Claire consegue chegar mais perto de Daniel e, num impulso, enquanto derramava lágrimas, lança todas as suas adagas no canibal com força total, porém, para a surpresa dela, o Ghoul larga o corpo do atirador e, mesmo que algumas das lâminas tenham penetrado em seu corpo, ele não parecia se importar, e avança com tudo na direção da morena. Mesmo que ficasse claro que ela não conseguiria escapar, Claire tenta se jogar para o lado.
A singular só sobrevive porque vários tiros vindos de trás dela são escutados, Ethan disparou nos membros e cabeça do Ghoul, errando somente o da cabeça. Mas, justamente por ter acertado os braços e pernas do canibal, ele recebeu um baque que o impediu de acertar Claire em cheio com as garras.
A singular olhou para trás e viu o garoto com as pistolas miradas, bastante ofegante e suando de nervosismo, porém com menos temor que antes. Mas como até mesmo ele previa, isso não foi suficiente para parar o Ghoul, que se virou para tentar pegar Claire novamente, que com ódio e tristeza no olhar, cruza seus braços e os abre. Isso faz as adagas que estavam presas no tronco do canibal se moverem e rasgarem o corpo dele até chegar nos braços e os cortar no processo, jorrando sangue e manchando-a toda.
Com essa distração a mais, Claire conseguiu rolar para o lado e desviar de uma investida do Ghoul, mas, antes que ela conseguisse raciocinar, a morena só viu uma boca aberta chegando perto de seu rosto. Para a sorte dela, Mary conseguiu chegar a tempo e, como um relâmpago, empurrou Claire para o lado e colocou seu braço direito na frente do rosto. O canibal mordeu com tudo, mas apesar de ter fincado os dentes, não foi capaz de dilacerar ou sequer chegar no músculo da albina, o que surpreende a morena. Todo aquele equipamento que ela tinha no braço direito não parecia ser uma simples munhequeira e ombreira.
Mary sequer demonstrava medo, seu olhar era o mais puro foco de uma assassina. Para finalizar, David chega rapidamente atrás do Ghoul, deslizando por uma superfície de gelo. O singular gélido então segura o pescoço do canibal e este vai ficando com uma cor pálida e depois azulada, até que sua pele fica com uma textura cristalizada de gelo. David então aperta o pescoço congelado e ele se quebra, fazendo a cabeça do Ghoul cair no chão e se espatifar em cristais.
Finalizado essa questão, o grupo respira um pouco melhor agora. Mary guarda sua katana após limpar o sangue nela e em seu rosto, os respingos em sua roupa eram impossíveis de retirar, não que ela se importasse muito. Ethan recarrega suas pistolas e as coloca nos coldres, Claire ficava se sentindo uma inútil e chorava quando lembrava de Daniel, agora só um cadáver perfurado ali. Ela olha para o sangue que pingava de seu rosto e mãos, apertando-as com ódio.
David é o único que não para e cria um pilar de gelo para alcançar onde Lucy estava. A ruiva estava ainda de pé, porém com uma expressão de cansaço e ofegante, o ferimento em seu peito já estava fechado, porém sua camiseta não se regenerava que nem ela. O sangue em excesso no corpo dela ainda estava soltando vapor de tão quente que estava, e sua pele já estava na coloração mais clara novamente.
Lucy vê David e sorri. Quase apagando, ela estendia a mão para ele enquanto ele ia correndo na direção dela.
- Eu... Disse que conseguia... – E ela desmaia, caindo para frente, mas, antes de atingir o chão, David a segura nos braços, aliviado que ela ainda estava viva.
- Eu sei que você se regenera, mas não esquece de tomar cuidado. – David dizia enquanto carregava a ruiva.
Ethan se aproxima de Mary, ficando um pouco cabisbaixo, porém sua mestra coloca a mão em seu ombro e diz da maneira dela que o garoto já estava acostumado a ouvir.
- Foi um bom começo.
- Mas... Eu não acertei na cabeça. – Ele dizia ainda cabisbaixo.
- Seu treinamento ainda não acabou, lembra? Está aprendendo, foi um bom começo. – Ela em seguida se aproxima do corpo morto de Daniel e espera David chegar, carregando Lucy nas costas.
- Seu irmão idiota... Você prometeu que não ia me abandonar... – Claire dizia enquanto lacrimejava e segurava a mão de seu falecido parente. Ele nem mesmo teve chance de revidar, quem dirá uma morte honrosa, somente havia morrido de maneira brutal. David fica sentido pela morte de Daniel e pelo menos fica ao lado de Claire para ajudá-la no luto.
Ethan olhava um pouco mais de longe e agora parecia que ele tinha acabado de aprender o que é ficar triste pela morte de alguém, além de ter levado para o lado pessoal quando Claire citou "abandonado". Quando ele olhou mais ao lado, perto do estabelecimento em que Mary e David estavam fazendo a linha de frente, a albina estava ajoelhada, analisando o corpo da Ghoul que ela matou. Assim que o garoto chegou perto e se ajoelhou ao lado dela, ela começou a falar.
- Ethan, você já consegue sentir? – Mary pergunta para ele.
- Hm? Ah... Diferenciar as energias de cada singular? Mais ou menos... – Ele diz um pouco decepcionado, mas sua mestra logo retira aquela expressão do rosto do garoto.
- Não tem problema, ainda temos que praticar isso. De qualquer forma, você sentiu a energia vindo de trás, e sim, eu estava achando bem estranho, tanto essa daqui quanto os que estavam vindo por cima e por trás tinham energias diferentes dos Ghouls que encontramos na vila. – Mary aponta para as direções que citou, isso deixa Ethan confuso e um pouco intrigado.
- Eu... Consegui sentir na vila, os dois Ghouls tinham uma energia até que bem parecida. – Ethan responde.
- Sim, dá para ver a diferença da energia entre os Ghouls machos e fêmeas... Porém, todos esses que enfrentamos agora... Todos tinham a mesma energia. – Ela termina de falar e olha para Ethan, que observava um pouco assustado após a albina ter dito aquilo.
- Então... Esses aqui... Já estavam mortos antes de chegarmos? – O garoto começa a pensar bastante.
- Espera aqui um pouco. – Mary diz enquanto se levanta e vai na direção do estabelecimento próximo novamente.
- Mary, aonde você tá indo? – David falava alto enquanto chegava mais perto de Ethan.
A albina pega impulso, finca sua katana no chão e a utiliza como base para saltar mais alto e agarrar a beirada do terraço do estabelecimento. Curiosamente, sua espada nem sofre arranhões ou deforma, mesmo com todo o peso da albina.
Mary chega lá e encontra o corpo do Ghoul morto que Daniel havia atirado na cabeça, ela analisa o corpo dele até que repara em algo um pouco diferente: bem na nuca do canibal, havia uma espécie de corte de um lado ao outro da parte de trás do pescoço, porém, era muito redondo e preciso para ser um corte feito por lâmina, nem mesmo ela, com a experiência em espadas que ela tinha, conseguiria tal feito. Era circular ao ponto que parecia que uma esfera tivesse passado e arrancado um pedaço dali.
A albina começa a pensar em possibilidades de aquilo ser possível, de tantos poderes que ela já viu em sua jornada procurando os Heróis, quem teria algo parecido com esferas e que fossem precisas a esse ponto. Até que, após pensar por alguns segundos, ela arregala os olhos, pois ela sim já havia visto uma habilidade similar à aquela. Por um lado, ela sabia que isso a levaria para mais perto dos Heróis, porém, por outro, ela sabia em partes que aquele poder era perigoso a um nível que até ela, a Assassina de Heróis, temia.
Mary, após analisar isso, retorna para o chão e pega sua katana, voltando ao encontro do grupo. Claire estava ainda lamentando por Daniel, mesmo que os dois tivessem crescido com ensinamentos de tentar seguir em frente não importando o que acontecesse, na prática era mais difícil que na teoria. David estava sentado no carro destruído, servindo de apoio para Lucy, ainda desmaiada, e Ethan estava de guarda praticamente, com as pistolas em mãos.
- O que foi fazer lá? – David pergunta.
- Não temos chance, não agora. – Mary diz.
- O quê? – Praticamente todos respondem da mesma forma, até Mike do outro lado da linha.
- O buraco é mais embaixo do que pensam, eu tenho certeza que tem envolvimento dos Heróis nisso. Por mais que eu queira ir atrás deles, eu não estou a fim de fazer sacrifícios desnecessários. Eu recomendo recuarmos. – A albina diz, ajeitando sua máscara. Era visível que Claire havia ficado chocada com a decisão dela.
- Por que os Heróis estariam interessados em ir atrás de um grupo de Ghouls? Se esses aqui foram mortos por eles, então tentando torná-los armas é o que não estão tentando fazer. – David retruca.
- E se... Só querem usar a favor deles? – Ethan sugere.
- Não sabemos ainda, mas eu sei o quanto os Heróis são poderosos, nós apenas não vamos dar conta. – Mary responde.
- E o que sugere? Voltar? Acabamos de descobrir que os Ghouls estão chegando mais e mais perto da vila, se voltarmos vamos só dar mais brecha para eles terem um banquete. E ainda mais, por que os Ghouls ainda não atacaram? Duvido que não tenham escutado toda essa barulheira aqui fora. – David diz.
- Mas também, se tentarmos enfrentar eles agora, é morte certa. Mike, alguma sugestão? – Mary diz, e Mike demora um pouco para responder, tanto por estar pensando na morte de um companheiro, quanto na situação que a albina havia descrito.
- O que você acha, Bruno? – Ele pergunta para o líder, que estava ao seu lado e já havia escutado tudo por parte de Mike. Bruno respira fundo, anda calmamente pelo local e então clica no comunicador.
- Recuem, o melhor a se fazer agora que sabemos desses problemas é defender a nossa vila. – Bruno responde, mostrando que, apesar de ter que lidar com mais uma morte em seus ombros, continua firme.
- Certo, ouviram, o melhor é recuarmos. – Mary diz para todos ali, porém fica surpresa com algo atrás do grupo.
- Desde quando virou nossa líder? – David questiona e, ao perceber o olhar de Mary, também vira seu olhar e acaba percebendo que estava faltando um dos veículos ali, o carro em que Claire e Daniel vieram.
O corpo do rapaz ainda estava ali, porém nem o carro nem Claire estavam mais e, quando olharam para o lado que estava o prédio dos Ghouls, viram o veículo indo em alta velocidade na direção dele. Aparentemente Claire se utilizou de sua telecinese para ir sem ninguém perceber e tentar impedi-la.
Ethan tentou impedi-la, atirando com suas pistolas, porém não conseguiu atingir as rodas do veículo, então Mary e ele saíram correndo na direção de Claire. David se moveu um pouco mais atrasado porque estava carregando Lucy, que ainda não tinha acordado totalmente. Por não querer machucá-la, ele demorou para ativar seu poder e conseguir esticar a mão na direção do carro, conseguindo criar uma estaca de gelo do chão que perfura um dos pneus de trás do veículo.
Porém, nem isso foi suficiente para parar totalmente, o carro perdeu o controle e capotou, entrando por um buraco que tinha na base do prédio e parando somente ao colidir com um pilar de concreto. Claire chutou a porta do carro e saiu dele se arrastando, com vários cortes no corpo e algumas partes da camiseta rasgadas, ela se levanta cambaleando e Mary consegue chegar e agarrá-la por trás.
- O que pensa que está fazendo?! – A albina a questiona.
- Me larga, recuar uma ova! Eu vou é matar cada um desses canibais desgraçados! – Claire tenta se livrar de Mary, e ao mesmo tempo já empunhava suas adagas utilizando sua telecinese. – Venham aqui, me encarem seus animais! – Ela gritava para o alto, onde era possível ver alguns buracos no teto daquele andar do prédio.
- Ethan! – Mary chama por ele.
- Sim! – Ele tenta chegar o mais rápido que conseguia em Claire.
Ao mesmo tempo que Ethan responde, ele, Mary e Claire escutam um barulho enorme vindo de cima. Assim que levantaram seus olhares, a morena conseguiu se soltar e correr na direção oposta à de Ethan, já o garoto, assim que ouviu o barulho e olhou para cima, começou a tentar parar desesperadamente e retornar de onde veio. Vendo que não teria tempo para isso, em menos de um segundo Mary raciocinou que deveria ajudar Ethan, e foi o que ela fez.
Aquele barulho era o teto daquele andar do prédio, com cerca de 7 metros de altura, que havia levado um golpe vindo de cima dele e se desprendeu por completo, fazendo destroços enormes caírem na direção do chão.
Ethan ainda estava dando meia volta, não conseguiria correr a tempo de escapar e seria soterrado pelos escombros. Ele já estava fechando os olhos para aceitar a morte, porém, quando aquele pedaço enorme de concreto acertou o chão, o garoto percebeu que não estava esmagado e, assim que ele abriu os olhos, viu em sua frente uma moça alta segurando a ponta daquele destroço com as mãos. Mary conseguiu chegar mais rápido que o menino e segurar aquele pedaço enorme de construção. Mas, ao mesmo tempo, era visível que ela estava fazendo um esforço tremendo, principalmente no braço direito dela, o principal dela e também o que era cheio de equipamentos.
O garoto fica surpreso com a força de sua mestra, mas logo percebe que ela estava até agora dando sinal para ele sair debaixo daquele escombro. Ethan corre e consegue enfim estar fora do alcance do concreto e Mary solta com tudo aquele pedaço, até mesmo levantando poeira.
- Desculpa... – Ethan recupera o fôlego enquanto ficava cabisbaixo.
- Esquece isso, fez bem em entender a situação rápido. – Mary diz enquanto não tirava seu foco da entrada do prédio. Isso deixa o garoto um pouco mais feliz, e a atenção dele novamente volta para a entrada em que, conforme a poeira vai abaixando, vai sendo possível ver os destroços no local, mas nenhuma visão de Claire ainda.
- Ei, vocês estão bem?! – David chega por trás, segurando a mão de Lucy, que, apesar de ainda um pouco zonza, estava acordada enfim. – Cadê a Claire? Por que ela fez isso?
- Ela não conseguiu conter a própria raiva e achou que, se nenhum de nós fosse, ela iria sozinha. – Mary já se preparava para empunhar sua katana, prevendo um combate.
- Agora eu acho que... Não tem volta. – Ethan colocava sua mão no coldre nas costas, preparando para sacar sua pistola.
- Droga... Claire, se eu te encontrar, é um chute que você recebe. – David diz enraivecido, e seus braços vão assumindo a cor pálida de gelo.
- Ai... Minha cabeça... Não podemos- - Lucy iria falar algo, porém é interrompida por um som estridente.
Todos os quatro escutam um som de vidro se quebrando vindo de cima deles, e, novamente, quando levantam seus olhares, conseguem ver algo que foi arremessado do segundo andar do prédio, junto de algo que pareciam ser respingos de sangue junto dos cacos de vidro. O susto foi tanto que os quatro ali estavam com seus poderes preparados e armas em mãos.
Um corpo foi arremessado daquele andar e foi em direção ao chão, caindo bem na frente da entrada do prédio e, consequentemente, dos quatro singulares ali. O corpo colidiu com a superfície e tudo que eles conseguiram reconhecer foram sons de ossos se quebrando por bater com força no chão e carne sendo espatifada junto deles. Para completar, o sangue respingou nos rostos de Mary, Ethan, David e Lucy, que agora observavam o cadáver.
Lucy e David estavam com expressões de choque total pelo que viram, Ethan estava igualmente aterrorizado e Mary era a menos chocada, porém ainda era visível uma dúvida em seu olhar: se aquele era mesmo o cadáver de Claire, pois, apesar de um corpo feminino e moreno, o rosto dela estava sem a pele.