam.

Aquela era uma casa chique e todo seu cenário era coberto de ouro, prata e quadros do exército do país dos grandes muros. Provavelmente se tratava da casa de um dos mais influentes membro do país da defesa.

Andando de forma insegura, Alon demorou mais do que esperava para chegar à mesa. Aquilo evidenciou para todos na cozinha o tamanho de sua insegurança.

Ao redor, todos na cozinha comentavam em voz baixa sobre o garoto, algo que o causava grande medo em prosseguir.

– "Vamos, sente-se." – O homem à sua frente nem mesmo tinha desviado o olhar ou mudado de direção, ele apenas se mantinha da mesma forma de antes, chamando novamente o garoto.

Respirando fundo, Alon apressou seus passos curtos e finalmente chegou à mesa, se sentando imediatamente na cadeira de madeira fina.

– "Com licença!" – O homem levantou sua voz, chamando a atenção de todos que falavam entre si na cozinha.

Tomando a total atenção do ambiente, o homem velho totalmente fardado que estava sentado ao outro lado da mesa tornou a abrir a boca:

– "Todos os que não forem cozinheiros, mando que se retirem imediatamente." – O homem que estava encostada junto a parede de medalhas, fez de seu rosto uma fortaleza de seriedade, trazendo medo para todos do ambiente.

Bastou apenas uma única fala para que todos se calassem e se retirassem de lá de forma rápida e organizada. Da multidão que antes tinha 30 pessoas, havia sobrado apenas 3 cozinheiros dos quais não conversaram mais entre si.

Logo, o ambiente ficou tomado pelo silêncio de qualquer conversa paralela ou presença indesejada, causando forte conforto no homem fardado, o qual se largou totalmente na cadeira de madeira confortável onde estava sentado.

Ao outro lado da mesa, Alon respirava de forma sistemática, assegurando que seus batimentos não poderiam o matar repentinamente por sua ansiedade e insegurança.

– "Pois bem, serei breve pois quero que haja sossego de todas as minhas funções."

– "Sim, senhor." – Alon estava sentado em postura ereta, sendo muito mais formal que o homem que parecia ser de alto escalão do exército do país, o qual estava praticamente deitado em sua cadeira.

– "Você foi escolhido como um dos alunos do cristal da defesa. Não haverá nenhuma cerimônia de entrega e nem mesmo alguma comemoração nisso, apenas haverá a entrega do cristal e a explicação de sua posição, faça o juramento para mim e para o cristal e tudo estará completo."

– "É… Tudo bem…" – Alon se perdeu em seu próprio sorriso falso, porém sabia não ter outra alternativa naquele momento.

No fundo, mesmo que houvesse cerimônia ou festa, Alon não tinha uma família para ve-lo chegar ao lugar que estava agora. Naquele ponto, suas memórias se reduziram a lembrar de todos os seus longos dias no exército do país, sendo usado como jovem prodígio da guarda do escudo.

– "Ótimo, segure esse cristal e repita tudo o que eu disser. Após isso, suma da minha casa."

O homem lançou sobre a extensa mesa o cristal branco, o qual rolou rapidamente para ser segurado pelo garoto, o qual o segurou com firmeza. Aquele não era o cristal completo, porém era uma grande parte dos pequenos fragmentos dele que estavam espalhados por todo o País-Estado.

– "Eu juro pela honra desse lugar que usarei esse cristal acima de mim e minha própria vida. Repita!" – Gritou o homem, como uma ordem a um exército.

– "Eu juro pela honra deste país e por meu próprio orgulho que usarei esse cristal acima de mim e de tudo que parecer importar em minha vida."

Após terminar de falar, Alon foi levado para uma nova realidade paralela a que estava atualmente. Lá ele pode ver o homem de cabelo branco longo, o qual sorriu de forma forte ao ver o garoto que havia acabado de chegar.

– "Você se lembra disso?!" – A voz firme e presente do homem adentrou aquela ideia de realidade, a qual novamente foi provada como sendo apenas lembranças que eram vistas no mundo ao redor deles.

– "Eu tive orgulho de seu juramento e suas ações. Você me deu esperança de ser o novo usuário perfeito do cristal que é confiado a mim por diversas gerações." – Direcionando a palavra para Alon, Polano não teve resposta ou sequer pôde ver uma nova expressão preencher o rosto desfigurado do homem que estava a sua frente.

Aquele homem não era mais humano, o que lhe restou foi seu instinto similar ao de um animal selvagem. Ele não era mais um humano.

– "Você fez juramentos do qual não pôde cumprir. Você deixou seu orgulho ser maior que o cristal que jurou defender. Você perdeu seu cristal no meio de uma luta e ainda tem a ousadia de permanecer vivo mesmo sendo uma aberração completa. Você é enojavel. Espero ter a oportunidade de te ver morto de uma vez por todas."

O homem levantou sua voz de forma imponente e irada. Era algo que nunca havia acontecido com ele, um sentimento novo que adentrou o profundo de sua alma e bateu em seu coração de forma a quebrá-lo.

Naquele ponto, Polano já tinha matado Alon três vezes naquela realidade, a qual também não podia controlar o homem que não tinha mais mente ou alma. Naquela aberração apenas havia sobrado carne humana em estado de decomposição, marcas de cicatrizes profundas que cortavam todo seu corpo e seu instinto que estava perdido entre tudo que o constituía "humano".

– "Eu não quero mais tentar te mostrar o que há de errado com você. Não vale mais a pena tentar garantir a honra de quem maneja o cristal da defesa. Espero sinceramente que aquele garoto destrua todos vocês. Nele há tanto orgulho quanto há em vocês, porém nele há esperança."

Andando lentamente para perto de Alon, que estava sentado no banco, o homem estendeu sua mão para o alto, mudando todo o cenário ao redor para a forte luz branca que consumia o que restava do ser de Alon.

– "Desejo que sua morte seja proporcional a seu juramento. Nunca mais apareça aqui, eu não preciso de pessoas como você. A solidão não é tão ruim quando percebo o que vocês se tornam a cada dia."

O cenário branco finalmente consumiu Alon antes mesmo que ele pudesse expressar algo em resposta a Polano. Se bem que não havia mais audição nele, nem mesmo visão ou sentimentos. Seus sentidos era apenas focados em sua obsessão: ser o melhor e matar aqueles que destruíram seu nome.

– "Me chamem de Majestade quando pisarem aqui novamente. Isso vale para todos vocês!"

A voz estrondosa do homem não apenas foi percebida por Alon, mas também pode ser ouvida por todos os que um dia tocaram no cristal da defesa em vida e até mesmo naqueles que já estavam mortos. Apenas Mizu não pôde ouvir esse grito.

Logo, Polano sumiu totalmente do cenário, no qual voltou a ser o gramado onde o sangue do próprio corpo de Alon escorria pelo chão de pedra.

– "Hia" – Alon grunhiu, se levantando do chão em estado desfigurado. Ele devia estar morto, porém algo o fazia permanecer vivo até mesmo naquele pronto insano.

Saindo dali rapidamente, Alon correu como um animal em quatro patas, mesmo que só possuísse três naquele momento. Ele não tinha rumo e sentidos, porém sabia exatamente o que deveria fazer. Eram os sentidos de um animal ainda 0,1% humano.

Naquele momento, Alon era a besta daquele mundo. Uma quimera criada por seu próprio orgulho. Um monstro no qual não havia explicação ou sentido. Seu rosto é desfigurado, seu sangue está todo fora de seu corpo, sua alma não faz parte de seu ser, porém ele permanece vagando com vida por aquele país.

Não se sabe ao certo o que ele busca, porém é certo que não há sentido em lutar contra algo que nem mesmo parece estar vivo.

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