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28. O que faço agora?

— Hmm... Não esquece que hoje à tarde assinamos o divórcio.

"Bem que eu queria esquecer, novamente..."

— Pode deixar, Hai. — Scarlet concordou, sem muito ânimo. Observou o rosto de Hailee que agora não estava mais tão feliz quanto minutos atrás. Ela estava sem óculos, o que a latina achava estranho, desde que lhe conhecia ela usava.

— Prefiro você de óculos. — Observou, enquanto Hailee continuava comendo pão.

— Eu tirei... Digamos que era meu "disfarce", mas eu não preciso usar mais com você, pelo menos. — falou. — Mas se quiser eu uso, e eu até gosto porque inibe minha "super" visão... — riu, fazendo aspas com os dedos.

— Nós ainda não conversamos sobre essas coisas... Hmm, de super herói e tal. — Scarlet falou, se virando de lado para Hailee. — Deveríamos fazer isso, mas agora tenho que me arrumar para o trabalho.

Sorriu para a elladiana, apesar de estar envergonhada por algum motivo.

— Eu também tenho. — Se aproximou de Scarlet. — Tchau.

Se inclinou para beijar o rosto latino. Tiveram um pouco de dificuldade no processo, não sabiam qual lado beijar, mas deu certo. Talvez tenha sido impressão de Scarlet, mas Hailee pareceu demorar mais que o necessário com a boca em sua pele. Não que Scarlet tenha achado ruim, nem um pouco na verdade. Scarlet sempre lhe amou, apesar de todas as mentiras. Sentia falta dos beijos, carícias, do modo como Hailee a vivia pegando de surpresa.

"Sinceramente não sei por quando tempo consigo não a agarrar nesse apartamento."

*****

Para começo de conversa Scarlet deveria nem ter ido, ou mentido que estava ocupada demais ou doente. Talvez até morrido. Foi tão rápido a finalização do divórcio que Scarlet nem pensou em como poderia fugir e não assinar aquele maldito papel. Hailee também não estava muito feliz com seu novo estado civil.

"Por mais que morasse junto com ela é como se faltasse alguma parte, minha metade..."

Entraram juntas no elevador, Hailee olhou e ergueu uma das sobrancelhas. Scarlet repetiu o ato e sentiu o pequeno cartão amassado do seu advogado esquentar em uma mão.

"Devo ou não entregar a ela?!"

— Como está se sentindo? — Hailee perguntou, não muito alto.

— Hmm... Vazia?!

— É. O que um pedaço de papel não faz com o psicológico de duas pessoas?! — tentou fazer uma piada e no final mordeu o lábio sem graça.

Deu um passo para frente e levantou a mão para entrega-la o papel, encarou os olhos por trás dos óculos. Scarlet pegou na mão direita de Hailee e abriu para colocar o papel lá. O elevador parou e as portas se abriram, fazendo-a recuar.

"Se ela quisesse algo comigo não teria assinado aquele papel."

Saiu do elevador por mais que aquele nem fosse o andar certo. Amassou ainda mais o papel e o jogou em qualquer lugar, sem se importar. Sentia o peito arder e achou que pudesse morrer nas lágrimas que queriam a todo custo correr pelo rosto. Scarlet só pensava se o que estava escrito teria mudado alguma coisa. Hailee mal viu Scarlet sair do elevador, mas tinha que agradecer ao seu corpo por ter entrado em piloto automático e ter saído de lá para seguir a mulher e ver o papel que ela iria lhe entregar. Desamassou o papel e viu que era do advogado dela, e depois leu o que reconheceu ser escrito por Scarlet, em sua caligrafia desleixada.

— Há dois corações no chão... Um meu... Ambos seus. — Leu em voz alta e engoliu em seco. — Nunca vou deixar de te amar, Lua.

"Ela devia ter me entregado isso!"

Olhou em volta à procura de Scarlet e não viu em lugar nenhum. Correu para as escadas e nada. Na rua também não. Correu até o primeiro beco que viu e pegou impulso para voar indo para o apartamento. Esperou uma, duas, três horas e nada. Acabou dormindo no sofá. Ligou para Olivia, já que Jill e ela não estavam se falando.

"Olivia não sabe ou não quis dizer onde Scarlet se meteu, mas me disse que ela havia avisado que estava tudo bem, só queria ficar sozinha... Eu queria tanto poder vê-la!"

Scarlet não apareceu pelos próximos três dias. Isso estava matando Hailee. Não queria viajar sem dizer que também a amava, na verdade se ela aparecesse nem viajar Hailee iria. A elladiana devia ter prosseguido com o que iria acontecer na noite de natal. Na verdade, não sabia... Tem momentos que acha que sim, mas depois pensava que talvez seja bom para as duas começarem tudo do zero. Esperou o quanto pôde, ansiosamente, pela volta de Scarlet para o apartamento, mas ela não apareceu, então Hailee teve que ir para o aeroporto.

Deixou um "papel perdido" para ela no apartamento, com um poema. Foi como tirar um peso das costas, um desabafo e uma declaração.

*****

Scarlet chegou no apartamento, pegou o controle na mesa de centro e ligou a TV, um papel lhe chamou atenção, mas não o pegou. Sabia que Hailee já havia viajado, então não seria tão difícil estar no apartamento. Gandhi logo veio vê-la já que não aparecia ali tinha alguns dias.

"Não é o primeiro roubo de dinheiro dos cofres de grandes milionários e provavelmente não será o último..."

Se sentou no sofá e Gandhi pulou em seu colo para que fizesse carinho nele.

"As investigações já vem acontecendo a muito tempo, e a polícia não tem muitas informações, sabem que se trata de uma mulher, mas não sabem as características dela."

— Ai, Gandhi, não sei o que fazer...

"Após os roubos a ladra sempre deixa um bilhete com um H assinado e uma marca de batom... Essas são as únicas informações que temos por enquanto."

— Sei que não vou ficar assistindo um jornal, falando de milionários perdendo dinheiro!

Desligou a TV com o controle e levantou com Gandhi em seu colo. Colocou o controle de volta na mesa de centro e outra vez o pequeno papel lhe chamou atenção. O pegou e caminhou em direção ao quarto de hóspedes, o seu no momento. Leu aquele papel e deixou Gandhi cair. Ele miou nem um pouco satisfeito e se afastou.

Novamente leu o que estava no papel e se deu conta do quão burra Hailee e ela foram.

Dói

Em Mim

em ti

Em nós.

E nós?

O Que somos?

Capazes de amar?

Impossíveis de acabar? Incapazes de ser?

Ou apenas dor?

Talvez, meu bem

Nós somos como

O sol e a lua

Que se respeitam

Se uma apaga

Deixam que o outro brilhe

E quase nunca se encontram

Mas apesar do brilho

Da escuridão

Ou do sangue

Causam inveja o suficiente

Para que até

O mais amante dos apaixonados Se deixe ser levado

Por nós.

— De sua Lua...

"O que faço agora?"

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