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Capítulo 2: Mudança de Planos

Os ventos sopravam, o mar estava com uma maré baixa e as ondas não estavam tão fortes. Os pássaros cantavam durante as manhãs para deixar a natureza mais viva, e as pessoas ao redor caminhavam alegremente e sem preocupações.

Em um banco feito de madeira, que proporcionava uma vista muito bonita do mar, lá era possível encontrá-lo facilmente fora de sua carga horária de trabalho.

"Olá, senhor Nagumo, o senhor está bem?"

O senhor Nagumo gostava muito de ouvir essa voz.

"Estou melhor do que nunca, Unten. E você? Como foi o seu dia?"

Uma voz que nunca abandonava ele mesmo nos seus momentos de mais solidão.

"Que bom que você está bem, senhor Nagumo. O meu dia foi bom o bastante…"

Uma voz que ainda lhe dava motivos para agir como uma boa pessoa.

"Posso te fazer uma pergunta? Por que você gosta tanto de ficar neste lugar logo após sair do seu emprego?"

Uma voz que lhe dava motivos para ainda apreciar a vida.

"A verdade é que eu não tenho mais nenhum familiar vivo, e lugares como esse me fazem esquecer da solidão. Eu gosto muito desse lugar em específico porque eu sei que sempre quando você sair da escola, você vai conseguir me enxergar admirando o mar."

O Nagumo suspira e continua a falar.

"Quando você não conseguir mais falar comigo, será neste local onde suas memórias sobre mim serão relembradas."

O Ayato fica por um tempo admirando a vista.

"O mar está lindo hoje, você não acha, Unten?"

Com um sorriso no rosto, ele responde: "Está sim."

Logo após, um menino começa a chamar o garoto que acompanhava o Nagumo.

"Ayato! Vamos andar juntos até nossas casas?"

"Pode ir com ele, eu já vou voltar para minha casa daqui a pouco de qualquer jeito.", diz o Nagumo enquanto sorria ao Ayato.

"Se está tudo bem, então eu já estou indo. Obrigado senhor Nagumo, boa noite a você."

Ayato se afasta do Nagumo e corre em direção ao garoto. No final, os dois amigos vão andando em direção às suas casas.

"Este lugar é tão bom de ficar apenas observando, acho que nunca irei enjoar dessa vista."

Dia 8 de Abril de 2024, o dia em que o ensino médio finalmente começaria. Mas por conta de imprevistos, cá estou eu, fora da cerimônia de início do ano letivo.

"Ayato, pode vir, já começou."

"Estou a caminho."

Eu e minha irmã começamos a andar pelo templo em direção ao velório. Ela, que está com uma cara séria desde que chegamos a este lugar, fica pensativa por um segundo e logo depois para de andar.

"Eu fiquei me perguntando desde aquele dia, por que você não chorou com a morte dele? O senhor Nagumo foi a primeira pessoa próxima à nossa família a falecer, mesmo que não éramos relacionados por sangue."

"Suspiro… Bom, eu apenas acho que a sua morte foi por um bem maior. Se não fosse pela bravura do senhor Nagumo, muitas pessoas, incluindo nossos pais, poderiam ter morrido naquela noite. É claro que eu estou muito triste, mas se ele quis se sacrificar pelo bem da maioria, não podemos julgá-lo."

Que nem a minha irmã, decidi que colocar uma imagem minha mais responsável seria a melhor escolha, mas minha vontade de chorar é tão grande quanto a de todos no funeral. Talvez até mais, considerando que eu convivi mais com o senhor Nagumo do que o resto da minha família.

Se ele não tivesse morrido pelo bem maior, ou seja, meus pais, eu provavelmente já teria chorado pelo menos alguma vez. 

Não diria que sou uma pessoa sensível, muito longe disso para ser sincero. Mas o senhor Nagumo foi uma pessoa extremamente importante para mim.

"Se você pensa assim, então não tenho o que fazer.", ela disse para mim. Continuamos andando até chegar ao local do velório.

O lugar está praticamente vazio, consigo contar o número de pessoas aqui com os dedos das minhas mãos, considerando que o senhor Nagumo não possuía nenhum parente. Essa solidão que ele tinha enquanto ainda estava vivo reflete o sentimento de todos os presentes neste velório.

Todas as pessoas ficaram com a cabeça abaixada, sentindo luto durante toda a cerimônia. Talvez por esses motivos, e também pelo fato do lugar estar silencioso, que o velório terminou mais lentamente do que a realidade, mas não houve nenhum imprevisto independentemente. 

Todos os presentes, incluindo eu, prestamos homenagens ao senhor Nagumo, que na maior parte estavam relacionados a seus atos heróicos naquela noite. Eu poderia acrescentar muitos outros detalhes que faziam a vida dele ser considerada mais importante para nós, mas meu discurso ficaria estupidamente longo se isso se concretizasse.

Depois da cerimônia, fui em direção ao corpo do senhor Nagumo, que seria cremado amanhã, logo após a segunda cerimônia funerária.

"Agora que você está morto, minhas palavras não conseguem te alcançar mais. Eu diria que precisava de alguém como apoio emocional para mim, mas depois de tudo que você me ensinou talvez eu não precise mais de algo do tipo. Você vai ser lembrado por nós, eu juro. Muito obrigado por tudo que você fez para mim e para a minha família ao todo. Este é o nosso último adeus, senhor Nagumo."

O senhor Nagumo morreu por causa do excesso da inalação de gases tóxicos, e ficou em coma por quase uma semana antes de falecer. Enquanto ele estava em coma, ainda havia esperanças na vida dele, mas infelizmente, sua volta não se concretizou.

Minha irmã, que estava por perto de mim no momento, apoia levemente seu braço em meu ombro.

"Vamos embora, o velório acabou."

Ela tenta sorrir, mas uma única lágrima que caiu dos olhos dela mostra o quanto que minha irmã se esforçou para ficar satisfeita das despedidas da cerimônia.

Mas eu ainda não estava satisfeito, senti que ainda precisava fazer algo para encerrar o velório completamente.

"Podem ir sem mim, eu tenho coisas a fazer depois disso."

"Sério? Então vou avisar aos nossos pais sobre isso. Até mais tarde, Ayato."

Minha irmã anda lentamente em direção a saída para se encontrar com os meus pais. Os três vão embora, enquanto eu decido ir em um caminho diferente.

Tal caminho me levaria exatamente no local que gostaria de visitar mais uma vez.

"Pensava que não demoraria tanto para chegar naquele lugar." 

O lugar que quero visitar é naquele banco com vista para o mar que o senhor Nagumo sempre ficava.

Eu lembro de tantas memórias naquele lugar, mas acho que seria bom se eu fosse lá mais uma vez.

Enquanto eu caminhava, me lembrei que do lado do banco, havia a minha antiga escola. Este era um outro lugar que gostaria de ir. Depois de tudo que aconteceu, seria interessante tentar encontrar a raíz do problema.

Depois de andar bastante, finalmente chego na escola. Ela está completamente destruída, seus poucos pedaços que restam estão em péssimo estado e provavelmente serão descartados. 

Logo quando ocorreu o desastre, havia diversos policiais e bombeiros na área, impedindo os civis de entrarem na escola enquanto investigavam a causa desse transtorno. O resultado foi dado como inconclusivo, e as autoridades pararam de vir a este lugar por enquanto.

Eu gostaria de investigar essa escola, considerando que o desastre foi muito maior do que qualquer problema não intencional poderia ter causado.

É inesperado da minha parte invadir o terreno dessa escola em ruínas, mas resolver mistérios é algo muito interessante para mim.

Eu entro na minha antiga escola, e começo a procurar evidências em todos os lugares mais plausíveis de ocorrer acidentes.

Fiquei procurando por bastante tempo, mas depois de vários minutos, finalmente encontrei algo que eu não sabia que existia dentro dos limites da escola. Era um porão, que estava diretamente ligado à sala do diretor. 

A entrada do porão, que foi revelada por causa da destruição da escola, estava intacta e muito bem escondida. Eu entrei no porão e usei a lanterna do meu celular para enxergar melhor no escuro.

"Hã, o que é isso?" Depois de entrar em um dos quartos do porão, percebi que estava pisando em cacos de vidro.

"Esses vidros, por que eles estão quebrados, sendo que o porão inteiro está completamente intacto? E não é apenas vidro comum, são cacos de espelhos…"

Considerando que o porão está intacto, ao contrário do resto da escola, como pode haver um espelho quebrado aqui? Não consigo nem encontrar alguma moldura por perto.

Eu pego um pedaço quebrado do espelho, mas fica muito difícil examiná-lo sem uma fonte de luz mais potente que a do meu celular. Então a próxima coisa que tento procurar é um interruptor, que eu facilmente encontro com a ajuda da minha lanterna.

As luzes foram ligadas, mas ao contrário do que pensava, o porão continuou parcialmente escuro. Percebo que por mais que alguns dos pedaços do espelho estavam no chão, a outra parte estava em cima de uma outra estrutura. 

"O que é isso? Parece uma pequena mesa. Será que o vidro estava aí antes de ser quebrado?"

Esta mesa é um tanto quanto sofisticada para usar apenas um espelho como decoração. Ela é feita de pedra e com detalhes altamente únicos e bem-feitos. 

Enquanto eu investigava essa tal 'mesa', eu escutei severas vozes irreconhecíveis de longe.

"A porta do porão está aberta, alguém deve ter entrado!"

"Droga, droga, droga…", foi exatamente o que eu disse. Havendo a possibilidade de me encontrar, o número de possibilidades que posso escolher diminuíram bruscamente. 

As pessoas estão se aproximando desse lugar, p… preciso pensar em a… algo.

"Cuidado a todos, não sabemos ainda quem está lá embaixo!"

"E… eu não… consigo fazer nada."

Novamente, o meu medo me impede de fazer qualquer coisa. Estou paralisado, não consigo me mexer. Não consigo pensar direito, não consigo falar direito, não consigo respirar direito.

Se tivesse algo que eu pudesse fazer… eu…

"Vamos, vamos! Ele deve estar no quarto do espelho!"

Minha mão, que estava segurando uma parte do espelho quebrado, começa a inconscientemente apertar com força o objeto.

"D… droga."

Minha mão começa a sangrar bastante por causa do vidro.

A ferida causada me deixou um pouco menos nervoso, provavelmente por causa da mudança de atenção das pessoas para a minha mão ensanguentada.

"A… agora eu consigo pensar… em algo."

Eu só fui perceber posteriormente, mas enquanto minha mão continuava a segurar o espelho quebrado, o mesmo começou a brilhar mais de pouco em pouco junto com todos os seus outros pedaços.

"O… o que está acontecendo!?"

Os espelhos começaram a brilhar tanto que ficou impossível observá-los. O porão que antes estava meio escuro, ficou completamente claro. 

Os pedaços começaram a propagar diversas cores diferentes na luz, praticamente como um arco-íris. Não pude fazer nada pois estava extremamente difícil de enxergar.

Apenas consigo ouvir os passos das pessoas que estão procurando por mim, eles estão ficando cada vez mais altos.

"Q… que luz é essa? Será que ele ativou…", um deles cita aos outros com um tom de desespero e preocupação.

A última coisa que percebi com os meus sentidos foi uma grande explosão. Logo depois, um grande vazio tomou conta. Eu não sentia mais nada, não conseguia enxergar, meus pés estavam flutuando e não conseguia ouvir mais nada. Por alguns segundos, foi exatamente isso que senti, absolutamente nada.

De repente, meu corpo finalmente pôde ter algum apoio. Eu fiquei ajoelhado por um tempo, enquanto eu tentava processar o que havia acabado de acontecer comigo.

Minha visão também voltou, mas eu só conseguia ver uma luz forte no meio da escuridão, essa luz é completamente diferente da que eu experienciei faz pouco… tempo…

"Hã? O que aconteceu? Por que estou aqui?"

Por algum motivo que eu não me recordo, estou neste lugar…

Eu viro a minha cabeça à direita, para perceber que tem algo de muito errado do meu lado.

A luz forte propaga sentimentos terríveis e depressivos aos meus olhos.

"O… o que é isso? Como isso… pôde acontecer?"

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