A notícia do resgate de Letícia por um cavaleiro desconhecido se espalhou pelo castelo como fogo em palha. A curiosidade era geral. Quem seria esse misterioso guerreiro? Seriam suas habilidades tão impressionantes quanto os boatos sugeriam? Os cavaleiros da guarda real, orgulhosos e competitivos, ansiavam por um duelo, na esperança de provar sua superioridade. No entanto, um a um, foram derrotados por Aleph, a frustração crescendo a cada queda.
— Você não vai enfrentá-lo, Hector? — perguntou Laurenn, observando o treinamento.
— Prefiro não ser humilhado, Alteza — respondeu Hector, com um sorriso amargo.
Os cavaleiros, desesperados para recuperar sua honra, insistiram para que Laurenn desafiasse Aleph. O príncipe sabia que não era páreo para Aleph, mas a pressão dos colegas e o desejo de protegê-los da humilhação o levaram a aceitar o desafio.
O pátio do castelo se encheu de espectadores ansiosos para presenciar o duelo. Laurenn e Aleph se posicionaram, espadas em punho. A luta começou. Desde os primeiros movimentos, Laurenn percebeu que as técnicas de Aleph haviam evoluído significativamente desde a última vez que treinaram juntos.
— Que técnicas são essas? — perguntou Laurenn, surpreso. — Nunca as vi antes... "Não teria a menor chance se ele estivesse lutando a sério."
A força e a precisão de Aleph eram impressionantes. Laurenn se defendia com dificuldade, consciente de sua inferioridade. Por fim, declararam empate, para alívio dos cavaleiros da guarda, que celebraram o resultado como uma vitória.
— Não contarei a Letícia sobre seu segredo ou a recusa em ser seu cavaleiro — disse Laurenn a Aleph, após o duelo. — Mas você deveria conversar com ela.
Rachel, que observara a luta à distância, perguntou às damas de companhia sobre a identidade do misterioso cavaleiro. Intrigada com sua habilidade e seu porte físico, Rachel se viu inexplicavelmente atraída por Aleph.
Após o duelo, Laurenn foi convocado ao escritório do rei Hayden. A expressão do monarca era de fúria contida.
— Como ousa perder para um simples cavaleiro?! — explodiu Hayden. — Um empate é o mesmo que uma derrota! Deixou que ele o humilhasse diante de toda a corte! Você é fraco, inútil, incapaz! Você me decepciona!
As palavras cruéis atingiram Laurenn como golpes de espada. Ele se encolhia diante da ira de Hayden, incapaz de argumentar ou se defender. Tudo o que queria era reconhecimento, um simples elogio, mas tudo o que recebia era desprezo e humilhação.
— "O que eu preciso fazer para que ele reconheça meu esforço?" — pensou, o desespero corroendo-lhe a alma.
As palavras de Hayden, embora injustas, ecoavam as inseguranças de Laurenn. Desde a morte de sua mãe, o rei havia se tornado frio e distante, descontando sua dor e frustração em Laurenn, que apesar de seus esforços, acabava acreditando nas palavras cruéis do pai, carregando o peso da rejeição como um fardo insuportável. A cada crítica, sua autoconfiança se esvaía, afastando-o cada vez mais do guerreiro habilidoso e confiante que um dia chegou a ser.
...
Durante o chá da tarde, as damas de companhia de Letícia, animadas, rodearam a princesa.
— Alteza, você viu o cavaleiro Aleph? — suspirou uma delas, sonhadora. — É um sonho!
— Nossa vista melhorou consideravelmente! — brincou outra. — Agora temos dois belos cavaleiros para admirar. E ainda são amigos!
— Para mim, o Sir Hector ainda é o mais charmoso — declarou uma terceira, lançando um olhar apaixonado ao se lembrar do cavaleiro.
— Mas, ele é seu namorado! — provocaram as demais, arrancando risadas da dama de companhia.
— E você, princesa? — insistiram. — O que acha do cavaleiro Aleph? Não é um pedaço de mau caminho?
— De fato, ele é… bonito — admitiu Letícia, levando a xícara de chá aos lábios para esconder o rubor que lhe subia às faces.
— "Ah! Eu nem posso ficar olhando para outros homens, eu já sou uma pessoa comprometida, apesar de nem saber como é o rosto do meu pretendente. Mas, elas não entenderiam..." — pensou, tomando outro gole de chá.
— O que você acha mais atraente nele, Alteza? — insistiu uma das damas. — Eu adoro os cabelos prateados e aqueles olhos azuis acinzentados!
— "Elas querem continuar com a conversa." — suspirou Letícia. — Talvez… seu porte físico? É importante para um cavaleiro.
— Não nesse sentido! — exclamou a dama, impaciente. — Quero dizer… o que o torna atraente como homem?
Letícia não soube responder. Antes que pudesse se desvencilhar das perguntas insistentes, Aleph surgiu no salão. As damas de companhia o saudaram com acenos entusiasmados. Ele retribuiu a gentileza com uma breve inclinação de cabeça e se aproximou da mesa de chá, posicionando-se ao lado de Letícia.
— Sobre o que conversavam tão animadamente? — perguntou, curioso.
— Doces! — respondeu Letícia apressadamente, desviando o olhar para que ele não percebesse seu embaraço. — Estávamos falando sobre doces.
Aleph se inclinou, aproximando-se de Letícia.
— Princesa, gostaria de revisar seu cronograma — disse, com um tom profissional.
Caminharam juntos até o jardim, sentando-se em um banco próximo a um canteiro de rosas. Aleph, com uma prancheta em mãos, começou a anotar os compromissos de Letícia.
— "Olhando-o melhor, seus olhos são realmente bonitos…" — pensou Letícia, observando-o disfarçadamente. — "Mas o que mais me chama atenção é sua dedicação, o jeito como afasta o cabelo para trás às vezes, ou também como ele encosta a caneta nos lábios quando está pensando…"
— Princesa…
— "E como me olha com atenção quando falo…"
— Princesa Letícia? Está tudo bem? — perguntou Aleph, interrompendo seus devaneios. — Parece um pouco… corada.
Ele tocou delicadamente a testa de Letícia, checando sua temperatura. O contato repentino a fez estremecer.
— E-estou bem — gaguejou Letícia, levantando-se bruscamente. — Preciso… resolver algo.
Apressou-se de volta para seus aposentos, o coração batendo descompassado.
— "O que foi isso?" — repreendeu-se, enquanto fechava a porta do quarto. — "Por que eu o estava olhando daquela forma? Espero que ele não tenha percebido. Foi tudo por causa do que elas falaram! Por que meu coração está disparado? Não posso pensar sobre isso."
Mas a imagem de Aleph, com seus cabelos prateados e seu olhar intenso, persistia em sua mente.