O prazo do concurso estava se aproximando e, enquanto revia minha história pela última vez, sentia uma mistura de ansiedade e confiança.
As críticas que recebi de Takumi, Kaori, Mai e Taro ressoavam na minha mente. Eu havia feito as mudanças sugeridas, polido os diálogos e aprofundado a personalidade dos personagens. Sentia que minha história estava finalmente pronta. A chance de ter minha própria obra publicada, disponível nas bibliotecas e nas mãos de outros leitores, era um sonho que me fazia sonhar acordado.
Naquela manhã, saí de casa com uma sensação de propósito. O sol brilhava, mas para mim, o dia parecia envolto em uma aura de tensão. O envelope em minhas mãos continha mais do que apenas palavras; carregava minhas esperanças, meus medos e tudo o que eu havia investido nas últimas semanas.
O caminho até os correios parecia mais curto do que o normal, como se meu corpo estivesse ansioso para completar essa etapa. Quando entrei no prédio, vi um garoto da minha idade segurando um envelope semelhante.
Seus olhos eram um contraste do que eu estava sentindo — mostravam confiança absoluta.
Entreguei minha história no balcão, tentando não pensar muito no que aquele gesto significava. A atendente pegou o envelope, olhou ele, carimbou com um estalo seco e me deu um leve sorriso de encorajamento. "Boa sorte", disse ela, e eu murmurei um "obrigado" quase inaudível.
Naquele momento, percebi que talvez estivesse competindo com outros jovens escritores como eu, cada um com suas próprias aspirações e sonhos. Saí dos correios com o coração acelerado e uma mente cheia de possibilidades.
O resto do dia passou em uma névoa de ansiedade. Tentei me concentrar em outras coisas, mas era impossível. Tudo o que eu conseguia pensar era no concurso, no quanto significava para mim e no que poderia acontecer se eu não ganhasse. Sem conseguir ficar parado, peguei o celular e liguei para Seiji e Rintarou, convidando-os para sair. Precisava de uma distração.
— Claro, vamos! — Seiji respondeu imediatamente. — Que tal irmos ao cinema?
Eu concordei, tentando parecer mais animado do que realmente estava. Precisava sair de casa, precisava desesperadamente tirar a história da minha cabeça.
Quando nos encontramos, Rintarou foi o primeiro a perceber que eu estava estranho.
— O que foi, Shin? Você está agindo meio diferente — perguntou Rintarou, inclinando-se ligeiramente para tentar encontrar meu olhar, com aquela preocupação sincera que só um amigo verdadeiro consegue demonstrar.
Suspirei, desviando o olhar para o chão, sabendo que não adiantava tentar esconder.
— Enviei minha história pro concurso hoje — confessei, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia. — E agora... não consigo pensar em mais nada. Estou nervoso demais, não sei o que vai acontecer.
Seiji colocou a mão no meu ombro, sorrindo de um jeito tranquilizador e apertando de leve, como se quisesse me transmitir força.
— Relaxe, Shin. Você fez o seu melhor, e tenho certeza de que a sua história é ótima. Vamos nos divertir hoje e esquecer isso por algumas horas, certo?
Olhei para Seiji, o toque reconfortante de sua mão no meu ombro aliviando um pouco a tensão. Concordei com um aceno lento, tentando acreditar nas palavras dele, enquanto a ansiedade ainda martelava no fundo da minha mente.
Eu queria acreditar nas palavras dele, mas a ansiedade ainda me apertava o peito. No entanto, forcei um sorriso e acenei com a cabeça. Eles estavam certos; ficar em casa, remoendo tudo, não ajudaria em nada.
— O que a gente vai fazer? — perguntei, tentando soar mais animado.
Rintarou sorriu e deu um tapa leve nas minhas costas.
— Que tal um fliperama? Faz tempo que a gente não vai em um.
— Ou podemos ir ao karaokê! — sugeriu Seiji, um brilho travesso nos olhos. — Cantar até esquecer de tudo.
Eu ri, apesar de mim mesmo. Karaokê sempre acabava em uma competição acirrada entre nós três, e talvez fosse exatamente o que eu precisava.
— Karaokê, então! — concordei, sentindo uma leveza surgir lentamente no peito
O karaokê estava cheio, mas conseguimos uma sala pequena nos fundos. A iluminação baixa e as paredes acolchoadas criavam uma atmosfera intimista, quase como se estivéssemos em nosso próprio mundo. Seiji correu para escolher as primeiras músicas, enquanto Rintarou mexia nas luzes, ajustando-as para um tom azul suave que combinava com o clima descontraído que tentávamos criar.
— Beleza, quem vai primeiro? — perguntou Seiji, empunhando o microfone como se fosse um apresentador de TV.
Eu me sentei no sofá, olhando para eles com um sorriso genuíno pela primeira vez em dias.
— Vai lá, Seiji — incentivei. — Mostra do que você é capaz!
Seiji fingiu hesitar, mas logo pegou o microfone, escolhendo uma das músicas mais animadas do repertório. Quando a música começou, ele se soltou completamente, cantando com uma energia que parecia capaz de preencher todo o ambiente. Rin e eu começamos a bater palmas no ritmo, rindo das caretas exageradas que Seiji fazia entre os versos.
Aos poucos, fui esquecendo a tensão. Quando chegou minha vez, peguei o microfone com um sorriso determinado. Escolhi uma música que todos nós conhecíamos e, logo, estávamos todos cantando juntos, as vozes se misturando em uma bagunça alegre. Ali, naquele pequeno espaço, a ansiedade deu lugar à amizade. Era como se, por um breve momento, nada mais importasse além das risadas e da música.
Depois de várias rodadas de canções, com Seiji se destacando nas notas altas e Rintarou ganhando em carisma, decidimos que era hora de dar uma pausa. Sentamos no sofá, ofegantes e sorrindo.
— Sabe, Shin, eu acho que você tem tudo pra ganhar esse concurso — disse Rintarou de repente, entre um gole de refrigerante e outro. — Mas, mesmo se não ganhar, isso não muda o fato de que você escreveu algo incrível. Quantos caras da nossa idade podem dizer que fizeram isso?
As palavras dele me pegaram de surpresa. Era verdade. Eu tinha feito algo que poucos conseguiram. E mesmo se o resultado não fosse o que eu esperava, não poderia negar o quanto havia aprendido no processo.
— Valeu, Rintarou — respondi, sentindo uma nova onda de gratidão. — Eu precisava ouvir isso.
Seiji, sempre o otimista, deu um sorriso de canto.
— E depois, se não ganhar, sempre podemos voltar aqui e cantar pra aliviar a frustração. Talvez a gente até componha uma música sobre isso! — brincou.
Rimos juntos, e pela primeira vez em dias, me senti em paz. Aquele momento com meus amigos era mais do que apenas uma distração.
Mas a paz durou pouco. Nos dias seguintes, a espera pelo resultado tornou-se quase insuportável. Cada vez que o telefone tocava ou alguém batia à porta, meu coração disparava.
Finalmente, numa tarde nublada, enquanto eu estava mergulhado em pensamentos no meu quarto, minha mãe entrou com uma carta nas mãos.
— Shin, chegou isso pra você — disse ela, estendendo um envelope.
Meu coração disparou. Era a carta do concurso. Peguei o envelope com mãos trêmulas e, por um instante, apenas olhei para ele, como se a simples ação de abri-lo pudesse mudar o curso da minha vida.
Finalmente, respirei fundo e rasguei a lateral, puxando o papel lá de dentro. Um sorriso hesitante se formou em meu rosto enquanto começava a ler.
"Parabéns por sua participação..."
Meu sorriso congelou ao perceber que essas palavras iniciais não eram de uma vitória. Continuei lendo, cada palavra golpeando meu estômago com mais força.
"Embora sua história tenha sido bem escrita... não conseguimos incluí-la entre as três melhores."
Eu parei, incapaz de continuar por um momento. O sorriso que antes ameaçava se formar desapareceu completamente. Não havia vencido. Nem mesmo tinha conseguido ficar entre os três primeiros. Fechei os olhos, tentando processar o que aquilo significava. Todo o trabalho, toda a esperança... porquê não tinha sido suficiente?
Quando finalmente terminei de ler, soube que tinha ficado em sétimo lugar. Sétimo lugar. A carta mencionava alguns erros que eu havia cometido, pontos onde a história poderia ter sido mais forte, mais envolvente. Eu queria deixar minha raiva escapar, mas tudo o que fiz foi deixar a carta cair sobre a mesa.
Minha mãe, que observava de longe, deu um passo à frente, preocupada.
— Shin... o que houve? — perguntou ela, com aquela suavidade maternal que me fez sentir ainda pior.
— Não foi nada, mãe — respondi, com minha baixa voz. — Nada de mais.
Ela tentou me consolar, mas suas palavras pareciam distantes, abafadas, como se eu estivesse submerso em um lago escuro. Cada sílaba era um som vago, incapaz de atravessar o peso esmagador que se acumulava no meu peito.
O orgulho e a confiança que eu tinha em minha história desabaram como um castelo de cartas. A carta nas minhas mãos parecia pulsar, como se zombasse de mim. A palavra "sétimo" brilhava cruelmente na minha mente, um número que de repente parecia maior do que qualquer montanha.
Como pude ser tão arrogante? Como pude pensar, nem por um momento, que minha história era boa o suficiente? Cada linha que escrevi, cada palavra em que acreditei, agora pareciam insignificantes. Ridículas.
Meus dedos apertaram o papel com força, mas ele não cedeu. Talvez porque fosse mais forte do que eu naquele momento.
As críticas, que antes pareciam conselhos úteis para melhorar, agora se transformavam em acusações, cada uma como uma pedra atirada contra mim. "Poderia ser mais profundo aqui." "O clímax carece de impacto."
Cada frase ecoava na minha mente como um julgamento implacável, pesando sobre meu peito, afundando-me ainda mais.
Naquela noite, fui para o computador e procurei o site do concurso, determinado a descobrir quem havia ganhado.
Eu precisava saber quem tinha conseguido o que eu não consegui. Quando encontrei a história vencedora, comecei a lê-la. E a cada linha, meu coração afundava mais. A escrita era incrivelmente bem feita, os personagens complexos, e o enredo tão bem amarrado que era impossível não se sentir envolvido. Era óbvio por que essa história tinha vencido.
Era quase profissional, muito além do que eu imaginava que alguém da minha idade poderia escrever.
— Ryuuji Akagi, é?
Li o nome do vencedor em voz alta para mim mesmo gravando-o na minha memória. Esse era meu novo rival, mesmo que ele não soubesse da minha existência. Eu queria superá-lo, precisava superá-lo. Não por vingança, mas porque, naquele momento, eu entendi que ainda tinha muito a aprender.
Eu não era tão bom quanto pensava, mas isso não significava que eu não poderia ser. A derrota me machucou, mas ao mesmo tempo, despertou algo dentro de mim. Uma determinação que eu não sabia que existia.
Sentei-me à escrivaninha, o computador à minha frente, e abri um novo documento. Minhas mãos tremiam um pouco enquanto começava a digitar as primeiras palavras de uma nova história. Dessa vez, seria diferente. Dessa vez, eu iria além de onde havia ido antes. A dor da derrota ainda estava ali, mas agora ela se transformava em combustível.
Eu não iria desistir. Um dia, minha história também estaria em uma biblioteca, com meu nome na capa. E quando esse dia chegasse, eu teria superado não apenas meu rival, mas a mim mesmo.