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Capítulo 20

Princesa Shahnaz POV:

Tem sido uma árdua luta diária de recuperação, mas posso dizer que enfim chego ao meu peso ideal e me considero recuperada de toda aquela guerra contra a família Khani, o curandeiro real atesta isso. 

Finalmente minhas vestes já são as mesmas de antes, assim como a aparência, contentando a todos, em especial a exigente grande esposa real, que quer uma filha cuja beleza siga os seus padrões, que são altíssimos. 

Sobre o treinamento de guerra, sempre quero mais, nunca me considero o suficientemente capaz ou bem treinada, pois excesso de segurança em campo de batalha pode significar a morte, essa lição está muito bem aprendida. 

Estranho o comportamento pacífico do Imperador, que parece ter murchado para guerras desde a morte do general Faridoon, ainda precisamos avançar e conquistar mais territórios e defender os nossos, afinal há especulações de que os gregos se aproximam.

Por muitas vezes sigo a treinar e cavalgar com o Imperador, atividades que sempre costumamos a fazer desde os meus doze anos, mas para a caçada, sempre leva Mirza com ele.

Continuo com meus passeios no jardim, nos momentos de lazer, gosto de apreciar a paisagem e ler algo à sombra de uma árvore, com minhas damas ao meu lado.

Peço a permissão e conquisto o direito de passear pelas ruas e comércio de Persépolis, desde que acompanhada por soldados especialmente selecionados pelo general, então em um belo dia, decido ir com Gatha e Madge e nossas damas. 

Colocamos nossas capas e seguimos pelo comércio local, vemos o modo como anda o nosso povo, de maneira mais simples e rústica, todos nos olham, mesmo com o véu cobrindo parte dos nossos rostos, parece que sabem quem somos e nos tratam com deferência. 

Sentimos os perfumes das flores, olhamos os belos tecidos e escolhemos alguns, assim como as essências que nos agradam e nossos servos vão atrás pagando sem contestar o preço, paramos quando vemos um homem que consulta as estrelas.

— Deseja saber a sua sorte, Lady dos belos olhos negros? – ele diz para mim.

— Como pode ver a sorte das pessoas? – Gatha pergunta.

— São os astros que me dizem. – ele diz.

Vejo que elas se interessam.

— Que pode dizer para mim? – Madge diz e lhe dá uma moeda.

— Que irá se casar em breve e terá dois filhos. – ele diz.

— Isso todos podem prever. – ela diz e ri.

— Sobre o meu futuro o que dirá?

— Que seu marido virá de uma terra recém conquistada. – ele diz e Gatha se surpreende.

— Diga sobre o futuro dela. – ambas pedem e ele me olha.

— Deseja saber, Lady? – ele pergunta e eu assinto e lhe dou uma moeda, mas ele me devolve.

— És a glória e o orgulho dessa terra, suas batalhas te fortalecerão e sua vitória será o amor. – o homem diz e me faz uma reverência. 

— Se me permite um conselho... Hienas andam ao seu derredor com a intenção de lhe aniquilar, contudo és a leoa astuta e estrategista que saberá lidar com tais intentos e os debelar na hora exata. – ele diz.

— Não me fale em parábolas, me diga quem são. – peço.

— Reflita e Vossa Alteza saberá. – ele diz.

Ouvimos um barulho e olhamos para o lado e quando voltamos a olhar para a sua barraca, o astrólogo não está mais.

Retornamos para o forte e sigo pensando em tudo o que acabo de ouvir. 

 

O Narrador: 

Behrooz e Morvarid estão vivendo bem e se entendem razoavelmente, exceto pelas necessidades da mulher de atenção e carinho todo o tempo. Ninguém avisa ao homem que o casamento há de ser assim, com alguém cujos interesses sejam tão diferentes e fúteis, afinal o homem precisa de algum espaço e diversão, não ficar preso a apenas a sua consorte, por mais que ela seja bonita e adorável.

Por outro lado, Morvarid sente-se solitária, deseja ter a companhia e o amor de seu marido, que a deixa na alcova ou no harém a maior parte do tempo, para ir ter com seu pai ou os nobres do palácio. Qual será a sua culpa? Terá feito algo para desinteressar o marido? Precisa engravidar logo para prendê-lo. 

Ksathra e Ghoncheh vivem tempos agradáveis e se entendem bem, pelo menos na cama, já que fora dela começam algumas divergências com poucos dias de casados. Ela exige que ele permaneça mais tempo na alcova ao seu lado ou a leve em passeios, mas Ksathra informa que cumpriu os primeiros sete dias e que agora seu dever é para com o império, devendo estar nas reuniões e compromissos com os demais homens, sobrando-lhe tempo, dedicará à família, mas Ghoncheh não aceita as sobras, deixando o marido irritado, fazendo-o repensar o motivo de seu casamento.

Ghoncheh apenas quer um tempo de qualidade com seu marido, quer demonstrar todo o seu amor e carinho, dedicando-se a cumprir seus desejos e vontades e não sendo depositada como um objeto qualquer no harém a maior parte do tempo, enquanto ele está com os homens ou nobres do palácio. O que terá feito de errado? Por que seu marido não está tão interessado por ela quanto nos primeiros dias? Talvez se engravidasse, ele voltaria depressa para seus braços.

No decorrer de todo esse mês, por várias vezes Shahanshah tem chamado uma concubina pelo nome, Aisha, convida para estar com ele e Vashti na sala do trono durante as reuniões, a leva para passeios e para seu leito por muitas vezes, deixando a grande esposa real realmente irritada.

Shahanshah corteja Aisha enviando joias e vestidos para o harém, quer ver sua concubina cada vez mais feliz e consegue, enquanto desperta sem saber a fúria de Vashti.

— Ele não pode pensar em se casar novamente, eu não vou permitir. Essa mulher está se tornando perigosa. – a Imperatriz diz.

— Mas ela jamais tomará o seu lugar, grande esposa real, nem dos seus herdeiros, ninguém pode ser como a poderosa Vashti. – Dara diz.

— Eu tenho que fazer alguma coisa e depressa. – Vashti diz. 

Aisha anda pelo harém, protegida por Azar, que um dia foi uma das concubinas preferidas do Imperador. 

De repente todas se alegram porque chega um carregamento de tecidos e joias vindos da Índia, todas correm para ver e separar as peças que mais lhes agradam. 

Atefeh aproveita a distração de todos e suborna um eunuco para que entregue a sua mensagem e um frasco ao nobre Omid sem demora. 

Então o eunuco bate na porta da alcova do nobre e entrega a mensagem e um frasco, que agradece e o dispensa, em seguida abre o pergaminho e lê.

"Nobre Omid,

É chegado o momento da ascensão de Ahriman, devemos continuar com o nosso plano e assassinar Babak e culpar Jaleh, lhe envio um frasco com veneno, deve por o conteúdo dele na taça do nobre conselheiro e eu ficarei com o outro e porei no baú da alcova de Jaleh, onde o general e os soldados encontrarão em sua busca. 

Ouvi dizer que haverá uma festa na sala do trono amanhã, momento propício para tal acontecimento.

Atefeh."

Escreve uma mensagem, sela e envia por um eunuco, pede para seja discreto.

Dara está junto com as mulheres escolhendo os tecidos quando o eunuco vem e chama Atefeh, que vai discretamente em sua direção, pega o pergaminho e pede que aguarde a resposta. 

"Senhora Atefeh,

É uma estratégia tão ousada quanto perigosa, devo saber o que tenho a ganhar com tal plano?

Não posso me arriscar diante do Imperador sem que eu tenha um motivo apropriado para tamanha afronta a seu poder. Além do mais, por que Jaleh e não a grande esposa real é seu alvo? Sabes que a acusada será julgada e assassinada pela morte de Babak. 

Sim, será uma celebração amanhã, ocasião perfeita para o seu intento.

Omid."

Lê, pega o papel e pena e escreve rapidamente a sua resposta para enviar pelo mensageiro.

"Nobre Omid,

Sua recompensa neste momento é em joias e ouro, que muito tenho lhe dado, além disso, terá o cargo de conselheiro especial quando meu Ahriman subir ao trono, que sucederá em breve. 

Quero me vingar primeiro de Jaleh, em seguida de Vasthi, ainda temos muito o que fazer, por isso cumpra seu dever. Atefeh."

— Que estás fazendo que não vem aqui, Atefeh? – Dara diz, dandolhe um susto.

— Já estou indo. – ela diz.

Todas se alegram com os presentes e fazem novas encomendas de vestidos, camisolas e outras peças à costureira real, experimentam as joias e os adornos para os cabelos e véus, sentem-se ainda mais lindas. 

Conversam e se deliciam com o chá da tarde, depois dançam e cantam até o entardecer.

Todos se reúnem para o banquete, o Imperador informa sobre a celebração na sala do trono amanhã para reunir os nobres e os grandes comerciantes da região, todos deverão estar presentes, inclusive as esposas secundárias e Aisha, para a revolta de Vashti. 

Terminam a refeição e retornam para suas alcovas e repousam, afinal o dia de amanhã promete ser bem agitado.

Shahanshah solicita Aisha mais uma vez essa noite e juntos tem uma noite bem prazerosa e divertida, só a dispensa pela manhã porque precisa se arrumar para ir ao salão do banquete.

Então ele segue para o quarto de banho, se arruma com a ajuda dos servos e vai ao encontro da família e dos nobres, assim que terminam a refeição, segue para a sala do trono.

Resolve as questões que lhe exige atenção no decorrer do dia, como julgamentos e questões simples do povo, resoluções sobre propriedades, impostos, plantações, comércio e família. 

Todos temem Shahanshah, mas também o admiram por seus feitos. 

Quando vai chegando o fim da tarde, o Imperador sai da sala e vai se arrumar para a celebração, põe suas vestes vermelhas e douradas e caminha em todo o seu esplendor de volta ao seu trono. 

No harém, todas as damas estão arrumando suas senhoras há muito tempo, cuidam de deixá-las ainda mais lindas, perfumadas e enfeitadas. Bibiana veste rosa, Etty roxo, Madge bege, Gatha verde, Ghoncheh magenta, Morvarid lilás, Vashti vermelho e dourado, Shahnaz azul e dourado, todas com seus vestidos longos, acinturados e bordados, com véu da cor de sua roupa, adornadas com anéis, brincos, colar e pulseiras, mas somente a grande esposa real e a Princesa com suas coroas. 

Veem-se que os nobres estão na sala e o Imperador assentado em seu trono, um banquete está servido e os servos estão bem trajados prontos para servir, os convidados e suas consortes já se espalham por todo o ambiente, quando todas as damas são anunciadas e entram logo após a grande esposa real, causando comentários entre as damas de Persépolis.

— Veja só como é linda a Imperatriz, bem que realmente disseram que a sua beleza é avassaladora. – uma diz.

— Vejam a Princesa, lindíssima como a sua mãe. – outra diz e muitas concordam.

Então a celebração tem início e os comerciantes começam a ser apresentados um a um pelo Sátrapa Feroze Azimi diante dos Imperadores. 

— Esse é o nobre Javed, um rico comerciante de joias, que exporta para toda Pérsia e Egito. – Feroze diz. 

— Muito prazer conhecê-lo, Javed. Pode se tornar fornecedor para seu Imperador. – Shahanshah diz.

— Será a maior honra da minha vida, Majestade. Se minhas peças agradarem. – Javed diz, realmente alegre.

— Esse é o nobre Delshad, um ourives, que tem trabalhado apenas em Persépolis. – o Sátrapa diz.

— Prove-me que seu trabalho é digno de um artesão real e trabalhe em meu palácio. – Shahanshah diz.

— Eis uma de minhas peças no pulso da Princesa. – ele ousa dizer e todos olham para Shahnaz, que tira imediatamente o bracelete e dá para o Imperador analisar.

— Traga suas coisas e família, será ourives no palácio a partir de agora. – o Imperador diz e Delshad comemora. 

Feroze continua apresentando outros comerciantes ao Imperador, enquanto a celebração prossegue, os servos vão enchendo as taças de vinho e os nobres conversam uns com os outros. 

 

General Jahangir Azimi POV:

Não há como descrever o tamanho da minha felicidade ao ver a recuperação completa da minha Princesa.

Foi mesmo uma temeridade Shahnaz ter optado pela veracidade do nosso plano, mas compreendi que essa era sua única alternativa e também a mais desesperada, que quase a levou, embora sua alma sempre tenha sido de guerreira, que nunca se deixa vencer e por isso nunca conheceu a derrota. 

Eu a admiro muito por tudo o que é, por sua força e destemor. 

Mesmo quando ainda estava fraca, seguia nos treinamentos, correndo, fazendo treino de força e todos os duelos como qualquer guerreiro, caia e levantava muitas vezes, era golpeada, mas insistia e atacava seu oponente, que por muitas vezes era eu. Queria ser mais suave com ela, mas Shahnaz não admitia, exigia que seu treino fosse tão pesado quanto de qualquer outro soldado. 

Eu louvo a sua coragem e persistência. 

Em meio aos meus desafios, na trincheira, diante dos rebeldes e pronto para atacar ou ser atacado, abater ou ser abatido, são os pensamentos das guerras e batalhas ao lado de Shahnaz que me vem à mente, seus conselhos, estratégias e apoio. 

Valorizo minha posição como general do exército imperial, desempenho minhas funções dando tudo de mim, da minha lealdade, vigor, com a missão de proteger o Imperador e império com a minha própria vida e o farei enquanto fôlego eu tiver.

Dedico-me em tempo integral ao império, do amanhecer ao anoitecer, sem sequer ter um dia livre e não me queixo porque é a minha responsabilidade e dela não posso descuidar um só momento. 

Hoje acontece uma celebração na sala do trono, visto minha farda especial, dou as últimas instruções aos soldados que ficarão de guarda essa noite, distribuo os fardamentos e todos seguem para seus postos, checo toda a segurança dentro e fora do forte e entro.

Na porta da sala do trono estão os guardas e em seu interior também, todos armados, observo tudo com cautela e só então vejo as pessoas bemvestidas diante de mim, os nobres que já conheço e suas consortes, comerciantes de Persépolis e papai e mamãe... O que fazem aqui? 

É verdade, ele é Sátrapa, sem dúvida é convidado e sorriem para mim. 

Vejo a Imperatriz, Príncipe Mirza e Shahnaz, tão maravilhosamente linda esta noite.

Observo o comportamento expansivo de Feroze Azimi, apresentando todos os comerciantes ao Imperador, ajudando a promover bons negócios.

 

Princesa Shahnaz POV:

Opto por me arrumar no harém, junto com as outras mulheres, tomamos banho, Lila, Pari e Zena, massageiam meu corpo com óleo e logo servas vem trazendo meu vestido, adornos, calçado e véu, minhas damas me vestem e enfeitam meus cabelos e colocam o véu por cima, coloco as sapatilhas, joias e coroa. Logo estou pronta para a celebração.

Chegamos todas juntas à sala do trono, trazendo alguma agitação entre os convidados.

Algum tempo depois caminho pela sala do trono e vejo que a Senhora Banu Azimi está presente, me cumprimenta com uma reverência e sorriso. 

— É uma honra ver a mãe do meu amado aqui. – digo e olho discretamente para os lados.

— É uma honra ser a mãe do seu amado, Alteza. – ela sorri e sussurra.

— Como vão a Senhora e o Sátrapa Feroze Azimi? – pergunto.

— Muito bem, Alteza. Sabendo que nosso menino está bem é o que basta para esse coração de mãe e para seu pai que tanto o ama também. – Banu Azimi diz.

— General Jahangir é um homem muito importante e precioso para todos nós, Senhora Banu. – digo. 

— Para o general é relevante ser precioso para uma só pessoa. – Banu Azimi diz.

— Nada se compara ao seu inestimável valor para ela. – digo, fazendo referência a mim, tentando ser discreta e sei que ela me compreende.

— Sabes que seu compromisso é real e verdadeiro e que ele luta por isso árdua e diariamente, mesmo que não tenha uma data firmada. – Banu Azimi diz.

— Sua esperança e fé estão alicerçadas nessa promessa. – digo.

— Sinto que esse amor será eterno. – ela diz.

— Assim como a devoção e a lealdade. – digo. 

— Percebo que as duas belas damas da minha vida se encontraram mais uma vez. O que tramam? – Jahangir sussurra quase de costas e nós duas sorrimos. 

— Minhas tramas não podem ser descobertas, apenas reveladas tardiamente por alguém de máxima confiança, general. – digo, peço licença e saio sorrindo.

 

O Narrador: 

Shahanshah põe Aisha sentada à sua esquerda, enquanto Vashti está à sua direita, conversa com os comerciantes e vez por outra dedica atenção à concubina. 

Enquanto isso, as esposas secundárias andam pela sala do trono curiosas com o movimento e desejando conversar com as pessoas, afinal quase nunca saem do harém.

Atefeh procura por Omid e discretamente sinaliza para ele, que já sabe o que ela quer dizer, então ela sai de perto e vai conversar com Bibiana e Etty.

São diversas conversas paralelas enquanto os músicos tocam suas melodias e canções para distrair a todos, então os Imperadores determinam que um grupo de dançarinas venha entreter os convidados e os divertem por um determinado tempo com uma dança tão adorável quanto sensual, chamando a atenção dos homens e deixando algumas mulheres enciumadas, em especial as recém-casadas.

Conforme a noite vai avançando, Atefeh se mostra impaciente, como não pode sair da sala do trono, precisa subornar um servo para ir ao harém e esconder o frasco nas coisas de Jaleh, mais precisamente em seu baú, seguindo as suas recomendações. 

Assim que o servo retorna, Atefeh dá um jeito de fazer um sinal para Omid, que decide retirar o frasco de sua roupa discretamente, pega uma taça e despeja todo o veneno, então coloca de volta na bandeja do servo e recomenda que entregue aquela taça nas mãos de Babak.

Ambos criam expectativa, mas evitam olhar para o local onde eles estão reunidos, o servo vai chegando perto dos nobres e um deles estende a mão para alcançar a taça e bebe tudo em um gole só, enquanto Babak pega uma taça e apenas a segura enquanto conversa, gesticula com ela na mão, mas não bebe, continua a falar sobre a província de Lídia e a vitória de Shahanshah sobre ela. 

— Babak, dê-me aqui esse vinho, já que não vai beber! 

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