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Maria, Maria Cítia.

Uma parte do acordo finalmente foi revelada, mas existia algo mais e eu sentia claramente que era o ponto crucial da negociação.

-Acredito na sua resposta, então como você consentiu com a metade do acordo, responderei algumas perguntas a você. Não perca sua saliva perguntando quem você é, ou o que veio fazer aqui.

Da forma a qual ela explicou, parece ser bastante claro o significado de "Não te conheço, nem sei nada sobre você".

São as perguntas mais cruciais de toda a situação, então não tinha muita esperança de resolver todas elas logo aqui. Atualmente não conheço nada sobre como o mundo esta, ou suas regras. Qualquer tipo de informação verídica é importante.

Finalmente falei uma das várias coisas preenchendo a minha mente desde o começo da negociação.

-Quais são as características básicas de um infectado, ou melhor, como conseguiu reconhecer que eu era um deles?

Sem dúvidas esse é um dos pontos cruciais da minha existência daqui para frente, se conseguir esconder dos outros humanos o fato de estar infectado, poderei ter uma vida mais fácil, independente de como está a sociedade ou se ela ainda existe.

Maria pensou durante um tempo e falou.

-Eles sempre querem infectar mais pessoas.

Foi interessante a forma como ela falou, pois não parava de me encarar. Fiquei um pouco desconfortável.

Ela continuou logo após.

-Os infectados ainda são humanos, mas a doença patológica que estamos enfrentando tem um efeito na psique muito forte. Todos os casos divergem em algum ponto, pois a doença afeta diretamente algumas partes do corpo e as corrói a cada dia que passa, juntamente com consciência do indivíduo.

-Eu falei que a doença corrói a consciência, mas experimentando isso em primeira mão, não existe corrosão.

Maria falou isso enquanto estava de olhos fechados, ela parecia estar se concentrando em alguma coisa.

-Nós realmente erramos, nunca a doença corroeu a consciência dos infectados, mas sim afetou seus valores morais. Descobrir algo tão interessante logo agora é tão triste...

Inesperadamente, um leve sorriso floresceu em seu rosto.

Poderia ela estar feliz ao descobrir isso...? Não falei nada e continuei em meio as dúvidas esperando o resto da explicação.

-Dependendo do nível da infecção e em qual local do corpo foi, nós categorizamos os infectados em nove níveis, algumas marcas específicas aparecem em seus corpos no local da infecção, usamos elas e o nível de inteligência da criatura, seu nível de infecção e vários outros fatores para conseguir um parâmetro um pouco mais exato.

-Antes de me perguntar, sua marca está no meio da testa e eu nunca vi uma igual antes, por isso fiz uma hipótese básica da situação e do que aconteceu.

Eu toquei minha testa algumas vezes, mas não consegui sentir nenhum relevo, ferida ou indicação de alguma marca. A falta de um espelho nas proximidades também não ajudou muito.

Por hora, irei acreditar nela.

-O que aconteceu com o Estado?

Essa era uma pergunta estranha, seria uma pergunta normal em outra situações, mas como perdi as memórias acredito que não deveria saber nada sobre o Estado ou algo do tipo. Meu conhecimento acumulado sobre fatores da sociedade, principalmente teórico continua comigo e se torna mais claro com o passar do tempo.

-No começo de toda a calamidade foi o primeiro a ruir, suas estruturas burocráticas densas e a grande gestão do aparelho estatal sempre foi podre, o que resultou na sua rápida queda. Outra coisa, foi a forma como os políticos agiram em meio à crise.

Eu tive que a interromper nesse momento, pois tinha uma hipótese do que teria acontecido.

-Foram os primeiros a tentar se salvar no meio do caos e acabaram estragando tudo, não é?

Maria apenas olhou para baixo e disse.

-Foi o primeiro relato que tivemos de um Infectado de nível 6...

Maria parou durante um tempo, como se estivesse relembrando algo, mas voltou ao assunto rapidamente.

-No meio de todo caos, algumas pessoas também iriam surgir, desta forma nós tivemos ele, que criou a área 1 e foi o pioneiro em várias coisas.

-Após a contaminação em massa, ele descobriu que as áreas ao redor do globo não são uniformemente infectadas, o vírus, ou pelo menos o que acreditamos ser o vírus, atualmente está sendo transmitido pelos humanos, mas nem mesmo a natureza conseguiu escapar, o que fez várias das áreas anteriormente ricas e prósperas se tornarem desertos, mesmo com uma variedade de recursos.

-Eu vou ser objetiva, o governo não existe mais. Agora existem as 13 áreas e seus respectivos governantes ou conselhos, cada uma delas é dividida pelo local onde está.

-Ele fundou a área 1 em um local tropical, conseguiu achar áreas ótimas para plantação e também recursos naturais densos, no meio de todo esse 'paraíso' ele teve um problema. Ele foi o primeiro infeliz a descobrir as faixas.

-O que são as faixas?

Perguntei com bastante interesse.

-Zonas de infecção totalmente proibidas para nós human... quero dizer, para os humanos. Essas zonas existem graças a intensa concentração viral. Elas não somente mudam os infectados que vivem lá, como também a forma de se contrair a infecção.

-Foi um desastre para ele e seus companheiros, mas também uma oportunidade. Na faixa tropical, descobriram o porquê os infectados de lá tinham um intelecto tão superior e eram tão astutos comparados aos fora das faixas. A diferença era gigantesca, mas acontecia graças a um novo órgão exclusivo até então deles.

-Qual seria esse órgão?

Eu tentei o máximo possível não parecer tão interessado assim, mas não tinha como ela não perceber. Se eu conseguisse formar esse órgão talvez com a evolução do meu intelecto eu recuperaria minhas memórias.

Maria me observou durante um bom tempo e sorriu, mas desta vez eu senti algo de diferente, este sorriso que parecia cheio de vivacidade e um resplendor caloroso parecia guardar algum tipo de segredo obscuro.

-Essa informação vem inclusa no pacote da segunda parte do acordo.

Entendo, essa mulher é assustadora demais.

Todo seu diálogo até agora, me mostrou uma única coisa: Os humanos ainda existem, parecem ser fortes, estão organizados e caçando os infectados. Nesse caso, uma das formas mais rápidas de conseguir respostas e me manter bem seria com suas informações, mais especificamente sobre o órgão.

Não obstante ela não precisava falar nada sobre as faixas, ou sobre o homem, ela me explicou propositalmente para instigar a minha curiosidade.

-Fale logo sobre a outra parte do acordo.

Eu falei de forma ríspida. Da maneira a qual ela me explicou tudo até agora, com certeza não tem como essa parte do acordo ser tão simples como ela prometeu.

Ela olhou para o teto durante algum tempo e ponderou alguns segundos.

-Preciso que você proteja alguém, até o momento onde ela consiga se proteger sozinha.

Eu realmente tive uma avaliação preconceituosa dela, não imaginaria que em seus últimos momentos estaria tentando salvar alguém.

Maria percebeu o meu olhar e falou.

-Não me olhe com esses olhos, não preciso de sua simpatia. Você vai aceitar ou não?

Eu finalmente entendi a dificuldade dessa parte do acordo, ter que cuidar de si mesmo já era difícil, mas ter alguém dependente nesse mundo onde existem infectados em todos os locais é ainda mais difícil e problemático.

Encarando seus olhos eu novamente vi o mesmo semblante de antes, era algo extremamente inspirador. Ponderei novamente durante algum tempo e respondi.

-Foi ótimo fazer negócios com você... Qual seu nome?

Nós não nos apresentamos, realmente é um pouco triste só ter notado agora.

-Maria, Maria Cítia....

Ela novamente começou a olhar para o teto enquanto parecia estar pensando em algo.

-Você sabe qual seu nome?

Neguei lentamente balançando a cabeça.

Ainda olhando para o teto, Maria disse.

-Mors.

-O que?

Perguntei confuso.

-É um bom nome, por que não o usa?

Eu imaginei que era realmente fácil de pronunciar e não parecia ser ruim.

-Vou pensar sobre isso.

Falei de forma calma. Maria olhou novamente em meu rosto e começou a explicar.

-Você terá que viajar um pouco para encontrar ela, a partir de agora irei te explicar várias outras coisas sobre como chegar lá, o que você vai fazer quando chegar eu não posso ajudar, pois nunca estive lá. Meu tempo também é curto, quando eu terminar de explicar tudo, tranque a porta e cumpra a primeira parte do acordo.

A partir desse momento Maria me explicou várias coisas, algumas informações bem intuitivas sobre como sobreviver e outras bem complexas e que me pareciam bem sigilosas. Eu escutei tudo com calma e finalmente ela voltou a falar sobre as faixas.

-Você sabe qual a maior diferença entre os infectados nas áreas e os das faixas?

Claramente era uma pergunta retórica, então balancei a cabeça para os lados sinalizando que não.

-Os infectados normais tem o que chamamos de 'consciência de matilha' onde se juntam para aumentar as chances de infectas novas pessoas, mas os infectados na faixa são o contrário. Eles praticam o ato de canibalismo entre si, em busca de aumentar a carga viral em seus corpos, mas também seu intelecto e nível de consciência.

-Quando ele entendeu sobre isso, começou um teste muito arriscado em seu próprio corpo, um teste quase que suicida, seus companheiros tentaram o parar, mas não conseguiram. A ideia veio toda de uma pergunta: 'E se nós já estivermos todos infectados?" felizmente ele estava correto e a experiência foi um sucesso.

-Enquanto os infectados tem sua concentração viral focada em suas marcas, ele focou toda a sua em uma parte do corpo, criando um novo órgão, ele o batizou de núcleo e começaram a fazer vários testes.

-O núcleo humano aumenta a tolerância com o vírus, então mesmo que você tivesse algum problema conseguiria aguentar durante um tempo, nós também conseguimos maiores capacidades físicas e mentais, o problema foi o preço.

Toda a situação era muito interessante e explica como os humanos parecem ter tantas áreas em seus comandos, pela explicação anterior de Maria eu estava me perguntando de que forma algumas áreas tem uma extensão territorial tão grande para as condições mortais de vida, então essa seria a resposta.

-Qual foi o preço?

Eu perguntei bastante curioso.

Maria demonstrou uma expressão bastante conflituosa, mas falou um pouco.

-Primeiramente nós imaginamos que nossa expectativa de vida seria reduzida, mas isso foi cortado logo após alguns testes provarem que não somente a regeneração celular dos humanos que possuem núcleo foi aumentada, como também a expectativa de vida das células e outros fatores. Também existiu a hipótese dos humanos com núcleo transmitirem o vírus mais densamente o que se comprovou correto, mas nada que não pudesse ser administrado com o devido cuidado ou fosse necessário algum tipo de medida drástica.

Maria fez uma pausa e voltou a olhar para o teto.

-Enquanto baixávamos cada vez mais a guarda pensando não existir nenhum problema maior no assunto, ele sempre dizia que tinha algum sentimento ruim sobre todo o assunto, mas começamos a ficar cada vez mais relaxados sobre tudo isso.

-Até o dia em que o acidente aconteceu...

-Um de seus companheiros acabou por morrer em uma batalha com outros sobreviventes, mas ele não se transformou em um infectado normal.

-Foi como descobrimos o preço a qual pagamos pelo poder. O indivíduo em questão se tornou o que chamamos posteriormente de abominação, não somente suas capacidades físicas e mentais tiveram um aumento explosivo, mas também algo mudou. Nós não sabemos até hoje, mas tinha algo errado.

-Desse momento em diante o título Asura, ou caídos foi acoplado a nós. As pessoas comuns dependiam inteiramente dos caídos para missões mais difíceis, mas existia uma linha tênue sempre nós separando...

-Falei tudo o que precisava.

Eu entendi sua mensagem e consegui supor um pouco da situação de Maria.

Ela é uma caída, por isso a necessidade tão alta de a matar enquanto está no processo de infecção.

Eu me levante bruscamente e me dirige a porta sem olhar para trás. Ao fechar a porta disse em voz baixa.

-Obrigado.

Fui até um colchonete bastante feio e me deitei, já me sentia um pouco fadigado.

Dentro do quarto, Maria olhava para a silhueta que saia sem olhar para trás e deixou sair um leve sorriso.

-E realmente triste ter que ir agora, sabendo que algo como isso está prestes a nascer...

Ao escutar o obrigado vindo do outro lado, Maria parou de rir e novamente olhou para o teto.

Em seu rosto, uma pequena lágrima começou a descer.

'Consigo imaginar a reação dele, ao descobrir sobre eu ter ajudado a criar um monstro'

Maria fechou seus olhos calmamente quando a sonolência tomou conta de seus sentidos.

Em seu rosto, um semblante tranquilo e um leve sorriso se manteve presente em seus últimos momentos de consciência.

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